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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 20 de maio de 2014

Ser Imperador

No ano anterior escrevi sobre os imperadores da Festa do Divino quanto ao aspecto histórico, pincelando algumas informações acerca da escolha e coroação. No informativo do jubileu de 2013, este texto pode ser lido pelos que se interessarem nestas informações.

Mas ora focalizo outra vertente, bem mais intrínseca e difícil de explanar, ligada à idealização do que se espera de um Imperador do Divino. Sou suspeito para falar e eu mesmo não sei se sou ou fui o que escreverei, mas colocarei o que penso que todos os imperadores devessem se esforçar para ser.

É preciso entender que o imperador representa na festa do Espírito Santo um personagem muito tradicional, que concentra em si todo o simbolismo da cultura popular acerca do sagrado em relação a esta festa. Sua figura é muito respeitada e se torna o festeiro de honra, o representante maior da comissão de festejos nos eventos sociais e religiosos ao longo de todo o ano. Se o presidente é na atualidade a figura maior na estrutura administrativa do Jubileu do Divino, o imperador é o elemento exponencial na estrutura simbólica, festiva e cultural.

Isto impõe à Comissão Organizadora uma grande responsabilidade na escolha do próximo imperador a cada ano. É preciso escolher com plena maturidade, senso crítico, isenção de questões pessoais. Uma escolha eventualmente mal sucedida pode ser desastrosa, até porque o imperador perde a coroa, mas não perde o império ante o novo coroado; em outras palavras, segundo entendimento geral dos festeiros, não existe ex-imperador, mas imperador de 1998, de 1999, de 2000... etc.

Os possíveis candidatos devem ser analisados sob um crivo de comportamento, dedicação, empenho, responsabilidade, apego à causa, trabalho prestado à festa, espírito de cooperação. Logo se vê que o ato de ser imperador não deve ser encarado como uma aventura, um luxo ou um degrau social a se subir para ganhar visibilidade. É um compromisso vitalício, perene.

O grau de comprometimento com a programação festiva, com as reuniões ordinárias e extraordinárias, com as participações em outros eventos que a comissão organizadora é convidada e com a coordenação das atividades cotidianas exigidas para a difícil tarefa de organizar a festa, tudo enfim, deve ser intenso e vivenciado com fé. Por traz da capa de veludo, da gravata, dos aplausos e flash’s fotográficos existe o peso de uma grande responsabilidade.
Bispo Diocesano de São João del-Rei,
Dom Célio de Oliveira Goulart,
coroa o Imperador do Divino,
Edmilson Washington da Silva.

É preciso pontuar também a natureza específica dos festejos em São João del-Rei, que reúnem no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos um número considerável de grupos culturais, sobretudo congados e folias, com os quais o imperador deve exercer um papel de interlocução, fazendo o elo que diferencia por completo a presença deles, de mera apresentação para uma participação integrada. Desta forma, como o grande anfitrião, deve ter pleno respeito aos congadeiros e foliões, mesmo que não compartilhe de suas crenças e ritos.

Na outra ponta o imperador é o canal da maior importância para conservar o diálogo com o clero, transmitir e fazer cumprir as diretrizes eclesiásticas, sendo a Igreja a verdadeira Mãe da comemoração, que em síntese acontece em seu espaço físico e orientação espiritual. Nunca é demais lembrar que Pentecostes é uma data litúrgica das mais relevantes para o cristianismo e o Jubileu do Divino desde sempre é uma festa católica.

Defendo que a Comissão do Divino devesse estruturar um “Conselho dos Imperadores” como órgão consultivo, que poderia ser muito útil diante de questões as mais diversas e que reforçaria a coordenação da festa pelo compartilhamento de responsabilidades.  

O imperador é, portanto, o festeiro especial, aquele que acolhe e transmite, pondera e equilibra, recepciona e promove, dá o exemplo e arregaça as mangas para o trabalho, que se inteira da história da festa e da programação para seu próprio saber e para respaldo das entrevistas e perguntas de fiéis. Ser imperador é encarnar e incorporar o festeiro ideal, que age em irmandade, movido pela devoção, dando seu esforço voluntário pelo bem comum. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 20/05/2013
*** Texto escrito a pedido da Comissão do Divino. Publicado em: Informativo do Jubileu do Divino Espírito Santo, São João del-Rei, Paróquia de Matosinhos, n.17, jun./2014. 

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