Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Foliões penitentes

Folia do Divino da Rua São João, Bairro Tijuco, São João del-Rei/MG, canta o pedido de perdão durante o ato penitencial, na missa da véspera de Pentecostes, no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, durante o Jubileu do Divino. O Folião e Embaixador Antônio Ventura, com maestria conduz o canto ao som de seu acordeon. 18/05/2013. 

Notas e Créditos

* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Vídeo: Iago C.S. Passarelli

sábado, 24 de outubro de 2015

A tradição mostra sua força: cem mil visitas !!!

Estamos chegando a mais uma cifra importante na estatística deste blog: cem mil visitas alcançadas! São mais de três anos no ar, denotando a consolidação de um trabalho e não apenas uma aventura digital. A proposição da isenção político-partidária e da ausência de finalidade lucrativa tem sido rigorosamente mantida.

Em comemoração, acabamos de importar todas as 146 postagens de nosso outro blog, Matosinhos: história & festas, focadas na história do grande Bairro de Matosinhos, em São João del-Rei e suas festividades, notadamente as do Jubileu do Divino. Qualquer dúvida sobre as fontes de informação das postagens referentes a Matosinhos, sugerimos recorrer ao post Referências Bibliográficas, que reúne a listagem de títulos pesquisados. Assim, congregamos aqui um maior volume de informações da Mesorregião Campos das Vertentes facilitando a pesquisa, a referência, o conhecimento, o registro. Com isto, totalizamos neste momento 642 postagens publicadas, dedicadas à história, memória, cultura popular, eventualmente perpassando temas como ferrovia e meio ambiente. 

Os Campos das Vertentes são campos do saber, os mais diversificados, celeiro de tradições muito significativas, donde verteram historicamente cultura para regiões circunvizinhas. Aqui, além da riqueza do patrimônio material, também o imaterial fervilha dando-lhe vida, dinâmica. Nas festas populares os elementos religiosos e profanos se mesclam e complementam em equilíbrio, o povo traz suas congadas, visita as casas com as folias, ergue mastros, conduz rainhas em cortejo. 

Nas praças e largos erguem cruzeiros e grutas, pontos sagrados de congregação comunitária. 

As benzeções ainda não foram abandonadas. Perseveram as simpatias, as receitas de garrafada, a riqueza da medicina popular. Nossa culinária é célebre e tanto mais, os queijos... Os causos de assombração, as lendas etiológicas, os mitos cativantes enlevaram diversas gerações. As técnicas de produção ainda resistem: como fazer um cartucho de amêndoas, um doce de figo, um sabão de bola? 

O palavreado típico do natural das Vertentes gerou um falar bem mineiro. Com provérbios e expressões o homem se expressa melhor. 

Suas mãos são hábeis para fazer artesanatos, rendas, pinturas, esculturas, cantarias, nos legaram obras extraordinárias. 

Seu peito exala fé, exporta devoção, transborda amor e respeito ao sagrado, que põe para fora sob a forma de ladainhas, benditos, ensalmos, toques de sinos, tapetes de ruas, promessas, rezas bravas, rituais. 

Ex-votos, calango, pastorinhas, encomendação das almas, procissões, cantares, brincadeiras de criança, tradições agro-pecuárias, toponímia, crenças, superstições, previsões folclóricas da meteorologia, trovas ... de tudo isto que tem nas Vertentes aqui tem um pouco, que com muita satisfação este blog põe no ar e compartilha, via de regra reconhecendo o importantíssimo papel dos mestres da cultura popular na manutenção de nossas tradições. 

Fica consignada nossa gratidão a todos os visitantes, assíduos ou eventuais, que são a razão de ser desta página eletrônica. 

1- Não basta beijar a bandeira do congado. O devoto toca a testa saudando e pedindo força.
Bairro São Dimas, São João del-Rei/MG. 2015. 

2- Artista confecciona um tapete de rua na Sexta-feira da Paixão.
São João del-Rei. 2015.

