Engana-se porém aquele que o supõe exclusivo daquelas águas. Em vários locais do estado o mito é conhecido, a exemplo do sul de Minas (Rio Sapucaí), região central (Rio do Carmo) e no nosso Campo das Vertentes (Rio das Mortes).
É um ser mitológico das águas doces, que vive submerso. Vez por outra se deixa avistar numa margem, ou só mantém o busto para fora do líquido, em atitude de observação dos arredores; ou ainda, põe apenas a mão para fora, peluda, forte e munida de garras. Descrevem-no como uma criatura arredia, sorrateira e de grande força física. Tem a fisionomia marcante, medonha, de olhar profundo, sisudo. Seus gestos são rápidos. Sua tez lembra a dos índios, daí a referência a ser um caboclo. Em menor parcela alguns o chamam de "negro d'água".
Puxa canoas pelo bico da proa, fazendo-as afundar, ou pega a perna de banhistas incautos e os leva para as profundezas, donde jamais retornam.
Existem vários relatos de sua presença nesta região, sobretudo nas lagoas que existem entre Santa Cruz de Minas e Tiradentes, ou ainda, no rio, imediações das paragens do Sutil, Casa da Pedra, Jacarandá e Viturina.
Populares destas duas cidades, dizem que ele seria o responsável pelos afogamentos repentinos, sem causa aparente, por vezes, de bons nadadores, que contudo, não resistem à sua tração para o fundo. Por isto não se deve nadar nos lugares onde já foi avistado ou ocorreram estes acidentes. Em qualquer local onde se entra na água, convém respeitar: "dá licença!", se diz ao tocar nas águas, respeitando seu dono, o misterioso caboclo. Pescadores costumam ofertar-lhe fumo como agrado para evitarem ataque: joga-se um pedaço nas águas ou se deixa no barranco do rio, bem perto da torrente, ao pé de uma árvore.
Uma narrativa ouvida em São João del-Rei a cerca de uma década, falava de dois pescadores num barco apoitado num remanso rio abaixo, sobre um poção. De repente a canoa envergou como se um grande jaú tivesse ferrado uma das linhas de pesca, mas para espanto deles, uma mão vigorosa e cabeluda saía do rio e cravara suas unhas aguçadas na madeira da ponta da pequena embarcação forçando seu afundamento, que só não se concretizou porque um dos pescadores, num gesto instintivo, bateu-lhe de facão, provocando o corte e queda do membro na água.
Lagoa do Sutil, em São João del-Rei: um dos lugares citados como ponto de aparição do Caboclo d'Água. |
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