No contexto geral, as correntes em notas tem o objetivo de trazer para quem as escreve, recebe e replica, boa sorte e abundância (simbolizada materialmente no dinheiro), em nome de santos populares, quase sempre os santos gêmeos São Cosme e São Damião (ícones da fartura, gemelidade, duplicação, multiplicidade), Santa Rita de Cássia (protetora nas causas impossíveis, invocação dos momentos de angústia por uma dívida que oprime ou na falta de trabalho remunerado) e São Judas Tadeu (patrono das causas perdidas, contra o desespero).
O cunho supersticioso cede ante uma manifestação de fé, que do mundo abstrato se materializa escrita em letras mal traçadas, segundo as regras gramaticais (aqui transcritas com fidelidade aos originais), mas leais à fé emanada de práticas informais da religiosidade popular.
Os dez exemplares ora expostos foram encontrados em notas circulantes em Barbacena, Tiradentes e Santa Cruz de Minas. Mantém uma unidade estilística e de finalidade, inclusive quando comparada a outras coletas (*), como as de PELLEGRINI FILHO (2009). O último exemplar tem um cunho motejador, estando numa categoria que sem acreditar na corrente, adota seu estilo para brincar ironicamente com o próximo, usando do mesmo mecanismo de comunicação popular.
Fragmento de uma cédula de dois reais com manuscrito. |
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01- "Quem pegar nesta nota nunca ficarrar sem dinheiro Esta nota Edi são damião e di sao cosme Passar 3 nota." (sic, Barbacena, 26/09/1999).
PELLEGRINI FILHO, Américo. Comunicação Popular Escrita. São Paulo: Edusp, 2009. 696p.il + CD
* A título de comparação, eis um exemplar que colhi no Rio Grande do Norte: "Quem pegar nesta nota hei de ser muito feliz e dinheiro não vai faltar a correte São Cosme e São Damião Escreve em 8 notas." (sic, Natal, 11/05/1998)
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Leia também: CORRENTES
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