Oferecido com saudosa
gratidão à memória de nossos companheiros que já partiram, sobretudo aqueles
que carinhosamente chamamos de Tião Domingos, Totonho Benzedor, João Liá, sr. Raul e Chiquito
Matias.
A ausência de documentos de pesquisas anteriores e de
certidões cartoriais de registro, torna obscura a datação dos grupos
folclóricos em geral e tanto mais das folias. Nenhum grupo são-joanense é
registrado.
Desta forma o que sabemos de sua
história se prende exclusivamente aos informes orais de antigos participantes.
Surgiu em 1981 uma folia de Reis sob
a direção do folião Antônio Carvalho da Silva conhecido popularmente por
“Totonho Benzedor”, posto que em sua casa num beco nos limites dos bairros Dom
Bosco e São Dimas (o popular “Lava-pés”), atendia a todos gratuitamente para o
exercício de suas preces e benzeduras, cuja boa eficácia é atestada por quantos dela se beneficiaram.
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Antônio Carvalho da Silva.
Foto: Lenice F.C.Santos, 1996.
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Teve desde o início um acentuado
apoio de seu irmão, Sebastião Carvalho da Silva, conhecido “Tião do Fole”,
hábil folião, sanfoneiro e violeiro.
Naturais da zona rural entre Conceição
da Barra de Minas e São João del-Rei, procedem de uma importante raiz cultural
e tem experiência no assunto.
Com o falecimento de Totonho o
comando da folia passou para um de seus folieiros, o sr. Sebastião Teodoro da
Silva (“Tião Domingos”), morador da Rua Angélico Benfenatti, na Vila João
Lombardi, Bairro das Fábricas. A partir de 1998 então a folia passou a se
reunir em sua casa e a ser identificada como Folia do Bairro das Fábricas.
Este folião é uma das figuras de
proa do folclore são-joanense e merece de todos o pleno respeito. Natural do
distrito de Emboabas, ingressou na prática das folias aos 12 anos de idade e
desde então vem participando, o que fez dele um dos foliões de mais antiga e contínua
atividade de São João del-Rei. Já por isto, mereceu em 2002, durante a Festa do
Divino do Bairro de Matosinhos, a condecoração “Estrela da Guia”, concedida
pela Federação de Reisados do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio de seu
representante, o folclorista Affonso Maria Furtado da Silva.
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Sebastião Teodoro da Silva.
Foto: autor não identificado, 2002.
Gentilmente cedida por Affonso Furtado.
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Assim como Totonho, também Tião
cuidava dos seus folieiros em pleno espírito de irmandade e posso testemunhar o
respeito e a educação com que sempre nos trataram, bem como os familiares.
Motivado por problemas de saúde,
Sebastião Teodoro passou a coordenação da folia em 2006 a Ulisses Passarelli, que já participava do
grupo desde dezembro de 2000 e então passou a ser conhecida como Folia da
Caieira, reunindo-se nesse bairro, à Rua Eurico de Oliveira.
Em 2010, impossibilitado por motivos
de serviço, Ulisses passou o comando a “Luisinho Sanfoneiro” (Luís Carlos
Rosa), figura bastante conhecida nos meios folclóricos, embaixador de folia e capitão de congado. Luís prossegue com a folia conduzindo a mesma irmandade.
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Luis Carlos Rosa.
Foto: Cida Salles, 2010.
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Eis portanto que desde a fundação o
mesmo grupo passou sediado em quatro bairros. Mudou a direção, não a diretriz.
Alguns companheiros são antigos, outros recentes, uns faleceram, outros
deixaram o grupo, mas a folia persiste com a mesma fé, a mesma firmeza e
objetivo. Sempre seus componentes foram de diferentes partes da cidade e não de
um só bairro ou família, embora isso nunca tenha interferido em sua vida e
jornada.
Alguns detalhes das toadas mudaram
com os anos o que é natural em folclore, já que não se segue a nenhuma
partitura. Portanto, diferentes músicos, sobretudo os sanfoneiros, deram a cada
época uma característica musical à folia. A identidade geral porém é mantida.
Com o passar dos anos, outros
participantes foram entrando para o grupo inicial, somando ou substituindo.
Dentre tantos, ficou bem fixo na memória popular a participação dos srs. José
Gaio, Edmar Eustáquio, Marcos Antônio, dos sanfoneiros “Mirandinha” e “Zé da
Carminha”.
No papel de bastião ou palhaço,
deixaram sua marca de saudade pela alegria, saber e habilidade na dança os
senhores “Zé de Aquino”, do Bairro Bela Vista, “Lico da Rede” (Franklin de
Azevedo Filho), Geraldo, do Bairro Caieira e “Zé do Nica”, do Bairro São
Geraldo (falecido em 1999), por ordem cronológica. Desde o ano 2000 Ulisses Passarelli
assumiu o posto de bastião da companhia reiseira sob o cognome de “Fura-capa”.
Fazendo-lhe companhia dois irmãos, filhos do sanfoneiro: Samuel Tadeu Rosa como
Palhaço “Catatau” e Maicon Luciano Rosa como Palhaço “Tomba-carro”.
Este grupo de folia foi o
responsável em 2009 pelo 1º Encontro de Folias na Colônia do Marçal, sob o
incentivo inolvidável do pároco da Imaculada Conceição, Padre Antônio Claret
Albino.
Quando a possibilidade acena,
participa de encontros de folia nesta cidade e redondezas, tais como Ribeirão
Vermelho, Resende Costa, Içara e Mercês de Água Limpa.
No ano de seu trigésimo aniversário
nossa folia adotou o nome de “Embaixada Santa”, cantando em três jornadas
anuais, em honra aos Santos Reis (25 de dezembro a 6 de janeiro), São Sebastião
(7 a 20 de janeiro) e Divino Espírito Santo (da Páscoa e Pentecostes).
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Folia "Embaixada Santa" com a bandeira de São Sebastião em jan.2010.
Foto: autor não identificado. Encontro de Folias de Mercês de Água Limpa (São Tiago / MG).
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Notas e Créditos
* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
**Assista a um vídeo dessa folia:
Folia de São Sebastião
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