Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Festa de São Sebastião em Emboabas

Esses lugares recônditos de Minas! Quanta beleza guardam... Depois de longas estradas de terra, de vários morros transpostos, da contemplação da paisagem natural convidativa, se alcança um povoado, uma vila ou uma pequena cidade. Nela há riquezas culturais, pérolas humanas, belezas arquitetônicas, saberes... hospitalidade; história a ser garimpada. E nós outros fazemos vista grossa... Por que?

Assim é Emboabas, distrito de São João del-Rei 35 km ao sul da sede municipal, surgido nos princípios do século XVIII ao longo de uma estrada variante que ligava o Caminho Velho ao Caminho Novo, hoje Estrada Real. Por esta variante passou certa vez o Imperador do Brasil. Consta que Dom Pedro pousou numa fazenda alguns quilômetros abaixo de Emboabas. O lugar, não à toa, é conhecido por Pouso Real, região montanhosa e aprazível. 

Outrora o nome do distrito era São Francisco do Onça, de origem setecentista. Há mesmo um fluxo d'água que banha o lugar chamado Ribeirão do Onça. O topônimo lamentavelmente foi alterado pelo Decreto nº 1.058, de 31/12/1943 passando a se chamar Emboabas. A história contudo não consignou nada que ligasse a localidade aos emboabas ou à contenda que levou seu nome, a Guerra dos Emboabas. Aparentemente o nome Emboabas é despropositado e melhor o fariam se retomassem o topônimo original, ligado à identidade do lugar. Ainda hoje, muitos e muitos chamam aquela vila de Onça, sempre no masculino, mostrando a força felina deste nome resistente. 

Emboabas guarda ainda na memória dos mais idosos lembranças da santa do lugar: Sá Luíza da Cananéia. Santa na língua do povo, que considera Sá Luíza uma virtuosa e taumaturga, tal como Nhá Chica, outra são-joanense, esta já na condição oficial de Beata, ora em processo de canonização. Segundo narram (*), Sá Luíza já idosa, toda primeira sexta-feira de cada mês, partia à pé até São João del-Rei (45 km desde Cananéia!), estrada de terra, pé no chão (sem calçados), de vestido comprido e mangas longas, lenço atado à cabeça, terço na mão, para assistir missa na Igreja de São Francisco de Assis. Sá Luíza teria doado um terreno para edificação da Igreja do Sagrado Coração de Jesus na Cananéia. Morreu queimada em sua casinha perto da igreja. Reservados alguns detalhes, a essência dessa narrativa, foi registrada por meio de outro informante por SACRAMENTO (2017), antes que esse blog o fizesse, que ora tão somente corroboramos por nova informante. Isto demonstra que ainda palpita a memória popular acerca de Sá Luíza, no aguardo de um movimento, um estudo substancial, algo que a resgate do passado, antes que o tempo leve consigo os que a conheceram pessoalmente. Sá Luíza bem merecia estar no patamar de Nhá Chica, pois assim como ela foi um ícone do sagrado, tal e qual naqueles idos da primeira metade do século XX também o fora Manuelina de Coqueiros, pras bandas de Entre Rios. Mulheres Sagradas de Minas! 

Cercado por sítios e fazendas, nada mais natural que a devoção a São Sebastião florescesse em Emboabas, pois via de regra é queridíssimo na zona rural, protetor da atividade agropecuária, posto que é guardião contra a fome, a peste e a guerra. Naturalmente, por estas prerrogativas sagradas, guarnece plantios e criações de desastres, doenças e outros revertérios, que trariam a escassez dos mantimentos. Contudo, as mudanças diversas e as dificuldades, esmaeceram este festejo, que a cerca de doze anos não acontecia. Os esforços da paróquia, da comunidade e notadamente dos festeiros, possibilitaram o retorno da festa. 

Década e pouco atrás numa dessas festas no Emboabas, veio num ônibus de São João del-Rei o congado do Capitão Raimundo Camilo (do Bairro São Dimas) e duas folias de São Sebastião: a do Bairros da Fábricas, à época sob a chefia do folião "Tião Domingos" e a do Bairro Guarda-mor, do folião "João Matias". Os grupos na ocasião dançaram e cantaram pelo largo animando bastante a festa. 

