Ela era muito sovina. A fulana se comportava como uma mulher usurária, que não aceitava dar nada a ninguém, "garrafinha", como se diz. Nem ao seu cachorro de estimação escapava uma migalha. O que o pobre animal angariava era surrupiado da miserenta pessoa ou catava comida pelas ruas.
Certa ocasião a mulher estava amassando angu para comer e o seu cão muito magro, logo abaixo da mesa, babando, fazendo expressão de muita fome, com os olhos esbugalhados na direção do prato. Mas sua dona não percebia nem compadecia. Amassava o angu mecanicamente, olhando para fora pela janela.
Quando enfim voltou os olhos ao prato, se assustou muito, dando um salto para trás e deixando cair o garfo. O prato estava banhado de sangue. Como um aviso divino para frear seu mau hábito de mesquinharia, os olhos do cachorro tinham saltado fora das órbitas para dentro do prato, de tanta vontade de comer, e a mulher os havia amassado junto com o angu.
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O vira-latas.
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Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli.
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 2014.
*** Informante: Elvira Andrade de Salles, Santa Cruz de Minas, 1995.
**** Obs.: uma outra narrativa colhida na região se parelha com esta ao envolver o dono mesquinho e o cachorro de estimação, com um aviso sobrenatural que partiu do próprio animal. Leia em:
LUGAR ONDE O CACHORRO FALOU
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