Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sábado, 31 de janeiro de 2015

Folias... em memória de dois mestres

"Dia hoje"(*), no poente do mês das folias, recordei de dois grandes mestres de nossas folias de Reis aqui em São João del-Rei, já chamados pelo Criador para o plano maior. Seus ensinamentos ficaram na minha alma de folião e na de tantos que com eles saíram e aprenderam: Antônio Carvalho da Silva e Luís Santana (que também era capitão de congado). 

Ambos, por coincidência, eram bondosas almas que ajudaram a muitos com suas gratuitas benzeções, tanto que Antônio era, inclusive, carinhosamente alcunhado "Totonho Benzedor". Residiam no mesmo bairro, São Dimas, embora tivessem origens diferentes, respectivamente nos povoados do Mama Rosa e Pombal. 

Não posso negar que questões de especial consideração me ligam aos dois: fui herdeiro da folia de Antônio vários anos após seu desenlace e a conduzi com muita honra; Luís foi meu principal mestre na formação para a prática do congado e da folia, sem contar os laços de amizade desenvolvidos. Não poderia pois deixar de ser esta postagem um momento muito subjetivo. 

Segue para registro e como humilde homenagem e recordação, alguns poucos cantos dos muitos que entoaram pelas casas que visitaram com seus grupos folclóricos.


1- Cantos de Antônio Carvalho da Silva, 25/12/1992:


Palhaço da folia do Mestre Antônio Carvalho da Silva, janeiro/1995.


1ª toada:
Nesta hora que é presente,
O mártir São Sebastião, oi ah!
Vai saudar o Santo Reis
E também os folião, oi ah!



2ª toada: 
Refrão
Caminhamos, caminhamos,
Pela Gruta de Belém, ai, ai, ai!
Procurando o Deus Menino,
Ele só fará o bem, ai!

Estrofes:
A essa linda bandeira
E os folieiro também,
Eu com todos meus amigos
vamos dar os parabéns.

Que bandeira tão bonita
Na minha frente parou
Jesus e Santos Reis
Todo coberto de flor.

Quero desejar saúde
Tá na hora da partida
Quero desejar saúde
E muitos anos de vida.

Santo mártir aqui despedi
Com alegria até chorando
Amigo e companheiro
Adeus até para o ano.


Versos extraídos de outra gravação da mesma folia – 07/01/1993:
1ª toada:


Dia 20 de janeiro
com o mártir São Sebastião
Nós viemos nesta casa
Por pedido e devoção.

Deus que pague a bela esmola
Deste nobre cavalheiro
Quem há de dar o pago
É o santo mártir guerreiro.

Deus que pague a bela esmola
Quem nos deu foi o menino
O Divino Espírito Santo
Que te dê o bom destino.

2ª toada:
Refrão:
Caminhamos, caminhamos, 
para a Gruta de Belém,ai,ai,ai!
procurando o Deus Menino, 
Ele só fará o bem, ai!
Estrofes:

Deus que abençoe a sua casa
Esta casa de alegria
Quem há de te abençoa
São José, Santa Maria.

Santo mártir aqui chegou
Viajando por terra,
Ele veio nos defender
Contra peste, fome e guerra.

3ª toada:


Santo mártir aqui despedi – bis
com alegria até chorando! – bis
Meu amigo e cavalheiro – bis
Adeus, até para o ano – bis

Santo mártir vai embora – bis
Despedindo com alegria – bis
Ele vai deixar uma bênção – bis
Pra toda essa família – bis



Santo mártir agradece – bis
também pelo bom agrado – bis
Todos passos que vós deres – bis
Santo mártir vai de um lado - bis

2- Cantos de Luís Santana, Embaixador e Folião de São João del-Rei (25/03/2000) – informações pessoais (**)  

Folia do Mestre Luís Santana em fotografia de data e autor não identificados,
gentilmente oferta para reprodução pelo próprio mestre. 

Bem podia Deus nascer
num colchão de ouro fino
para dar exemplo ao mundo
foi nascer tão pilingrino (peregrino).

“Os três Reis lá no deserto/vem rompêno a iscuridão...”

“ Bem podia Deus nascer / em pedrinhas de briante...”

“Encontrei co’as três Maria
numa noite de luá
percurando o Deus Minino
sem nunca podê achá...

Foram dar com ele em Roma
rivistido no artá
co’o cális bento na mão
missa nova ia cantá.”

“Os três Reis foi viajâno
o carnêro foi na guia
perguntaram por Jesus (ao carneiro)
com prazer e aligria.

Respondeu, lá em Belém!
nasceu da Virgem Maria!”


* Dia hoje: expressão popular que equivale a hoje mesmo; a pouco; ainda hoje.
** Foi conservada a grafia que reproduz a pronúncia original, a título meramente ilustrativo.
***Texto: Ulisses Passarelli.
**** Foto do palhaço: Ulisses Passarelli; edição de imagem: Iago C.S. Passarelli.
***** Sobre a expressão cultural das folias de Reis assista ao vídeo: 

ENCONTRO DE CAPELINHA, 2014

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Caburu festeja São Sebastião

Sendo um santo muito querido, com uma imensidão de fiéis, São Sebastião tem o privilégio de ainda receber festejos mesmo além de seu dia votivo, 20 de janeiro. É assim que, talvez, escapando de concorrer com festas maiores, certas comunidades rurais o festejam um pouco depois, como por exemplo a Capela de São Bento, no Gritador (Prados), na sua capela própria na Restinga do Meio (Ritápolis), na de São Domingos Sávio, em Ibitutinga (São João del-Rei), junto com o padroeiro. Aqui mesmo na cidade, na comunidade da Avenida Santos Dumont, em Matosinhos, já a alguns anos vem sendo comemorado junto com São Benedito em  abril, reunindo congados e folias. 

