Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 30 de outubro de 2012

Congo das Águas Férreas

Congo das Águas Férreas, Bairro Tijuco, São João del-Rei, 
do Capitão Geraldo Elói de Lacerda, 
na Festa de Nossa Senhora Aparecida do Bairro Guarda-mor, 1983.
Este terno foi estruturado nos moldes do congo do distrito de São Gonçalo do Amarante.  


Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
**Foto: autor não identificado, 1983. Gentilmente cedida para reprodução pelo capitão dessa saudosa guarda a quem dirijo minha gratidão.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Saudação ao mastro

1- "Congo Nossa Senhora do Rosário", 
de São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei/MG), na 
Festa do Rosário em sua comunidade saudando o mastro. 2015.
2- "Congada Azul e Branca de Nossa Senhora Aparecida",
de São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei/MG), na
Festa do Rosário em sua comunidade saudando o mastro. 2015. 
3- Capitão do Congado de Barroso/MG, Sr. Antônio Francisco dos Santos
saudando um mastro durante a Festa do Rosário no Bairro São Geraldo,
São João del-Rei/MG, 1995. 
4- Guarda de Coice dos Marujos "Nossa Senhora Aparecida", de
Conselheiro Lafaiete/MG, saudando um mastro na Festa do
Rosário no Bairro São Geraldo, em São João del-Rei/MG, 1995.
5- Capitão de congado Luís Santana saúda um mastro na Festa do Rosário,
 Bairro São Dimas, em São João del-Rei/MG, sua comunidade sede. 1995. 

Ao seu redor outros congadeiros de seu terno de catupé. 

Clique para assistir: Mastros Votivos


Notas e Créditos

 *Texto, fotografias (3, 4 e 5) e vídeo (apresentação de slides): Ulisses Passarelli
** Fotografias 1 e 2: Iago C.S. Passarelli

domingo, 28 de outubro de 2012

Trinta Anos de uma Folia


TRINTA ANOS DE UMA FOLIA [1]


Oferecido com saudosa gratidão à memória de nossos companheiros que já partiram, sobretudo aqueles que carinhosamente chamamos de Tião Domingos, Totonho Benzedor, João Liá, sr. Raul e Chiquito Matias.


           A ausência de documentos de pesquisas anteriores e de certidões cartoriais de registro, torna obscura a datação dos grupos folclóricos em geral e tanto mais das folias. Nenhum grupo são-joanense é registrado.
            Desta forma o que sabemos de sua história se prende exclusivamente aos informes orais de antigos participantes.
            Surgiu em 1981 uma folia de Reis sob a direção do folião Antônio Carvalho da Silva conhecido popularmente por “Totonho Benzedor”, posto que em sua casa num beco nos limites dos bairros Dom Bosco e São Dimas (o popular “Lava-pés”), atendia a todos gratuitamente para o exercício de suas preces e benzeduras, cuja boa eficácia é atestada por quantos dela se beneficiaram. 


Antônio Carvalho da Silva.
Foto: Lenice F.C.Santos, 1996.

            Teve desde o início um acentuado apoio de seu irmão, Sebastião Carvalho da Silva, conhecido “Tião do Fole”, hábil folião, sanfoneiro e violeiro.
            Naturais da zona rural entre Conceição da Barra de Minas e São João del-Rei, procedem de uma importante raiz cultural e tem experiência no assunto.
            Com o falecimento de Totonho o comando da folia passou para um de seus folieiros, o sr. Sebastião Teodoro da Silva (“Tião Domingos”), morador da Rua Angélico Benfenatti, na Vila João Lombardi, Bairro das Fábricas. A partir de 1998 então a folia passou a se reunir em sua casa e a ser identificada como Folia do Bairro das Fábricas.
            Este folião é uma das figuras de proa do folclore são-joanense e merece de todos o pleno respeito. Natural do distrito de Emboabas, ingressou na prática das folias aos 12 anos de idade e desde então vem participando, o que fez dele um dos foliões de mais antiga e contínua atividade de São João del-Rei. Já por isto, mereceu em 2002, durante a Festa do Divino do Bairro de Matosinhos, a condecoração “Estrela da Guia”, concedida pela Federação de Reisados do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio de seu representante, o folclorista Affonso Maria Furtado da Silva.


Sebastião Teodoro da Silva.
Foto: autor não identificado, 2002. 
Gentilmente cedida por Affonso Furtado.

            Assim como Totonho, também Tião cuidava dos seus folieiros em pleno espírito de irmandade e posso testemunhar o respeito e a educação com que sempre nos trataram, bem como os familiares.
            Motivado por problemas de saúde, Sebastião Teodoro passou a coordenação da folia em 2006 a  Ulisses Passarelli, que já participava do grupo desde dezembro de 2000 e então passou a ser conhecida como Folia da Caieira, reunindo-se nesse bairro, à Rua Eurico de Oliveira.
           Em 2010, impossibilitado por motivos de serviço, Ulisses passou o comando a “Luisinho Sanfoneiro” (Luís Carlos Rosa), figura bastante conhecida nos meios folclóricos, embaixador de folia e capitão de congado. Luís prossegue com a folia conduzindo a mesma irmandade.


Luis Carlos Rosa.
Foto: Cida Salles, 2010. 

