Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 30 de setembro de 2012

Pau de Fitas

Dança-das-fitas, dança-do-pau-de-fitas, pau-de-fitas, trança-fitas e trancelim, são alguns nomes dados a uma dança espalhada pelo Brasil e por vários países da América Latina. Com algumas modalidades, basicamente o grupo de crianças, adolescentes ou mesmo adultos, dança em redor de um pau reto e altaneiro, posto na vertical, em cujo topo estão presas diversas fitas longas, que tem o outro extremo pendente. Cada dançante tomando uma ponta de fita, dança ao redor do madeiro, trançando as fitas de forma ordenada, de tal sorte que formam um entrecruzamento de interessante efeito visual. Os movimentos são muito graciosos e mudam o desenho da trama das fitas conforme a coreografia.

De origem européia remotíssima, a dança-das-fitas rememora a árvore de maio, em torno da qual dançavam os aldeães. É proveniente de antigos cultos pagãos, favorecedores da fecundidade, das plantações, criações e pessoas, extremamente arraigado na Europa, de onde o brasileiro herdou o costume. Aquele continente, sito no hemisfério norte, tem em maio a estação da primavera (outono aqui no hemisfério sul), ocasião na qual o aquecimento gradativo, provoca o degelo da neve e assim, expõe a vegetação, que fora queimada pelo frio, desfolhada pelo outono. O calor vital do sol promove a rebrota das árvores, o nascimento de folhas e flores. O mato que parecia morto renasce do gelo. O fato é simbolicamente equiparado a uma ressurreição, a uma vida nova. Comemorando-o, os campônios preparavam uma árvore determinada, desgalhando-a em parte e enfeitando-a de flores, penduricalhos, comestíveis, objetos fálicos, fitas. Em torno dela festejavam, com danças, cantos, rituais, comes-e-bebes. Desse hábito, depois cristianizado, veio por exemplo a dança-das-fitas, equivalendo o pau enfeitado em torno do qual dançam à árvore de maio, que bem se poderia dizer, árvore da vida. Convencionou-se chamar a isto fitolatria (adoração dos vegetais) – embora na realidade, nem sempre fosse caso literal de se endeusar uma planta.

A tradição da dança das fitas ou pau de fitas é um costume difundido nas festas dedicadas à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Sabe-se que em São João del-Rei, na Festa do Divino, houve no passado a dança das fitas. Uma notícia do jornal local "Arauto de Minas", edição nº12, de 1º de junho de 1885, lamentava sua ausência naquele ano (*):


"Realisaram-se as legendarias festas de Mattosinhos este ano com grande concorrencia de povo, todavia não tanto como nos anteriores. Durante quatro dias, desde o Domingo de Espirito Santo até quarta-feira, os trens da Oeste despejaram sobre o festivo arrabalde lufadas de povo. Não tivemos as celebres Cavalhadas, Danças de Velhos, Touradas, Danças de Fitas que em taes festejos entretem e chama a concurrencia de povo, em compensação não faltaram os festins familiares, boa musica a deliciar os visitantes, illuminação a giorno e diversões de que ficaram gratas recordações". (grifamos)


Em 1998 a Comissão de Festas incumbida do resgate do grande jubileu em honra ao Espírito Santo não se esqueceu de convidar à participação os dois grupos de danças das fitas então existentes na cidade. No ano seguinte estiveram de volta e de sua movimentação alegre e colorida no trancelim de fitas de cetim ficou este registro fotográfico, tomado no coreto da festa e no adro da matriz de Matosinhos, mais tarde elevada à condição de santuário. 

1- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

2- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei.
3- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

4- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

5- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei.

6- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

Com o resgate desta festa em 1998, dois grupos se apresentaram, perdurando até o ano 2000 na Festa do Divino no Bairro Matosinhos, em São João del-Rei. Nos demais anos apenas um deles, o do próprio bairro se apresentou, até 2007, ano da última apresentação e da seguida desativação do grupo.


Notas e Créditos 

* Fonte: acervo da Biblioteca (Pública) Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei/MG
** Texto e fotografias: Ulisses Passarelli

sábado, 29 de setembro de 2012

Reinado: a brilhante coroa da tradição

A coroa brilha e rebrilha em tons de ouro e prata, realeza do povo devoto que não esquece o rosário de Maria e nele se realiza e se sintoniza com o sagrado. Reis, rainhas, príncipes e princesas - de promessa, de convite, perpétuos, congos, deste ou daquele título - não importa... todos merecem dos congadeiros sinceras honrarias, vênias, saudações ritualísticas e cantos próprios. O congado se completa no reinado. O reinado perde o sentido sem o congado.

