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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 15 de julho de 2014

Festa do Carmo, festa querida

São João del-Rei é uma terra mariana. São muitos os templos dedicados a Nossa Senhora e dentre eles tem destaque arquitetônico o da Virgem do Carmo, pela imponência aliada à graciosidade das linhas. Sobre ele escreveu GAIO SOBRINHO: 

"A linda Igreja do Carmo (1733) preferida da colônia libanesa local, teve seu frontespício construído a partir de 1787 sob a competente direção de [Francisco de] Lima Cerqueira. Tem torres octagonais, com a raridade única de frestas nas arestas." (p.27)

A devoção à Senhora do Monte Carmelo, como também se diz, é paralelamente ligada à das almas. Existe uma crença _ e aqui em São João del-Rei ela é muito arraigada _ que Nossa Senhora do Carmo resgata almas do purgatório, no primeiro sábado após a morte. Neste sentido, gozam de uma graça especial as que em vida terrena foram suas devotas e morreram cingidas de seu escapulário. LIMA Jr. associou esta concepção às raízes judaicas ligadas aos cristãos novos dos tempos coloniais no estado: 

"Aos sábados, acendia-se diante do oratório uma vela, que deveria arder até o fim do dia, costume judaico que se cristianizou, transformando-se em culto de Nossa Senhora do Carmo pelas almas do purgatório." (p.140)

De longa tradição na cidade as comemorações promovidas pela Ordem Terceira do Carmo estão anualmente entre as mais frequentadas, sem dúvidas, um dos maiores eventos católicos do município. A novena conta com muitos fieis e no dia maior tem um grande fluxo de devotos, que também lotam as barraquinhas no largo. A procissão reúne uma multidão. Há uma grande riqueza musical durante o festejo, com a execução de importantes peças de nosso vasto repertório barroco. Não bastasse, a programação ainda prossegue pelos dias subsequentes com o tríduo de Santo Elias. 

Em 1926 as páginas jornalística d'A Tribuna registraram o movimento da Festa do Carmo: 

Esteve deslumbrante o encerramento das festividades consagradas, no magnífico templo carmelitano, á excelsa Virgem, no dia 16 do vigente. A mesa da ordem, tendo à sua frente os dedicados sanjoanenses srs. Antonio de Assis Pereira, Alberto Custodio de Almeida Magalhães, Fernando Cotrim Moreira de Carvalho, e cel. José de Assis Sobrinho, merece os maiores elogios pelo brilhantismo que deu, esse anno, às festas do Carmo. A missa solene foi ás 11 horas, sendo celebrada pelo revmo. commissario da ordem, Pe. João Fonseca. Á noite houve profissão de irmãos, sermão eloquente pelo vigário da parochia, padre José Maria Fernandes, absolvição, “Te Deum Laudamus” e benção do SS. Sacramento. A concorrência de fiéis foi enorme. Na frente da egreja tocou a excellente banda de musica do 11º regimento, durante os leilões em beneficio da casa parochial.

No ano de 1932 os festejos foram notavelmente concorridos pela comemoração do bicentenário do início das obras de ereção do templo carmelita. Jornais são-joanenses daquele julho atestaram o seu brilhantismo, a exemplo de duas edições de A Tribuna. O Folha Nova dedicou um número especial à comemoração, abaixo retratada sua primeira página.

Edição especial do jornal Folha Nova em homenagem à Festa do Carmo.

Vem se conservando como uma das festas mais queridas da cidade. Tem no dia 16 de julho o ponto culminante, em pleno inverno. O povo simples marca esta data com carinho e nela, todos os anos aproveita para podar as roseiras e figueiras (*), garantia de uma boa produção no verão. 

Roseiras podadas a 16/07/2013, no dia consagrado a Nossa Senhora do Carmo. São João del-Rei. 

Mas não é comemorada apenas na cidade. Na zona rural também este título mariano é alvo de animados festejos, a exemplo dos povoados do Fé (junto com São Vicente de Paulo) e Caquende, ambos em São João del-Rei; e nas limítrofes Brasilinha, distrito de Madre de Deus de Minas e Jaguara, distrito de Nazareno, lugares de onde é padroeira. As festas rurais tem também uma vasta programação e conseguem reunir intensamente população local e das comunidades, povoados e vilas do derredor. 

No Jaguara, comunidade quilombola, consta pelo jornal Diário do Comércio, que em 1938, a festa foi aberta com um tríduo preparatório, tendo missa cantada no dia maior, pelas 11 horas. A procissão e o Te Deum laudamus foram à tarde. Os sacerdotes responsáveis foram o Padre Francisco Leopoldino Neto e o Cônego Heitor Augusto de Assis. 

Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Jaguara (Nazareno/MG), 2013. 

Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Caquende, 2013. 

Festa religiosa na comunidade do Fé, 2012.

Notas e Créditos

* A poda das figueiras obedece à contagem das gemas de brotação, cinco, a partir da ponta para a base, cortando-se após a quinta. 
** Texto e fotografias: Ulisses Passarelli
*** Acervo jornalístico: site da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei/MG
**** Agradecimentos e oferecimento: ao sr. Vicente Mário dos Santos, do Caquende, baluarte das tradições do lugar. 
***** Para saber mais a respeito desta devoção não deixe de ler: NOVENA DE NOSSA SENHORA DO CARMO: ORVALHADA PÉTALA MUSICAL E BARROCA DE SÃO JOÃO DEL-REI

Referências hemerográficas

A Tribuna, São João del-Rei, nº: 768, 22/07/1926; 1.128, 10/07/1932 e 1.130, 31/07/1932
Diário do Comércio, São João del-Rei, n.96, 03/07/1938
Folha Nova, São João del-Rei, n.19, 17/07/1932

Referências bibliográficas

GAIO SOBRINHO, Antônio. Sanjoanidades: um passeio histórico e turístico por São João del-Rey. São João del-Rei: A Voz do Lenheiro, 1996. 90p.il. p.26-29.
LIMA JÚNIOR, Augusto de. A Capitania das Minas Gerais: origens e formação. 3.ed. Belo Horizonte: Instituto de História, Letras e Arte, 1965. 

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