Foi assim que aconteceu mais uma vez em São Gonçalo do Amarante, ex Caburu, distrito são-joanense, para alegria dos seus devotos, que viram de volta esta festa que ano passado não ocorreu, quebrando sua sequência anual, como antigo e tradicional evento que é. 

A festa contou com tríduo e missa diária às 19 horas, sendo que no último dia houve a reabertura da Capela do Santíssimo Sacramento. A base das reflexões teve como tema "Com São Sebastião testemunhamos a fé, assumindo a nossa missão" e o lema "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1).

Vinte e cinco de janeiro foi o dia maior, com alvorada de fogos e sinos às 5 horas, missa festiva às 10, leilão no começo da tarde, missa seguida de procissão 16 horas, concluída com bênção do Santíssimo Sacramento e como arremate, queima de fogos 21 horas. 

Como notas de destaque é preciso frisar a presença da folia de São Sebastião local, sob o comando de Lourival Amâncio de Paula, o querido e respeitado Mestre "Vavá", baluarte da cultura local, que muitos esforços tem feito para manter os folguedos da terra. Com apoio de seus companheiros de folia, rumou para a praça e animou os festejos de largo, visitou a igreja com louvores ao santo mártir e igualmente animou com seus versos a procissão. 

Da mesma maneira exitosa, foi a "Folia do Carlão", sob o comando do Folião Carlos Leandro de Oliveira, da Colônia do José Teodoro, no mesmo município, com belos versos sob a voz do experiente Embaixador Antônio Francisco dos Santos. Esta folia fez o mesmo trabalho da outra e ainda visitou várias residências. 

É mister registrar que as duas fizeram um encontro na praça, momento pacífico de confraternização. 

Houve um almoço com renda em favor da festa. Sua produção e venda demandou uma conjunção de esforços de festeiros e colaboradores. 

Outro ponto de destaque foi o leilão, muito bem conduzido por Deilson Gonçalo Alves. Os procuradores previamente em árduo trabalho prepararam tudo, ganhando bezerros, garrotes, leitões, frangos e galinhas para o evento. Foi armado de improviso um curral de tábuas na praça, sob a sombra de uma grande árvore. É de se destacar o trabalho abnegado do procurador de gado (*) Ednei Sebastião de Oliveira, ao centro do curral separando os lotes de animais. O leilão foi muito concorrido e por diversas vezes assistiu-se a cena de reses arrematadas e de novo doadas ao leilão, para aumentar a renda de São Sebastião, como dizem, prova concreta do espírito colaborativo do devoto povo rural. 

É ocasião de se notar de perto, a prática do leiloeiro, o círculo de gente observando e dando lances, comentando sobre as qualidades de um animal, que tem condições de largo desenvolvimento e futuro lucro. Os olhos treinados incitam preços maiores e assim passaram primeiro os bovinos, depois os porcos e por fim as aves peiadas (com peia, ou seja, de pés atados por embira para não fugirem). Para arrematar, o sr. Mário Alves, artista da terra, congadeiro e folieiro, doou uma de suas esculturas artesanais para o leilão, um belo galo entalhado em madeira, que foi bem disputado (**). 

A procissão trouxe o povo todo ao largo, sob o ecoar do sino no campanário. Na forma de praxe, tomou o rumo do cemitério, em frente ao qual retornou para o outro extremo da vila e por fim ao templo colonial. A bela imagem do santo estava em andor forrado de tecido vermelho, com flores vermelhas, com uma faixa vermelha trespassada ao peito... tudo vermelho, que é a cor do santo mártir, do sangue, da vida entregue por Cristo. Atrás da imagem, ramos de laranjeira perfumada lembrança evocativa da verde mata. 

No seu decurso, a Folia do Vavá atrás do andor e a do Carlão na frente, fizeram a música de todo o itinerário, sempre com versos laudatórios muito respeitosos, enaltecendo os atributos do glorioso taumaturgo ou narrando em cantoria passagens de seu tocante martírio. O povo estava concentrado na função religiosa, em prece e no meio ainda vimos algumas crianças de colo, carregadas carinhosamente, vestidas unicamente de calção e uma faixa larga de tecido em diagonal sobre o peito. Tudo vermelho, óbvio. Imitando a vestimenta do santo, essa forma de pagamento de promessa tão singela vai rareando e na cidade já não se vê facilmente. 

O festejo em São Gonçalo do Amarante foi ordeiro, tranquilo, autêntico e devoto. A cultura popular mostrou sua força e conviveu harmonicamente com todos os elementos e partes constitutivas da festa. Fazendeiros e sitiantes tanto doaram reses quanto as arremataram, e muito lhes é devido pelo êxito alcançado. Patrocinadores acreditaram na comemoração e deram sua ajuda. 

Resta parabenizar a comunidade, as folias, os procuradores que no papel de festeiros envidaram largo esforço em prol do evento, e, por fim e em especial, ao pároco da Paróquia do Senhor Bom Jesus do Monte, à qual se vincula a Igreja de São Gonçalo, Padre Ilton de Paula Resende, sempre afável com os fiéis e eloquente e sério no trato com a prática religiosa, que muito respeitosamente saudou os grupos de folia. 