Herança ancestral, de perdidos reinos da Mãe África, cuja imagem teimosamente sobreviveu na mente do escravo, foi refigurada nos seus préstitos e festejos, Brasil afora, desde o período colonial, registraram cronistas e estudiosos. Em cada região os escravos elegiam dentre seus pares, o seu Rei e a sua Rainha, e com muita musicalidade, danças, toques de instrumentos, vinham rua afora em cortejo trazer os eleito para a capela, onde o sacerdote finda a celebração, coroava-os para que reinassem sob a égide do catolicismo sobre os escravos, que em rogativas entoavam cantos ao rosário e saudavam aos seus ancestrais e protetores em linguagem ininteligível aos observadores. O processo se repetiu por gerações, adaptou-se, foi remodelado, sublimou-se em manifestação espontânea da cultura popular.

Em cada região o reinado tem suas próprias particularidades; em essência, contudo, é o mesmo. Ao "Sinhô Rei", à "Sá Rainha", se deve todo respeito. Simbolizam o reinado de Maria na Terra. Isto não é pouco! Merece todo aparato que engrandece tais festas. Congadeiros no largo tocam seus congos, moçambiques, catupés, marujos, vilões, caboclinhos e nas ocasiões especiais os candombes. Todos os tipos, estilos ou modelos troam tambores para o Reinado e para os santos da tradição do Rosário. 

Nas imagens abaixo vemos retratados vários momentos desta tradição tão arraigada no Campo das Vertentes. 

1- Reinado de São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei)
durante a Festa do Divino nesta mesma cidade. 2009. 
2- Reinado do distrito de São Gonçalo do Amarante
durante a Festa do Divino. 2011. 

3- Rei Congo e Rainha Conga na Festa do Rosário do Bairro São Geraldo,
São João del-Rei. 1997. 

4- Rainha Perpétua. Barbacena. 26/09/1999. 

5- O Rei beija a bandeira do congado no instante do recolhimento.
Conceição da Barra de Minas. Outubro/2000. 

6- Senhor Rei. São Gonçalo do Amarante.
(São João del-Rei). 11/10/1998. 

7- Reinado de Prados durante a Festa do Divino
em São João del-Rei. 2011. 

8- Reinado de Santa Cruz de Minas  durante a Festa do Divino
em São João del-Rei. 2011.   

9- Reinado do distrito de São Gonçalo do Amarante
durante a Festa do Divino. 2010.  

10- Rei Perpétuo. Barbacena. Setembro/2000. 

11- Reinado de Santa Cruz de Minas  durante a Festa do Rosário
em sua própria cidade. 1997. 

12- Reinado do distrito de São Gonçalo do Amarante
durante a Festa do Rosário naquela comunidade. 11/10/1998. 

13- O Guarda-coroa toma conta do Reinado de Barbacena durante a
Festa do Rosário no Bairro São Geraldo, em São João del-Rei. 26/09/1999. 
14- Aspecto do recolhimento do reinado na Festa do Rosário do povoado do Ramos (Ritápolis/MG). Os guarda-coroa vem na dianteira, com bastão e espada cruzados em gesto simbólico. Bandeiras de congados são presenças marcantes nas mãos dos contritos bandeireiros. 24/09/2000. 

15- O saudoso casal real do  Bairro São Geraldo, em São João del-Rei. 26/09/1999.

Notas e Créditos

* Texto e acervo fotográfico: Ulisses Passarelli.
** Fotografias: 7, 8, 9 e 11 Cida Salles; demais fotografias, Ulisses Passarelli.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Capitães e Reinado: Bairro São Geraldo, 1960

Festa do Rosário no Bairro São Geraldo, São João del-Rei / MG. 
Fotografia gentilmente cedida para reprodução pelo capitão de congado e festeiro do Rosário Altamiro Ponciano (in memorian) a quem dedico em gratidão. Ele aparece entre o rei e rainha, vestido de branco, com o tamborim na mão. Com a bandeira um capitão de congo de Resende Costa, "João Jacaré". Ao lado do rei aparece sentada uma juíza de vara. 

Notas e Créditos

*Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: autor não identificado; data:1960.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

São Cosme e São Damião

Os Santos das Guloseimas *


São Cosme e São Damião eram irmãos gêmeos, de origem árabe, médicos, exercendo a profissão na Síria, atendendo à pobreza sem nada cobrar, daí serem ditos anargiros. Por citação do procônsul Lysias, foram presos e martirizados durante o Império de Diocleciano, submetidos a terríveis castigos que findaram com a degola, em Egéia, na Silícia, a 27 de setembro de 287.

