... e os tapetes de rua das Águas Férreas
No Dia do Trabalhador, o Bairro Tijuco, em São João del-Rei, vivencia o momento culminante de um festejo católico da maior relevância, preparado por animada novena: a Festa de São José Operário, centrada da igreja matriz desta invocação.
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Igreja Matriz de São José Operário no dia da festa de seu patrono. |
O grande bairro participa intensamente. Após as cerimônias internas o povo vem às ruas para uma concorrida procissão cuja parte musical fica a cargo da centenária e respeitada
Banda Theodoro de Faria, sediada na Rua Santo Antônio, neste mesmo bairro.
A Irmandade do Santíssimo Sacramento local encabeça as duas longas fileiras com suas lanternas e ao centro vai o cruciferário, concentrado em sua função. Pelo centro vem (felizmente) um considerável número de crianças vestidas de anjos, uma antiga tradição, além de importantes corporações do catolicismo, como a Legião de Maria, o Apostolado da Oração, o Terço das Mulheres, os Ministros da Eucaristia, os Coroinhas. Então surgem os esperados andores e os fiéis se aglomeram ao redor. Estão muito enfeitados de flores, primeiro o de Nossa Senhora, depois o de seu festejado Esposo. Antecedendo-os vem os sacerdotes.
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Aspecto da procissão de São José Operário. |
As fachadas das casas se encontram enfeitadas de jarras de flores e as melhores toalhas da casa. Janelas recebem cordões de bexigas coloridas de ar (balões de aniversário). Altares improvisados expõe imagens. O aspecto é festivo e o povo sacraliza as vias por onde passará o cortejo.
Na esquina das Águas Férreas (Rua Operário Luis Andrade com Rua São José), imediatamente após a ponte, moradores desenvolvem um tapete desde a metade desta tarde, sob a liderança de um casal: Geraldo Elói e Júlia Lacerda. Há 29 anos cuidam desta tarefa. A confecção do tapete de rua é uma missão árdua, que sacrifica a coluna pela posição inclinada que se fica para confeccioná-lo, além da limitação do sistema circulatório das pernas, mas ninguém reclama. É feito pelo senso religioso e traz satisfação e a certeza de se estar agradando ao santo.
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Tapetes de rua, altares improvisados e adornos de fachada para a passagem da procissão. |
Sua produção em verdade começa meses antes. Não bastando a serragem e areia como outros tapetes, e o enriquecimento de muitas flores conseguidas a pedido nos jardins de vários colaboradores, o casal junta ainda borra de café durante muito tempo, para detalhar o contorno escuro e o que é bem trabalhoso, tampinhas de garrafas de cerveja, pedidas para se juntar nos bares de conhecidos. Com elas montam figuras simples, variadas a cada ano, mas de uma característica muito peculiar. Juntam ainda pétalas e papel picado para jogar no andor.
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Os pitorescos tapetes de tampinha de garrafa de cerveja. |
O cuidado do casal é tamanho com esta tradição, que colhem uma boa quantidade do aromático manjericão para esparramar no asfalto. Quando o povo pisoteia os ramos à passagem da procissão o forte cheiro desta erva exala por todo o ambiente.
São João del-Rei é uma terra de fé. Esforços como este, sem que ninguém mande, peça ou aconselhe, por simples vontade própria, do fundo do coração, ainda que para um resultado efêmero, o provam sobejamente.
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 01/05/2014.
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