A festa de 2018 foi iniciada com tríduo preparatório no dia 25, contando com várias atividades religiosas: caminhada luminosa, celebrações, procissão. O dia maior, domingo, 28, principiou com alvorada festiva, apresentação de folia de São Sebastião na igreja, no largo e em visita a casas, missa na matriz, almoço festivo, leilão de gado e de prendas, procissão. Além do som mecânico, no palco da festa aconteceram shows e no largo algumas barracas animavam os visitantes.

A valorização ao homem do campo transparecia no próprio programa, que anunciou claramente que a festividade era em honra a São Sebastião (protetor da agricultura) e a Santo Isidoro (protetor do agricultor). Ao término de uma das celebrações o sacerdote abençoou vários saquinhos de sal, que os devotos recolheram para uso, misturando-se ao sal dado ao gado bovino. Ainda se ressalte a benção de pequenos estandartes destinados aos fazendeiros. 

A retomada dessa festa é uma oportunidade promissora de evangelização e de valorização da comunidade. As possibilidades culturais que abre em leque possibilitam confraternização e aprendizado. Tanto mais, traz visibilidade ao distrito. Este Blog parabeniza a todos os responsáveis pela iniciativa e faz votos de que prossiga ano após ano. 

1- Igreja Matriz de São Francisco de Assis, Emboabas. 

2- Largo em festa: cruzeiro e barracas festivas. 

3- Casa paroquial de Emboabas, bem cultural digno de preservação. 

4- Folieiros recebem o café da manhã. 

5- Rosquinhas caseiras e café na ciculateira (**): tradição interiorana. 

6- Mastro de São Sebastião no adro da matriz. 

7- Detalhe da imagem de São Sebastião. 

8- Andor de São Sebastião. 

9- Andor de Santo Isidoro, padroeiro dos agricultores. 

10- Folia Embaixada Santa, de São João del-Rei, 
canta o martírio de São Sebastião diante do andor. 

11- A folia visita uma casa. 

12- Antigo frade de pedra, de talha sextavada: 
elemento histórico chantado no Largo da Igreja.

13- Cartaz da Festa de São Sebastião e Santo Isidoro,
Emboabas (São João del-Rei/MG). 30 x 40 cm, papel couché.
Referências Bibliográficas

SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Sá Luíza da Cananéia. InEm Voga, São João del-Rei, n.6, ano 3, dezembro/2017. 

Notas e Créditos

Informante: Sra. Isabel Batista Moreira, moradora do distrito. Descreveu com muita vivacidade e emoção as virtudes de Sá Luíza, pois a conhecera pessoalmente. Este Blog registra a mais sincera gratidão à informante pela presteza e sinceridade do diálogo. 

** Ciculateira: ou chiculateira, possível corruptela de chocolateira, vasilhame metálico de fundo largo e boca em gargalo. Também chamada conforme a localidade de sapona e muxambeta. 
***Texto: Ulisses Passarelli
**** Fotografias: Ulisses Passarelli: 2, 7, 8, 9, 12, 13; Iago C.S. Passarelli: 1, 3, 4, 5, 6; Cida Salles: 10 e 11
***** Obs.: agradecimentos especiais ao festeiro Cláudio, que com muita sensibilidade, convidou e proporcionou a presença da folia no festejo. 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Festa de São Sebastião no Bonfim, São João del-Rei

Na igreja nova do Senhor Bom Jesus do Bonfim, em São João del-Rei, comemorou-se ao mártir São Sebastião com reunião da comunidade católica entorno das celebrações, adiadas para o dia 22 de janeiro em razão do lamentável falecimento do Bispo Diocesano, Dom Célio de Oliveira Goulart no último dia 19. 