Igreja de São Gonçalo do Amarante.
Aspecto geral do leilão. 
O Procurador Ednei em dedicado apoio ao leilão.

Numa tribuna, o Leiloeiro Deilson apregoa o gado.

Mestre Vavá, em plena cantoria folieira.  
Cruciferário e ciriais tomam a dianteira da procissão acompanhados
por outros irmãos de opa do Santíssimo Sacramento. 

A imagem em andor do prestigiado Santo Mártir, São Sebastião. 

A procissão retorna à praça distrital. 

A Folia do Vavá na procissão. 

A Folia do Carlão na procissão. 
Dorival, um dos esforçados festeiros do lugar.

Bastião se exibe para o povo, no ritmo da folia. 

* Além de Ednei, o programa impresso listou como procuradores: Dorival Caim de Paula, Carlos Guilherme Neto, Marly Maria Calsavara Oliveira e Sandra Sebastiana de Lima. 
** O costume desses leilões e praças de gado com renda para a festa ou para obras da igreja é muito tradicional na região. Uma notícia assaz interessante é esta:“Entusiasmado e aparentemente saudoso, o Revmº Padre Américo (Ceppi), prosseguiu na jocosa narrativa de suas viagens, nas quais visitou todos os distritos de São João (del-Rei) e angariou 404 galinhas e muitas cabeças de gado para a próxima praça. A venda das galinhas deu uma bela soma, assim como também, um pequeno leilão de gado em Emboabas, tudo em pról da construção do Santuário de São João Bosco.” (Fonte: Livro de Atas da Pia União das Cooperadoras Salesianas, Paróquia de São João Bosco, São João del-Rei. Ata da reunião de 09/11/1951, p.13 v. Gentilmente cedido pela ex-presidente Cirene Passarelli, tia do autor, em 1º grau, pelo lado paterno). 
***Texto e fotos do leilão: Ulisses Passarelli
**** Demais fotos: Iago C.S. Passarelli

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

São Sebastião: mártir, guerreiro e taumaturgo

Quantos e quantos nesse imenso país se chamam SEBASTIÃO, porque a mãe ou ou pai quis homenagear o querido santo de ontem? O mártir glorioso, membro do exército romano no tempo de Diocleciano, que ousou desafiar a fé politeísta por um único Deus e Salvador é festejado a 20 de janeiro. A colonização portuguesa plantou no Brasil a devoção fortíssima a esse querido protetor que se enraizou na zona rural com muito vigor e também na urbana, afamado, aclamado e invocado como protetor contra os males da peste, fome e guerra. 

Nas Vertentes, região de colonização tricentenária, a fé depositada neste santo é considerável e ainda hoje suas festas são concorridas e muito animadas, com celebrações acompanhadas por multidões de devotos, grandiosas procissões e movimento de largo, com as tradicionais barraquinhas. É tradicional a presença de uma banda de música e de uma folia de São Sebastião

A imagem de São Sebastião, em tocante martírio, comove a devoção popular. Não obstante o sofrimento, o rosto estampado reflete serenidade e esperança. É o santo capaz de prevenir a devastação dos campos de cultivo (o que geraria a fome), de guardar das doenças que grassam a humanidade, de proteger das guerras que ceifam vidas...  Militar, guerreiro e cristão, atado numa árvore na mata, junto às forças da natureza, inspirou o devocionário do povo e o sincretismo religioso com o orixá Oxóssi.   

No reflexo de tais atributos e peculiaridades, irradiou-se toda a tradição acerca deste milagroso santo, um dos mais populares do catolicismo. Doar um porquinho, bezerro ou frango, ou mantimentos, cereais, para seu leilão, segundo a crença popular, livra o sitiante de todo prejuízo e garante a saúde do rebanho, a boa safra e a fartura da mesa. Uma fita ou flor de sua bandeira de folia, se doada a um devoto pelo folião, é guardada carinhosamente por tempo ilimitado, pois carrega em si uma bênção perene. 

A todos que se identificam com esta devoção tão marcante, fica dedicada esta humilde postagem, que se cala ante as fotografias abaixo, bem mais eloquentes.  

1- Devoto em São Sebastião da Vitória (São João del-Rei/MG), 2014.

2- Bandeira e bandeireiro da folia das Águas Santas (Tiradentes/MG), jan.1995.

3- Entremeada aos congadeiros na Procissão do Rosário, uma devota conduz respeitosamente
a imagem de São Sebastião. Restinga do Meio (Ritápolis/MG). Set.1996.
4- Procissão de São Sebastião, Santa Cruz de Minas/MG, 20/01/2015.

5- Uma oferta à bandeira da Folia do Sr. João Matias, na Festa de São Sebastião,
diante da Catedral Basílica de N.S.do Pilar, em São João del-Rei. 20/01/2014. 

6- A Folia "Embaixada Santa", do Bairro Araçá, São João del-Rei, agradece
o alimento que recebeu durante a Festa de São Sebastião em Santa Cruz de Minas. 20/01/2013.
7- Folia de Coqueiros (Nazareno/MG), durante o XV Encontro de Folias de Reis
de Mercês de Água Limpa (São Tiago/MG). Na camisa dos participantes vem escrito
"Vai da boa vontade". 26/01/2014. 

