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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 16 de maio de 2014

Na minha terra se fala assim - parte 4

Dar trela – dar confiança, permitir, consentir, oferecer liberdade.
Desbaratinado – desorientado, psicologicamente abalado.
Descanelado – de pernas compridas, pernalta.
Despinguelado – infrene, veloz, sem controle.
Déu em déu – sem rumo, perdido na vida, sem moradia ou ocupação fixa.
Embananado – complicado, embaraçado, enrolado.
Embatumado – de consistência densa. Pesada, grosseiro.
Embodocado – em má postura, curvado, em posição apertada.
Embuchar – encher o bucho, comer muito, empanturrar-se, alimentar em demasia.
Empandongado – o mesmo que embodocado.
Empipocado – munido de erupções cutâneas vesiculosas, brotoejas, superfície irregular.
Encarangado – encolhido de frio, de movimentos letárgicos.
Encher o pandu – comer além do necessário.
Encorujado – o mesmo que encarangado. Alusão ao aspecto da coruja empoleirada.
Encroado – que não se desenvolveu adequadamente. “Bolo incroado”: aquele que o fermento fez pouco efeito.
Entizicar – “intizicar”, encroar, ficar pequeno, não crescer, permanecer sem desenvolvimento.
Entregar os pontos – desistir, dar-se por derrotado, desanimar.
Escarcéu – confusão, briga, discussão, fuzarca.
Esmerilhar – usar abusivamente, correr muito. “Desceu o morro esmerilhando a bicicleta.”
Espanador da lua – pessoa muito alta e magra. “Pendão das almas”, “pau de virar tripa”, “bambu vestido” e “pinguela”, neste sentido, são expressões sinônimas.
Espírito de Porco – indivíduo perverso, maldoso, que comete erros propositais para o próprio benefício.
Estar com a cachorra – estar enraivecido, furioso, agitadíssimo.
Estar em papos de aranha – estar em apuros, em “maus lençóis”, em dificuldades.
Estar na barba do bode – o mesmo que o anterior.
Estoporar – sofrer um choque térmico, adquirir um resfriado forte e repentino.
Galinha – gíria chula e depreciativa aplicada a mulheres levianas.
Galo de São Roque – solteirão, homem maduro em idade que não casou[1].
Golpe do joão-sem-braço – trambique, falcatrua, negócio ilícito, criar uma situação para se tirar vantagem.
Jabiraca – mulher deselegante, que se veste com mau gosto, de andar trôpego, sem boa educação. Roceira, caipira.
João teimoso – pessoa muito teimosa. Turrão. Pessoa inflexível [2].
Judas – traidor. Chama-se a quem age com falsidade.
Jurupoca chiar – ou jurupoca piar: situação tensa, estressante, aflitiva, na iminência de um acontecimento. “Agora é que a jurupoca vai chiar”[3].
Ladainha – falação, falatório, conversa sem proveito, repetitiva.
Lambão – indivíduo sem preocupações com higiene. Serviço mal feito, sem acabamento: “pedreiro lambão”.
Lambiscar – comer a qualquer hora em pequenas quantidades, qualquer tipo de alimento. Comer petiscos em lugar do almoço.
Lambrequeira – sujeira, meleira, “borroqueira”. Lambusado.
Langanho – pedaço grande de um certo alimento. “Tirou um langanho de carne”.
Lapa – grande, de bom porte. “Pescou uma lapa d’uma traíra!”
Leitão – em sentido pejorativo, pessoa gorda. Obeso.
Lelé – doido, sem domínio completo das faculdades mentais.
Levado da breca – traquinas, sapeca.
Lisbano – muito próximo, quase tangenciando, não esbarrando por pouco. “Perdeu o freio da bicicleta e passou lisbano no poste.”
Muquirana – sovina, que tem usura. “Garrafinha”, “munheca de samambaia”.
Parrudo – forte, musculoso, de grande porte físico. “Armário”.
Queimar as pestanas – pensar muito, raciocinar bastante, se esforçar para achar a solução de um problema. O mesmo que “queimar a muringa”, “queimar a cachola”.
Quizumba – africanismo: confusão, tumulto, discussão, inimizade. “Arranjar quizumba”.
Rabo de arraia – gostoso, de sabor inusitado, delicioso. “O chouriço ficou rabo de arraia![4]
Renquém – de pouco valor, desqualificado. “Marido renquém.”
Roscofe – o mesmo que renquém. Que funciona mal [5].
Sangue de barata – quem não se abala com as vicissitudes. Pessoa insensível, que não se comove, que não se irrita mesmo provocado.
Santo do pau oco – quem se faz de bom, mas em verdade é mau. O que aparenta ser o que não é. Dissimulado[6].
Savajão – grosseiro, deselegante, abrutalhado.
Serviçama – muito serviço, trabalho excessivo.
Sobrou – caiu, despencou. “Subiu no abacateiro e sobrou do galho.”
Sujismundo – porcalhão, imundo, sem higiene pessoal, andrajoso.
Zureta – desorientado, de pensamento desgovernado.

Almoço da Festa do Divino: momento de confraternização e conversa descontraída.
Bairro Matosinhos, São João del-Rei/MG.

* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 28/05/2012. 


[1] - Referência ao costume rural de consagrar desde pintinho um galo a São Roque, que é criado isolado do contato com galinhas de maneira vitalícia, permanecendo virgem. O costume garante a saúde do restante da criação. O galo só é substituído por outro em caso de morte e não pode ser usado como alimento, vendido, trocado ou doado.
[2] - Referência a um brinquedo: boneco de parte superior delgada e inferior larga e arredondada, que por mais que se tente deitá-lo, volta à posição vertical automaticamente em movimento de balanço.
[3] - Jurupoca ou jeripoca: peixe de couro de água doce, siluriforme, pimelodídeo, Hemisorubim platyrhynchos. De ordinário emite um chiado característico quando junto à superfície.
[4] - Rabo de arraia é também um golpe de capoeira.
[5] - Diz-se que é o nome aportuguesado de uma antiga marca de relógios de bolso, que tinham fama de funcionarem precariamente.
[6] - Alusão às imagens de santos feitas em madeira no período colonial, ocas, mas simulando maciças, em cujo interior se contrabandeava ou apenas escondia em casa, ouro, joias, pedras preciosas, para fugir à sanha de ladrões e da fiscalização. 

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