A missa das 19 horas revestiu-se de grande dedicação dos devotos, participação ativa do coral da igreja, da Irmandade do Senhor do Bonfim, concluindo-se com a cerimônia de posse da nova mesa. Uma vez concluída o sacerdote procedeu a incensação do andor, primorosamente adornado de flores naturais e iluminado. 

Seguiu a procissão diante da igreja antiga, cujos sinos manifestaram a alegria pelo cortejo sagrado, desceu ao Morro da Forca e depois de retorno via Rua João da Matta, chegou pela retaguarda da igreja, fervorosamente acompanhada pelos fiéis que nos intervalos da música, além das preces, cantavam o Hino de São Sebastião. 

A chegada teve concorrida bênção do Santíssimo Sacramento. 

Não houve barraquinhas, mas à porta da igreja uma tentadora mesa de doces com muitas variedades estava à venda. 

Cumpre destacar a atitude da organização da festa, muito louvável, de convidar um grupo de folia para participação; no caso, compareceu a "Embaixada Santa", da Caieira, que foi muito bem recebida pela comunidade e tratada com grande respeito e carinho pelos organizadores, que propiciaram a ida e forneceram ao final farto lanche. Após assistir à missa os folieiros adentraram no templo com sua bandeira e cantaram a saudação, com o Bendito e o Pai Nosso. Também acompanharam a procissão toda, fazendo a parte musical e cantando dentre outros o Martírio de São Sebastião. 

São Sebastião é santo dos mais populares, queridíssimo na zona rural, pois os pecuaristas e agricultores contam com sua bênção sobre rebanhos e plantações; mas também, claramente nas cidades demonstra ser uma devoção das mais avultadas, pois que suas festas em diversas igrejas e capelas conta com ampla participação dos fieis, sendo das mais esperadas. 

1-  A antiga Capela do Senhor do Bonfim, São João del-Rei. 

2- Incensação do andor, antecedendo a saída da procissão. 

3- Aspecto parcial da Folia de São Sebastião "Embaixada Santa" 
cantando no interior da Igreja Nova do Senhor do Bonfim. 

4- Procissão na rua, descendo pelo Morro da Forca. 

5- Mesa de doces à venda, na entrada da igreja. 

6- Aspecto da cerimônia, com destaque para a presença da Irmandade do Sr. do Bonfim. 

7- Folieiros e outros devotos acompanham a cerimônia final, após a bênção do Santíssimo Sacramento. 

8- Folieiro respeitosamente toca na imagem de São Sebastião.

9- Devota beija a fita que sai da imagem do santo. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: 1 a 6, Ulisses Passarelli; 7 a 9, Iago C.S. Passarelli - 22/01/2018

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Festa de São Sebastião em Santa Cruz de Minas

Transcorreu mais uma vez em Santa Cruz de Minas a tradicionalíssima festa do padroeiro, o glorioso Mártir São Sebastião. Indubitavelmente é o evento mais concorrido do município e conta com a participação maciça de fiéis do lugar e visitantes.

Concluída a novena com suas celebrações, o dia maior tão esperado, vinte de janeiro, movimentou especialmente a praça central desde muito cedo e as missas e demais cerimônias se sucederam ao longo do dia até a procissão do início da noite, acompanhada de praxe pela banda de música local, a  Corporação Musical São Sebastião, patrimônio de Santa Cruz de Minas.

No largo as barracas de jogo de víspora e de salgados atraíram muita gente, sobretudo após a parte religiosa concluída. É um espaço de socialização, confraternização, reencontro com amigos. No palco montado os shows animaram a grande praça e reuniram a população para o entretenimento. 

A décadas os devotos acorrem em nome de São Sebastião, desde a época de sua igreja primitiva; depois junto à que lhe sucedeu e agora à nova, remodelada. Isto é um movimento espontâneo e não agrega só os fiéis locais, mas também os traz das vizinhanças. Neste sentido, a festa tem potencial para ampliar este aspecto e se tornar um foco de romaria.