            Eis portanto que desde a fundação o mesmo grupo passou sediado em quatro bairros. Mudou a direção, não a diretriz. Alguns companheiros são antigos, outros recentes, uns faleceram, outros deixaram o grupo, mas a folia persiste com a mesma fé, a mesma firmeza e objetivo. Sempre seus componentes foram de diferentes partes da cidade e não de um só bairro ou família, embora isso nunca tenha interferido em sua vida e jornada.
            Alguns detalhes das toadas mudaram com os anos o que é natural em folclore, já que não se segue a nenhuma partitura. Portanto, diferentes músicos, sobretudo os sanfoneiros, deram a cada época uma característica musical à folia. A identidade geral porém é mantida.
            Com o passar dos anos, outros participantes foram entrando para o grupo inicial, somando ou substituindo. Dentre tantos, ficou bem fixo na memória popular a participação dos srs. José Gaio, Edmar Eustáquio, Marcos Antônio, dos sanfoneiros “Mirandinha” e “Zé da Carminha”.
            No papel de bastião ou palhaço, deixaram sua marca de saudade pela alegria, saber e habilidade na dança os senhores “Zé de Aquino”, do Bairro Bela Vista, “Lico da Rede” (Franklin de Azevedo Filho), Geraldo, do Bairro Caieira e “Zé do Nica”, do Bairro São Geraldo (falecido em 1999), por ordem cronológica. Desde o ano 2000 Ulisses Passarelli assumiu o posto de bastião da companhia reiseira sob o cognome de “Fura-capa”. Fazendo-lhe companhia dois irmãos, filhos do sanfoneiro: Samuel Tadeu Rosa como Palhaço “Catatau” e Maicon Luciano Rosa como Palhaço “Tomba-carro”.
            Este grupo de folia foi o responsável em 2009 pelo 1º Encontro de Folias na Colônia do Marçal, sob o incentivo inolvidável do pároco da Imaculada Conceição, Padre Antônio Claret Albino.
            Quando a possibilidade acena, participa de encontros de folia nesta cidade e redondezas, tais como Ribeirão Vermelho, Resende Costa, Içara e Mercês de Água Limpa.
            No ano de seu trigésimo aniversário nossa folia adotou o nome de “Embaixada Santa”, cantando em três jornadas anuais, em honra aos Santos Reis (25 de dezembro a 6 de janeiro), São Sebastião (7 a 20 de janeiro) e Divino Espírito Santo (da Páscoa e Pentecostes). 

Folia "Embaixada Santa" com a bandeira de São Sebastião em jan.2010.
Foto: autor não identificado. Encontro de Folias de Mercês de Água Limpa (São Tiago / MG).
Notas e Créditos


* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
**Assista a um vídeo dessa folia: Folia de São Sebastião


[1] Publicado pela Atitude Cultural, por uma gentileza de Alzira Agostini Haddad. Clique aqui para ler.

sábado, 27 de outubro de 2012

Notas folclóricas


Breves notas sobre o folclore de São João del-Rei [1]


        A diversidade cultural brasileira prende-se à nossa grande miscigenação étnica e aos processos de nossa formação histórica, econômica e social. A complexidade é gigantesca e no Brasil continental todo este legado teve oportunidade de se miscigenar em sangue e saber, tendo a vastidão da natureza como meio físico inspirador para sua evolução e troca de experiências. Na filtragem secular dos saberes a cultura popular consolidou-se com pujança. Não é portanto de se admirar que o folclore florescesse com tamanho viço como aconteceu no Brasil.

Em Minas Gerais também é este o panorama da cultura popular. Nossas Folias (de Reis, de São Sebastião, do Divino, etc.) e Congados (Congos, Moçambiques, Catupés, Marujos, Caboclinhos, Candombes, Vilões)são oriundos deste caldeamento étnico-cultural e povoam todos os rincões mineiros.

       A tricentenária São João del-Rei é reconhecida pela amplitude de seu patrimônio cultural. Não foi por acaso que recebeu em 2007 o título de Capital Brasileira da Cultura. Na música é um expoente, no toque dos sinos idem, bem como nas tradições religiosas praticadas em suas históricas igrejas, com destaque para a linguagem dos sinos, as novenas, celebrações e cortejos processionais. O patrimônio ferroviário aqui presente nos enaltece, não obstante o declínio das ferrovias brasileiras.  Nesta “Cidade dos Sinos”, emoldurada pelo casario colonial, também a cultura popular é muito bem representada.

       Todos os ramos do folclore podem ser aqui bem observados, tais como culinária regional, lúdica infantil, literatura popular, danças folclóricas, crenças e superstições, artes e técnicas, artesanato, festejos populares e rituais da religiosidade popular.

       A Festa do Divino que aqui tem o status de jubileu perpétuo, graças a um breve pontifício do Papa Pio VI, datado de 1786, possui um passado glorioso de intensa atividade religiosa-cultural, que declinou nos meados do século XX para ser reativada em 1998. Desde então tem sido um momento muito especial de evangelização e um dos mais importantes  eventos para o folclore são-joanense nos últimos dez anos, quando se congregam no santuário diversos grupos folclóricos, entre congados, folias, pastorinhas e danças-das-fitas, além de outras atrações, que se unem com o objetivo de festejar o Divino.

