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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 28 de outubro de 2012

Trinta Anos de uma Folia


TRINTA ANOS DE UMA FOLIA [1]


Oferecido com saudosa gratidão à memória de nossos companheiros que já partiram, sobretudo aqueles que carinhosamente chamamos de Tião Domingos, Totonho Benzedor, João Liá, sr. Raul e Chiquito Matias.


           A ausência de documentos de pesquisas anteriores e de certidões cartoriais de registro, torna obscura a datação dos grupos folclóricos em geral e tanto mais das folias. Nenhum grupo são-joanense é registrado.
            Desta forma o que sabemos de sua história se prende exclusivamente aos informes orais de antigos participantes.
            Surgiu em 1981 uma folia de Reis sob a direção do folião Antônio Carvalho da Silva conhecido popularmente por “Totonho Benzedor”, posto que em sua casa num beco nos limites dos bairros Dom Bosco e São Dimas (o popular “Lava-pés”), atendia a todos gratuitamente para o exercício de suas preces e benzeduras, cuja boa eficácia é atestada por quantos dela se beneficiaram. 


Antônio Carvalho da Silva.
Foto: Lenice F.C.Santos, 1996.

            Teve desde o início um acentuado apoio de seu irmão, Sebastião Carvalho da Silva, conhecido “Tião do Fole”, hábil folião, sanfoneiro e violeiro.
            Naturais da zona rural entre Conceição da Barra de Minas e São João del-Rei, procedem de uma importante raiz cultural e tem experiência no assunto.
            Com o falecimento de Totonho o comando da folia passou para um de seus folieiros, o sr. Sebastião Teodoro da Silva (“Tião Domingos”), morador da Rua Angélico Benfenatti, na Vila João Lombardi, Bairro das Fábricas. A partir de 1998 então a folia passou a se reunir em sua casa e a ser identificada como Folia do Bairro das Fábricas.
            Este folião é uma das figuras de proa do folclore são-joanense e merece de todos o pleno respeito. Natural do distrito de Emboabas, ingressou na prática das folias aos 12 anos de idade e desde então vem participando, o que fez dele um dos foliões de mais antiga e contínua atividade de São João del-Rei. Já por isto, mereceu em 2002, durante a Festa do Divino do Bairro de Matosinhos, a condecoração “Estrela da Guia”, concedida pela Federação de Reisados do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio de seu representante, o folclorista Affonso Maria Furtado da Silva.


Sebastião Teodoro da Silva.
Foto: autor não identificado, 2002. 
Gentilmente cedida por Affonso Furtado.

            Assim como Totonho, também Tião cuidava dos seus folieiros em pleno espírito de irmandade e posso testemunhar o respeito e a educação com que sempre nos trataram, bem como os familiares.
            Motivado por problemas de saúde, Sebastião Teodoro passou a coordenação da folia em 2006 a  Ulisses Passarelli, que já participava do grupo desde dezembro de 2000 e então passou a ser conhecida como Folia da Caieira, reunindo-se nesse bairro, à Rua Eurico de Oliveira.
           Em 2010, impossibilitado por motivos de serviço, Ulisses passou o comando a “Luisinho Sanfoneiro” (Luís Carlos Rosa), figura bastante conhecida nos meios folclóricos, embaixador de folia e capitão de congado. Luís prossegue com a folia conduzindo a mesma irmandade.


Luis Carlos Rosa.
Foto: Cida Salles, 2010. 

            Eis portanto que desde a fundação o mesmo grupo passou sediado em quatro bairros. Mudou a direção, não a diretriz. Alguns companheiros são antigos, outros recentes, uns faleceram, outros deixaram o grupo, mas a folia persiste com a mesma fé, a mesma firmeza e objetivo. Sempre seus componentes foram de diferentes partes da cidade e não de um só bairro ou família, embora isso nunca tenha interferido em sua vida e jornada.
            Alguns detalhes das toadas mudaram com os anos o que é natural em folclore, já que não se segue a nenhuma partitura. Portanto, diferentes músicos, sobretudo os sanfoneiros, deram a cada época uma característica musical à folia. A identidade geral porém é mantida.
            Com o passar dos anos, outros participantes foram entrando para o grupo inicial, somando ou substituindo. Dentre tantos, ficou bem fixo na memória popular a participação dos srs. José Gaio, Edmar Eustáquio, Marcos Antônio, dos sanfoneiros “Mirandinha” e “Zé da Carminha”.
            No papel de bastião ou palhaço, deixaram sua marca de saudade pela alegria, saber e habilidade na dança os senhores “Zé de Aquino”, do Bairro Bela Vista, “Lico da Rede” (Franklin de Azevedo Filho), Geraldo, do Bairro Caieira e “Zé do Nica”, do Bairro São Geraldo (falecido em 1999), por ordem cronológica. Desde o ano 2000 Ulisses Passarelli assumiu o posto de bastião da companhia reiseira sob o cognome de “Fura-capa”. Fazendo-lhe companhia dois irmãos, filhos do sanfoneiro: Samuel Tadeu Rosa como Palhaço “Catatau” e Maicon Luciano Rosa como Palhaço “Tomba-carro”.
            Este grupo de folia foi o responsável em 2009 pelo 1º Encontro de Folias na Colônia do Marçal, sob o incentivo inolvidável do pároco da Imaculada Conceição, Padre Antônio Claret Albino.
            Quando a possibilidade acena, participa de encontros de folia nesta cidade e redondezas, tais como Ribeirão Vermelho, Resende Costa, Içara e Mercês de Água Limpa.
            No ano de seu trigésimo aniversário nossa folia adotou o nome de “Embaixada Santa”, cantando em três jornadas anuais, em honra aos Santos Reis (25 de dezembro a 6 de janeiro), São Sebastião (7 a 20 de janeiro) e Divino Espírito Santo (da Páscoa e Pentecostes). 

Folia "Embaixada Santa" com a bandeira de São Sebastião em jan.2010.
Foto: autor não identificado. Encontro de Folias de Mercês de Água Limpa (São Tiago / MG).
Notas e Créditos


* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
**Assista a um vídeo dessa folia: Folia de São Sebastião


[1] Publicado pela Atitude Cultural, por uma gentileza de Alzira Agostini Haddad. Clique aqui para ler.

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