Seus nomes foram inscritos no cânon da missa e no pontificado do Papa São Félix, seus corpos foram levados para um templo em Roma.

A devoção a eles espalhou-se pela Europa (Itália, França, Flandres, Espanha, Portugal, etc.), onde foram fundadas várias confrarias de médicos das quais eram patronos. Também foram evocados nas questões sexuais: mulheres estéreis pediam ajuda aos santos gêmeos para engravidarem. Conseguindo, depositavam nas suas igrejas ou altares o ex-voto de cera, em forma de pênis, em sinal do cumprimento da promessa. Um tipo de culto fálico. Distribuíam garrafinhas com óleo bento de Cosme e Damião. Diante do altar deles, uma sacerdotisa esfregava o óleo na parte adoentada, que o devoto descobria. Havia também a "incubação": os doentes dormiam na igreja a eles dedica da para curarem o mal.

Da Europa, via Portugal, suas tradições religiosas vieram para o Brasil . Por outro lado, os africanos contribuíram com uma série de outros costumes e devoções, que de mescla às europeias, passaram ambas por adaptações e deram origem no Brasil às tradições de Cosme e Damião.

Para várias etnias africanas havia o culto aos gêmeos, símbolo da fecundidade, da capacidade produtora. Variava o nome, com o fundamento semelhante das divindades gêmeas: Mabaças (entre os bantos), Ibeiji (nagôs), Hoho (jejes). O fluxo de escravizados também transladou para a América Central estas concepções religiosas, com os nomes de Jimaguas (em Cuba) e Marassas (no Haiti - possível alteração de Mabaças). No Brasil, a cristianização se deu no sincretismo com o culto aos santos Cosme e Damião (27 de setembro) e Crispim e Crispiniano (25 de outubro). 

O culto aos gêmeos é ainda associado em algumas partes do país a outro conceito africano ligado à geração humana: Idoú (Doum) e Alabá. Pela tradição africana, o filho que nasce após um parto de gêmeos ou o trigêmeo é chamado doum, e o quarto filho após esta sequência é dito alabá. Em algumas imagens são encontráveis estas divindades, em tamanho menor que Cosme e Damião, junto deles, com a mesma feição e trajes. Doum parece ser a forma sintética dos gêmeos, personificada, daí os cantos em sua honra dizerem por força do brasileirismo, "dois-dois" e "dois em um", corruptelas da palavra doum.

Homenagens ex-votivas, cantos, danças, peditórios a São Cosme e Damião garantem, pela tradição religiosa, que as grávidas não tenham gêmeos (mas se o tiverem serão protegidos pelos santos); afastamento de epidemias, fartura alimentar, proteção contra as doenças sexuais.

Uns escrevem pedidos a São Cosme e São Damião em cédulas, sob a forma de "correntes", para que não falte dinheiro. Geralmente em notas de baixo valor. Fartura. Outros fazem o pedido a eles e distribuem balas às crianças. Guloseimas em geral, como doces, confeitos, pirulitos, chicletes, tudo empacotado ou não, às vezes acompanhados de brinquedinhos. Distribuem por tradição mas, se for feito pedido, a distribuição deverá ser feita por sete anos seguidos. As crianças ficam em polvorosa no dia destes santos, correndo de casa em casa atrás do "Cosme e Damião". Chegam a perder aula para tal procura e é notável a solidariedade delas, avisando umas às outras onde está sendo distribuída a doce tradição, como formigas quando encontram açúcar. Na Bahia são muito festejados' com várias tradições dentro das religiões afro-brasileiras e no catolicismo popular, como o lindo-amor, o caruru-dos-meninos e o baile de São Cosme e São Damião.

Em 1999 distribuímos as guloseimas dos santos na Gruta do Divino Espírito Santo e Nossa Senhora do Rosário, no centro de São João del-Rei, junto à ponte Padre Tortoriello, no final (confluência) das ruas Antônio Rocha e Antônio Josino Andrade Reis. A gruta foi enfeitada interna e externamente com bandeirinhas multicores e foi armado um altar com fundo branco sobre o qual a imagem católica tinha duas fitas atadas para os fiéis beijarem, uma verde, outra rosa. Duas velas acesas em castiçais artesanais. Um pratinho de sobremesa com as ofertas a eles: guloseimas e brinquedos. Flores e ramos de coqueiro.

Um cartaz com "vivas" e pedidos de proteção. A doçaria empacotada estava em balaios de vime e taquara. A criançada que a princípio era pouca, ao ouvir o espocar dos fogos de artifício 12 x 1, veio em correria de toda parte, da Caieira, ruas vizinhas, "PPP" (Praça Pedro Paulo), Morro do Zé da Luz e Matola. A cena pitoresca lembra a correição. Taoca, diriam os indígenas.

