Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sábado, 30 de setembro de 2017

Festa do Rosário em São Gonçalo do Amarante: visita da bandeira e levantamento do mastro


Nesta postagem são mostrados dois momentos, que antecedem em uma quinzena, ao dia maior dos festejos em honra a Nossa Senhora do Rosário, no distrito de São Gonçalo do Amarante, antigo Caburu e primitivo São Gonçalo do Brumado, no município de São João del-Rei/MG, Brasil, pelos congadeiros da comunidade. 

A Festa do Reinado é uma das tradições mais preservadas do lugar, ocasião que a centenária guarda de congo sai às ruas para suas tradicionais comemorações. O dia principal dos festejos sempre reúne a população local além de muitos visitantes, da sede do município, zona rural em derredor e mesmo turistas. Se destaca também pela presença de congados de outras localidades que vem participar à convite. 

Contudo, os eventos focados nesta postagem (visita da bandeira e levantamento do mastro) tem um alcance restrito à própria comunidade. Sua visibilidade é limitada, mas enquanto elementos culturais e devocionais tem grande expressão e importância e são tão merecedores de atenção e preservação quanto qualquer outro momento do dia maior. 

Desprovidos do apelo visual colorido dos uniformes dos congadeiros no domingo principal, a visita da bandeira e o levantamento do mastro, se prendem à autenticidade da fé dos dançantes do rosário _ soldados de Maria _ e dos demais devotos. A verdade da tradição se impõe à falta de um público externo, mostrando que aquilo que o congadeiro faz não é uma exibição para uma plateia, mas sim uma expressão de seus sentimentos e devoção legítima, pautada em forte tradição e identidade às características da comunidade. 

No primeiro vídeo, observa-se momentos da visita da bandeira de Nossa Senhora do Rosário à residência de congadeiros, ativos e inativos, levando a bênção para os lares em companhia dos caixeiros que batem um toque específico. Na oportunidade, recolhem ofertas para ajudar no custeio do evento. Esta visita protocolar acontece pela manhã. No mesmo dia, à tarde, o grupo sai à rua para levantar o mastro. 

O segundo vídeo mostra outro momento da abertura dos festejos em honra a Nossa Senhora do Rosário, no qual os congadeiros do distrito fazem o levantamento do mastro, a partir do interior da igreja, o que denota a fortíssima relação com o sagrado. Para os congadeiros o laço de união entre a fé e cultura é natural, essencial e indissolúvel. Na ocasião do levantamento do mastro é costume os congadeiros não estarem uniformizados, ao contrário do dia festivo principal, que se apresentam com a vestimenta típica. 

A festa se aproxima, ou melhor, já chegou porque estes eventos fazem parte dela. Outros desdobramentos haverão no decurso da semana e no dia 08 de outubro acontecerá o dia maior da Festa do Reinado da gloriosa Nossa Senhora do Rosário. 


Vídeo 1: visita da bandeira

Vídeo 2: levantamento de mastro

Cartaz 42 x 30 cm, papel couché
Festa do Rosário, 2017, São Gonçalo do Amarante


Notas e Créditos

- Capitão de Congo: Lourival Amâncio de Paula
- vídeo 1: Dorival Caim de Paula
- vídeo 2: Denilson Nonato Frade
- acervo, oferta e licença de postagem: Dorival Caim de Paula
- edição, texto e foto: Ulisses Passarelli - data: 24/09/2017
Agradecimentos
a Dorival Caim de Paula, festeiro e congadeiro do Rosário, pela gentileza da oferta do vídeo e permissão para esta postagem.

domingo, 10 de setembro de 2017

Alguns acessórios em carros de bois

Dando seguimento à exposição de fotografias de carros de bois, flagrados durante o primeiro encontro em São João del-Rei, seguem mais sete imagens referentes a alguns acessórios habitualmente usados pelos carreiros. 

1- Chave de apertar cocão.
                                                             
2- Azeiteiro feito de chifre bovino, com tampa metálica: 
depósito de azeite de mamona, lubrificante dos cocões. 

3- Varas de ferrão. 

4- Detalhe das argolas trespassadas no aguilhão.
5- Azeiteiro improvisado com garrafa pet; um pincel se presta a passar o azeite. 
6- Garrafa térmica: café para carreiros e candieiros. 

7- Cantil feito de cabaça, envolto por malha de cipó; arrolhamento por sabugo de milho; caneca de alumínio.

Notas e Créditos

* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Ulisses Passarelli (1-3) e Iago C.S. Passarelli (4-7); 20/08/2017

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

São Pedro e a alma do fazendeiro

Um certo cidadão, fazendeiro, se orgulhava de não perder as missas dominicais e as festivas. Se vangloriava disso e fazia questão de contar a quantas já tinha ido ao longo da vida, pois a cada uma delas, guardava um grão de milho dentro de uma garrafa como meio de contagem. 

Era seu costume ir para as celebrações encontrar os amigos, compadres e vizinhos, na intensão de com eles conversar ao término para fechar negócios de compra e venda e negócios de barganha (troca) _ vacas, cavalos, etc. Suas preces, aliás, habitualmente clamavam por bons negócios. 

Foi então, que certa vez, na hora que ia sair para a missa chegou-lhe notícia que uma de suas melhores vacas tinha atolado no brejo. Correu com os empregados e com algum esforço conseguiu salvá-la. Trocou a roupa e correu para a missa, mesmo atrasado. Chegou na hora que o padre elevava a hóstia na consagração e de joelhos agradeceu muito. 

Como de costume, ao chegar em casa, pegou um grão de milho para guardar na garrafa de marcação do número de missa assistidas. Mas como era honesto, pensou consigo mesmo que não seria válida a contagem pois chegara atrasado; então, partiu o grão e só pôs na garrafa metade de um milho. 

Continuou sua rotina, até que chegou o dia de sua morte. Quando sua alma chegou ao céu se apresentou a São Pedro, que não quis permitir sua entrada. Protestou que era uma injustiça pois fora muito religioso, não perdera uma missa dominical a vida toda. O santo questionou e a alma do fazendeiro retrucou que tinha como provar, bastasse observar as garrafas que deixou na terra cheias de grãos de milho, cada grão contando uma celebração assistida. São Pedro mostrou-lhe umas garrafas de lado e perguntou se eram aquelas. A alma do fazendeiro as reconheceu e o santo mandou-lhe abri-las e contar os grãos e qual foi a surpresa daquela alma ao abrir todas as garrafas: encontrou-as vazias, exceto por uma delas, na qual só encontrou meio grão.

Aturdida, a alma ouviu do santo "Chaveiro do Céu", que o meio grão correspondente à meia missa que assistira, fora em verdade a única válida em toda a sua vida, pois somente nela manifestara gratidão; em todas as outras missas fora apenas pedir e com a segunda intenção de estabelecer negócios com os amigos... 

Igreja de São Pedro e São Paulo, Ritápolis/MG, 01/10/2017
(imagem sem nenhuma ligação com a narrativa, de finalidade meramente ilustrativa)

Notas e Créditos

* Texto e fotografia: Ulisses Passarelli
** Informante: José Isaías, Madre de Deus de Minas/MG, 01/09/2017