3- Folia do Divino visita uma casa. O proprietário recepciona a bandeira e o folião.
Folia da Colônia José Teodoro, São João del-Rei. 2015.

4-  Ex-votos. Santuário da Santíssima Trindade, Tiradentes/MG. 2015. 

5- Sapinhos no carnaval de São João del-Rei. 2015. 

6- Pimenta de pau ou pimenta de macaco: tempero da culinária mineira.
Brumado de Cima (São João del-Rei). 2015. 

7- Negra-mina ou folha santa: ingrediente para banho de descarrego na corrente
da linha africana. São João del-Rei. 2015.
8- Cruz de beira de estrada. Subida para a Porteira da Volta, nas imediações de
São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei). Anos 1990. 

9- Gruta de São Pedro. Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno
(São João del-Rei). 2014. 
10- Imperadores carregam o andor do Espírito Santo.
Jubileu do Divino, Bairro Matosinhos, São João del-Rei. 2015. 
 Notas e Créditos

* Texto, acervo e fotos nº 2, 4, 5, 7, 8 e 9: Ulisses Passarelli
** Fotos 1, 3, 6 e 10: Iago C.S. Passarelli 


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Congados festejam o rosário nos Campos das Vertentes

O segundo semestre se destaca no campo da cultura popular pelas festividades consagradas a Nossa Senhora do Rosário. Na área das Vertentes elas se iniciam com as de Ibituruna, tradicionalmente no último domingo de junho e se encerram com as da Canela, na zona rural de São João del-Rei, no segundo domingo de novembro,

Mas é em setembro e outubro que se concentram o maior número de comemorações, por vezes, três, num único final de semana, em povoados e bairros diferentes. 

Os congados são sem dúvidas o elo em comum em todas estas festas e o seu ponto de maior destaque. Os grupos, ou conforme terminologia mais adequada _ guardas ou ternos _ compartilham um sistema colaborativo, indo uns nas festas dos outros, consoante convite, na esperança de serem retribuídos em participação nos seus próprios eventos. É graças a isto que numa festa vemos grupos de muitas cidades. 

É de se ver sua apresentação, com que originalidade e vigor incansável acontece, sob o sol ardido e cada dia mais implacável, como dançam com garra, num empenho notável. A população gosta e acorre às ruas para ver os congadeiros em seu cortejo e sob as árvores das praças se conglomeram as pessoas à sombra para apreciá-los. Neste interim, vendedores ambulantes aproveitam para vender algo. Além de eventuais barraquinhas de costume, aparecem os vendedores de picolé e sorvete, algodão doce, maçã do amor, amendoim torrado, terços e rosários. E tudo isto compõe o cenário festivo, entremeio a toques de sinos, fogos de artifício e celebrações.

As comemorações do rosário pontuam o calendário festivo com uma peculiaridade extraordinária de elementos etnográficos, folclóricos, sagrados! Musicalidade, colorido, coreografia, alegria e confraternização são ingredientes marcantes. É a celebração da vida. É manifestação de gratidão e expressão de fé, na certeza de angariar bençãos para o cotidiano e graças para as causas mais aflitas. O rosário é uma irmandade gigante, intangível, indescritível. Só se pode senti-la. Falar sobre o rosário é muito difícil...

Foto 1: Igreja do Rosário em Ritápolis no dia maior de sua festa,
vendo-se à direita os mastros de São Benedito e de N.S. do Rosário. 04/10/2015.

Foto 2: congado do distrito da Restinga em sua chegada à Igreja do
Rosário, na sede do município de Ritápolis. 04/10/2015.  

Foto 3: Congo de São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei)
 em marcha pelas ruas durante a Festa do Rosário. 11/10/2015.

Foto 4: Sob a bandeira de Nossa Senhora Aparecida, o congado de São Gonçalo do Amarante
caminha para o largo afim de levantar o seu mastro. 11/10/2015. 