Fizeram fila. Que alegria óbvia em seus rostos ao abrir o humilde pacotinho. Analisam as variedades. Comparam: "você ganhou dessa bala?"; "olha só o que tem no meu...". E vão se esvaindo à caça de mais "Cosme e Damião" noutras paragens.

Oferenda para erês (guias de criança), linha de São Cosme e São Damião.
 Cachoeira Véu de Noiva, Serra do Lenheiro, São João del-Rei/MG. 

Referências Bibliográficas

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d]. 930p.

RAMOS, Arthur. O negro brasileiro: etnografia religiosa e psicanálise.


Notas e Créditos

* Publicação original: in TRADIÇÃO, Informativo da Subcomissão Vertentes de Folclore, n.1, out.1999. São João del-Rei. Textop adaptado e melhorado para publicação neste blog. 
** Texto e Fotografia: Ulisses Passarelli
*** Obs.: a fotografia não fazia parte da publicação original. Foi inserida posteriormente nesta postagem em caráter meramente ilustrativo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Congo do Rio das Mortes: sanfoneiros

1- Sanfoneiros do Congo, outubro/2011.
Festa do Rosário.   

2- Sanfoneiro do Congo, abril/2013.
Festa de Nhá Chica.  
Flagrante fotográfico da atuação de sanfoneiros da "Congada Nossa Senhora do Rosário", uma centenária guarda de congo do distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei/MG), Terra da Beata Nhá Chica. Os acordeons desenham a melodia sobre o canto solista do capitão, com acompanhamento das cordas e marcação pela bateria. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli.
** Fotografias: 1- Ulisses Passarelli; 2- Iago C.S. Passarelli.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Carro de bois, Serra de Camapuã

A palavra "camapuã" é de origem indígena. SAMPAIO (1987) ensinou: "CAMAPUÃ corr. Cama-poã, o peito arredondado; o peito saliente; a colina arredondada; cômoro; a meia laranja." Designa uma serrania, montanha, que avistada de longe guarda silhueta arredondada. Fica entremeada aos municípios de Entre Rios de Minas e Casa Grande. 

A imponência de seu aspecto se impõe desde longe, vista da BR-383. Deve ter servido no passado remoto de guia geográfico para os bandeirantes, que rumando a nordeste à busca das riquezas minerais, passavam pelo Caminho Geral do Sertão e tinham nas suas imediações um dos pontos. O roteiro, segundo BUZATTI (1988) previa que após a travessia do Rio das Mortes (no Porto Real da Passagem), se ia ao Carandaí ("Canandai"), Catauá ("Cataguazes") e então a Camapuã ("Camapoam"). Daí seguia por outras paragens até Congonhas. Este era o caminho antigo, original. Mais tarde, por esforço do Coronel Antônio de Oliveira Leitão, foi aberta uma variante mais ou menos paralela que ficou conhecida por Caminho Novo. Por conseguinte, o anterior tornou-se o Caminho Velho. Pois o novo, também passava pelo Camapuã: saindo de São João del-Rei pelo Porto Real da Passagem, atravessado o Rio das Mortes, ia-se ao Carandaí, deste a Lagoa Dourada ("Alagoa Dourada") e desta a Camapuã. Também seguia a Congonhas e daí a Vila Rica. 

Nessa região corre o Rio Camapuã, tributário do Paraopeba, da Bacia do Rio São Francisco. 

Não muito longe fica a histórica Capela dos Olhos d'Água, dedicada a Nossa Senhora da Lapa. 


Carro de bois na Serra de Camapuã (Entre Rios de Minas/MG), 05/06/2009. 


Referências Bibliográficas

BUZATTI, Dauro José. Viagem as Minas dos Cataguazes. Contagem: Fundação Mariana Resende Costa, 1988. 123p. 
SAMPAIO, Teodoro. O Tupi na Geografia Nacional. Introdução e notas de Frederico G. Edelweiss. 5.ed. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1987. 

Notas e Créditos

* Texto e fotografia: Ulisses Passarelli.

domingo, 23 de setembro de 2012

Bastião da Restinga

No litoral, restinga é um bioma específico. No interior, chamamos restinga:

1- a uma faixa de mato próxima a um fluxo d'água, mas não exatamente às suas margens como uma mata ciliar; 
2- a uma faixa de mato num terreno de cultivo, sem ser propriamente um capão ou capoeira, que tem maior extensão e se situa em grotas e entremeio campos ou cerrados. 