8- Folia de São Sebastião da Vitória (São João del-Rei), durante o XV Encontro de Folias de Reis
de Mercês de Água Limpa (São Tiago/MG). 26/01/2014. 

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: 1-3, Ulisses Passarelli; 4-8, Iago C.S. Passarelli

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Folias de Reis em perigo

A pouco, remexendo velhos rascunhos, encontrei uma listagem infelizmente sem data exata fixada, estimada como do ano 1998, manuscrita numa folha amarelada de livro-caixa. É uma lista dos grupos de folias de Reis da região, que escrevi após apontamentos tomados em conversas com populares.

Colhidos de memória, o nome dos grupos e responsáveis (quase sempre apelidos), foi sendo ditado como tendo existido desde meados do século XX, anos cinquenta em diante, nem todos obviamente ativos à época do manuscrito. Chega à espantosa cifra de 90 (noventa) grupos!

Para melhor embasar o que pretendo demonstrar reproduzo abaixo a lista citada em digitação (*).

Folia dos Gaiteiros cantando num presépio em 2009.

01- Mercês de Água Limpa (São Tiago) - Chica / José Fidélis;
02- Mercês de Água Limpa
03- São Tiago - Mariano
04- São Tiago - Resendinho
05- Ritápolis - Irmãos Marinho
06- Prainha (Ritápolis) - Juca Dias
07- Restinga de Baixo (Ritápolis) - Sebastião Ezequiel
08- Restinga de Cima (Ritápolis) - José Mário
09- Penedo (Ritápolis) - Geraldo Marinque / Zé Pascoal
10- Glória (Ritápolis) - Zé Leandro
11- Pombal (São João del-Rei) - Joaquim Leandro
12- Colônia do José Teodoro (São João del-Rei)
13- (São João del-Rei) - Luís Candinho / Mário Calçavara
14- Brumado de Baixo (São João del-Rei) - João da Dônana
15- Brumado de Cima (São João del-Rei) - Geraldo Teixeira
16- Mumberra (São João del-Rei) - Orozimbo
17- São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei) - João Candinho
18- Caxambu (São João del-Rei) - Gonçalo da Mariquinha
19- Caquende (São João del-Rei) - Zé Paixão / Ângelo
20- São Sebastião da Vitória (São João del-Rei) - Manuelino Alexandre
21- São Sebastião da Vitória (São João del-Rei) - Chico
22- Januário (São João del-Rei)
23- Cedro (São João del-Rei) - Valmir
24- São Miguel do Cajuru (São João del-Rei)
25- Barreiro (Coronel Xavier Chaves) - Olim / Chico do Leandro
26- São João del-Rei, Bairro São Dimas - Zé Rita
27- São João del-Rei, Bairro São Dimas - Luís Santana
28- São João del-Rei, Bairro São Dimas - Totonho Benzedor
29- São João del-Rei, Vila João Lombardi, Bairro das Fábricas - Tião Domingos 
30- São João del-Rei, Bairro das Fábricas - Vicente Veloso
31- São João del-Rei, Bairro das Fábricas
32- São João del-Rei, Colônia do Giarola - Antônio Moreira
33- São João del-Rei, Colônia do Marçal - Duarte
34- São João del-Rei, Vila Bom Pastor, Bairro Matosinhos - Nhônhô
35- São João del-Rei, Vila Santa Terezinha, Bairro Matosinhos - Zé Moreno
36- São João del-Rei, Bairro Senhor dos Montes - Cristino
37- São João del-Rei, Bairro Senhor dos Montes - Antônio Moura
38- São João del-Rei, Arraial das Cabeças, Bairro Bonfim - Dinho
39- São João del-Rei, Bairro Bonfim - Basílio
40- São João del-Rei, Bairro Guarda-mor - João Matias
41- São João del-Rei, Bairro Tijuco - Ladinho
42- São João del-Rei, Águas Férreas, Bairro Tijuco - Geraldo Elói
43- São João del-Rei, Bairro Tijuco - Zé Tita
44- São João del-Rei, Águas Gerais, Bairro Tijuco - Zé Galdino
45- São João del-Rei, Vila São Bento, Bairro Tijuco - Jorge
46- São João del-Rei, Barro Preto, Bairro Tijuco - Faixa-preta /João Demanda
47- São João del-Rei, Cala Boca - Juquinha
48- Santa Cruz de Minas - Sebastião Mário / Murilo
49- Tiradentes, Bairro Vargem de Baixo - Hildo Rosa
50- Morro Redondo (Tiradentes) - Gustavo
51- Elvas (Tiradentes) - Vicente Lopes
52- Pinheirinho (Tiradentes) -Zé Tute
53- Elvas (Tiradentes) - Aquino / Silvério
54- Banquinho (Tiradentes) - Pandico
55- Caixa d'Água da Esperança (Tiradentes) - Edgar
56- Bananal (Tiradentes) - Zico / Natalino
57- Águas Santas (Tiradentes) - João Campos
58- Águas Santas (Tiradentes) - Luís Candinho
59- César de Pina (Tiradentes) - Raimundo
60 - Prados
61- Caxambu de Cima (Dores de Campo) - Raimundo Orias
62- Dores de Campos - Joviano
63- Dores de Campos - João Coelho
64- Barroso - Augustinho
65- Barbacena - Vicente Ferreiro
66- Coronel Xavier Chaves, Vila Fátima - Zé Carreiro
67- Resende Costa - Heitor
68- Resende Costa - Biscoito
69- Barreiro (Resende Costa) - Antônio 
70- Ribeirão dos Pintos (Resende Costa) - Nilton Ribeiro
71- Biquinha (Resende Costa) - Geraldo Santos
72- Cajuru (Resende Costa) - Lauro Evaristo
73- Boa Vista (Conceição da Barra de Minas) - Dinho do Zé Coqueiro
74- Conceição da Barra de Minas, Bairro São José - Vicente Cristino 
75- Santa Cecília (Carandaí) - Barra Limpa
76- Arame (Lagoa Dourada)- Geraldo
77- Matatu (Lagoa Dourada)- João
78- Bandeirinhas (Lagoa Dourada) - Maurício
79- Lagoa Dourada, Bairro Gamarra de Cima - Cláudio
80-  Vitoriano Veloso (Prados) - Naninho
81- São João del-Rei, Bairro São Geraldo - Miguelão
82- São João del-Rei, Rua Santa Clara, Alto das Águas Férreas, Bairro Tijuco - Carmélio
83- São João del-Rei, Bairro Bela Vista - Miguel Fedêno
84- Caxambu (São João del-Rei) - Miguel Gambá
85- São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei) - Antônio Bombom
86- Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei) - João Meia-sola
87- São João del-Rei, Centro - Firmino
88- Povoado do Tijuco (São João del-Rei) - José Marcelino
89- São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei) - Zé Franguinho
90- São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei) - Vavá