Foto 5: Durante a Festa do Rosário de Passa Tempo, o moçambique de
Ibituruna entoa sua jomba de louvor. 18/10/2015.
Notas e Créditos

* Texto, acervo e fotos 1, 2 e 5: Ulisses Passarelli
** Fotos: 3 e 4, Iago C.S. Passarelli

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ditados - parte 5

Ajoelhou, tem que rezar – começou uma ação, tem que concluí-la.

Antes só que mal acompanhado – a estar em companhia de pessoas desonestas, de má índole, violentas, é melhor permanecer solitário.

Boca fechada não entra mosquito – não se deve falar demais pois acaba se dizendo o que não é necessário e causa embaraço.

Boca que não merece beijo, pimenta nela! – pessoa que só fala asneiras, ofensas, xingamentos, é logo execrada.

Cada macaco em seu galho – cada pessoa deve se ater ao assunto de seu domínio; cada um deve se conservar nos limites de seu trabalho, sem se preocupar com o dos outros.

Cada um sabe de si; Deus, de todos – cada indivíduo deve cuidar exclusivamente de seus problemas, anseios e afazeres, sem se preocupar com a vida do outro.

Cão que ladra não morde – pessoa que ameaça demais não cumpre aquilo que ameaçou.

Dado, até injeção na testa – sendo de gratuito, tudo é válido.  Variante: “... injeção na veia”.

Dar com uma mão e tirar com a outra – oferecer uma coisa e tomar outra; trazer um benefício e um prejuízo, simultaneamente.

Deixa eu cuidar da vida que a morte é certa – dito de incentivo à pró-atividade; cuidar das coisas necessárias ao cotidiano sem perder tempo com o supérfluo.

Desculpa de peidorreiro é barriga inchada – sempre existe uma culpa atribuída a algo, quando de fato depende-se da ação da pessoa.

Em festa de jacu, inhambu não entra – entre poderosos, ricos, o desfavorecido não tem oportunidade.

Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas – onde o perigo é muito grande, até quem tem proteção se cuida mais.

Farinha pouca... meu pilão primeiro! – quando os recursos são minguados, primeiro se olha para as próprias necessidades, depois para as necessidades alheias.

Gato escaldado não cai no pote de água fria – quem já caiu numa cilada, de qualquer  embuste tem medo.  Variante: “... tem medo de água fria”.

Levar a fama sem deitar na cama – levar uma fama ruim sendo inocente. É um ditado contrário a outro: “Fez a fama, deita na cama” , ou, “... chora  na cama, que é lugar quente”.

Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga – não se deve preocupar excessivamente com o futuro. Deve-se trabalhar e confiar na graça de Deus.

Não se quebra a perna de um burro por ele dar coice – não se pune apenas por uma má resposta ou rispidez.

O lobo perde o pelo, mas não perde o vício – o homem maduro dá sinais de perda da vitalidade mas não perde a libido.

O maior cego é aquele que não quer ver – diz-se da pessoa que teima em não admitir uma verdade que está às claras, visível por todos.

O melhor da festa é esperar por ela – a ansiedade gerada pela espera de uma acontecimento, acaba sendo mais satisfatória que o próprio evento em si, por vezes, decepcionante.

O olho do dono é que engorda o gado – o responsável por um negócio deve acompanhar de perto a evolução do mesmo, o que garante seu êxito. Variante:  “... engorda o cavalo”.

Papagaio come milho, periquito leva a fama – uma pessoa faz o ato, outra leva a culpa.

Para agradar ao santo se beija as pedras – para se alcançar um objetivo, muitas vezes é necessário tomar atitudes indesejadas.

Para quem é, bacalhau basta! – para quem não tem elegância, fineza, polimento, qualquer coisa serve.

Para quem sabe ler um pingo é letra – para quem tem perspicácia, qualquer sinal indica ou prenuncia o que ainda não foi revelado.

Pau que nasce torto morre torto – o defeito da personalidade não tem correção.

Princípio de cantiga é assobio – o início dos acontecimentos é prenunciado por pequenos fatos.

