Lambari é a designação comum dada a dezenas de espécies
de pequenos peixes caracídeos de água doce, sobretudo dos gêneros Astyanax, Hyphessobrycon, Hemmigramus, Oligosarcus, Cheirodon e Moenkhausia, dentre outros. Em alguns lugares são conhecidos pelos nomes genéricos de piaba e piquira, além dos demais nomes específicos.
Situados mais na base da cadeia alimentar aquática, os lambaris são peixinhos muito importantes no equilíbrio ecológico, devorando larvas de pernilongos e servindo de alimentação a peixes maiores, aves, cágados, cobras d'água, rãs. O homem também o busca, apesar de tão pequeno, tendo-o como elevado tira-gosto, passado no fubá ou na farinha de trigo, frito, acompanhado por arroz ou angu, cerveja ou cachaça.
No interior mato-grossense, milhares de lambaris são cozidos pelos pantaneiros em caldeirão, por longo tempo, para extração do "azeite de peixe", um óleo comestível usado na culinária regional.
Rendeu no sul mineiro o nome de uma cidade, bela estância hidromineral. É também o nome de um rio, no oeste de Minas Gerais, afluente da margem esquerda do Rio Pará, na Bacia do São Francisco.
Na cultura popular o lambari é
sinônimo de coisa pequena, miúda, desprezível, inofensiva:
Eu comi saci assado,
na farofa de fubá;
peixe grande não me
engasga,
lambari quer me engasgar... (*)
Segundo a mesma fonte de informação é o nome de uma entidade espiritual, o Caboclo Lambari. Seu ponto nalguns terreiros de umbanda em São João del-Rei é:
Lá no mato tem,
na lagoa mora;
lambari de ouro,
tá puxando tora!
Com
pequenas variações seu ponto é cantado nos nossos
jongos de roça e congados.
Lá no mato tem,
lá embaixo mora;
lambari de ouro,
na lagoa mora.
Aliás, os cantadores de jongo e de sua variante, o caxambu, de fato usam da imagem do lambari para indicar pequenez, figurando-o no desafiante como sinal de menosprezo, como ouvi de cantadores capixabas (**):
Êh, lambari!
Tá pelejando pra subir a cachoeira!
Êh, lambari!
Mas deixa de tanta zoeira ...
Outro exemplo do Espírito Santo (***) :
Licença, jongueiro velho!
Joguei meu anzol,
no oco da sapucaia,
lambari comeu a isca,
surubi tá na tocaia ...
No nosso desaparecido
esquinado o peixinho representava o esperto, o atrevido, que chega primeiro que o grande, reflexo de sua esperteza em roubar a isca do pescador sem ser fisgado:
Isquei o meu anzol,
fui no rio pegar dourado;
lambari comeu a isca,
eu perdi meu requebrado.
Além destes aspectos simbólicos nas cantorias folclóricas, o lambari povoa algumas simpatias curiosas. Em São João del-Rei e Santa Cruz de Minas, para
aprender a nadar o processo é engolir três lambaris vivos. Senão isto ao menos a sua bexiga natatória (devido à flutuação que propicia). No Brumado de Cima ouvi a apenas dois anos, que para curar bronquite, na Sexta-feira da Paixão, pega-se um
lambari e com ele ainda vivo o doente cospe na sua boca e a seguir solta-o de novo no rio, para que o peixinho leve o mal por água abaixo.
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Lambari-prata ou lambari do rabo amarelo (Astyanax bimaculatus). Serra de São José, Santa Cruz de Minas/MG.
Notas e Créditos |
* Informado por Damião Guimarães, 2002, São João del-Rei, como ponto de demanda do Exu Sete Catacumbas, mas também o ouvi cantado livre dos rituais de terreiro, entre a versalhada do calango regional. Existe localmente a variante do último verso: "Santo Antônio puxando tora".
** De um jongo durante a Festa de São Benedito em São Mateus/ES, dezembro/1991.
*** Originário da cidade de Jerônimo Monteiro. Fonte: GEAQUINTO, M. Neila. Um caxambu capixaba. Folclore, Vitória, Comissão Espírito-santense de Folclore, jan./1965-dez.1966, n.82.
**** Texto: Ulisses Passarelli
***** Foto: Iago C.S. Passarelli, 28/06/2014
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