       Seu colorido e musicalidade são sem dúvidas um atrativo turístico. Esta festa extrapola bastante os limites do Bairro de Matosinhos, que a sedia, para abraçar a cidade toda e na verdade ganha um ar regional, pelo imenso poder congregador.  

Em especial sobre as folias e os congados, pode-se afirmar que são manifestações profundamente arraigadas à religiosidade popular e que contam com um histórico de ocorrência antiga nesta região mineira e por conseguinte estão muito enraizadas.

Acontecem sobretudo em dois momentos: as folias, como peditórias e itinerantes, visitam as casas cantando louvores ao Espírito Santo da Páscoa a Pentecostes (folia do Divino) ou ao nascimento de Jesus e episódios correlatos do Natal ao Dia de Reis (folia de Reis) ou ainda ao martírio de São Sebastião, de 7 a 20 de janeiro, portanto em seqüência (folia de São Sebastião). Os congados em marcha pelas ruas e visitando igrejas, surgem na Festa do Divino (maio-junho) e nas do Rosário (agosto-novembro). Esse é o tempo. Fora este, só em esporádicas apresentações dispersas ao longo do ano. Mas quem de fato quiser conhecer há de assisti-los em seu ambiente, à sua época própria. Aí são espontâneos, demonstram a sua verdade.

No quadro atual estas manifestações folclóricas enfrentam severos problemas frente às acentuadas questões trazidas pela globalização, as fortíssimas mudanças sociais carreando novos valores, outras concepções de vida e de vivência com o elemento religioso. Para sua salvaguarda, além de se suprir as necessidades materiais dos grupos folclóricos, há uma questão mais profunda que chama todos à responsabilidade: o respeito humano. Felizmente nossos folieiros e congadeiros estão aprendendo a se auto-valorizar como artistas populares. Os dançantes de fato dão tudo de si para a conservação de seus grupos. São pessoas humildes, que muitas vezes gastam o que não podem para mantê-los. Felizmente contudo a visão destas necessidades vem se ampliando e o apoio ora dado é maior que noutros tempos.

Os participantes desses grupos folclóricos são heróis da cultura popular, que por diversas gerações vem mantendo estas tradições.

Felizmente na cidade de São João del-Rei, a Festa do Divino tem sido um ícone da valorização destas manifestações e as folias prosseguem, com sete grupos na zona urbana e cinco na rural, plenamente ativas, além de cinco congados na zona urbana (um dos quais surgidos neste ano) e três na rural (dois centenários e um de 2007), prova de que na Capital da Cultura o folclore viceja com esplendor.

Cartuchos de amêndoa da Festa de São Miguel Arcanjo.
São Miguel do Cajuru (São João del-Rei / MG).

Notas e Crédito

* Texto e fotografia (1999): Ulisses Passarelli
** Obs.: esta fotografia não faz parte da publicação original deste artigo.


[1] - In: Suplemento Literário de Minas Gerais, Belo Horizonte, SEC, dez. / 2007,  p.16.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Folia do Bananal, Tiradentes




Folia de Reis do povoado do Bananal, distrito do Elvas (Tiradentes / MG), dezembro/1991.
Folião e Embaixador: "Zico" (José Inácio do Nascimento - in memoriam). O distrito do Elvas tem uma tradição folieira muito forte. Vários de seus povoados tiveram seus grupos que conservavam entre si uma unidade ritual e grande semelhança musical. A bem da verdade a música era a mesma, só mudando algum floreado da sanfona e pequena variação de entonação, conforme a habilidade de cada músico ou solista de voz. Assim, construíam um certo padrão as folias do Bananal, do Elvas, do Banquinho, do Pinheirinho, do Morro Redondo, da Casa da Pedra e mais além, já fora do distrito mas sob sua influência em razão da mudança de antigos folieiros ou intercâmbio cultural, na Caixa d'Água da Esperança, em Barroso (folia do sr. Agostinho) e em São João del-Rei no Bairro Bom Pastor (folia do Didinho). A toada de todas era uma só. Da mesma forma, do lado geograficamente oposto, na vertente norte-nordeste da Serra de São José, o padrão de toada era outro, que assim como neste caso variava apenas algum arranjo ou velocidade de execução da música: folia das Águas Santas, folia de César de Pina, folia do Barreiro. Eram portanto duas zonas geográficas vizinhas com padrões musicais de folias diferentes externamente, mas digamos, idênticos internamente. Decerto, um estudo etno-musical poderia elucidar melhor esta mera observação. 

Notas e Crédito

* Texto, fotografia e acervo: Ulisses Passarelli

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Congado do Ribeirão, Resende Costa

Nesta postagem foram selecionadas algumas fotografias que retratam o terno de congado "Nossa Senhora do Rosário", sob o comando do Capitão Geraldo Venâncio. Trata-se de um catupé da localidade de Ribeirão de Santo Antônio, distrito de Resende Costa/MG. 

Esse município tem uma tradição congadeira muito forte. Desde longa data várias guardas existiram e se desativaram mas deram formação de saberes que possibilitaram a criação de novos ternos, que até hoje festejam o Rosário, seja visitando municípios vizinhos ou até distantes, ou na própria sede municipal, sempre no primeiro domingo de novembro, constituindo-se na mais concorrida Festa do Rosário da região das Vertentes. 