Quem nasceu para ter pena é galinha – diz-se do sentimento de ter dó dos outros, ter pena, desestimulando-o.

Quem avisa amigo é – quem alerta o outro de algum perigo ou problema que sinaliza proximidade é verdadeiramente um amigo.

Quem cala consente – quem é acusado de algo e não se defende está admitindo a culpa.

Quem casa quer casa – quem ingressa num matrimônio deseja ter sua individualidade, a própria residência, sem coabitar com outras pessoas que não apenas o cônjuge.

Quem conta um conto aumenta um ponto – a estória ou o fato, cada vez que é recontado, vem acrescido de novos elementos.

Quem corre atrás de muito fica sem nenhum – provérbio contrário à ganância, estimulando a não ser usurário.

Quem deve a Deus paga a Deus; quem deve ao diabo, paga ao diabo – quem deve paga de qualquer jeito, mas paga a quem deve: se a dívida é com o lado do bem, pagará aos bons, não aos maus; mas sempre pagará. É um provérbio que contraria o seguinte desta listagem e em geral é dito entre pessoas de formação espiritualista. De alguma forma ele vai reiterar o ditado “Fuja de dever, quer pagar é certo...”, que assegura que de qualquer forma uma punição virá. Estes provérbios referem-se a uma dívida moral, espiritual, por uma atitude indevida. Não é dívida monetária.

Quem deve a Deus, paga ao diabo – erros de conduta, as contas serão cobradas pelo maligno.

Quem gosta de bucho é panela de pressão – ditado comparativo: “bucho” é termo usado com referência à pessoa indesejada, mal quista; “bucho” de fato é o termo popular para designar o estômago da vaca, usado como alimento, cozido, matéria-prima do prato “dobradinha”. O sentido alegórico indica que a pessoa não tolera pessoa intratável (“bucho”).

Quem gosta de casamento é padre e fotógrafo – referência às dificuldades e dissabores de uma vida matrimonial. O provérbio é zombeteiro, referindo-se que quem gosta de casamento é quem ganha dinheiro com ele.

Quem já foi rei nunca perde a majestade – quem teve um cargo importante, uma vez saído dele, permanece com a empáfia que sustentava enquanto empossado no mesmo.

Quem morre por gosto, regalo da vida – referência às pessoas que se habituaram a queixar-se de tudo, a lamentar da sorte, a prenunciar sua própria doença e morte, sem reagir ou tomar atitude. No geral se refere às pessoas que exacerbam pequenos problemas para aparentar ao outro grande sofrimento.

Quem não arrisca não petisca – quem não tenta, aposta, arrisca, não terá chance de alcançar resultados.

Quem nasceu para ter coleira é cachorro – provérbio que renega a submissão, afirmando com convicção a condição de independência e liberdade.

Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza – quem não experimentou um prazer da vida, quando o prova, insiste nele até ao exagero.

Quem quebra galho é macaco gordo – a expressão “quebrar galho” significa fazer favores, prestar benesses. O ditado, em forma de analogia, renega esta atitude, estimulando que cada um resolva seus próprios problemas.

Quem tem filho barbudo é gato – sentido: que tem de cuidar de pessoa já adulta, barbado, é a própria pessoa, não outrem. Ditado contrário ao abuso de quem sem agir, conta com a ajuda alheia.

Quem tem quem por si chora, todo dia morre – quem vive lamentando e encontra quem consola, não deixa de lamentar; vicia na prática do queixume.

Quem vê cara não vê coração – quem observa apenas a aparência não capta a essência da pessoa, seu caráter, a personalidade, os valores humanos.

Sua cabeça é seu guia – cada um faz o que quer; o que deve fazer, orientado pela própria consciência ou desorientado pela falta dela.

Todo pé torto tem seu chinelo velho para calçar – a pessoa por mais desprovida de atributos que seja _ sempre encontrará alguém que possa agradar dela e fazer par. Um ditado equivalente é: “Toda panela velha tem sua tampa”.

