Um homem muito bom, inimigo do pecado, à prova de qualquer maldade, certo dia, por razões de trabalho, teve de deixar a família e foi buscar labuta longe.
Ficou longos anos fora sem poder voltar do serviço para visitar os de casa, até que depois de décadas disse ao patrão que queria voltar para a sua família.
Na hora da despedida, seu empregador deu-lhe um grande pão e disse que era para comer com os familiares e que só o partisse quando chegasse em casa.
O homem partiu. Chegou à sua cidade, foi em casa e viu seus familiares todos velhos, muito idosos e ele próprio estava bem conservado. Todos aqueles anos passaram lentos para ele. Devido à sua bondade e virtude esteve na graça de Deus, permanecendo jovem.
|
Indo para casa. Cena flagrada no povoado do Valo Novo. São João del-Rei, 2013. |
Começou a conversar com as pessoas da sua casa que não o reconheciam. Foi então que perguntou à senhora pelo marido e ela lhe respondeu que ele havia saído de casa a muitos anos e nunca mais voltado. O homem apontou para um retrato na parede, dele próprio, mais jovem e a velha comparando enfim o reconheceu. Abraçaram-se fervorosamente em meio à admiração pelo milagre.
A família felicíssima foi comemorar o retorno do pai. O homem levou o pão que havia ganho para a mesa e abriu-o. Qual não foi a surpresa ao ver dentro do alimento sagrado muitas jóias de grande valor, que o patrão ali ofertara como recompensa pela idoneidade e pelos longos anos de trabalho fiel.
* Texto e fotografia: Ulisses Passarelli
** Informante: Aluísio dos Santos ("Ló"), São João del-Rei/MG, 1997.
*** Obs.: é de se notar neste conto popular alguns elementos ou reminiscências da odisséia do herói grego Ulisses, que retorna ao lar depois de longos anos sem ver a família e não é reconhecido de imediato pelos de casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário