Com a chegada do natal, retornam às ruas
as tradicionais Folias de Reis, manifestações folclóricas de origem européia,
que via Portugal, chegaram ao Brasil em tempos coloniais. Em nosso país,
passaram por várias adaptações no contato que tiveram com elementos culturais
de diversas etnias, assumindo formas diferentes de acordo com a região.
Sua essência porém é a mesma,
constituindo-se num grupo itinerante e peditório, de tocadores e cantadores,
que empunhando seus instrumentos musicais, cantam versos em louvor ao Deus
Menino, narram nas cantigas detalhes do seu natalício e fatos correlatos,
sobretudo a visita dos magos que vieram do oriente.
Em São
João del-Rei há informações que
comprovam a existência das folias, desde a segunda metade do século XIX, já com
grande popularidade. Porém é de se supor, que o costume já estivesse aqui
enraizado muito antes. Difundidas por todo o município e nas vizinhanças,
frente as mudanças sociais, entraram em declínio no último quartel do século
XX.
As
folias persistem escassas em relação ao passado, mas ainda assim demonstram uma
vitalidade diante do fenômeno de massificação, evidente no esforço de seus
componentes em conservarem o costume de cantar a boa nova a moda antiga.
Hoje se
mantém sete grupos ativos de Folias de Reis na cidade de São João del-Rei, a
saber:
-
Águas Férreas, folião Geral Elói de Lacerda;
-
Rua São João, Tijuco, folião Antônio Ventura;
-
Jardim São José, foliã Maria Inês do Santos Zim , a “Lilia” ;
- Guarda-mor, folião João Batista do Nascimento, o “João Matias”;
-
Guarda-mor, folião Afrânio Batista de Paiva, o “Fanico”;
-
Bom Pastor, folião Geraldo Domingos Resende, o “Didinho”;
-
Bairro Caieira, folião Ulisses Passarelli.
Fiz questão de listar os
grupos e seus organizadores, os foliões, não só para efeito de registro, mas
sobretudo para parabenizá-los por todo o esforço que fazem em preservar a
tradição herdada de seus antepassados, com grande esforço e dedicação.
As folias, como aliás também
acontece com os congados, sobrevivem às custas do amor e da fé de seus
componentes, que se desdobram por todas as vias, para manterem vivos os grupos
folclóricos dos quais participam, com pouca ou nenhuma ajuda oficial. Essa
gente humilde, após a jornada diária de trabalho, ainda encontra ânimo para
ensaiar e por a folia na rua, até tarde da noite. Nas casas onde chegam e os
moradores compreendem o significado de sua atividade, nota-se com clareza que a
alegria toma conta daquele lar instantaneamente, pois acreditam os anfitriões
que por trás da cantoria reside a bênção e no seu rastro, a prosperidade. Na
zona rural as folias são esperadas com grande expectativa, na certeza de que
sua passagem afasta pragas das plantações e pestes do gado.
Digno de nota é o destino
dado aos donativos recolhidos, voltados para obras de caridade em geral,
repassadas para obras da Igreja ou para entidades assistenciais, ou ainda, para
a compra de cestas básicas, cadeiras de roda, enfim, auxílios diversificados.
O participante de uma folia
nada ganha financeiramente. Participa porque gosta. Para o folião, aquele
instante da cantoria é sagrado. É a sua realização espiritual. Quantos casos há
de participantes que tendo na bandeira um canal da fé venceram a adversidade do
vício alcoólico ou de uma doença grave... Quantos estão na folia por ação de
graças de uma promessa atendida... O folião tem uma crença viva muito além da
simbologia aparente da bandeira e dos rituais.
A folia é uma oportunidade
de promoção social. Naquele instante ele é mais cidadão, pois está certo que a
tradição que está mantendo é benéfica de uma forma ou outra para a sociedade. A
folia quebra o cotidiano e frisa a identidade de nosso povo.
Por todas estas razões
receba bem as folias, se acaso sua residência for agraciada com a visita de uma
delas. Respeite a bandeira, ainda que não compartilhe da mesma expressão de fé,
ainda que for outra a sua religião. Honre a missão folieira e prestigie o nosso
folclore, a nossa identidade cultural.
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Folia de Reis, Bairro das Fábricas, São João del-Rei / MG. |
Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
** Data e autor: não identificados.
*** Obs.: foto gentilmente cedida para reprodução pelo saudoso folião Luís Santana, segundo o qual o responsável por esse grupo era o sr.Vicente Velloso. Esta foto não fez parte da publicação original no jornal Gazeta de São João del-Rei.
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