Um boi solto lambe-se todo – a pessoa que vivia sem liberdade, quando a alcança, perde-se inebriado pela sensação da liberdade.

Um burro carregado de livro não é doutor – uma pessoa com muito estudo, mas sem polimento no trato com o próximo não é digno da intelectualidade adquirida. “Burro” se diz de quem tem pouca inteligência ou estudo, ou no sentido exato deste provérbio, “burro” é o indivíduo grosseiro, deselegante, que trata o próximo com rispidez. “Coiceiro”.

Um pai cuida de dez filhos, dez filhos não cuida de um pai – quando o progenitor precisa de atenção e ajuda, os filhos não fazem pelo pai o sacrifício correspondente que o pai fez por eles. Uma variante substitui a palavra “cuida” por “trata”. Esta expressão consta de uma famosa e educativa e emblemática canção da música caipira, “Moda do Couro de Boi”.

Um tatu cheira o outro – as pessoas se aproximam para convívio por afinidade de comportamento.

Uns agradam dos olhos, outros da remela – tem pessoas que aparentam se prender aos defeitos explícitos que o companheiro apresenta, renegando outras pessoas quem excedem em qualidades. “Remela” é termo popular para a secreção que se junta no ângulo interno dos olhos.


Notas e Créditos


*Texto: Ulisses Passarelli

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Alvorada do Rosário em São Gonçalo do Amarante


Alvorada dos caixeiros em São Gonçalo do Amarante. 2015.

Alvorada por caixeiros do grupo de Congo N.S. do Rosário, em São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei/MG), ex Caburu, durante a Festa do Rosário, dia 11/10/2015, 4 horas da madrugada. Além das caixas, repiques de sino e fogos de artifício para anunciar os festejos e acordar os moradores para o evento. Saem da Travessa da Cava Funda e vão à porta da igreja, onde fazem a vênia, e a seguir vão ao mastro tomar bênção, ao cruzeiro e depois circulam pelo largo e ruas da vila. Apenas neste momento houve-se este toque típico de alvorada, que os congadeiros locais alcunharam de "vamos'imbora, Vitalina!". 

Notas e Créditos

* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Vídeo e fotografias: Iago C.S. Passarelli

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Festa do Rosário em São Gonçalo do Amarante: congados em louvor

Inicia hoje no distrito são-joanense de São Gonçalo do Amarante (ex-Caburu) o tríduo preparatório de mais uma festa congadeira em honra a Nossa Senhora do Rosário, um dos mais tradicionais eventos ligados à cultura popular em São João del-Rei. 

Desde o dia 08 de setembro que a imagem de Nossa Senhora do Rosário encontra-se em peregrinação, visitando as casas dos congadeiros, onde acontecem terços. O último dia de visitas foi 02 de outubro e no dia seguinte aconteceu na Gruta do Divino um terço com participação da comunidade e congadeiros das duas guardas locais. 

Já o tríduo está centrado na histórica e monumental igreja do padroeiro. 

O dia maior está programado para o próximo domingo, dia 11 do corrente, com alvorada às 5 horas da madrugada, ocasião na qual os caixeiros percorrem o largo tocando o toque específico "Vamos'imbora, Vitalina!", ouvido unicamente nesta ocasião. No meio da manhã inicia-se a apresentação dos congados locais e chegadas dos ternos visitantes. Ao final da manhã os grupos são agraciados com troféus e anunciados de público e na sequência seguem para o almoço festivo. 

O recolhimento dos reinado acontece às 14 horas, a partir da Gruta do Divino, seguindo para a missa com participação das guardas e grupos de terço. A procissão acontece a seguir, conduzindo os andores de Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora Aparecida e São Benedito. 

A chegada é marcada por fogos de artifício e bênção do Santíssimo Sacramento. 

Congo Nossa Senhora do Rosário,
São Gonçalo do Amarante. 

Caminhos do Rosário ...

Congada Azul e Branca Nossa Senhora Aparecida,
São Gonçalo do Amarante. 

