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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quadrinhas de amor - parte 4

Dando prosseguimento à série "Quadrinhas de amor", na quarta parte seguem mais sessenta trovas populares coligidas em Santa Cruz de Minas mas possivelmente de várias origens. Como já foi dito noutros números desta série, o povo apropria, cria, recria, adapta... e neste processo perpetua a arte versificada na temática do amor, desde o platônico ao irônico, da paixão à desilusão. Eis o mostruário:


Verde é verde,
Eu queria estar agora
Rosa é rosa;
Aonde está seu pensamento,
Seu rosto é bonito,
Beijando sua boca,
Sua boca é gostosa.
E pagando meu sofrimento.


Passei por cinco rosas,
O papel brigou com a tinta,
Todas cinco eu beijei,
A tinta pediu perdão,
Passei por vários rapazes,
Aceito um beijinho,
Só por você me apaixonei.
Com todo amor no coração.


Fui no livro do destino,
Menino da boca doce,
Minha sorte procurar,
Lábio de porcelana,
Em suas páginas encontrei,
Um beijinho seu,
Que nasci pra te amar.
Me sustenta uma semana.


Roubei um beijo,
Dizem que amar é sorte,
Custou uma bofetada,
Sorte pra quem não tem;
Roubei o segundo, o terceiro,
Como eu não tenho,
Já não custou nada.
Não posso amar ninguém.


Estou zangado contigo,
Sonhei que o fogo gelava,
Não quero mais te ver,
Sonhei que a neve queimava,
Os beijos que tenho comigo,
Depois o mais impossível,
Eu quero te devolver.
Sonhei que você me amava.


Assentei na beira d’água,
A roseira dá a rosa,
Para ver peixinho nadar,[1]
Dá também o botão,
Ai, meu Deus, que coisa ruim,
Eu te dei o meu amor,
Namorar pra não casar.
Para ganhar seu coração.


Lá do céu caiu um cravo,
Meu amor me de um fora,
De tão alto desfolhou,
Pensando que eu choraria;
Dentro dele estava escrito
Eu não choro por pai nem mãe,
O nome do meu amor.
Não vou chorar por porcaria ...[2]


Me chamaste de criança,
A rosa para ser rosa
Eu aceitei com muito ardor,
Precisa de espinho,
Pois mesmo sendo criança,
O amor para ser amor
Estou louquinha de amor.
Precisa de carinho.


Menina, quando eu morrer,
Quer saber meu nome,
Vai na cova me adorar,
Vá à noite no jardim:
Para ver o teu corpinho,
Meu nome está escrito
Faz o meu ressuscitar ...
Numa folha de jasmim.


O mundo não é dois mundo,
O cravo também se muda
O céu não tem duas cores,
Do jardim para o deserto,
Quem não tem um coração,
De longe também se ama
Não pode ter dois amores.
Quem não se pode amar de perto.


Amo a rosa branca
Meu caro beija-flor,
Que nasceu em teu jardim,
Que mora na pedra oca,
Amo tuia mãe querida
Todo moreno bonito,
Que criou você pra mim.
Merece um beijo na boca.


Sou uma jovem criança,
Quem ama sofre calado,
Que neste mundo apareço,
Ocultando sua dor,
Amar e não ser amada,
Não há silêncio mais lindo
Isto eu não mereço.
Que o silêncio de amor.


Amo uma linda menina,
O teu sorriso é lindo,
Que tanto me faz sofrer,
Sói me traz felicidade,
O meu maior desejo
Por viver longe de ti,
É nos braços dela viver.
Vivo sempre com saudade.


Brilham cinco estrelas no céu,
Todo amor que morre,
Brilham cinco rosas no jardim,
Me deixa sem ar;
Brilham mais os teus olhos,
Todo amor que começa,
Quando olham para mim.
Me ensina a respirar.


Deitada na cama
Beijo na testa é respeito,
Seu lindo nome escrevi,
Beijo no rosto é carinho,
Soletrando letra por letra,
Beijo no queixo é vontade
Sorrindo adormeci.
De subir mais um pouquinho...


Dos pássaros da mata
Neste dia de festa
O mais lindo é o beija-flor;
Se quiseres ser feliz,
Da casa da minha sogra
Me dê um beijo na testa
O mais lindo é meu amor.
E outro abaixo do nariz.


