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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A Arte Trapista

Em tempos hodiernos muito se fala sobre reciclagem como uma atitude ecologicamente correta. Nossos artesãos contudo conhecem esta lição desde longa data. Do aproveitamento de aparentes inutilidades surgem peças úteis e de efeito decorativo, nas quais sua criatividade se expressa em formas, cores e soluções inusitadas de composição estética.

Os artesãos que trabalham com tecidos sabem muito bem o valor de um trapo, pedacinho de pano refugado dos ateliês de costureiras, alfaiates e confecções. Dos retalhos compõe tiras, rodelas, triângulos, semi-círculos, trouxinhas (fuxico) e outras figuras, além de recortes figurados e apliques, combinando formas e cores. 

1- Detalhe de um tapete de Santa Cruz de Minas. Década de 1990. 

A criatividade gera peças singulares: vários triângulos de pano costurados em alinhamento e em carreiras sobrepostas a pequena distância cria um imbricamento, simulando o aspecto de escamas de peixe. E assim surge um interessante tapete ou forro para bancos de madeira. Em outra composição, trapos da mesma cor são costurados ao tecido de fundo de forma a compor um losango; por dentro ou por fora outro losango de cor diferente envolve ou é envolvido pelo primeiro, um pouco maior ou um pouco menor, e assim sucessivamente, em geometria que alterna duas cores ou várias. 

Destes trapos surgem peças inteiras, costurados os elementos sobre um tecido mais grosseiro de fundo, não raro um saco de juta, também reaproveitado. Daí surgem forros para montaria (tais como pelegos de arreios e selas), mantos, tapetes, forros de almofada e sofá, panos de mesa (circulares e quadrangulares), cobertura de assentos de carros. Pequenas figuras de trapo colorido são aplicadas sobre outras composições artesanais enriquecendo cortinas, colchas, pet-works, bonecas e bichinhos. 

2- Bonecas artesanais de pedaços de pano.
São João del-Rei/MG - década de 2000.

A arte trapista ainda é muito difundida. Várias regiões a conhecem e nas Vertentes se faz corriqueira nas roças e é comum também nas cidades, utilitária e/ou decorativa, possibilitando renda, passa-tempo e ensejando a realização de oficinas. Quem não se lembra das tradicionais bonecas de pano? Brinquedo das antigas, fez a alegria de gerações de meninas, hoje em ocaso pela força da modernidade. 

3- Tapetes, Santa Cruz de Minas, década de 2000.
O tapete da quadrícula superior esquerda foi confeccionado com invólucros de balas. 

4- Colcha de retalhos. São João del-Rei, década de 2000. 

Notas e Créditos

* Texto, fotografia 4 e acervo de peças: Ulisses Passarelli
** Fotografias 1, 2 e 3: Iago C.S. Passarelli

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