Certa feita (24/09/1998), o afamado Capitão "Vino" (Valdivino Martiniano Nascimento) cedeu-nos de memória a lista dos congados que Resende Costa já tivera, desde onde sua memória alcançava, do fim dos anos trinta e década de 1940 para cá, principalmente catupés: na cidade, ternos do Izidoro (no Bairro Santo Antônio), do Zé Tomaz (na Rua Nova), do Geraldo Chica, do Antônio Jacaré (Ferreira), do Mário da Vininha, do Dico da Lena, do Zé Macedo, do Euclides Maromba e o dele próprio, Vino, fundado em 1958. Tanto mais, citou outros catupés rurais, no Ribeirão dos Pintos (do João Domingos *) e no Cajuru (do Anésio Alves Ferreira/Milton). Além disto houve na cidade um congo, do João Jacaré, e um cacunda (modalidade de catupé), do Geraldo Macio. Vino relatou ainda que o terno do Ribeirão de Santo Antônio era ao seu tempo comandado pelo Capitão Argilino e só bem mais tarde, depois um interregno passou ao Capitão Geraldo Venâncio. 

Nas fotografias abaixo flagrantes do terno de Ribeirão de Santo Antônio durante a Festa do Rosário na Restinga de Baixo (Ritápolis/MG) e no Bairro São Geraldo, em São João del-Rei.

Congado de Ribeirão de Santo Antônio. 
Festa do Rosário, Restinga de Baixo (Ritápolis/MG).  27/09/1998. 

Congado de Ribeirão de Santo Antônio. Ao meio e adiante, o Capitão Geraldo Venâncio.
Festa do Rosário, Restinga de Baixo (Ritápolis/MG).  27/09/1998.
Rainha do congado do Ribeirão (**)
Festa do Rosário, Restinga de Baixo (Ritápolis/MG).  27/09/1998. 
Reinado de Resende Costa e logo atrás, o congado de Ribeirão de Santo Antônio. 
Festa do Rosário, Bairro São Geraldo, São João del-Rei/MG. 1995. 

Rainha Conga, Rei Congo e Rainha Perpétua, de Resende Costa e logo atrás,
o congado de Ribeirão de Santo Antônio. 

Festa do Rosário, Bairro São Geraldo, São João del-Rei/MG. 1995. 

Congado de Ribeirão de Santo Antônio.
Festa do Rosário, Bairro São Geraldo, São João del-Rei/MG. 18/08/1996. 

Notas e Créditos

* Além de João Domingos, para o congado de Ribeirão dos Pintos a memória popular conservou o nome de José Isidoro, mas consta informação se é o mesmo terno ou outro. O informante, Capitão de Congado Luís Santana, de São João del-Rei, ainda se lembrou de dois cantos, que me informou:

"Óia, a turma do Zé 'zidoro,  BIS
chegô agora!"

"Ai, eu vim de longe,
tô chegâno agora,
com o favor de Deus, 
ai, meu Deus!
e Nossa Senhora!"

** Obs.: as cores adotadas pela Rainha, Sra. Maria de Lourdes Dias, são as cores votivas do rosário - azul (capa) e rosa (vestido). Em São João del-Rei, o saudoso Capitão de Congado Sr. Luís Santana, dizia que as cores de Nossa Senhora do Rosário eram o azul (cor do céu), o rosa (cor da linha celeste do horizonte ao nascente e ao poente, pelo reflexo do sol) e o branco (cor da pureza e das nuvens). Sem dúvidas, uma explicação sublime, uma interpretação poética. 
***Texto, fotografias e acervo: Ulisses Passarelli

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cortejo em São Gonçalo do Amarante

Congados em marcha na Travessa Cava Funda em São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei/MG). 
Partem para o recolhimento do reinado, postado na Gruta do Divino Espírito Santo.
Em primeiro plano a Guarda de Catupé "N.S.do Rosário e S.Benedito", da vizinha cidade de Ritápolis.
O festejo é tradicional e acontece anualmente no segundo domingo de outubro. 

Notas e Créditos

* Foto: Iago C.S.Passarelli, 2012. 
** Texto: Ulisses Passarelli

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Queima do Judas, São João del-Rei

Aspectos da Queima do Judas junto à Ponte Padre Tortoriello, 
no final das ruas Antônio Rocha e Antônio Josino Andrade Reis, Centro, São João del-Rei. 

Chácara, Horta, Curral, Curralinho ou Quintal ... do Judas. 1999.

Pau de Sebo: desafio e alegria da garotada. 2000.

O Judas pronto para sua carreata. 2000.

Pai João toma conta da Chácara do Judas. 1999.

Detalhe do Judas. 2000.

A jocosa leitura do Testamento do Judas. 2000.

A explosão do Judas. 2000.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Ulisses Passarelli (1999) e Cida Salles (2000)

domingo, 21 de outubro de 2012

Jubileu do Divino

Festa do Divino: 237 anos de caminhada [1]

Foi em 1774 que se iniciaram as comemorações festivas na primitiva igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, cuja construção começara só quatro anos antes. Ou pelo menos esta é a data mais remota conhecida até o momento das pesquisas.

          Seu crescimento foi vertiginoso como prova o breve pontifício do Papa Pio VI, de 1783, concedendo a condição de jubileu perpétuo a uma festa ainda tão nova, recém-implantada. Fato admirável.