Portanto, a nossa restinga nenhuma relação guarda com a vegetação litorânea. Assim sendo, neste sentido, no distrito de São Miguel do Cajuru existe o topônimo "Alto da Restinga", morro junto à rodovia, logo que se adentra no trevo de acesso a este distrito de São João del-Rei. 

Também em Ritápolis aparece na toponímia: duas comunidades vizinhas são chamadas em razão de sua altitude, Restinga de Cima e Restinga de Baixo. Em ambas, a tradição das folias de Reis e folias de São Sebastião é bastante arraigada. Na Restinga de Baixo (*) existe a Igreja de São Sebastião, que sedia a festa deste mártir da fé cristã, que aglomera boa parte da população rural daquelas cercanias e sempre conta com a presença de grupos de folias. 

Na fotografia abaixo o flagrante de um bastião, marungo ou palhaço, personagem mascarado que além dos gracejos que tanto animam a folia, também fazem o papel simbólico de guardião do grupo. 

Palhaço de folia da Restinga de Baixo (Ritápolis/MG), portando uma lança,
durante a Festa de São Sebastião. Mestre Sebastião Ezequiel. 

Notas e Créditos

* Na Restinga de Baixo é muito ativa a Festa do Rosário, em setembro, que além do catupé local também atrai a presença de vários congados visitantes. Na Restinga de Cima existe o grupo de folia do Mestre José Mário. 
** Texto e fotografia (janeiro/1996): Ulisses Passarelli.

sábado, 22 de setembro de 2012

As Folias de São Sebastião

Santo Mártir está na Terra [1]

Natural da região de Narbona (Narbonne, sede da região administrativa de Aude, França). Há contudo informação divergente, dizendo-o italiano de Milão. São Sebastião era membro do exército romano, sendo legionário no império de Carino. Mais tarde, com o Imperador Diocleciano, passou a chefe da primeira corte dos pretorianos.

Foi denunciado a este imperador como cristão (ou a Maximiano, segundo outros) e por sua ordem atado a uma árvore, onde recebeu uma saraivada de flechas. Dado por morto, foi porém tratado pela viúva Lucina (ou Lucinda). Curado das setas foi à procura de Diocleciano expor-lhe sua indignação mas foi morto a bastonadas a 20/01/288, em Roma, aos 38 anos, sendo seu corpo lançado nos esgotos. Cristãos resgataram o cadáver martirizado da cloaca máxima, pondo-o numa catacumba.

Está entre os santos mais queridos e festejados. Em São João del-Rei festejam-no “desde o longíncuo ano de 1719, quando o Senado da Câmara fez celebrar, pela primeira vez, Missa Solene e Procissão, como festa obrigatória do reino.” Sua imagem já existia nesta cidade na Capela do Pilar incendiada em 1709 durante a Guerra dos Emboabas. Conserva-se ainda hoje na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, onde se pratica sua novena (11 a 19 de janeiro) com acompanhamento da orquestra sacra bicentenária Lira Sanjoanense, que executa números em sua honra – homenagens de músicos da terra – Dómine, Veni, Hino e Antífona, do Padre José Maria Xavier; Dómine e Veni, de Carlos dos Passos Andrade; Jaculatória de São Sebastião, de Luiz Baptista Lopes; novena – Dómine, Veni, Hino e Antífona, de Geraldo Barbosa de Souza; coro para procissão – Invícte Mártyr, de Presciliano José da Silva; dois coros processionais – Beatus Vir e Invícte Mártyr, de Marcelo Ramos de Souza.

Da mesma fonte consta que tais festas eram “organizadas e promovidas por comissões de festas, constituídas de Provedor, Secretário, Tesoureiro e Procurador, nomeadas pelo pároco. Atualmente a organização é confiada à Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento.”

Diz sua antífona: “O beáte Sebastiáne, magna fuit fides tua. Intercede pro nóbis ad Dóminum ut a peste et epidémia hoc tempore regnante abomni perículo mentis et córporis libere mur.” [2]

Tal santo, festejado a 20 de janeiro é invocado para proteger seus devotos contra a fome, a peste e a guerra. As populações rurais tem-lhe especial carinho, acreditando que os plantios e criações estejam guardados de todos os males e adversidades.

Seus festejos tem fartura alimentar pois são muitas as ofertas (que não lhe negam), já que assim esperam satisfaze-lo. Diga-se “estar bem com o santo”. Os juízes de prendas trabalham para fazer as coletas, enquanto os procuradores de gado cuidam de conseguir junto aos fazendeiros doações de bezerros e garrotes para os leilões deste santo.