Desde que ti conheci,
Na folha da bananeira
Começou meu sofrimento,
Seu nome vou escrever,
O seu rosto encantado,
Se eu não for feliz contigo,
Não me sai do pensamento.
Com outro não vou ser.


A toalha cobre a mesa,
Dizem que a felicidade
O tapete cobre o chão,
É visita inesperada
Queria saber quem é
Aparece de repente
Que cobre seu coração.
E vai sem dizer nada.


Meu coração foi voando
Eu fui à beira do mar
Dentro do seu foi cair;
Para ver se te esquecia,
Lá dentro quebraram as asas
Mas o barulho do mar
Nunca mais pude sair.
O teu nome repetia.


De amigo para amiga,
Rua da saudade
Começou nossa amizade,
Esquina do coração,
Mas agora te confesso
Esse é o endereço
Que te amo de verdade.
Onde encontra meu coração.


O rei nasceu para o trono
No mar navega o barco,
O peixe nasceu para o mar,
No barco navega os ventos,
Eu nasci neste mundo
As ondas dos teus cabelos
Somente para te amar.
Navegam em meu pensamento.


Estava no jardim
São João andou no mundo
Quando tudo escureceu,
Para todos batizar
Num sonho de rosas,
Eu nasci neste mundo
Você apareceu.
Somente para te amar.


O pavão perdeu as penas
O amor é como uma seta
Os peixes perderam a escama
Lançada em direção,
Estou perdendo tempo
Não tem alvo, nem meta,
De amar quem não te ama.
Não escolhe o coração.


Eu queria ser um barco
Dois corações unidos
Para atravessar o oceano,
Tem um viver delicado:
E dizer bem baixinho
Não pode o meu coração
Ai, como eu te amo!
Viver do seu separado!


Tu és um cravo
Saudade, palavra doce,
Eu, um beija-flor;
Que traduz tanto amargor;
Hei de colher o mel
Saudade é como se fosse
Com um beijo de amor.
Um espinho cheirando a flor.


Tanta boca me beijou,
O coração e os olhos
Tanta boca já beijei;
São dois companheiros leais;
Mas os beijos mais gostosos
Quando o coração sente dor,
Foram aqueles que te dei.   
Logo os olhos dão sinais.


As garotas afirmam
Eu vi uma abelha
E disso elas tem razão
Pousando com muito amor,
O beijo dado na boca
Na sua boca vermelha
Explode o coração.
Pensando ser uma flor.


Quando amares alguém,
Não sou boa jardineira
Saiba escolher:
Nas terras do coração,
Não entregue seu coração
Sempre planto amor-perfeito,
Ao primeiro que aparecer.
Nasce sempre uma ilusão.


Se eu fosse um passarinho,
Não te dou meu coração
Voaria para te ver;
Porque não posso arrancar;
Como não tenho asas
Arrancando sei que morro,
O jeito é te esquecer.
E morrendo não posso te amar.


Do jardim eu quero a rosa,
Se meu coração partisse
Da rosa, o botão;
Te daria um pedacinho;
Da carta eu quero a resposta,
Mas como ele não parte
E de você seu coração.
Lhe dou inteirinho...



[1] - É uma fórmula-feita de composição que aparece em variantes, como por exemplo: “Eu cheguei lá na beira do rio / para ver o peixinho nadar, / avistei a coroa do rei, / ela estava do lado de lá!” (congado (catupé), Ribeirão de Santo Antônio (Resende Costa/MG), 1996); ou: “Eu sentei na beira d’água / para ver os peixinhos nadar, / logo veio o peixe-espada / jogando água pro ar...” (calango, Brumado de Cima (São João del-Rei/MG), 2013).  
[2] - Deu um fora: expressão popular – esquivar-se de um afeto, afastar-se de um relacionamento. 


* Texto: Ulisses Passarelli
** Coleta e informação: Maria Aparecida de Salles, Santa Cruz de Minas, 1996.
*** Obs.: não deixe de ler os comentários de abertura às postagens anteriores desta série, que naturalmente são equivalentes para a quarta parte: 





Um comentário:

  1. Oi Ulisses,
    como vai?

    Tô a procura do teu email no perfil que aparece no blog e não achei nenhuma referência ao teu contato. Gostaria de tirar umas dúvidas contigo a respeito de tradições populares em Ibitipoca. Seria possível me enviar um email para que pudéssemos ir conversando?

    Lá vai:
    anaeduarda@ymail.com (Ymail, assim mesmo)

    Aguardo teu retorno.
    Um abraço!

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