A saudosa Folia do Fé cantando na Colônia do Bengo, em 1997. 

A lista obviamente não estava completa. Com o prosseguimento das pesquisas outros grupos iam sendo apontados pelos informantes, como a folia do sr. Rufinão, no Senhor dos Montes, em São João del-Rei; do sr. Juquinha Gatti, no Pio XII, em Matosinhos, São João del-Rei (dissolvida no ano de 1998), do sr. Vicente José no Bairro Cerrado, em São Tiago; a "Folia dos Gaiteiros", na comunidade de Folha Larga, distrito de Carandaizinho (Prados), considerada muito antiga; a tradicional Folia  de Coqueiros (Nazareno). Nas imediações de Capelinha, pela zona rural de São Tiago, o grupo do Capão das Flores ou o do Bananal, na divisa com Bom Sucesso ao pé da serra homônima; não muito longe dali existe a tradicional folia do Manteiga. Muitas outras devem ter existido.

Mais tarde surgiram outras, de formação mais recente: mesmo na cidade de Prados, a companhia do Ti' Mané; a do Mestre Didinho, no Bom Pastor, Matosinhos, São João del-Rei (formada em 1999); a da Lilia - a Folia das Mulheres - surgida em 1998, no Jardim São José, Bairro Tijuco, na mesma cidade; no mesmo bairro, a partir de 2001, a Folia do Ventura, pela Rua São João; poucos anos mais tarde, a do Fanico e Virgilinho, no Guarda-mor, ainda em terras são-joanenses e mais recentemente, a três anos apenas, outra companhia conterrânea _ a Folia do Carlão, na Colônia do José Teodoro. 

Decerto acrescentando estes nomes também não completarão a lista. 

O número aqui de São João del-Rei foi avantajado na zona rural, principalmente no distrito de São Gonçalo do Amarante, ao longo dos povoados; também nas circunvizinhanças do Penedo, em Ritápolis, constituindo uma região folieira (Penedo, Glória, Prainha, Ramos, Restinga), bem como no Elvas (Tiradentes/São João del-Rei), englobando o Elvas, Bananal, Banquinho, Pinheirinho, Caixa d'Água da Esperança com uma toada única, também encontrada em, Barroso, Casa da Pedra e Vargem de Baixo. 

É muito claro a grande popularidade das folias e sua disseminação pelas Vertentes, um repositório desta tradição. É de se acreditar que correntes migratórias de trabalhadores rurais levaram a tradição das folias dessa velha região mineira para outras zonas do imenso interior brasileiro. 

Mas de fato, pragmaticamente, o foco é considerar que se algumas folias de Reis foram criadas ou recriadas, outras tantas desapareceram por desativação ora temporária ora definitiva. E seu número foi bem maior... Da centena acima apontada não temos hoje mais que 1/4 desse total considerando todos os municípios apontados. Com muito otimismo, trinta grupos. Além disto, não raro, estão pequenas, com poucos componentes. Fora os casos supra, sabemos da existência atual de folias em outros municípios não muito longes, tais como Bom Sucesso, Ibertioga e Lavras, dentre outros, elevando um pouco este percentual.

As mudanças sociais, acima de quaisquer outras dificuldades, de ordem material inclusive, forçaram o princípio gradativo e agora rápido declínio das folias de Reis na região. O êxodo rural profundamente intensificado nas últimas décadas teve sua grande parcela de peso no processo de rarefação e sobretudo a falta de renovação das lideranças e entrada de jovens nos grupos é que as estão sacrificando. Em razão do exposto, com a morte ou afastamento de velhos componentes, a ausência de substitutos põe o grupo folclórico em risco.