            Existem poucas notícias sobre a festa do Divino do período colonial dificultando seu estudo. Sabe-se que ela perseverou ano a ano alcançando grande popularidade.  Atingiu um período por assim dizer áureo no Brasil Império, repleta de atrações folclóricas e musicais, capazes de lotar o largo da bucólica igrejinha, trazendo gente de São João e toda vizinhança. A maria-fumaça foi um importante veículo de transporte de romeiros no final do século XIX e começo do seguinte.

            É importante ressaltar que nesta fase antiga o jubileu era um só, festejando juntos Divino Espírito Santo (no Domingo de Pentecostes), Senhor Bom Jesus de Matosinhos (segunda-feira subseqüente) e Nossa Senhora da Lapa (terça). Não havia a festa de setembro, implantada somente na metade do século XX.

            Contudo o festejo teve sua fisionomia alterada pela invasão de bancas de jogos de azar até um ponto de abafar sua religiosidade, pelo que culminou com um ato proibitivo no ano de 1924, por ordem do então arcebispo de Mariana (São João del-Rei ainda não sediava diocese), Dom Helvécio Gomes de Oliveira.

            É bem sabido hoje que a jogatina não foi bem o único motivo da paralisação da festa. O processo de romanização que implantado pela Igreja teve um peso forte neste ato. Idealizava-se por assim dizer uniformizar o catolicismo ao modo romano, desligando-os das práticas populares. 

            Também é verdade que a festa não acabou, mas sim mudou por completo de sentido, de aspecto, seguindo a um padrão comum, senão mesmo sem graça, desprovida de atrativos. Apagou-se como evento cultural e evangelizador. Era não mais que uma lembrança tênue do dia da efusão do Espírito Santo sobre os apóstolos, data litúrgica lembrada pela Igreja em todo mundo, mas comemorada em Matosinhos neste período tristonho por poucos fiéis abnegados dos arredores da igreja. Daí dizer-se que ficou 74 anos paralisada.

            Ocorre quem em 1997 o então pároco de Matosinhos, Padre José Raimundo da Costa idealizou introduzir um grupo de congado na procissão daquele Pentecostes, tendo convidado o de Coronel Xavier Chaves. A iniciativa inusitada (ou melhor inspirada!) foi a semente de todo o processo de recuperação da festividade, posto que no ano seguinte, sob sua orientação e na coordenação do exímio artista santeiro Osni Paiva, se reuniu a convite um grupo de pessoas interessadas em “resgatar” a Festa do Divino. Aquele pequeno grupo de festeiros superou em curtíssimo prazo de tempo dificuldades de todo tipo para que em maio de 1998 o jubileu em honra ao Paráclito pudesse acontecer com todo êxito.

            Mesclando história e modernidade ano a ano voltou a festa a ter grande brilhantismo, promovida pela Comissão do Divino, conseguindo congregar em torno de um mesmo ideal as manifestações folclóricas que tanto enriquecem o jubileu. Seu sucesso contribuiu dentre outras coisas para a elevação da matriz de Matosinhos à condição de santuário diocesano.

            A Comissão do Divino está já na sua quinta presidência pois é sempre relevante a renovação de idéias e ações para a dinâmica da festa e já passou pelo comando de vários imperadores, que felizmente ainda temos a grata felicidade de tê-los todos vivos, conhecedores do peso daquela coroa que merece tanto respeito, conselheiros dos rumos festivos.  

            Fica consignado neste texto o meu respeito e gratidão aos nossos pioneiros, primeiro ao Padre José Raimundo da Costa, grande mentor deste jubileu e a Osni Paiva, seu maior artífice, bem como àqueles fundadores da Comissão do Divino, pequeno grupo de fiéis idealistas que acreditaram nesta proposta e se entregaram à sua realização. Que todos aqueles que a consolidaram e a mantém tenham sempre em mente a mesma diretriz e fé sem a qual a festa não renasceria das cinzas.

Largo de Matosinhos no dia maior do Jubileu do Divino.

* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 2012.



[1] Publicação: INFORMATIVO DO JUBILEU DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, São João del-Rei, Paróquia de Matosinhos, Comissão Organizadora da Festa do Divino Espírito Santo, n.14, 2011. 

sábado, 20 de outubro de 2012

Uma cena mineira

Congadeiros dançando ao lado da Matriz de N.S.da Conceição.
Conceição da Barra de Minas / MG. "Terno de Congada Nossa Senhora do Rosário"
(catupé), Capitão Vicente Cristino. 
Notas e Créditos

* Texto e foto: Ulisses Passarelli, 1998.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Congados em marcha na Restinga de Baixo

Nesta postagem, seguem algumas fotografias ilustrativas da Festa de Nossa Senhora do Rosário da Restinga de Baixo (Ritápolis/MG), anos de 1996 e 1998. 

Congados sobem a cava na Restinga na Festa do Rosário de 1996: congo (Santa Terezinha) e catupés (Coronel Xavier Chaves, Resende Costa e Restinga). 

Devota com imagem de São Sebastião durante a procissão, 
diante de congadeiros da própria Restinga. 1996. 

Entrega do Reinado em 1996, na Capela de São Sebastião (Restinga do Meio).
Junto ao altar, Reis, Rainhas, Príncipes e Princesas, rodeados de congadeiros.

Andor de São Benedito conduzido por devotos. 1996. 