Nestas festas – digo, as populares, não a solene que se celebra no Pilar – são comuns as festividades de largo com quermesse, grande reunião de fiéis, pagadores de promessas, conglomerado de povo vindo das povoações do campo; ou já mesmo (sub)urbano, revendo-se compadres, comadres, parentes e amigos. Põe-se a conversa em dia. Surgem tocadores com seus instrumentos, formando rodas de assistência em derredor. Enfim há confraternização, após beijar-se a fita vermelha atada aos pés da imagem do “Santo Mártir Guerreiro”, montado em seu andor, rodeado de flores, com um galho de oliveira que de forma piedosa e tradicional põem atrás da imagem, pois acreditam que foi amarrado numa árvore dessa com uma corda de piteira, para o terrível martírio.

Há grande movimento de barraquinhas, com comes-e-bebes e jogos simples.

Eis a parte profana. A religiosa é sempre  concorrida com novena ou tríduo, missa(s), procissão.

Eventualmente congados aparecem nesses festejos, caso o festeiro os convide, como vi com os ternos de catupé [3] na Restinga do Meio (Ritápolis, 1996) e em Conceição da Barra de Minas (1998). Anotei na Restinga:

Pai, Filho, Espírito Santo
É que eu vou dizer primeiro,
o mártir São Sebastião
é o nosso padroeiro, ai, ai!

Entre os concepcionenses marcharam pelas ruas apresentando uma bandeira deste santo ao povo, constantemente beijada pelos fiéis, que ofertavam dinheiro. Uma vez recolhido foi entregue ao padre no fim da missa festiva, dentro da barroca matriz da Conceição. Os congadeiros, sabedores de outras tradições, apresentaram então um animado calango defronte o templo cujo formidável repente logo atraiu curiosos e aficcionados. Pela tarde apresentou-se a folia de São Sebastião, também desta cidade, composta ainda pelos mesmos participantes do congado.

Também na Restinga acontece o mesmo. Deixado o congado, alguns de seus participantes se tornam em folieiros e tocam a folia de São Sebastião, presente na festa e na procissão. Canta na capela, consagrada a São Sebastião. Ao lado dela está fincado um mastro em honra a este santo.

Na festa do Bairro Araçá (1999), em São João del-Rei eventualmente surgem as folias, conforme convite prévio. Há aí um salão comunitário desse santo e outro muito próximo, no Bairro Dom Bosco.

Neste município, na vila de São Sebastião da Vitória, onde esse mártir é o padroeiro, fazem o “encontro” diante da igreja, com a presença de três folias, sendo duas locais e uma do vizinho povoado do Tijuco (1995).

No povoado do Cedro, distrito de São Miguel do Cajuru, ainda em São João del-Rei também há festa de São Sebastião, com forte apelo rural e presença de folia (1993).

São Sebastião é o padroeiro de Santa Cruz de Minas com concorridíssimas missas e procissão, além de animada barraquinha. A folia local trabalha na sua missão pelos quatro cantos da cidade e é das mais respeitadas. Merece franca parabenização e reconhecimento o excelente trabalho do pároco, Padre Antônio Claret Albino, inclusive dando pleno valor as tradições populares [4]. Os devotos desta cidade fazem primorosos tapetes nas ruas onde passa a procissão, usando serragem, areia, flores, compondo painéis de temas religiosos. Acendem muitas velas à beira da calçada e levantam arcos de bambu ornados de bandeirinhas de papel e fitas. A banda local faz soar seus acordes.

Dentre outras mais destaca-se também tal festejo em Lagoa Dourada, com a participação de conceituada folia de São Sebastião, do Bairro Gamarra de Cima. No povoado rural de Matatu há outra muito original.

A literatura especializada em folclore pouco tem se dedicado a esta folia, tão comum na microrregião Campos das Vertentes, do centro-sul mineiro, onde estão as localidades já citadas. Existe noutras áreas de Minas Gerais mas é rara ou inexistente nalgumas regiões. É conhecida nos demais estados da Região Sudeste, às vezes com outros nomes: Charola de São Sebastião (ES) e Bandeira de São Sebastião (RJ), embora o designativo “folia” seja generalizado.

É uma manifestação aparentemente surgida de uma adaptação da folia de Reis, da qual herdou as principais características [I]: instrumental, rituais, tradições da bandeira, religiosidade, modo de cantar, estrutura e até o personagem chamado palhaço (ou bastião), que pode estar presente, com sua máscara e as roupas de cores berrantes, misturando em seu número o profano (inclusive o cômico) e o religioso.

Contudo a estampa da bandeira é a de São Sebastião e não a da adoração ao nascimento de Cristo.

