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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 6 de abril de 2014

Na minha terra se fala assim - parte 3

Amarrar as calças – o mesmo que “apertar a correia”: preparar-se para uma situação difícil, precaver-se das dificuldades iminentes.
Balofo – gordo, inchado, obeso, edemaciado.
Bater as botas – morrer.
Bater perna – andar muito, caminhar sem rumo, vagar.
Birinight – cachaça, pinga, aguardente, "caninha", "marvada", "parati", "água que passarinho não bebe".
Birosca – bar ordinário, estabelecimento comercial ruim; "buteco". 
Boca aberta – idiota, imbecil.
Buléu –  surra, sova. Dar um buléu, tomar um buléu.
Camorfa – mulher leviana, impudica, oferecida. Prostituta.
Casinha de caboclo – emboscada, armadilha, situação embaraçosa.
Catiripapo – tapa, bofete, “esfrega”.
Catita – pequena e bonita. Menina catita.
Catramba – velho, estragado, danificado, desgastado.
Cavaquista – brigão, encrenqueiro, gerador de desavenças frequentes.
Chamada – admoestação, chamar à atenção, à responsabilidade.
Chifrudo(a) – “corno”, pejorativo: pessoa traída no amor, vítima da infidelidade no relacionamento. Pode ser também um dos muitos sinônimos do diabo.
Chinfrim – desqualificado, de mau gosto.
Chumbado – bêbado, embriago. “Saiu chumbado do bar”.
Conversa pra boi dormir – conversa à toa, sem proveito, diálogo inútil.
Conversar goma – conversar com agressividade, usando de palavras ameaçadoras ou de auto-promoção.
Cor de burro fugido – cor indefinida, mistura confusa de muitas cores.
Currutela – mulher leviana, impudica, de conquista fácil. Prostituta. 
Enfiar o bico – entrometer-se, envolver-se em assunto alheio.
Erado - criado, adulto, formado, constituído. Pode contextualmente ter o sentido de velho. Boi-erado. Canário-erado.
Escarafunchar – remexer, procurar exaustivamente.
Esticar o paletó – falecer. “Fulano esticou o paletó”: morreu.
Ficar boneco – “ficar velhaco”, ficar esperto, estar prevenido contra dificuldades e perigos próximos; estar de prontidão contra complicações.
Filhote de cruz-credo – filho com os defeitos do pai. O mesmo que “filho de Deus me livre”.
Fiúza – confiança. “Ficar na fiúza de ...” : esperar providências e atitudes de alguém, sem tomar as próprias.
Gogó – garganta, faringe, “goela”. Por extensão diz-se que tem muito gogó que fala de si mesmo enaltecendo as próprias qualidades, “contador de vantagem”, “contador de marra”.
Gosto de cabo de guarda chuva – sabor indefinido, gosto desagradável, que não se sabe se doce, azedo, salgado, amargo ou agridoce.
Gosto de corrimão de rodoviária – o mesmo que “gosto de cabo de guarda chuva.”
Indaca – confusão, tumulto: “ficou discutindo, caçando indaca com os outros...” . Podem ser também resquícios no campo espiritual, carga negativa, encosto, má influência na aura: “entrou naquele casarão abandonado e saiu cheio de indaca”. Neste sentido, o mesmo que “urucubaca”, azar. 
Inhaca – fedor, catinga, mal cheiro, podridão.
Lapo-lapo – mole, flácido, sem consistência. “O angu que ela mexeu ficou um lapo-lapo!”
Mamado – bêbado. “Chegou em casa mamado”.
Manqueba – idiota.
Maquitolar – mancar, andar trôpego, coxo.
Marmelada – falcatrua, favorecimento ilícito.
Meia-jota – olhar de esgueio, observar às escondidas. “Ficou de meia-jota” : na espreita.
Mutungar – cair, desmaiar, desfalecer. “Mutungou no meio do povo” : perdeu os sentidos dentro do tumulto.
Negro-aço – pessoa albina.
Nesga – pedaço grande. “Tirou uma nesga de bolo”.
Nhaco – o mesmo que nesga. “Pegou a coxa do frango e mordeu um nhaco”.
Osso – dureza, dificuldade, peleja. “Aquilo ali é osso!”. O mesmo que “osso duro de doer”.
Pafúncio: palerma, imbecil. "Fulano é um pafúncio..."
Passa-n’água: idiota.
Passar sabão – admoestar, xingar por motivos de correção de conduta execrável.
Pastel – bobo, abestalhado.
Pataquada – idiotice, situação ridícula, palhaçada. “A reunião foi uma pataquada!”
Rabo de foguete – situação difícil, complicada. “Rabuda” (vide).
Rabo de Olho – esgueio, “olhar de banda”, espiar, olhar com o campo lateral da visão, sem focar a atenção, despistando o interesse real do olhar.
Rabuda – situação difícil. “Enfrentou uma rabuda danada!”. Em sentido pejorativo, mulher de quadris largos. Na gíria umbandista, apelido chulo das pombas-giras.
Rameira - mulher leviana, impudica. Prostituta. 
Sabonete – pessoa “escorregadia”, no sentido de ser arisco, de não se deixar prender a nada nem a ninguém. Indivíduo esquivo. “Passar um sabonete”: o mesmo que “passar sabão” (vide).
Saca-trapo – sujeito desmazelado, maltrapilho, anti-higiênico, de hábitos sociais esquivos.
Tabefe – tapa no rosto.
Tendepá – confusão, discussão, “bate-boca”, tumulto.
Tereré – doido, louco, “lelé”, biruta, maluco, desorientado. 
Torete – pedaço grande. “Cortou um torete de cana para chupar”.
Tungar – tomar de; usurpar. “Tungou minha ferramenta”
Urucubaca – azar, má sorte, praga espiritual.
Vira-bosta – pessoa imprestável, inútil, de má vontade, ruim de serviço.
Zambi-zambi – indivíduo com andar trôpego, zonzo. “Caiu da árvore e saiu zambi-zambi”.
Zanzar – andar muito, sem rumo.

O povo em burburinho conversa no adro da igreja de forma descontraída.
Procissão de São Jorge, Matriz da Imaculada Conceição.
São João del-Rei/MG, 25/04/2009.

* Texto e foto: Ulisses Passarelli

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