Esta santa foi uma princesa africana do primeiro século do cristianismo, da Núbia (atual Etiópia), ao nordeste daquele continente. Era filha do Rei Eggipus e da Rainha Eufenisa. Seu país era pagão e politeísta. Foi então, que poucos anos após a crucificação de Jesus, o Apóstolo São Mateus, acompanhado de dois discípulos foram fazer pregações em Noba, capital daquele reino. Não tiveram grande êxito mas a Princesa Efigênia converteu-se fortemente ao cristianismo. Por esta razão foi condenada à morte na fogueira, mas salvou-se milagrosamente deste terrível sacrifício, fato que fez com que outras pessoas se convertessem. Fundou um mosteiro para virgens. Mais tarde, com a morte de seu pai, o trono foi assumido pelo tio Hirtacus, que o usurpou do irmão de Efigênia, Efrônio, herdeiro legítimo. Pondo-se a desejá-la e persegui-la, o tio ateou fogo ao convento, mas novamente, por forças milagrosas o fogo não a vitimou: apagando-se, reacendeu no castelo de Hirtacus, colocando-o em fuga e pondo fim ao seu governo. Efigênia viveu e faleceu em absoluto estado de graça, sendo festejada a 21 de setembro.
Seu nome teria origem grega, significando "nascida forte". Em latim, "Ephigenia", e em português também grafada como Ifigênia e, popularmente,“Santa Figêna”.
Uma antiga tradição a considera santa carmelita, sem contudo haver um embasamento convincente. Em razão disto é comum sua imagem mostrá-la com vestes na cor daquela ordem religiosa. Segura nas mãos uma casinha saindo fogo pelas janelas e porta, ou na dianteira, representação simbólica de sua história acima narrada.
GAIO SOBRINHO registrou uma narrativa de lamentável cunho racista, contra a qual se manifestou contrariamente, tal qual o faço neste momento de transcrição:
"Conta-se, sem fundamento, que Ifigênia era branca e muito formosa. Por despertar a cobiça de muitos pretendentes, rogou a Deus que lhe mudasse a fisionomia. Tornou-se, então, negra e de olhos esbugalhados, como a vemos na imagem."
Sobre tal discriminação o notável autor escreveu e com ele comungo:
"Fora o conteúdo racista que transparece neste particular, com certeza inverídico, e que denuncio, cabe-me acrescentar que feiura não é sinônimo de negritude, muito pelo contrário".
Existe representação hagiográfica desta santa como uma mulher branca, exemplificada por uma fotografia anexa nesta postagem.
Sendo negra, foi desde longa data tomada como padroeira dos escravos e por conseguinte de suas expressões culturais. O viajante austríaco Johann Baptiste Emmanuel Pohl (*) viu o congo de Traíras/GO (atual Niquelândia) num festejo em honra a esta santa, no ano de 1819.
Em Barbacena/MG tem igreja própria e nomina um bairro, local de festa congadeira, cantada e recantada pela guarda de marujos local. Nestas festas encontram-se mastros dedicados a ela, como todo ano vemos no Bairro São Geraldo, em São João del-Rei. Vi também em Passa Tempo. Os congados a louvam:
Na área do Quadrilátero Ferrífero os congados do tipo marujo não se cansam de venerá-la com carinho e respeito. É santa popular:
Fora deste âmbito, Santa Efigênia é protetora dos sem teto, dos que vivem de aluguel e apegando-se a ela consegue-se adquirir casa própria. Em São João del-Rei é comum as pessoas fazerem uma novena a ela para alcançar a aquisição de uma habitação. É uma aproximação à figuração de sua imagem, com uma casinha ou capela, que carrega numa das mãos.
Bela e artística imagem de Santa Efigênia, fev.1997. Igreja de N.S. do Carmo. São João del-Rei/MG. Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo. |
Santa Efigênia em representação iconográfica de mulher branca. Capela de Nossa Senhora das Vitórias, 2013. São Sebastião das Vitória (São João del-Rei/MG). |
Bandeira de congado de Resende Costa representando Santa Efigênia em pintura popular. 2012. |
Ifigênia da Etiópia - Wikipédia (acesso 13/09/2014, 14:50h)
Jacopo de Varazze - Wikipédia (acesso 13/09/2014, 14:50h)
GAIO SOBRINHO, Antônio. Santos negros estrangeiros. São João del-Rei: [s.n.], 1997.
** Texto e fotos: Ulisses Passarelli
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