A minha bandeira santa
Reparai nossa bandeira
ela vai beirando o chão,
tem um santo cravejado,
essa imagem estampada
veja como ele sofreu
vou fazendo adoração.
nesse tronco amarrado.
(Restinga do Meio, 1996)
Lagoa Dourada, Bairro Gamarra de Cima, 1996)
           
A cor da bandeira é a vermelha, mas pode ser branca.

O ponto-chave da diferenciação entre as folias de São Sebastião e Reis está no tema dos cantos: uma narra a vida, o martírio e os milagres do Santo Guerreiro. A outra inspira-se no nascimento de Cristo, desde as profecias e anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria até o episódio da fuga para o Egito, centrando-se na natividade e visita dos Reis Magos.

Senhor dono da casa
Vinte e cinco de dezembro
São Sebastião está na terra,
meia noite deu sinal,
ele veio para ti livrar
que nasceu Menino Deus
contra fome, peste e guerra.
numa noite de Natal.
(Folia de São Sebastião)
(Folia de Reis)
São João del-Rei, Águas Férreas, Bairro Tijuco, 1999

Por tradição cada folia tem a sua toada embora a mesma possa servir às duas, mudando-se só a versalhada, como tem ocorrido com freqüência. A “toada de Reis” é no geral mais lenta, “serenada” como dizem, bem melódica e decrescendo a resposta coral: “ai, ai, ai...” A de São Sebastião é mais ligeira, mais ritmada, crescente no responder: “ai, ah!!!” (grito bem sonoro).

A Folia de São Sebastião tem seu tempo de 7 a 20 de janeiro.

Visita casas, onde chega cantando:

Pai, Filho, Espírito Santo,
Ô senhor dono da casa
esteja sempre em nossa guia.
abre a porta, queremos entrar,
A bandeira aqui chegou,
que somos de muito longe
nessa hora e nesse dia!
temos muito que viajar.
Barreiro (Coronel Xavier Chaves, 1996)
(Zona rural de Bias Fortes, antigo, de memória)

A quadra de Bias Fortes foi informada em 1995 por minha sogra, Elvira Andrade de Salles.

Como outras folias também entram na casa e passam a bandeira aos anfitriões. Em seguida louvam o santo, cantando-lhes em versos os feitos, as virtudes, os sofrimento do grande santo. Por exemplo:

Óh mártir! Oh mártir!
Encontrei São Sebastião
Oh São Sebastião!
Pobre está tão judiado!
Ele venceu a guerra
Todo cravado de flecha
Com seu batalhão!
No madeiro amarrado...
(São Sebastião da Vitória, S.J.del-Rei, 1995)
(Fé, S.J.del-Rei, 1993)


Santo Mártir está na terra
Santo Mártir veio pro mundo
é um santo milagroso,
Veio valendo as criatura
Ele veio para nos livrar
Santo Mártir veio pro mundo
De todo mal contagioso.
Para trazer muita fartura.
(Lagoa Dourada, Bairro Gamarra de Cima, 1996)
(Matatu, Lagoa Dourada, 1996)


Ó mártir São Sebastião,
O arqueiro apontou
Que no meu peito se encerra,
A flecha na direção,
Ele é o nosso defensor
A primeira que atirou
Contra fome, peste e guerra!
Foi direto no coração!
(Restinga do Meio, Ritápolis, 1996)
(São João del-Rei, Bairro Bonfim 1993)

Pedem esmolas que servirão para as festas, entregues junto ao altar (“Santo mártir pede esmola, pra seu dia festejar!...”), ou então, são encaminhadas para obras caritativas que o folião escolher.

 Recebida a oferta, agradecem:

Lá do céu desceu um anjo
Para sua mesa compor
Deus que pague a boa esmola
Quem nos deu foi o senhor.
(Santa Cruz de Minas, 1997)

 Podem cantar para um falecido da família:

Também quero recordar
De quem hoje está no céu,
Ao lado de Nossa Senhora
Todo coberto de véu...
(Ritápolis, 1996)

 Cantam para algo que lhes impressiona:

Aqui vejo esse rapaz
Mas que bela devoção!
Vou pedir a Santo Mártir
Que te dê a proteção.
(Santa Cruz de Minas, 1997)

Agradecem pelos cuidados com a bandeira, quando alguém a adorna com flores e fitas, ou lhe passa perfume, costume difundido entre todos os tipos de folias nesta região:

Ô que mão abençoada
Perfumou/enfeitou nossa bandeira
São Sebastião lhe abençoa
E proteja sua porteira.
(São João del-Rei, Bairro São Dimas, 1998)