Registre-se, por exemplo, que os grupos de folias de São Sebastião vão por si mesmos visitar essa igreja a cada vinte de janeiro. Se revezam ao longo do dia, geralmente entrando para cantar após cada missa e em alguns anos acompanham a procissão onde tem oportunidade de cantar. Vem sobretudo de São João del-Rei e de César de Pina (Tiradentes). Este movimento natural se fortalece com a recepção positiva da Igreja e dos devotos. Ainda este ano foi observado a atenção dada especialmente pela Secretaria de Cultura do município, denotando zelo e respeito à tradição. 

É mister ressaltar a atuação acolhedora e pró-ativa do pároco, da Irmandade do Santíssimo Sacramento e dos vários setores da Igreja; tanto mais, que o município tem dado uma atenção especial à sua identidade cultural, num trabalho muito intensivo e bem planejado da referida Secretaria, em conjunto e sintonia com os meios sociais e um Conselho de Políticas Culturais e Patrimônio amadurecido, cônscio de seu dever com o município; uns e outros atuantes, dignos de elogio, despontando Santa Cruz no cenário cultural das Vertentes. 

01- Frontispício da Igreja de São Sebastião.
Santa Cruz de Minas. 

02- Folia "Embaixada Santa" em louvação no interior da
Igreja de São Sebastião. 

03- Folieiros cantam o martírio de São Sebastião. 

04- Folia "Embaixada Santa" retratada no cruzeiro, ícone da cidade,
após o canto laudatório. 

05- Aspecto da frente da procissão:
multidão de devotos. 

06- Imagem de São Sebastião em seu andor, seguida por membros da
Irmandade do Santíssimo Sacramento, fieis em geral e pela bem conceituada
Corporação Musical São Sebastião, de Santa Cruz de Minas. 

07- Vista geral da retaguarda da procissão. 

Por fim, segue lincado um vídeo que retrata um momento da folia de César de Pina (Tiradentes/MG), durante a festa em Santa Cruz de Minas no ano anterior, quando do encontro com a Folia "Embaixada Santa", de São João del-Rei. Canta o Embaixador Pedro Paulo Ramos: 



Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli (01, 05, 06, 07) e Betânia Resende (02, 03, 04); 20/01/2018
*** Vídeo: Iago C.S. Passarelli, 20/01/2017
**** Obs.: agradecimentos especiais registramos ao Padre Pedro Wiermann e a Secretária de Cultura Betânia Resende, pela atenção e respeito com que receberam a Folia "Embaixada Santa". A Secretária, este Blog agradece pela cessão de fotografias da participação da referida folia na festa e permissão de sua inclusão nesta página eletrônica. 

domingo, 14 de janeiro de 2018

Romaria dos foliões

Aconteceu este final de semana em Aparecida / SP (13 e 14 de janeiro) a 15ª edição do Encontro Nacional de Companhias de Reis. Mesmo sendo totalmente fora da área geográfica focada por este blog, o assunto mereceu atenção em razão do crescente interesse participativo de folias do Campo das Vertentes.

O evento tem elevado potencial para ampliar o seu desenvolvimento e o interesse turístico, como aconteceu com a Festa de São Benedito (em abril), naquela cidade do Vale do Paraíba (*). 

Já o encontro de folias é relativamente recente; contudo, é tradicional a visita das folias de diversas regiões a Aparecida, de forma aleatória em outras épocas do ano. O encontro congrega esta atividade espontânea e dá-lhe impulso. O presente texto não objetiva descrever a festa como faz este blog de costume acerca do eventos que comenta. A tônica é outra: é indispensável pontuar que no encontro de Aparecida os foliões de Santos Reis são legitimamente romeiros; não é um encontro como os outros. As companhias reiseiras empreendem a viagem que é esperada e planejada o ano todo, atravessando o sul mineiro e as gargantas escarpadas da Mantiqueira, via Cruzeiro ou Piquete. Em Aparecida visitam a Igreja de São Benedito e o Santuário Nacional; cantam pelas ruas, praças, comércio, presépios. Costumam inclusive se hospedar.


Folias atravessam a passarela entre as catedrais antiga e nova,
cantando os reis. Em primeiro plano uma companhia mineira,
de Santana de Pirapama. 

