É muito propalado, que a invasão de bancas de jogos de azar foi o fator que desencadeou, a noventa anos, a paralisação da Festa do Divino de Matosinhos, em São João del-Rei. Foi oportunamente demonstrado nas postagens
O Problema da Jogatina e
Efeitos da Romanização: considerações gerais, que muito embora, o vício tenha de fato lastrado pela festa, esta justificativa foi um pretexto oficial para atingir outros objetivos, ligados ao processo de romanização.
Como de fato, os jogos de azar mudaram a fisionomia do festejo tradicional e dele tolheram o que tinha de melhor. Os jornais são-joanenses da época possuem vários registros desta atividade em Matosinhos. A Nota, por exemplo, em 1917, dizia expressamente: "muita jogatina e pouca religião, todos ganham" (nº22) e "todo mundo está cansado de saber que todos jogam durante os festejos de Matosinhos" (nº25).
Porém, o seguimento das pesquisas revelou que não somente Matosinhos foi vitimado por este vício. Nas duas primeiras décadas do século XX, o mal costume invadiu também outras partes da cidade independente de festas. Ainda o mesmo jornal, no mesmo ano supracitado (edição nº60) revela a presença dos jogos na Rua Paulo Freitas (Bairro das Fábricas) e a compara a Matosinhos em dia de festas, como mostra a fotografia abaixo.
"A rua Paulo Freitas está parecendo o largo de Mattosinhos nos dias da tradiccional festa ... A meninada installou alli um 'jaburu', onde os botões e favas são disputados como se valesse muito bom dinheiro. A polícia precisa volver as suas vistas para o caso, porque bem pequeno é que se adquire o vício."
Fato é, que em verdade, o problema explodiu nos anos vinte mas já andava sério bem antes. O contundente jornal A Farpa, em 1901 (nº8) já dizia sintomaticamente:
"Está grassando a epidemia do jogo n'esta cidade. Em cada rua uma banca, em cada bairro uma tavolagem, em cada canto uma roda de jogatina.".
A matéria fez um diagnóstico e clamou por ação policial, pedindo providências "que não devem atingir só o pobre e o fraco; devem ser iguaes para todos, porque todos são iguaes perante a lei", abordando o velho problema e deixando antever que o vício atingia todas as classes sociais. O texto foi publicado em outubro, fora das épocas festivas de Matosinhos e em verdade nem cita este bairro.
Também o Ten-Ten, no setembro de 1907, citou a presença do jogo, dizendo-o relativamente atenuado pela chegada de novas melhorias à cidade: "bellas diversões, novos e magnificos jornaes, fabricas, clubs, associações..."
Mas foi de fato uma fase. O jogo voltou a crescer e nem a paralisação da festa de Matosinhos não o extirpou. Bem mais tarde, em 1938, no centro da cidade, a pavuna tomava conta da Rua Artur Bernardes, a ponto do jornal Diário do Comércio clamar pelas autoridades sob a insinuação de São João del-Rei ser o "Paraíso dos Jogadores".
Como se vê o caso de Matosinhos não foi isolado. O jogo foi nessa época um imenso problema social. A continuidade das pesquisas certamente revelará os episódios seguintes desta infeliz página de nossa história.
Referências Hemerográficas
A Farpa, n.8, 27/10/1901
A Nota, n.22, 28/05/1917
A Nota, n.25, 31/05/1917
A Nota, n.60, 11/07/1917
Diário do Comércio, n.170, 04/10/1938
Ten-Ten, n.1, 15/09/1907
Notas e Créditos
* Texto e fotomontagens: Ulisses Passarelli
*** Obs.: todos os jornais aqui citados eram publicados em São João del-Rei
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