As folias de Reis nas Vertentes embora desde muito tempo também existam nas cidades, foram contudo construídas sob a égide do mundo rural, eivadas de sua mitologia, sua concepção de mundo e religiosidade. Sua estrutura é tipicamente campesina. A cidade a absorve, adapta, tolera. Mas a vivência urbana não lhe confere o mesmo contexto acolhedor das roças de antanho e assim as folias não se tornam atrativas para os jovens, que vivem já sob outros ideais. Não enxergam que importância uma folia possa ter em seu mundo hodierno. 

Tal perda de espaço simbólico é que está sufocando esta tradição. Muitos foliões já perceberam melancolicamente esta realidade vendo a faixa etária avançada de seus folieiros e exceto por casos excepcionais, enxergam também seu perigo. Existe algo que se possa fazer em favor desta manifestação da cultura popular? Ou de tão extemporânea estará mesmo fadada ao fim em algumas décadas? Apenas a dinâmica natural do fato folclórico se encarregará de conduzi-la para o futuro?

Se a resposta for de alguma esperança preservacionista então é tempo de planejar rápido e agir, em conjunto e harmonia com os remanescentes ou certamente nossa gerações futuras poderão não conhecer mais uma cantoria de Reis no presépio ou um louvor a São Sebastião na tradição das embaixadas ou uma jornada anunciatória pela festa ao Paráclito.  

Folia de São Sebastião, Barreiro (Coronel Xavier Chaves/MG), 1994. 

Notas e Créditos

* Em vermelho, as folias ativas à época que a lista foi escrita; em azul alguns links para fotografias. 
**Texto e fotos desta postagem: Ulisses Passarelli
*** Confira a seguir um vídeo de apresentação da Folia do João Matias, do Bairro Guarda-mor, São João del-Rei:



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Coelho: o esperto bicho de nossas fábulas

Os coelhos são mamíferos da ordem Lagomorpha, família Leporidae. O coelho doméstico não é nativo do Brasil. São animais introduzidos a partir do Velho Mundo, pertencendo a vários gêneros (*) não existentes no Novo Mundo. A criação pelo homem selecionou raças de interesse comercial. 

No Brasil o coelho nativo é outro roedor, que embora da mesma ordem e família, pertence ao gênero Sylvilagus, com 17 espécies e várias subespécies nas três Américas, sendo a nossa Sylvilagus brasiliensis

Obviamente que sua semelhança ao coelho domesticado trazido pelo europeu, fez com que de imediato fosse também batizado igualmente pelos portugueses. Virou, então, "coelho do mato". 

Mas da língua indígena herdou o nome de "tapiti", que significa "barriga branca", alusão a uma característica da pelagem do animal (**). 

Também é conhecido por "candimba", um africanismo, derivado do idioma quimbundo, kandemba (***).

Coelho do mato, tapiti ou candimba, na cultura popular é o animal símbolo da esperteza, da sagacidade, vencendo nas fábulas a força brutal e a ferocidade da onça e do lobo-guará e mesmo as armadilhas humanas. Figura lépido em inúmeras estórias, gerando um ciclo temático no fabulário, corrente aliás noutras partes do mundo com os demais coelhos e lebres. 

Está também no canto do jongo-de-roça, entoado durante os mutirões de capina, como estes exemplos do município de Resende Costa (****): 

"Chorei, mamãe! 

Ai, chorei, papai! 
Candimba, vai! 
Candimba, vai!” 

Outra: 

“Ô candimba! 
Arruma a mala 
vai embora, 
ô candimba!” 

A cantiga como se vê celebra o fim da capina: o coelho vai embora para outra paragem onde o cuidado com a roça não chegou, pois esta foi capinada!

Assim a cultura popular vai construindo com singeleza seu saber no convívio com a natureza. Por meio de cantos e fábulas, uma geração transmite à outra as características de um animal, contextualizadas à criatividade do imaginário folclórico.

Coelho do mato, tapiti ou candimba.

Notas e Créditos

* Wikipédia, verbete "Coelho" (acesso em 13/01/2015, 20:10 h). Para apreciação dos gêneros ver também: Mamíferos do Mundo.
** Eurico Oliveira ensina que o nome procede do tupi-guarani, de "ta"= pelo, "pi" (pia) = barriga, "ti" (tinga), branco. In: Entre o gambá e o macaco. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984. Coleção Zoologia Brasílica, v.6.
*** Wikipédia, verbete "Tapiti" (acesso em 13/01/2015, 20:20 h)
**** Originários da comunidade de Cubango. Informante: José Camilo da Silva, 1993.
***** Texto: Ulisses Passarelli
****** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 27/09/2014.
******* Confira pelos links abaixo algumas fábulas já publicadas neste blog, que envolvem o coelho:

O lobo do cu queimado
Tradições sobre o lobo
O coelho e o jacaré
O macaco violeiro
O bicho folharal

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A reza do terço

Mecanismo de preces e união comunitária

Talvez, o terço seja o mais popular objeto de orações. De tão conhecido possivelmente nem gastaria falar sobre ele. Mas para contextualizar os assuntos desta postagem vale uma pequena referência superficial. 

É um objeto de oração feito de uma enfiada de contas num cordão ou arame, equidistantes, fechando um círculo. Dele pende pequena parte, a partir de uma medalha da Virgem Maria, com mais cinco contas extras, terminando num crucifixo. Cada conta representa uma prece: as menores e mais próximas, Ave Marias, totalizando cinqüenta, em cinco grupos de dez (“dezenas do terço”), separadas por contas maiores e/ou mais afastadas, representando os Pai Nosso, cinco ao todo. Após a última Ave Maria se reza um Glória e faz-se invocações, suplicas ou cantos, ou contempla-se um mistério mariano. Mistério é também o conjunto formado pela dezena, Pai Nosso e Glória. O terço tem cinco mistérios. As contas extras são para preces avulsas, à escolha, geralmente, um Credo, três Ave Marias às três pessoas da Santíssima Trindade e uma Salve Rainha, que encerra o terço. 

