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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 11 de maio de 2014

Caboclo d'água

Muitas vezes temos lido e ouvido falar sobre o mito do caboclo d'água em referência ao Rio São Francisco, onde é muito conhecido e temido. É propalado, que as figuras de proa chamadas carrancas, são postas nas embarcações para afugentá-lo.

Engana-se porém aquele que o supõe exclusivo daquelas águas. Em vários locais do estado o mito é conhecido, a exemplo do sul de Minas (Rio Sapucaí), região central (Rio do Carmo) e no nosso Campo das Vertentes (Rio das Mortes).

É um ser mitológico das águas doces, que vive submerso. Vez por outra se deixa avistar numa margem, ou só mantém o busto para fora do líquido, em atitude de observação dos arredores; ou ainda, põe apenas a mão para fora, peluda, forte e munida de garras. Descrevem-no como uma criatura arredia, sorrateira e de grande força física. Tem a fisionomia marcante, medonha, de olhar profundo, sisudo. Seus gestos são rápidos. Sua tez lembra a dos índios, daí a referência a ser um caboclo. Em menor parcela alguns o chamam de "negro d'água".

Puxa canoas pelo bico da proa, fazendo-as afundar, ou pega a perna de banhistas incautos e os leva para as profundezas, donde jamais retornam.

Existem vários relatos de sua presença nesta região, sobretudo nas lagoas que existem entre Santa Cruz de Minas e Tiradentes, ou ainda, no rio, imediações das paragens do Sutil, Casa da Pedra, Jacarandá e Viturina. 

Populares destas duas cidades, dizem que ele seria o responsável pelos afogamentos repentinos, sem causa aparente, por vezes, de bons nadadores, que contudo, não resistem à sua tração para o fundo. Por isto não se deve nadar nos lugares onde já foi avistado ou ocorreram estes acidentes. Em qualquer local onde se entra na água, convém respeitar: "dá licença!", se diz ao tocar nas águas, respeitando seu dono, o misterioso caboclo. Pescadores costumam ofertar-lhe fumo como agrado para evitarem ataque: joga-se um pedaço nas águas ou se deixa no barranco do rio, bem perto da torrente, ao pé de uma árvore.

Uma narrativa ouvida em São João del-Rei a cerca de uma década, falava de dois pescadores num barco apoitado num remanso rio abaixo, sobre um poção. De repente a canoa envergou como se um grande jaú tivesse ferrado uma das linhas de pesca, mas para espanto deles, uma mão vigorosa e cabeluda saía do rio e cravara suas unhas aguçadas na madeira da ponta da pequena embarcação forçando seu afundamento, que só não se concretizou porque um dos pescadores, num gesto instintivo, bateu-lhe de facão, provocando o corte e queda do membro na água.

Lagoa do Sutil, em São João del-Rei:
um dos lugares citados como ponto de aparição do Caboclo d'Água. 

Notas e Créditos 

* Texto e fotografia (06/09/2009) : Ulisses Passarelli

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