A participação inclui uma troca significativa de experiências com outras folias: cantar e ouvir, ensinar e aprender. Grupo a grupo, os mestres expõem o seu saber, absorvido por outros que os observam, evoluindo na prática e vivência. Tanto mais, o encontro é oportuno aos foliões na aquisição de novos instrumentos musicais nas lojas locais; medalhas de santos, imagens, terços e outros objetos sagrados, que fazem parte de seu universo ritualístico e de seu cabedal de crenças.

Além desses aspectos gerais alguns detalhes chamam a atenção. Talvez o mais proeminente e digno de parabenização seja a entrada conjunta das folias de Reis no Santuário Nacional, após um concorrido cortejo desde a Catedral velha, via passarela. Os demais visitantes, outros romeiros que não são das folias, demonstram entusiasmo e curiosidade, prestigiando os grupos com salvas de palmas, ou proliferando sua imagem por incontáveis fotografias e filmagens.


Aspergindo água benta sobre as folias que deixam o Santuário 
após a celebração da missa.
 

Essa recepção se reveste da maior importância para os grupos enquanto estímulo à sua continuidade, reconhecimento de seu valor cultural e essência religiosa e ainda pelo prestígio que lhes confere a visibilidade ante a atenção midiática e através da imensa assistência.

Grupo de Pastorinhas de Sete Lagoas/MG adentra o Santuário.

Destaca-se também a Procissão de Santos Reis, que conta com um andor de ornamentação primorosa e a participação de vários grupos de folias em cortejo.

O encontro de Aparecida proporciona a ambientação de uma romaria aos foliões. O contexto transcende o de outros encontros. 

Finalizando, registra-se a presença no encontro da "Embaixada do Bom Pastor", folia de Reis oriunda de São João del-Rei, da comunidade do Bom Pastor, Bairro de Matosinhos, sob o comando do experiente Mestre "Didinho".


Bandeireiro e bandeira da folia de Cordisburgo/MG.
Presença de retratos 3 x 4 e fita com inscrição, configurando graças
alcançadas (ex-votos).

Bandeira de uma folia de Alfenas/MG.
Os nós nas fitas indicam pedidos de devotos. 

Observando a cantoria da folia de Nova Resende/MG.

Folia de Itaguara/MG atravessando a passarela. 

Palhaços ou marungos, de Machado e Santo Antônio do Monte/MG
entrando abraçados no Santuário em gesto de irmandade e respeito.

Prestigiando a entrada das folias no Santuário:
jovens marungos de Ibirité/MG.

Um dos pitorescos mascarados da folia de Juruaia/MG,
assemelhando-se a uma Catirina.

Um dos palhaços da folia de Serrania/MG.
Ao fundo, público prestigiando a saída das folias do Santuário. 

Agradecendo uma oferta, os foliões de uma companhia de Barrinha/SP
cantam para devotas que seguram sua bandeira. 

No grande presépio dos jardins do Santuário Nacional, folieiros de Sete Lagoas / MG
respeitosamente reverenciam após o canto ritual.
 

Folia de São Tomé das Letras/MG cantando no presépio da praça da catedral
antiga. Os marungos, de joelho, suspendem a máscara. 

Notas e Créditos

* Em tal festa, uma multidão de romeiros desembarca no Santuário Nacional, incluindo um número enorme de congados, sobretudo mineiros e inclusive do Campo das Vertentes, em demanda para a igreja do popularíssimo santo. Essa Festa de São Benedito já é centenária, firmada na tradição.
**Texto: Ulisses Passarelli
*** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 13/01/2018
**** Agradecimentos especiais ao folclorista Affonso Furtado e ao pesquisador de música Daniel William Dias Nascimento, que possibilitaram nossa presença nesse festejo. 


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Na minha terra se fala assim - parte 15

Alto -  bêbado, embriagado.

Aluir – bambear, dar uma folga, aliviar algo que está justo, soltar o que está fixo.

Andaço – qualquer virose que atinge muitas pessoas, favorecida por condições climáticas específicas de certas épocas do ano. Infecção que se transmite pelo ar, atingindo muitas pessoas. Contaminação por rotavírus.

