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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sábado, 19 de julho de 2014

Jogatina além de Matosinhos

É muito propalado, que a invasão de bancas de jogos de azar foi o fator que desencadeou, a noventa anos, a paralisação da Festa do Divino de Matosinhos, em São João del-Rei. Foi oportunamente demonstrado nas postagens O Problema da Jogatina e Efeitos da Romanização: considerações gerais, que muito embora, o vício tenha de fato lastrado pela festa, esta justificativa foi um pretexto oficial para atingir outros objetivos, ligados ao processo de romanização. 



Como de fato, os jogos de azar mudaram a fisionomia do festejo tradicional e dele tolheram o que tinha de melhor. Os jornais são-joanenses da época possuem vários registros desta atividade em Matosinhos. A Nota, por exemplo, em 1917, dizia expressamente: "muita jogatina e pouca religião, todos ganham" (nº22) e "todo mundo está cansado de saber que todos jogam durante os festejos de Matosinhos" (nº25).

Porém, o seguimento das pesquisas revelou que não somente Matosinhos foi vitimado por este vício. Nas duas primeiras décadas do século XX, o mal costume invadiu também outras partes da cidade independente de festas. Ainda o mesmo jornal, no mesmo ano supracitado (edição nº60) revela a presença dos jogos na Rua Paulo Freitas (Bairro das Fábricas) e a compara a Matosinhos em dia de festas, como mostra a fotografia abaixo. 

 

"A rua Paulo Freitas está parecendo o largo de Mattosinhos nos dias da tradiccional festa ... A meninada installou alli um 'jaburu', onde os botões e favas são disputados como se valesse muito bom dinheiro. A polícia precisa volver as suas vistas para o caso, porque bem pequeno é que se adquire o vício."
  

Fato é, que em verdade, o problema explodiu nos anos vinte mas já andava sério bem antes. O contundente jornal A Farpa, em 1901 (nº8) já dizia sintomaticamente: 

"Está grassando a epidemia do jogo n'esta cidade. Em cada rua uma banca, em cada bairro uma tavolagem, em cada canto uma roda de jogatina.". 

A matéria fez um diagnóstico e clamou por ação policial, pedindo providências "que não devem atingir só o pobre e o fraco; devem ser iguaes para todos, porque todos são iguaes perante a lei", abordando o velho problema e deixando antever que o vício atingia todas as classes sociais. O texto foi publicado em outubro, fora das épocas festivas de Matosinhos e em verdade nem cita este bairro.


Também o Ten-Ten, no setembro de 1907, citou a presença do jogo, dizendo-o relativamente atenuado pela chegada de novas melhorias à cidade: "bellas diversões, novos e magnificos jornaes, fabricas, clubs, associações..." 


Mas foi de fato uma fase. O jogo voltou a crescer e nem a paralisação da festa de Matosinhos não o extirpou. Bem mais tarde, em 1938, no centro da cidade, a pavuna tomava conta da Rua Artur Bernardes, a ponto do jornal Diário do Comércio clamar pelas autoridades sob a insinuação de São João del-Rei ser o "Paraíso dos Jogadores"

Como se vê o caso de Matosinhos não foi isolado. O jogo foi nessa época um imenso problema social. A continuidade das pesquisas certamente revelará os episódios seguintes desta infeliz página de nossa história. 

Referências Hemerográficas

A Farpa, n.8, 27/10/1901
A Nota, n.22, 28/05/1917
A Nota, n.25, 31/05/1917
A Nota, n.60, 11/07/1917
Diário do Comércio, n.170, 04/10/1938
Ten-Ten, n.1, 15/09/1907

Notas e Créditos

* Texto e fotomontagens: Ulisses Passarelli
** Fonte: acervo digital, site da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei/MG
*** Obs.: todos os jornais aqui citados eram publicados em São João del-Rei  

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