As contas são feitas de vários tamanhos, cores e materiais. O mais tradicional é de contas de lágrimas de Nossa Senhora. Usa-se também madeira, metal, pedra-sabão, plástico, resina, caroço de azeitona, sementes. Brilhantes, opacos, cintilantes, perolados, prateados, aurificados, furta-cor, multicor, rudes, requintados, com micro-estampas... a indústria moderna oferece mil e um modelos. 

Algumas vezes é confundido com o rosário, que tem quinze mistérios: cinquenta Ave Marias e quinze Pai Nossos, com as mesmas cinco contas extras, a medalha e o crucifixo. O terço é pois, como indica seu nome, a terça parte do rosário.

Como objeto de orações, deslizando-se o dedo a cada conta numa contagem das orações, uma a uma, lentamente, enquanto se reza, o terço possibilita prece, contemplação e algumas outras possibilidades que abaixo se enumeram: 

Foliões de Reis rezam um Terço de Santos Reis com a comunidade e devotos visitantes
na Gruta do Divino, em São João del-Rei, Centro. 06/01/2001. 

1- O terço é também um amuleto: pendurado na cabeceira das camas guarda o sono do devoto, para garantir bons sonhos e descanso pacífico. Outrossim é trazido pendurado ao pescoço ou carregado no bolso, para proteção e boa sorte, tanto no cotidiano do homem comum, que vai para a missa dominical, para a praça conversar com os amigos ou para o trabalho, quanto por ocasião das festas populares, compondo a figura do congadeiro, do folião, pendente em bandeiras, bastões e mastros; 

2- Terço das Almas: o que é rezado nas segundas-feiras, oferecido em sufrágio das almas. Da mesma sorte existem terços específicos de invocação deste ou daquele santo, consoante rezados em seu dia votivo ou intercalado por suas preces e cantos próprios;

3- Terço das Crianças: pequeno, de contas plásticas, brancas, azuis ou rosas. Correlaciona-se com frequência com as tradições religiosas de matriz africana, nos terreiros, sendo preferido pelos guias de crianças (erês);

4- Terço de Rabo: antigamente, era o nome da última reza que precedia a dança de São Gonçalo, na zona rural de Bias Fortes/MG (*). 

5- Terço Bizantino: terço simplificado, de cinqüenta contas unidas e a cruz. Não se contempla mistérios. Reza-se repetindo por dez vezes cinco expressões religiosas, marcando-se a contagem nas contas. Exemplo: “Meu Bom Jesus” (l0 vezes), “Salvador do Mundo” (l0), “Salvai a mim também” (l0) “Fazei-me um bom cristão” (l0) “Dai-me a paz!” (l0). Vê-se congadeiros dançando e foliões cantando com este terço preso ao pulso, sobretudo o direito. Tem sido muito difundido pelos meios midiáticos e talvez a rapidez de sua prática esteja favorecendo sua difusão nesses tempos atuais de pressa para tudo; 

6- Terço militar: metálico, em forma de anel, com dez pequenas esferas soldadas (contas) e uma cruzinha. Bem menos difundido nos meios populares que o anterior;

7- Nossa Senhora do Terço: invocação mariana equivalente à de Nossa Senhora do Rosário e por ela infinitamente suplantada. Em São João del-Rei tem sua imagem na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar. É uma invocação pouco conhecida e iconograficamente idêntica à do Rosário.

Folia "Embaixada Santa" durante participação na Festa do Livramento,
em Prados, notando-se o uso dos terços pedentes ao pescoço. Junho/2009. 

A prática do terço como uma maneira de fazer oração vai muito além de mais uma simples mas respeitosa reza, ou apenas de uma forma de prece. É um mecanismo de sintonia com o sagrado, de louvação.

Existem os terços rezados individualmente, de joelho num banco de igreja ou no silêncio do quarto, como ensinou o Cristo Eterno: "Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu pai, que vê nos lugares ocultos, recompensar-te-á" (Mt 6, 6). Mas também existem (e são muito comuns) os terços coletivos, abertos ao público, que reúnem a comunidade e visitantes, diante dos cruzeiros dos largos, nas grutas das praças, nas capelas de roça ou da cidade e até nas igrejas maiores. Pois afinal, também Jesus ensinou a oração em comum: "Se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18, 19-20).


Notas e Créditos

* Informante: Elvira Andrade de Salles, 1995.
** Texto: Ulisses Passarelli
***Fotos: reza do terço, Ulisses Passarelli; folia na festa, Cida Salles.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Velhas notícias distritais - parte 1

Os distritos em geral ficam à margem dos estudos. Isolados do núcleo urbano, de ordinário sua rica história e cultura passa despercebida da maioria. Fazem pelo menos duas décadas que venho divulgando os valores das pequenas vilas, dos recônditos povoados. E sua riqueza não acaba nunca. Sempre tem mais para trazer à lume. 

