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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 26 de outubro de 2014

O gato maldito: um conto do demônio logrado

Certo dia, um homem apareceu em casa com um gato e estava muito feliz por ter encontrado o bicho. Entregou-o à esposa e pediu que tratasse dele. Foi trabalhar. 

A mulher cuidava do felino e o gato sempre comia a fartar, mas todos os dias quando o marido chegava da labuta, o gato vinha ronronando, se esfregava na calça do dono e miava muito como se tivesse com fome. 

O homem começou a se chatear com a mulher, acusando-a de não alimentar o animal, pelo qual tinha tanta estima. Achava uma covardia deixar o bichano passar fome e ela se defendia dizendo que o tinha alimentado bastante. O marido não acreditava porque o comportamento do gato era de quem estava com muita fome. 

Assim a discórdia do casal aumentou dia a dia por causa do gato, a ponto do marido bater na mulher. 

Foi então, que, certo dia, o homem passando por baixo de uma ponte escura e deserta ouviu vozes debaixo da mesma. Foi espiar e admirou ao ver vários capetas em reunião, contando os seus feitos malfazejos daquele dia. E ouviu um dos diabos dizer: 

"_ ultimamente tomei a forma de um gato e causo brigas entre um casal, porque o homem, ao voltar do serviço, acha que a esposa não deu comida para mim."

O homem trabalhador voltou apavorado para casa e foi se preparar para o gato maldito. Empilhou lenha para fazer uma fogueira e arranjou um cordão bento de São Francisco. 

Quando o gato apareceu ele o pegou de repente e amarrou as patas com o cordão. Jogou o gato ao fogo dizendo firmemente à mulher que não interferisse que ele sabia o que estava fazendo. Foi então que se ouviu um forte estouro que marcou o desaparecimento do tentador. 

A partir de então o casal voltou a viver bem, com paz e união. 


Demônio. Parte de um painel pintado na parede direita da nave
da Igreja de Santo Antônio. Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno
(São João del-Rei/MG)

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografia: Iago C.S. Passarelli, 19/10/2014
*** Informante: Elvira Andrade de Salles, Santa Cruz de Minas, 1994
**** Obs.: este conto se enquadra na categoria das narrativas do "demônio logrado", quando as artimanhas malignas são superadas pela sagacidade humana. Conserva elementos folclóricos tradicionais, ou antes temas e fórmulas típicas: o gato como animal negativo (paralelo com sua preguiça e dissimulação, atributos do mal); satanás atentando um bom casamento para destruir a união; o cordão bento de São Francisco de Assis como amuleto capaz de amarrar e rebater o malefício; o fogo como elemento de catarse, purificação; a explosão como fórmula clássica de desaparecimento do demônio expulso. Em seu bojo, o conto transmite o ensinamento religioso de que a tentação vem muitas vezes sob aparências inocentes e chega sem avisar, sendo necessário, como ensinou o Divino Mestre, vigiar e orar. 

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