Arregaçar as mangas – agir, tomar providências, tornar-se ativo.

Cabreiro – cismado, preocupado com algo, com pensamento fixo em problema, com mal pressentimento.

Cabrito – gíria aplicada sobre um objeto obtido por roubo ou furto. Qualquer objeto tomado de outrem.

Cangote - a nuca, região occipital, parte posterior do pescoço.

Canjerista - Praticante ou adepto do Canjerê. Por extensão e pejorativamente é sinônimo de feiticeiro.[1]

Cara dura – O mesmo que cara de pau. Pessoa que não se envergonha em cometer ilícitos. Mau caráter. Indivíduo que obtém vantagens sobre outros sem se envergonhar do procedimento indevido. Sujeito inconveniente, invasivo na privacidade alheia.

Casar o Chico com a Chica – expressão que indica a similitude ou sintonia de duas pessoas pelo caráter e personalidade, que se unem numa dada situação (casamento, amizade, negócios, trabalho).

Chaleira – bajulador, puxa-saco.

Chapado – bêbado, embriagado.

Chorar a pitanga1- lamentar insistentemente; 2- agredir, bater.

Chutar o pau da barraca – aloprar, dar um surto de nervosismo, perder a paciência, perder a calma, descontrolar-se, perder as estribeiras.

Culé-culé, tudo é porco – expressão usada para indicar que certo grupo de pessoas se irmanam pelo péssimo caráter e personalidade réproba. O mesmo que “Farinha do mesmo saco”.

Cumba – Mandingueiro. Homem que mexe com magia negra (São João del-Rei, 1995; Tiradentes, 1998). Também pronuncia-se “cuba”. Grande conhecedor de segredos místicos. Africanismo. Sendo um feiticeiro muito forte e perigoso acrescem que é um “cumba do papo amarelo”. Registrado também entre os dançantes de caxambu, no Estado do Rio de Janeiro, como o mais elevado cargo hierárquico.  [2]

Cupicho1- subordinado por bajulação, não por hierarquia. Capacho. 2- Indivíduo amasiado.

Currião - Correia, cinto, cinturão. Corruptela de “correião”, correia grande. Na zona rural é costume fazê-lo de couro cru, com ou sem pelo, cortando-o a canivete. Símbolo de firmeza espiritual na linha dos boiadeiros e de força patriarcal, domínio familiar. A correia do pai dentro de uma casa é objeto de grande respeito e ninguém a usa senão o próprio dono. Eram comuns outrora as surras que os pais davam nos filhos valendo-se de lambadas de currião. Uma expressão popular comum é “apertar as correias”, usada diante de uma grande dificuldade, no sentido preventivo.

Cuspindo marimbondo – expressão indicativa de estado de extremo nervosismo. Diz-se de quando alguém esbraveja, xinga muito, lança impropérios.

Dar na telha – ter uma ideia repentina; tomar uma decisão súbita, inesperada.

Dar pau – reprovar.

De primeira – imediatamente, de maneira instantânea, sem pestanejar.

Deixa abóbora lastrar! – expressão indicativa de libertação total de preocupações ou cuidados numa situação; dê o que der; aconteça o que acontecer.

Desvestir um santo para vestir outro – substituir um apoio por outro; tirar de um para dar a outro.

Deus e o mundo – expressão indicativa de totalidade das pessoas; todos.

Encher o cu d’água – alegrar-se ao extremo; estado de satisfação incontida.

Espírito-de-Porco1- Indivíduo mal visto na sociedade, antipático, sempre aprontando coisas deploráveis. 2- Casta de espíritos malignos, que se apossarem de alguém fazem com que a pessoa se comporte a guisa de um suíno: o possesso se abaixa ficando de quatro e emite grunhidos; não reconhece nem respeita ninguém. O espírito de porco afora os casos de possessão é um obsessor poderoso, que traz desgraça e miséria para a vida da pessoa que ele acompanha.  

Filar – roubar; tomar para si; tirar. Filão: quem se aproveita em vantagens sobre outros.