Congadeiros partem levando os Reis, Rainhas, Príncipes e Princesas para a igreja. 1998. 

Congadeiro de Santa Terezinha saúda uma rainha. 1998. 
 
Congados voltando da Restinga de Baixo para a Capela de São Sebastião na Restinga do Meio
(Ritápolis / MG) durante a Festa do Rosário. 
O cortejo foi realizado para o recolhimento do Reinado,
que trazido à capela, participa do ritual da chamada. 
Em primeiro plano o Congo Nossa Senhora do Rosário, de Santa Terezinha (Itatiaiuçu/MG), do Capitão Geraldo santana e Capitã (*) Alvarina Santos; a seguir o próprio grupo da Restinga, um catupé, sob a bandeira do Rosário e o comando do Capitão Sebastião Ezequiel; na retaguarda mais dois catupés - de Resende Costa, do Capitão "Vino" (Valdivino Martiniano do Nascimento) e o de Ribeirão de Santo Antônio, distrito de Resende Costa, sob o comando do Capitão Geraldo Venâncio, ambos com bandeira de Nossa Senhora do Rosário. 27/09/1998. 


Notas e Créditos


* Capitã: não é muito comum a participação de mulheres na capitania das guardas de congado e de certa forma se pode dizer que é um fato relativamente recente, uma conquista importante. Por vezes a pronúncia popular diz "capitoa" ou "capitu", que garantem ser a forma correta. 
**Texto, fotografia e acervo: Ulisses Passarelli, 27/09/1998.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fé Folieira

Folias & Foliões [1]
      

        Com a chegada do natal, retornam às ruas as tradicionais Folias de Reis, manifestações folclóricas de origem européia, que via Portugal, chegaram ao Brasil em tempos coloniais. Em nosso país, passaram por várias adaptações no contato que tiveram com elementos culturais de diversas etnias, assumindo formas diferentes de acordo com a região.

        Sua essência porém é a mesma, constituindo-se num grupo itinerante e peditório, de tocadores e cantadores, que empunhando seus instrumentos musicais, cantam versos em louvor ao Deus Menino, narram nas cantigas detalhes do seu natalício e fatos correlatos, sobretudo a visita dos magos que vieram do oriente.

        Em São João del-Rei  há informações que comprovam a existência das folias, desde a segunda metade do século XIX, já com grande popularidade. Porém é de se supor, que o costume já estivesse aqui enraizado muito antes. Difundidas por todo o município e nas vizinhanças, frente as mudanças sociais, entraram em declínio no último quartel do século XX.

        As folias persistem escassas em relação ao passado, mas ainda assim demonstram uma vitalidade diante do fenômeno de massificação, evidente no esforço de seus componentes em conservarem o costume de cantar a boa nova a moda antiga.  

        Hoje se mantém sete grupos ativos de Folias de Reis na cidade de São João del-Rei, a saber:

-        Águas Férreas, folião Geral Elói de Lacerda;
-        Rua São João, Tijuco, folião Antônio Ventura;
-        Jardim São José, foliã Maria Inês do Santos Zim , a “Lilia” ;
-       Guarda-mor, folião João Batista do Nascimento, o “João Matias”;
-        Guarda-mor, folião Afrânio Batista de Paiva, o  “Fanico”;
-        Bom Pastor, folião Geraldo Domingos Resende, o “Didinho”;
-        Bairro Caieira, folião Ulisses Passarelli.

Fiz questão de listar os grupos e seus organizadores, os foliões, não só para efeito de registro, mas sobretudo para parabenizá-los por todo o esforço que fazem em preservar a tradição herdada de seus antepassados, com grande esforço e dedicação. 

As folias, como aliás também acontece com os congados, sobrevivem às custas do amor e da fé de seus componentes, que se desdobram por todas as vias, para manterem vivos os grupos folclóricos dos quais participam, com pouca ou nenhuma ajuda oficial. Essa gente humilde, após a jornada diária de trabalho, ainda encontra ânimo para ensaiar e por a folia na rua, até tarde da noite. Nas casas onde chegam e os moradores compreendem o significado de sua atividade, nota-se com clareza que a alegria toma conta daquele lar instantaneamente, pois acreditam os anfitriões que por trás da cantoria reside a bênção e no seu rastro, a prosperidade. Na zona rural as folias são esperadas com grande expectativa, na certeza de que sua passagem afasta pragas das plantações e pestes do gado.

Digno de nota é o destino dado aos donativos recolhidos, voltados para obras de caridade em geral, repassadas para obras da Igreja ou para entidades assistenciais, ou ainda, para a compra de cestas básicas, cadeiras de roda, enfim, auxílios diversificados.

O participante de uma folia nada ganha financeiramente. Participa porque gosta. Para o folião, aquele instante da cantoria é sagrado. É a sua realização espiritual. Quantos casos há de participantes que tendo na bandeira um canal da fé venceram a adversidade do vício alcoólico ou de uma doença grave... Quantos estão na folia por ação de graças de uma promessa atendida... O folião tem uma crença viva muito além da simbologia aparente da bandeira e dos rituais.

A folia é uma oportunidade de promoção social. Naquele instante ele é mais cidadão, pois está certo que a tradição que está mantendo é benéfica de uma forma ou outra para a sociedade. A folia quebra o cotidiano e frisa a identidade de nosso povo.