Congada Azul e Branca Nossa Senhora Aparecida,
São Gonçalo do Amarante. 

Soldado do congo e sinhô rei...

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 13/10/2013 (coloridas) e 09/10/2011 (preto e branca)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Cortejo

Assista ao vídeo que exibe parte do cortejo da Festa do Divino clicando no link abaixo:




Cortejo. Festa do Divino. São João del-Rei.
Foto: Iago C.S. Passarelli, 08/06/2014. 


sábado, 3 de outubro de 2015

Trovinhas bem humoradas e outras quadras populares - parte 2

Um campo riquíssimo para a pesquisa do folclore é o universo da poesia popular, seja por sua imensa vastidão e variedade, seja por refletir com muita transparência e simplicidade os sentimentos e os costumes. Muitas vezes numa humilde trova encontra-se a referência que serve de pista ao pesquisador para enveredar mais a fundo num assunto, que rende certamente um estudo.

Este blog já tem se dedicado ao assunto tendo publicado quatro postagens da série “Quadrinhas de Amor”, uma Quadrinhas do Elvas e uma Trovinhas bem humoradas e outras quadras populares, que ora apresentamos a segunda parte.

Na mesma linha da parte 1, vê-se neste novo conjunto a pronúncia popular naturalmente estropiada nessas quadras, o que contribui para lhes ajustar a métrica, conferir uma verve típica e até mesmo a sonoridade necessária à rima: “véia” (velha), "trabaiadô" (trabalhador) “ôtra” (outra), “cumê” (comer), “armoço” (almoço), “bença” (bênção), “falá” (falar), “farejá” (farejar), “arto” (alto), “valô” (valor), “papé” (papel), “votá” (votar), “surjão” (cirurgião), etc. Da mesma forma os plurais são omitidos: “os olho”, “as veia”, “sete palmo”, “sete mês”, “cinco ano” ...  A palavra “cagô” (cagou), assaz conhecida, é o termo chulo equivalente a defecou; “dentadura” é prótese dentária total removível.

Surgem também os chamados versos-feitos, ou seja, composições fixas que aparecem para compor várias peças do refraneiro. “Lá detrás daquele morro...” , por exemplo, é empregado em várias trovas populares em variações, de extensa ocorrência geográfica. Outros exemplos de versos-feitos: “Ninguém viu o que eu vi hoje”; “Quando eu vim da minha terra”...

Entre o conjunto de quadras incluiu-se um único terceto (nº4). A justificativa é unicamente por fazer par com a trova nº3, com a qual guarda similitude e aparente continuidade.

A quadra nº1 tem ares de ponto, no estilo de pergunta, enigmática e provocativa.

A de nº5, bastante difundida, possui algumas variantes, uma das quais substitui “jatobá” por “manacá”.

Há de se observar que as composições muitas vezes ironizam situações cotidianas (“eu ontem comi no almoço”), brincam com a própria sorte (“fui um homem inteligente”), falam de personagens imaginários (Sá Chiquinha; seu Manuel Antônio...), zombam do próprio amor (“menina, se tu soubesse” ; “menina, casa comigo”), nada porém com cunho discriminador, mas sempre com ar hilário, no contexto da cultura popular.

Por fim é curioso notar as duas últimas peças, coletadas em Santa Cruz de Minas que motejam São João del-Rei, duas cidades extremamente vizinhas. As duas quadras revelam uma rivalidade da primeira urbe para com a segunda: a disputa feminina sobre namorados roubados e o desenvolvimento econômico são-joanense à época da coleta, confrontado com outras cidades regionais como referência.

Seja como for, ainda que aparentemente disparatadas, essas quadras revelam em seu intrínseco ou em seu panorama, a sabedoria e bom humor popular na composição lúdica de trovas avulsas, independentes, anônimas, que se difundem pela oralidade ou anotadas manuscritas em cadernetas e cabeçalho de páginas escolares. No todo transmitem mensagens coletivas e conselhos, ou apenas brincam com a vida, divertem com seu humor de delicioso sabor provinciano, por vezes, chulo.

