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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Na minha terra se fala assim - parte 8

Boca de siri! – expressão usada para indicar necessidade de silêncio, sobretudo ante um segredo. Ato de não dizer nada: "fazer boca de siri".
Cheio de banca – orgulhoso, entojado, repleto de soberba.
Deixar a vaca ir para o brejo – deixar uma situação se complicar e sair do controle. "A vaca foi pro brejo": o caso caminhou para um fracasso.
É fria! – interjeição de negação, já em desuso: jamais! Nunca! Eu, não!
Encher o rabo – beber demais, embriagar-se. “Encheu o rabo de pinga”.
Escreveu, não leu, pau comeu! – expressão que equivale a: o aviso foi dado, você não entendeu, agora aguente as consequências.
Estar comendo o gambá errado – expressão indicativa que uma dada suspeita recai sobre a pessoa errada, inocente no caso em questão.
Fazer de bobo para viver – fingir-se de desentendido para se livrar de complicações e polêmicas.
Gambiarra – literalmente, ação de improviso, atitude provisória para sanar uma situação: "o encanamento estava fazendo fiz uma gambiarra". Por extensão, dizem os homens, pejorativamente, acerca de aventuras amorosas fora do casamento: "arrumar uma gambiarra" – ter uma concubina.
Guéri-guéri – frescura, rituais desnecessários ao cotidiano da vida. Indivíduo cerimonioso: "ele é cheio de guéri-guéri".
Ideia de girico – pensamento fraco, ideia ruim, solução nada prática.
Mamão com açúcar – situação muito favorável, caso de fácil solução, serviço excelente. Este trabalho é mamão com açúcar.
Maniento – cheio de manias, xexelento, com hábitos desnecessários, complicadores do fluir natural da vida.
Marmota – feio, atrapalhado, de mau gosto, mau vestido, extravagante. "Fazer marmotagem": fazer algo fora do padrão social.
Meganha – policial. Termo  pejorativo.
Melzinho na chupeta – sinônimo de mamão com açúcar.
Meter a boca no trombone – denunciar uma situação, contar um segredo a muitas pessoas. “Falar aos quatro ventos”.
Meter a língua nos dentes – idem.
Morgado – envergado, curvado, flexionado.
Muito fogo para pouca lenha – muito entusiasmo para pouco benefício a se alcançar. Empolgação excessiva.
Ôh, bala! - interjeição intensificadora de uma negação indignada: de forma alguma! Jamais! Nunca! Eu, heim...! Quero não!
Pegar o bonde andando – saber parcialmente de uma situação e já emitir opinião sobre ela, caindo num equívoco.
Pegar o bonde errado – entrar numa situação que não era a que se pensava ser.
Pinta brava – mau elemento, marginal, fora da lei, brigão, encrenqueiro, valentão.
Quebra-galho – gambiarra; improviso; serviço informal; uma ajuda qualquer que não supre todas as necessidades.  
Rasgar o cu com a unha – entrar em extremo desespero. Descontrole, crise nervosa, histeria.
Tempo da(o) zagaia – antigamente, passado remoto. 
Tempo do onça – idem.
Tio Velho – pessoa que bebe muito café, ou que se comporta como um idoso à moda antiga: “Êh, ti’ véio, já tá co’o caneco de café na mão...”
Tirar o cu da reta – livrar-se de culpa numa situação embaraçosa. Fazer de tudo para culpar outro se mostrando inocente.
Tirar o pé do atoleiro -  melhorar de vida, subir financeiramente, rápido crescimento econômico.
Toró – temporal, chuva intensa. "Caiu um toró". "Tribusana".
Traçar – além do sentido literal do verbo (riscar um traço, tracejar), tornou-se um termo deselegante para indicar o ato de comer, alimentar-se, no geral no sentido de gula: “num minuto traçou o pão”. Tem também o sentido de ato sexual: “traçou a filha do compadre” (manteve relação sexual com ela).
Traficança – bagunça, amontoado de coisas, trastes, bugigangas, “coisêra” (muita coisa). “Carregar a traficança”: mudar de residência. “Juntar a traficança”: passar a morar junto com alguém.
Tragada – 1- fumar com força, puxando fortemente por sucção o cigarro. "Dar uma tragada". 2- gole, dose considerável de bebida alcoólica: "tomar uma tragada de conhaque".
Trambolho – literalmente espécie de grande trava de madeira, para segurança de janelas e portas, maior que a tramela, muito usada na zona rural. Por extensão, qualquer mecanismo espalhafatoso, sem delicadeza, mau planejado, grosseiro, engenho ruim. Pode ainda de forma ofensiva ser aplicado a mulheres cujo padrão de beleza não seja atrativo sob hipótese alguma para os homens.  
Tremilique – tremura, tremor: “ ‘tava com febre forte, começou tremilicar”. Desequilíbrio psicológico: “ficou lá xingando, dando tremilique”.
Um brinco! – expressão com o sentido de perfeição; uma beleza!
Uma pinóia! – expressão de reprovação; negativa. Indicativo de não se aceitar uma situação. “_ Vou embora... _ Vai uma pinóia!”
Vaca que esconde leite – pessoa que, por cautela, não revela suas capacidades, potenciais ou poder econômico.
Vai com as batatinhas! – expressão de esconjuro. Expurgo. “Graças a Deus a visita foi embora... vai com as batatinhas!”
Vareta – magrelo, magricela, magérrimo.
Ver passarinho do rabo verde – mostrar-se muito alegre. Estar aparentemente muito feliz. Indicativo de assanhamento.
Vetético – pejorativo: velhote, velho espertalhão, idoso sagaz, pessoa na terceira idade que se comporta com atitudes imaturas.
Vivaldino – vivaz, sagaz, esperto, que trama situação nas quais lucrará.
Vivinho da silva – expressão intensificadora: muito vivo, com vivacidade. Usada também para indicar o reaparecimento de alguém: “estava sumido, pensei que tinha morrido. Nada! Tá vivinho da silva.”
Xepeiro – aquele que tem o hábito de xepar: usurpador, que se aproveita do esforço alheio, que vive às custas de outrem, que se alimenta em casa dos outros com frequência.
Xereta – especulador; aquele que quer saber detalhes da vida alheia; quem muito pergunta. Xeretar: intrometer-se.
XPTO – ótimo, excelente, maravilhoso, delicioso. “O almoço está XPTO”. XPTO é a abreviatura da palavra “Cristo”, em grego.
Zona – 1- bagunça, desordem, caos. 2- prostíbulo. 
Zurra – uso excessivo, sem cuidados de manutenção. “Carro novinho, já tá na zurra ...”

* Texto: Ulisses Passarelli

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