Por todas estas razões receba bem as folias, se acaso sua residência for agraciada com a visita de uma delas. Respeite a bandeira, ainda que não compartilhe da mesma expressão de fé, ainda que for outra a sua religião. Honre a missão folieira e prestigie o nosso folclore, a nossa identidade cultural. 
  
Folia de Reis, Bairro das Fábricas, São João del-Rei / MG.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Data e autor: não identificados.
*** Obs.: foto gentilmente cedida para reprodução pelo saudoso folião Luís Santana, segundo o qual o responsável por esse grupo era o sr.Vicente Velloso. Esta foto não fez parte da publicação original no jornal Gazeta de São João del-Rei.


[1] - In: Gazeta de São João del-Rei, n.383, 31/12/2005.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Congo do Rio das Mortes: caixeiros

As fotografias abaixo revelam alguns aspectos da intensa movimentação dos caixeiros da "Congada Nossa Senhora do Rosário", uma guarda de congo centenária, do distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, São João del-Rei/MG. 


1- Festa do Rosário no próprio distrito, 1998.  


2- Festa do Divino no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos,
São João del-Rei, 2015. 

3- Festa do Divino no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos,
São João del-Rei, 2015. 

4- Festa do Rosário no próprio distrito, 2014.
Caixinha. 


5- Festa do Rosário no próprio distrito, 2014.
Marcha de rua. 

6- Festa do Rosário no próprio distrito, 2014.
Reverência do caixeiro ao reinado. 
7- Detalhe da caixinha, flagrada durante a
Festa do Rosário no próprio distrito, 2011. 
8- O aprendizado deve principiar cedo.
Festa do Rosário no próprio distrito, 1998. 
Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: 1, 6-8, Ulisses Passarelli; 2-5, Iago C.S. Passarelli

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Corredor de Gado

Vestígios de estrada boiadeira abandonada, caminho de tropeiros, boiadeiros, mascates, carreiros que em seu vai e vem pelo interior impulsionaram a economia rural e semearam por estas vias o saber popular. Ligava a Zona da Mata ao Sertão. Ora mais estreita ora mais larga, as fotos abaixo revelam cenas do corredor de gado flagradas na zona rural do município de São João del-Rei. 

Alto da Restinga (vista em direção a São Miguel do Cajuru) 2000. 
Cruzeiro da Barra, 2013. 
Montividiu, 2013. 
* Texto e fotos: Ulisses Passarelli 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Pastorinhas das Águas Férreas

Pastorinhas do Menino Jesus [1]

            As representações pastoris do natal brasileiro vieram da Europa, via Portugal, onde existem desde o século XIV. Suas raízes formadoras estão nos evangelhos, especialmente o de São Lucas.
            No Brasil assumiram diferentes formas, ora mais, ora menos folclóricas, algumas quase esquecidas (baile pastoril), outras em franco desuso (lapinha) e outras sobrevivendo com dificuldades (pastoril nordestino e pastorinhas do Sudeste).
            Em São João del-Rei / MG, ainda persistem dois grupos: um no Bairro das Fábricas e outro no Bairro Tijuco, no lugar chamado Águas Férreas. Informaremos sobre este segundo conjunto, organizado por Júlia Maria de Lacerda e Geraldo Elói de Lacerda, desde os anos 1977-8, aproximadamente.
            O casal é muito ligado aos folguedos do povo: assistindo ao grupo de pastorinhas do distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, hoje desativado, fundaram um grupo nos mesmos moldes nas Águas Férreas, continuando a tradição daquela vila. Acrescentaram por conta própria outros cantos e personagens, destacando também suas capacidades criativas.
            Conjunto modesto está formado por meninas de 7 a 10 anos em média, dispostas em duas alas de pastoras, trajadas de blusa e lenço no cabelo brancos, saia e lenço no pescoço de tecido enxadrezado vermelho claro e escuro, e um aventalzinho azul-escuro ou vermelho, conforme a fila. Calçam preferencialmente tamancos ou sandálias. Cada uma traz um bastão, possível imitação de cajado. É feito em madeira aproveitada de cabos de vassouras, tendo um extremo chapinhas metálicas presas, trespassadas por um prego. (No geral são tampinhas de refrigerante batidas até achatar.).
            As pastoras, cinco em cada cordão, batem os bastões no chão marcando o ritmo da música com a percussão e ainda conseguem um efeito idiofônico com a vibração das chapinhas.
            Três crianças se destacam à frente do grupo. Um menino de túnica parda, cruzada em diagonal por uma faixa marrom, representa São José. Calça sandálias e traz nas mãos lírios e uma sacolinha de pano vermelho (embornal), onde depositam as esmolas angariadas. É ladeado por uma garotinha vestida de anjo, segurando nas mãos um globo – representação da Terra – recoberto de papel dourado e prateado, com uma cruz em cima. E a seu lado uma menina representa a Virgem Maria, com vestido branco, manto azul-celeste, longo, pano branco cobrindo os cabelos. Traz um cesto preso ao pescoço por uma faixa, contendo uma imagem do Menino Jesus, entre rendas e flores.
            Apresentações mais antigas traziam também três meninos, representando os Magos do Oriente, e ainda outro garoto no papel do Velho Simeão, com trajes de semita e cajado à mão. Foram personagens introduzidos, ausentes no modelo original, informam os organizadores.
            Nas primeiras apresentações carregavam à frente uma bandeira de folia de Reis, prática logo abandonada.
            Os instrumentistas vem atrás, vestidos de branco, com um colete e uma boina cor de vinho. Na lapela vem a inscrição “PMJ”, bordada em linha amarela, sigla do grupo: “Pastorinhas do Menino Jesus”. São quatro homens, tocando sanfona, violão, pandeiro e surdo. Sr. Geraldo cuida do surdo, “Juca”, irmão de D. Júlia, vem com o violão, e esta senhora vai ao lado das pastoras tocando triângulo, “puxando” o canto e mantendo a ordem. Os outros músicos variam com o ano. A maior dificuldade do grupo é conseguir sanfoneiro.
            O conjunto é de louvor e peditório. Caminham pelas ruas, sem cantar, e param em várias casas, cantando nas salas. O período é o do Natal ao dia de São Sebastião (20 de janeiro).
            Chegando numa casa cantam as pastoras:

