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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Ditados - parte 3

Antes pingar que secar – mesmo que o rendimento não seja dos melhores, é preferível à ausência total de benefícios.

Coração dos outros é terra que ninguém pisa – a dissimulação das pessoas engana nossos sentidos, fazendo com que de fato nunca conhecemos com exatidão as verdadeiras intensões do outro.

De grão em grão a galinha enche o papo – é de pouco em pouco que se alcança os resultados pretendidos. Pequenos lucros ou vitórias se acumulam a cada dia para se somar numa ocasião o resultado maior.

Dê o respeito para ser respeitado – nosso comportamento respeitoso induz no próximo o respeito por nós.

Dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair – usado para indicar que se é de paz, fazendo de tudo para não se envolver em questões conflitantes; mas caso seja obrigado a entrar numa querela, leva-a até as últimas consequências.

Esmola quando é demais o santo desconfia – quando o agrado é excessivo é porque há uma intensão oculta. A bajulação tem por detrás interesses escusos.

Fruta oferecida está azeda ou ardida – o vem ou se conquista de forma muito fácil, sem esforço, traz em si defeitos ocultos.

Goiaba em beira de estrada, ou está verde ou tem marimbondo no pé – tem o mesmo sentido do anterior e não raro se aplica a mulheres levianas, para indicar que a facilidade alcançada no relacionamento inicial se macula por falhas no caráter e personalidade, revelados logo a seguir.

Hoje por mim, amanhã, por ti – o bem feito hoje se reflete amanhã. Os atos de bondade retornam. Provérbio de estímulo à cooperação.

Homem é igual biscoito: vai um, vem dezoito – ditado emitido pelas mulheres em depreciação aos homens, para indicar que a perda de um companheiro não representa o fim da vida amorosa, pois facilmente se conseguem outros.

Ingratidão mata paixão – ditado explícito revelando que a falta de gratidão (e consideração) sufocam e sacrificam o sentimento amoroso.

Macaco que muito mexe leva chumbo (ou: quer chumbo) – a pessoa muito agitada, aparecida, saliente termina sendo alvejada por problemas porque se torna evidente, centro das atenções. É uma recomendação significativa para os ambientes de trabalho.

Mais tem Deus para dar que o diabo para carregar – aquilo que as forças do mal conseguem nos tirar, as do bem dão muito mais, de modo que o bem nos agracia.

Maldito o dente que come a semente – provérbio de uso rural que condena a gula, a usura, que consome até a reserva de sementes para o próximo plantio.

Matar jacaré a grito (ou: a beliscão; ou: cachorro) – indicativo de uma situação extremamente crítica; dificuldade exacerbada; penúria; demanda extraordinária.

Mulher (ou: Homem) é igual cachaça: em qualquer esquina se acha – indicativo de desdém; ditado explícito, de menosprezo.

Mulher (ou: Homem) é igual lata: um chuta, outro cata – idem

Não fui eu que jogou pedra na igreja (ou: na cruz) – provérbio de lamento ante um grande sofrimento, equivalendo a: “não tenho tantos pecados assim para sofrer dessa forma.”

Não fui eu que matou meu pai na forca (ou: a soco) - idem

O hoje vale por dois amanhãs – provérbio explícito que ensina a valorizar o dia de hoje, concreto, mais valoroso que o futuro, plausivelmente ilusório, ou, pelo menos, abstrato.

Os gatos saem de casa, os ratos fazem a festa – quando os chefes não estão presentes, os empregados perdem a compostura e fazem tudo de irregular por não ter quem os vigie.

Pimenta nos olhos dos outros não arde (ou: é refresco) – o sofrimento e a dificuldade são muito doloridos para quem passa por eles, mas a outrem, não parece penoso. Diz-se da falta de compadecimento, da maldosa satisfação de ver a peleja alheia. Uma variante chula muito conhecida é: “pimenta no cu dos outros é refresco”.

Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento – equivale ao dizer bíblico dos sepulcros caiados, com que Jesus se referia à hipocrisia judaica daquela época, na qual os fariseus aparentavam bela aparência e méritos, mas que de fato eram internamente ruins. Diz-se de quem parece ser bom e é bonito, mas de fato tem péssimo caráter e personalidade maldosa.

