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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 21 de outubro de 2012

Jubileu do Divino

Festa do Divino: 237 anos de caminhada [1]

Foi em 1774 que se iniciaram as comemorações festivas na primitiva igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, cuja construção começara só quatro anos antes. Ou pelo menos esta é a data mais remota conhecida até o momento das pesquisas.

          Seu crescimento foi vertiginoso como prova o breve pontifício do Papa Pio VI, de 1783, concedendo a condição de jubileu perpétuo a uma festa ainda tão nova, recém-implantada. Fato admirável.

            Existem poucas notícias sobre a festa do Divino do período colonial dificultando seu estudo. Sabe-se que ela perseverou ano a ano alcançando grande popularidade.  Atingiu um período por assim dizer áureo no Brasil Império, repleta de atrações folclóricas e musicais, capazes de lotar o largo da bucólica igrejinha, trazendo gente de São João e toda vizinhança. A maria-fumaça foi um importante veículo de transporte de romeiros no final do século XIX e começo do seguinte.

            É importante ressaltar que nesta fase antiga o jubileu era um só, festejando juntos Divino Espírito Santo (no Domingo de Pentecostes), Senhor Bom Jesus de Matosinhos (segunda-feira subseqüente) e Nossa Senhora da Lapa (terça). Não havia a festa de setembro, implantada somente na metade do século XX.

            Contudo o festejo teve sua fisionomia alterada pela invasão de bancas de jogos de azar até um ponto de abafar sua religiosidade, pelo que culminou com um ato proibitivo no ano de 1924, por ordem do então arcebispo de Mariana (São João del-Rei ainda não sediava diocese), Dom Helvécio Gomes de Oliveira.

            É bem sabido hoje que a jogatina não foi bem o único motivo da paralisação da festa. O processo de romanização que implantado pela Igreja teve um peso forte neste ato. Idealizava-se por assim dizer uniformizar o catolicismo ao modo romano, desligando-os das práticas populares. 

            Também é verdade que a festa não acabou, mas sim mudou por completo de sentido, de aspecto, seguindo a um padrão comum, senão mesmo sem graça, desprovida de atrativos. Apagou-se como evento cultural e evangelizador. Era não mais que uma lembrança tênue do dia da efusão do Espírito Santo sobre os apóstolos, data litúrgica lembrada pela Igreja em todo mundo, mas comemorada em Matosinhos neste período tristonho por poucos fiéis abnegados dos arredores da igreja. Daí dizer-se que ficou 74 anos paralisada.

            Ocorre quem em 1997 o então pároco de Matosinhos, Padre José Raimundo da Costa idealizou introduzir um grupo de congado na procissão daquele Pentecostes, tendo convidado o de Coronel Xavier Chaves. A iniciativa inusitada (ou melhor inspirada!) foi a semente de todo o processo de recuperação da festividade, posto que no ano seguinte, sob sua orientação e na coordenação do exímio artista santeiro Osni Paiva, se reuniu a convite um grupo de pessoas interessadas em “resgatar” a Festa do Divino. Aquele pequeno grupo de festeiros superou em curtíssimo prazo de tempo dificuldades de todo tipo para que em maio de 1998 o jubileu em honra ao Paráclito pudesse acontecer com todo êxito.

            Mesclando história e modernidade ano a ano voltou a festa a ter grande brilhantismo, promovida pela Comissão do Divino, conseguindo congregar em torno de um mesmo ideal as manifestações folclóricas que tanto enriquecem o jubileu. Seu sucesso contribuiu dentre outras coisas para a elevação da matriz de Matosinhos à condição de santuário diocesano.

            A Comissão do Divino está já na sua quinta presidência pois é sempre relevante a renovação de idéias e ações para a dinâmica da festa e já passou pelo comando de vários imperadores, que felizmente ainda temos a grata felicidade de tê-los todos vivos, conhecedores do peso daquela coroa que merece tanto respeito, conselheiros dos rumos festivos.  

            Fica consignado neste texto o meu respeito e gratidão aos nossos pioneiros, primeiro ao Padre José Raimundo da Costa, grande mentor deste jubileu e a Osni Paiva, seu maior artífice, bem como àqueles fundadores da Comissão do Divino, pequeno grupo de fiéis idealistas que acreditaram nesta proposta e se entregaram à sua realização. Que todos aqueles que a consolidaram e a mantém tenham sempre em mente a mesma diretriz e fé sem a qual a festa não renasceria das cinzas.

Largo de Matosinhos no dia maior do Jubileu do Divino.

* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 2012.



[1] Publicação: INFORMATIVO DO JUBILEU DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, São João del-Rei, Paróquia de Matosinhos, Comissão Organizadora da Festa do Divino Espírito Santo, n.14, 2011. 

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