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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Cirineu

Quando Cristo em todo seu padecimento carregava a cruz rumo ao Gólgota, já com forças físicas exauridas, foi ajudado por um tal Simão, o Cirineu, tomado do meio do povo por ordem dos romanos e obrigado a carregar a cruz de Cristo dali por diante. Era pai de Alexandre e Rufo, natural de uma colônia grega do norte africano, chamada Cirene, onde havia uma grande comunidade judaica. No momento, vinha do campo e qual não deve ter sido sua surpresa ao ser tomado para tal tarefa. 

Dizem as escrituras:

"Saindo, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a cruz de Jesus." (Mt 27, 32)

"Passava por ali certo homem de Cirene, chamado Simão, que vinha do campo, pai de Alexandre e Rufo, e obrigaram-no a que levasse a cruz." (Mc 15, 21)

"Enquanto o conduziram, agarraram um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz, para que a carregasse atrás de Jesus". (Lc 23, 26)

O Evangelho de São João não cita Simão Cirineu. Tomando por base a saída do pretório diz apenas: 

"Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgotha." (Jo 19, 17)

O apócrifo Evangelho de Nicodemos (ou Memórias de Nicodemos), em sua recensão B, cita expressamente o personagem em questão. Segundo Moraldi:

"Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, foi requisitado para levar a cruz de Jesus ... "não porque eles tivessem compaixão de Jesus e quisessem aliviá-lo do peso dela, mas porque  _ como foi dito _ queriam matá-lo mais depressa." (sic, p.313)

A história de Simão de Cirene passou para a tradição cristã ganhando representação pictórica nas obras de arte, materializando-se em personagem nas peças teatrais sobre a vida de Jesus e figurando ainda nos filmes com esta temática. 

Bem menos explícito e com certa sutileza, o termo "cirineu" surge em São João del-Rei e certamente em outras velhas cidades eivadas de barroquismo, para designar dois tipos de peças de metal que ajudam a amparar pesados andores procissionais. 

Cirineu tornou-se então um objeto. O tipo mais conhecido é uma forquilha metálica presa a um pau torneado, que os membros das irmandades religiosas carregam à mão para apoiar os varais do andor no instante de descanso da marcha, durante uma procissão. O cirineu ajuda a sustentar o peso num breve momento de parada para um fôlego. Também é chamado “gancho”. Interessante registrar que o sinal para os carregadores voltarem a andar são uns batidos rápidos e curtos dados com o cirineu na madeira do varal do andor. Sinal sonoro este plenamente compreendido como aquele convencionado desde sempre para retomar a caminhada.


 
O cirineu ajuda a sustentar
o peso de um andor.
São João del-Rei/MG.

O segundo tipo de cirineu, que dizem ser o legítimo, é uma forquilha de ferro que se apóia na parte posterior do andor do Senhor Bom Jesus dos Passos para ajudar a sustentar a cruz, dando-lhe equilíbrio. Não vai na mão do carregador do andor mas unicamente é fixo na parte de trás da montagem. 

A seta indica o cirineu que ajuda a sustentar a cruz do Senhor dos Passos.
Rasoura dos Passos, Igreja de São Francisco de Assis, São João del-Rei/MG. 
O povo soube assim de forma criativa, senão mesmo singela, nominar um simples objeto de auxílio por analogia ao Simão que ajudou Cristo, ainda que obrigado. Tal como aquele, o cirineu de hoje passa despercebido no contexto da marcha religiosa. A imagem é o foco da atenção.

Referência Bibliográfica

Bíblia Sagrada. 6.ed. São Paulo: Ave Maria, 1965. 
MORALDI, Luigi. Evangelhos apócrifos. São Paulo: Paulus, 1999. 393p.

Referência da Web

Simão de Cirene. Wikipédia. Acesso em 23/10/2014, 12:00h


* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 2014

Um comentário:

  1. Excelente post, auxiliando-nos a conhecer detalhes importantes e pouco conhecidos da rica cultura de nossa terra! Obrigado pela informação e parabéns pela iniciativa. Grande abraço!

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