Garibar – aprimorar, dar acabamento, detalhar, caprichar. “Dar uma garibada”.

Goró – bebida alcoólica: beber um goró; tomar um goró.

Juntar a fome com a vontade de comer – expressão indicativa de que a aproximação de duas pessoas possibilitou o complemento uma ao outro para que acontecesse algo vantajoso para ambos; geralmente tem sentido pejorativo, referindo-se a união de gananciosos.

Largo – pessoa de muita sorte; sortudo: “O largo do Zé ganhou a televisão na rifa”.

Limpa trilho – glutão, quem come demais e com falta de educação.

Língua de trapo – “língua solta”; falador, caluniador, quem fala o que pensa sem medir consequência das palavras; quem levanta falso de alguém.

Mafuá – ambiente bagunçado, sujo, mal frequentado.

Na lata – com absoluta franqueza; cara a cara; sem disfarces. “Falar na lata”.

Não vale um tostão de mel coado – expressão indicativa de falta total de valor humano, pelo caráter e personalidade; não vale nada.

O Filho chora a mãe não vê – expressão que indica local de sofrimento ou situação complexa.

Passar os cinco dedos – furtar; roubar.

Pendenga – pendência, situação mal resolvida.

Perder as estribeiras – esbravejar, xingar. Ação intempestiva.

Picar a mula – sair às pressas, repentinamente; escafeder-se; fugir; viajar.

Poeira – Feitiço. Jogar poeira: enfeitiçar alguém. “Não joga poeira, olha lá! Ai, não joga poeira, olha lá!” (Congado catupé, SJDR, Cap. Luís Santana, 1995).

Ponto de bala – excitação máxima; estado de prontidão.

Queimar campo – contar mentira; avantajar-se sem motivos concretos. “Fulano queima campo debaixo de chuva!”

Renquém – desqualificado; sem valor; de má qualidade. Pronúncia: “renqüém”.

Sobrou – caiu, despencou. “Sobrou do galho da árvore”.

Tanjão – folgado, largo. Quem usa roupas sem ajuste ao corpo.

Tarugo1- pedaço robusto de madeira; 2- qualquer coisa espessa, grossa; 3- pessoa obesa (pejorativo).

Tirar o pai da forca – pressa extremada, afobação, atitude precipitada.

Torosco – pedaço grande e grosso de algo.

Vendendo almoço pra comprar a janta – penúria; miséria financeira.

Vício – cio; desejo sexual incontrolável: estar no vício (com a libido elevada ao extremo).

Zambi-zambi – com tonteira, enfraquecido, cambaleante, desequilibrado: “Saiu da cama zambi-zambi”.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli



[1] - Canjerê - Religião mediúnica afro-brasileira, já praticamente absorvida por outras mais abrangentes, como a Umbanda e a Quimbanda. O Canjerê assemelha-se à Umbanda, contendo porém elementos musicais-coreográficos, danças ao som de atabaques, como os Candomblés. Um ponto de desafio de congado catupé (São João del-Rei, l997) diz: “Êh, canjerê! / Bate palma qu’eu quero vê!” . Luís da Câmara Cascudo no seu “Dicionário do Folclore Brasileiro” registra a palavra como sinônimo de feitiço, prática religiosa afro-brasileira e ainda uma dança folclórica sem cunho religioso. Põe ainda as pronúncias “Canjirê” e “Conjerê”. Termo africano, banto.  
[2] - Ver: FRADE, Cáscia. “Preto quando pinta, tem trinta vezes trinta”: um pequeno estudo sobre os velhos caxambuzeiros fluminenses. In: Estudos de Folclore em Homenagem a Manuel Diégues Júnior. Coordenação de Bráulio do Nascimento. Rio de janeiro: Comissão Nacional de Folclore; Maceió: instituto Arnon Mello, 1991. 306p.il. p.67-77.
Escreveu essa autora: “Cumba – é o que melhor conhece a dança, entende e exerce a magia inerente ao Caxambu. É o mais idoso do grupo.”