Quando um burro fala, o outro murcha a orelha – sentido: quando uma pessoa fala outra ouve; enquanto um ensina ou admoesta, o outro se cala para ouvir, sem retrucar.

Quanto mais alto, maior o tombo (ou: a queda; ou: o barulho da queda) – referência à arrogância, prepotência, soberba: quando vem a ruína, a consequência da derrota é muito maior que as pequenas derrotas da vida diária do humilde, de menor consequência.

Quem com ferro fere com ferro será ferido – provérbio baseado na justiça divina. A sentença religiosa apregoa aquilo que tecemos julgamentos, também seremos da mesma forma um dia julgados.

Quem com os porcos se junta comerá farelo (ou: será um deles) – quem se congrega aos maus sofrerá as mesmas consequências. Referência ao perigo das más companhias. Este provérbio admite pequenas variantes de grafia, que não adulteram seu âmago.

Quem come de tudo está sempre mastigando – aquele que não é orgulhoso sempre encontra algum tipo de recurso que lhe possa valer ou socorro na vida.

Quem está perdido, caminho não caça – quando o erro está dando um certo prazer ou lucro a pessoa não se preocupa em se auto-corrigir.

Quem faz luxo padece o bucho – em certa medida é equivalente a “quem come de tudo está sempre mastigando”: a escolha excessiva faz renegar o básico, o essencial ao viver.

Quem fica parado é poste (ou: mourão) – ditado curto e direto, referindo-se à inércia de atitude: é preciso correr atrás dos próprios interesses, agir, buscar, ser pró-ativo.

Quem muito escolhe, pouco acerta – o exagero na busca dos detalhes e da perfeição pode levar a escolher algo inadequado e mesmo com erro grosseiro.

Quem muito quer nada tem – a ganância desenfreada faz tudo conquistado se perder um dia.

Quem não houve pai e mãe, cedo se deita a perder – os pais nos preparam para a vida e por amor dão bons conselhos. Quem não ou ouve logo vai por maus caminhos na vida e sofre derrotas.

Quem não planta e não cria não tem alegria – ditado bem à moda rural, narrando a satisfação de fazer brotar honestamente da terra o alimento e o lucro. Elogio ao trabalho.

Quem não tem cão, caça com gato – quem não tem uma solução melhor, se vale da menos adequada; remediar-se; valer-se como pode; fazer o que é possível numa dada situação quando não se tem o ideal.

Quem foi rei nunca perde a majestade – o orgulhoso mesmo quando perde a situação de destaque, permanece pomposo. Um mandatário não perde a fama.

Quem nasceu para ter pena é galinha – ditado que prega a falta de compaixão, o olhar para si mesmo.

Quem precisa é que anda – o necessitado é que deve buscar a solução de suas necessidades e não ficar à espera de alguém que apareça para oferecer ajuda.

Quem procura, acha – provérbio paralelo ao anterior, ensinando a agir para se alcançar resultados.

Quem quer o peixe engambela a lagoa – ainda no sentido do anterior, devemos preparar o terreno para alcançar os resultados pretendidos.

Quem vê cara não vê coração – quem observa só a aparência não capta a essência interior da pessoa.

Se aproveitares bem o dia de hoje dependerás menos do de amanhã – ditado explícito de valorização do momento atual e não das incertezas futuras.

Se casamento fosse bom não precisava testemunha – provérbio que ironiza a instituição do casamento, pelas dificuldades que habitualmente surgem para sua manutenção.

Se conselho fosse bom ninguém dava, vendia – ditado deselegante enunciado quando de uma dificuldade na qual várias pessoas se envolvem dando sugestões que nada resolvem.

Só gosto das crianças do Japão, porque quando eu estou acordado elas estão dormindo – frase perversa que renega o amor à infância pelas dificuldades inerentes à criação.

Um dia é da caça o outro do caçador – num momento da vida aquele que está em condições de poder pode passar para o lado subalterno.

Vai cuidar da vida que a morte é certa – orientação a se agir, tomar atitude, vencer a inércia. 


Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli

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