*  *  *

1-Eu sou filho da caninana,
2-Lá vem Sá Chiquinha,
Neto da cobra-corá,
Rouca, sem poder falar,
Cachorro sem nariz
Trazendo na barra da saia,
Como pode farejá ?
Quarta e meia de fubá ...


3-Seu Manuel Antônio de Sousa,
4-Seu Manuel Antônio Saturnino
Que veio lá do surjão,
Pela cara que tem
Tira esse cará da garupa,
Tem os olho pequenino.
Que isso é mandioca do chão.



5-Lá detrás daquele morro
6-Meu amigo quando come,
Tem um pé de jatobá
Incha as veia do pescoço,
Quem comer,
Parece um cachorro velho
Dá muxiba no mamá...
Quando tá roendo osso.


7-Duas velha muito velha,
8-Lá no alto daquele morro,
Duas velha saragota
Tem um pé de samamabaia;
De tanto falar em casamento
A mulher deu um peido,
Uma velha cagô na outra...
Rebentou o cordão da saia...


9-Ninguém viu o que eu vi hoje,
10-Quando eu vim da minha terra
Lá no alto daquele morro:
Minha mãe disse: “vai, vai!”
Sete palmo de linguiça
Toma a bença a todo mundo,
Correndo atrás de um cachorro.
Que eu não sei quem é teu pai...


11-Eu ontem comi no armoço,
12-Eu já fui homem inteligente,
A Azeitona de uma empada,
Quase que tirei meu curso...
E coloquei o caroço
Do primeiro pro segundo ano
Sobre a toalha engomada.
Da escola fui expulso.


13-Eu nasci de sete mês
14-Eu não conheci meu pai,
Mesmo assim fui bem criado;
Mesmo assim fui bem criado;
Com idade de quinze ano,
Com idade de cinco ano,
Fui eleito deputado.
Fui votá pra deputado.


15-Alecrim verde cheira muito,
16-Preto é tinta que se escreve
Ele seco cheira mais;
Pra dá valô o papé;
A mulher que fia em homem,
Preto é o cabelo da Virge
Morre seca, dando “ais”...
E as barba de São José!


17-A mulher mais as galinhas
18-A mulher velha
Não se deixa passear:
Quando quer dançar um tango
As galinhas o bicho come,
Fica igual uma raposa,
A mulher dá o que falar...
Quando quer pegar um frango.


19-O marmelo é boa fruta,
20-Menina quando eu morrer,
Que dá na ponta da vara;
Vai na cova me adorar,
Mulher que chora por homem
Para ver o teu corpinho
Não tem vergonha na cara.
Faz o meu ressuscitar.


21-Menina casa comigo
22-Menina dos olhos pretos
Qu’eu sô bom trabaiadô,
Cor da linha do retrós,
Com chuva num vô na roça,
Põe a chaleira no fogo,
Com sole também num vô... 
Pra fazer café pra nós.


23-Menina, se tu soubesse,
24- Os jovens beijam devagar
Quanto eu estou te querendo,
Para sentir a doçura,
Eu queria te ver morta
Os velhos beijam depressa
E as formigas te comendo...
Para não cair a dentadura ...


25- Se você está namorando,
26- Juiz de Fora deu um grito
Guarde dentro do baú
Barbacena respondeu;
Que as mulheres de São João
Tiradentes tá doente,
É pior que urubu ...
São João [del-Rei] já morreu ...


Notas e Créditos

*Informantes: quadras 1 a 22 – Aluísio dos Santos (1994-1997), São João del-Rei; 23 – Luthéro Castorino da Silva (1998), São João del-Rei; 24 a 26 (1999), Maria Aparecida de Salles, Santa Cruz de Minas.
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Veja também a série: 

Quadrinhas de Amor - parte 1 
Quadrinhas de Amor - parte 2
Quadrinhas de Amor - parte 3
Quadrinhas de Amor - parte 4