Pedem a bandeira de volta:

Meu amigo cavalheiro,
Está com a bandeira na mão;
Entrega ela ao bandeireiro
Ela é nossa proteção!
(Santa Cruz de Minas, 1997)

Despedem-se:

Vou fazer a despedida
Santo Mártir vai embora
Como fez Cristo em Belém.
Ele é um santo do bem;
Santo Mártir vai embora,
Vocês fica aí com Deus,
Ele volta no ano que vem.
Com Deus nós vamos também!
(Matatu, Lagoa Dourada, 1996)

O que se espera de São Sebastião? Bênçãos, proteção, guarda. Sua figura admirável de soldado, guerreiro, furado de flechas até no “lombo do coração” (como se referem nos versos à curvatura do átrio cardíaco), amarrado, o sangue correndo chão afora, impressionou fortemente o povo, notadamente nossa alma barroca, desde sempre dramática.

E toda esta expectativa e admiração respeitosa estão resumidas em sua jaculatória que encerra sua oração tão conhecida aqui em São João del-Rei:

Protegei-nos, grande santo,
Para podermos imitar
As virtudes com que Deus
Quis a vossa alma adornar!


Referências bibliográficas

ATLAS FOLCLÓRICO DO BRASIL: Espírito Santo. Rio de Janeiro: MEC/SEC/FUNARTE/INF, 1982. 93p.
PIEDOSAS E SOLENES TRADIÇÕES DE NOSSA TERRA. São João del-Rei: Equipe de Liturgia da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, 1997. v.2. p.12-23.
FRADE, Cáscia. Guia do Folclore Fluminense. Rio de Janeiro: Presença, 1985.



[1]  - In: Tradição, São João del-Rei, Subcomissão Vertentes de Folclore, n. 4, jan. / 2000.
[2]  - Tradução: “Ó São Sebastião, grande foi a vossa fé. Intercedei por nós junto a Deus e livrai-nos da peste e demais doenças e de todo o mal do corpo e da alma.”
[3]  - Catupé (= catupê, catopé, catopê, quatrupé) é uma modalidade de Congado. No do Bairro São Dimas, São João del-Rei, do capitão Raimundo Camilo, há este verso que anotei em 1992: “Tira o chapéu / ajoelha no chão, / que o rosário de hoje / é de São Sebastião.”
 [4]  - Este sacerdote foi transferido para outra paróquia em 2001 (Imaculada Conceição), onde prossegue semelhante trabalho com um ativismo extraordinário. Em Santa Cruz a folia local ora se desativou e só eventualmente surge alguma visitante.



[I]  - Disse ‘aparentemente’ porque de fato é quase desconhecida a história dessa folia. Por um texto a mim gentilmente cedido pelo folclorista Affonso Furtado, soube que acontece em Portugal (in: Festas e Tradições Portuguesas. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2002. p.75-79) com o nome de “Reis de São Sebastião” (Vale de Anta, Chaves). Não há bandeira, mas os cantores vão de casa em casa a caixa, a sanfona, o triângulo, banjo, violino. Pedem ofertas e como no Brasil também recebem comida dos moradores. Os versos aludem ao santo querido. Há pois uma matriz ibérica mas é inegável a semelhança com a folia de Reis, muito mais popular, de quem certamente recebeu elementos. Velhos foliões locais me disseram que até a primeira metade do século XX não cantavam para São Sebastião. As Folias de Reis saíam de 1º a 6 de janeiro, direto, sem intervalo, sem voltar em casa, pousando pelas fazendas. De meados do século passado para cá é que as folias começaram a sair desde o Natal e passaram a cantar a São Sebastião até o dia de São Sebastião. Suspeito sem meios de provar por enquanto, que tropeiros, carreiros, boiadeiros, mascates podem ter trazido este costume para cá a partir do Rio de Janeiro, onde é arraigado. Eis que desde sempre foram amantes das folias e viviam em contínuo movimento comercial entre Minas e Rio pela famosa Estrada Real. A fixação da Folia de São Sebastião aqui foi fácil e natural, posto a imensa tradição rural desta região e a presença já muito antiga da Folia de Reis, da qual a de São Sebastião é em verdade e apenas, uma autêntica extensão. Essa teoria parece-me justificar seu histórico até que novos estudos tragam à tona sua verdade caso não seja esta. 

Folia de São Sebastião, povoado do Tijuco, 
distrito de São Sebastião da Vitória (São João del-Rei / MG)
durante a festa do padroeiro. 

Notas e Créditos

* Texto e foto (janeiro/1996): Ulisses Passarelli.