Chegamos nesta casa
Nesta data tão querida
com amor e alegria,
viemos te visitar,
trazendo o Menino Deus - BIS
pedindo ao Menino Deus - BIS
sempre em nossa companhia!
para seu lar abençoar!

            Entre cada quadra há um solo instrumental.
            Solicitam óbolos:

A Estrela do Oriente
(Refrão - bisado:)
e a chegada dos três Reis,
Vinde, vinde,
onde está o Menino Deus? ,
todas pastorinhas;
filho de Nossa Senhora...
pede uma esmola
visitando sua casa
para o Deus Menino!
e pedindo uma esmola!


            Esta parte é repetida até ganharem o donativo.
            A música interrompe. Fala o Velho Simeão: “Foi ali naquela gruta, aonde os anjos cantavam: Glória a Deus nas alturas! E paz na Terra aos homens de boa vontade... Maria, eis aí o teu Filho!”
            Volta a música. Agradecem a esmola:

Deus lhe pague a boa esmola,
Dada de boa vontade,
Lá no céu terás o pago - BIS
Da Santíssima Trindade!

            Antes ou depois do pedido de esmola podem inserir este louvor:

Pastorinhas são contentes,
Com amor e alegria,
Festeja o Menino Deus, - BIS
Filho da Virgem Maria.

            Vimos também uma cena curiosa: chegando diante de um presépio, interromperam a música de pastorinhas e tocaram música de folia de Reis. Os adultos do grupo cantaram, em toada folieira, versos em louvor ao presépio. Disseram que é obrigação cantar pelos três versos de louvor.
            Pode haver um intervalo, ocasião que os donos da casa ofertam doces, balas, confeitos, refrigerantes. Após servirem agradecem o agrado e vão se retirando:

Obrigada, boa gente,

Pastorinhas pede a Deus 

pela sua cortesia;
a Santíssima Trindade,
Deus que fique com vocês - BIS
que lhe dê muita saúde, - BIS
e vá em nossa companhia.
muita paz, felicidade!

            Sendo muito bom o benefício recebido, carinhosa a receptividade e nas casas dos conhecidos, cantam ainda:

Dona da casa será abençoada,
Porque o Senhor vai derramar o seu amor!
Derrama, óh Senhor! (três vezes)
Derrama sobre nós o seu amor!

            É aproveitamento de uma conhecida música religiosa de igreja e rezas. Vão substituindo as bênçãos: as pastorinhas serão abençoadas, os tocadores, fulano, etc.
            Havendo espaço desenvolvem uma coreografia simples, cruzando as duas filas e voltando em seguida aos mesmos lugares. Sempre percutindo os bastões no chão.
            E partem rumo a outro lar, para louvar o Natal e colher espórtulas[2].




O grupo se apresentando na Estalagem (Praça N.S.de Fátima), no Bairro Tijuco, 25/12/1992.  
Notas e Créditos

* Texto, acervo e fotografias: Ulisses Passarelli
** Obs.: estas fotos não faziam parte da publicação original [1]



[1] - In: Carranca, Belo Horizonte, Comissão Mineira de Folclore, n.23, jul./1997, p.8.
[2] - Após a publicação deste texto o grupo paralisou as atividades por um tempo só a retomando no ano 2000 e desde então se mantém, exceto por eventuais questões de saúde que impediram algumas saídas, mas prossegue, graças aos esforços da sra. Júlia e do auxílio de seu esposo sr. Geraldo e algumas poucas pessoas abnegadas. Tem ainda as mesmas características ressalvando-se estes detalhes: o Velho Simeão não é mais representado. Os Reis Magos ressurgiram mas apenas na apresentação do dia 6 de janeiro (Dia de Santos Reis). Juca (José Leonardo de Paula), exímio instrumentista, ora no violão, ora no banjo, infelizmente faleceu em 05/12/2005, deixando uma saudade inapagável no grupo dada sua extrema dedicação e pelo parentesco. Passaram a se apresentar também no meio do ano durante a Festa do Divino do bairro de Matosinhos, ocasião na qual as pastorinhas carregam numa das mãos uma bandeirola com a efígie do Espírito Santo. O citado grupo que havia no Bairro das Fábricas está desativado a muito. Resta dizer as ofertas angariadas pelo grupo são tratadas com muita honestidade por parte dos organizadores e são destinadas a obras de caridade, motivo inicial da sua fundação.