Certa feita escrevi a Pequena Cronologia Distrital. A presente postagem longe de atingir aquele volume anda porém nos mesmos trilhos, ou, pelo menos, tem a mesma intensão. Assim, humildemente, à guisa de mera listagem de notícias, pretende facilitar futuras pesquisas mais engajadas pela facilidade da reunião de informes. 

Os distritos abordados pertencem ao município de São João del-Rei. As informações referem-se ao período de 1900-1905. A fonte de pesquisa é o site da extraordinária Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, desta cidade, através dos antigos jornais editados nas tipografias são-joanenses. 

Vista parcial de São Gonçalo do Amarante, em 07/10/2011.

- A Câmara Municipal suprime o distrito de São Gonçalo do Brumado, anexando-o ao distrito da sede. Com isto, os recursos para o lugar foram reduzidos à metade. O ato gerou muitas discussões políticas. (O Combate, n.30, 05/12/1900).

- No Rio das Mortes acontece a festa de Santana e São Benedito, com celebrações e música. Pregação por conta do Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho, focando sobre a mãe de Maria. O distrito estava em luto pelo assassinato ali ocorrido de Bernardino Pereira Leite, que motivou a presença de uma cruz chantada na via pública. Na ocasião do festejo, o conselho distrital reuniu-se e nomeou secretário o sr. Ernesto Mathias (O Combate, n.85, 07/08/1901).

- A Câmara Municipal reconhece os poderes das autoridades eletivas representantes do então recém-criado distrito de São Sebastião da Victoria. Nessa circunstância tomou posse e prestou juramento o vereador especial Capitão Manoel de Sousa Guerra Junior (O Combate, n.92, 21/08/1901).

- Nomeação para São Sebastião da Vitória do Sr. Salathiel Ribeiro de Paiva para o cargo de subdelegado. Foram suplentes em ordem decrescente: Isidoro Ribeiro de Carvalho, José Bueno da Silva, João Batista de Carvalho (O Combate, n.101, 14/09/1901).

- O Vigário Padre Francisco de Sales Torga abre subscrição para compra de aparelhagem de iluminação para a matriz do Cajuru, à base de gás acetileno (O Combate, n.122, 09/11/1901).

- Posto em hasta pública sob um orçamento de 6:899$200 os serviços de abastecimento de água potável do Cajuru (O Combate, n.122, 09/11/1901).

- Os srs. Eduardo Lopes, Delphino Candido do Carmo e Herculano Cezar de Carvalho foram nomeados respectivamente 1º, 2º e 3º suplentes do subdelegado do Rio das Mortes (O Combate, n.126, 23/11/1901)

- O conselho distrital do Cajuru aprovou uma “moção de apoio e solidariedade a politica do nosso chefe e amo. Dr. J .D. Leite de Castro, digno agente do executivo municipal” (O Combate, n.127, 27/11/1901)

- Morre Sebastião Baptista em trágica armadilha em São Miguel do Cajuru: o sr. Francisco José de Ávila, tendo prejuízos por invasão de ladrões em sua residência, colocou uma armadilha na queijeira, feita com uma espingarda, cujo gatilho se prendia a um cordão esticado até o jirau. Quando a vítima invadiu o espaço, esbarrou na armadilha e foi alvejada no peito. Pulou a janela em fuga, mas, gravemente ferido e ensanguentado, pereceu o invasor dentro do curral ao lado. (O Combate, n.149, 12/02/1902)

- “Mais uma fábrica de manteiga abre-se, por estes dias, na Victoria, de propriedade do sr. Antonio Baptista do Nascimento Junior.” (O Repórter, n.12, 09/04/1905).

- Autorizado pela Câmara Municipal, através da resolução nº314, de 22/02/1905, assinada pelo Diretor Dr. João Salustiano M. Mourão a construção em hasta pública de uma ponte na estrada de São João del-Rei a São Francisco do Onça (atual Emboabas), sobre o Córrego do Peixe no valor de até 400$000. A mesma resolução autoriza despesa de 60$000/ano para contratar limpeza da caixa d’água e tubulação do mesmo distrito, por duas vezes ao mês na seca e quatro no tempo chuvoso. A determinação é que a despesa saísse do próprio imposto arrecadado naquele distrito. O presidente da câmara era o Capitão Antônio Gonçalvez Coelho (O Repórter, n.12, 09/04/1905).

- Resolução nº325 da Câmara Municipal, de 16/06/1905, concede pena d’água perpétua e gratuita ao cidadão Tenente José Affonso do Nascimento, no Onça (O Repórter, n.26, 09/07/1905).

- A Câmara providencia reparos na ponte distrital sobre o Rio das Mortes Pequeno na vila homônima (O Repórter, n.26, 09/07/1905).

- Lei municipal nº130, de 03/04/1905, no seu artigo 1º, extingue o imposto predial sobre as construções rurais de São João del-Rei (O Repórter, n.25, 02/07/1905).

- Resolução nº320 da Câmara Municipal, de 03/04/1905, autoriza obras para conserto e reparo na estrada de São Gonçalo do Brumado (O Repórter, n.25, 02/07/1905).

Igreja de Nossa Senhora das Vitórias, do século XIX.
São Sebastião da Vitória (São João del-Rei/MG), agosto/1999.

Notas e Créditos

* Texto e fotos: Ulisses Passarelli: 
** Obs.: São Gonçalo do Brumado, depois Caburu, atual São Gonçalo do Amarante; Onça (ou São Francisco do Onça), atual Emboabas; Rio das Mortes, atual Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno.