A tradição
das Folias de Reis
Com a aproximação do período natalino, já se ouvem os ecos de uma
centenária tradição, as Folias de Reis. “De rua em rua, de porta em porta”,
como diz um canto folclórico, levam às residências dos devotos a mensagem de
paz e esperança nitidamente contida no nascimento de Jesus.
Vem de uma antiga prática européia, o
costume da cultura popular de cantar nas casas versos que descrevem a
natividade, a visita dos magos e pastores, com ou sem representação dramática,
assumindo diferentes aspectos e nomes conforme o país ou região: Sternsinger (Alemanha, Bélgica,
Luxemburgo, Áustria, Alsácia), Vilancicos
(Península Ibérica), Pastoradas,
Reisadas, Janeiras (Portugal), Noel
Christmas (Inglaterra), dentre outros. França, Itália, Romênia, igualmente
conhecem esses cantos.
O Brasil recebeu matrizes européias (sobretudo ibéricas) que ainda no
período quinhentista foram representadas nas áreas litorâneas, nos redutos de
catequese jesuítica e, mais tarde, adentraram-se pelo imenso interior. Em cada
região, sob as influências locais, tomaram outras formatações, mais ao gosto
nacional.
Eis que o brasileiro não se satisfez
em imitar o canto natalino europeu. Adaptou-o com criatividade, acrescentou os
personagens regionais, figuras provincianas e seres mitológicos, enriquecendo
sobremaneira o modelo europeu. Já então, pode-se afirmar sem dúvidas que a
Folia de Reis assim como outros Reisados do nosso país são expressões legítimas
de nossa cultura popular, que vão encontrar nos cantares europeus apenas o seu
arquétipo. Em outras palavras, não há na Europa uma folia como a nossa.
Debaixo desse ufanismo, não me resta senão enaltecer a qualidade desses
homens folieiros, que por exclusividade de sua fé e apego à tradição, vem
mantendo por anos a fio os grupos de Folias de Reis. Bancam suas despesas em
geral, uniformes e instrumentos. Do poder público as poucas folias
remanescentes não encontraram ainda o reconhecimento que lhes é devido e que
tanto anseiam.
Com as ofertas recolhidas em sua
jornada de devoção fazem muita obra de caridade. Sempre reafirmo o respeito e
honestidade dos folieiros.
Noutra vertente, sugiro que se dê ao
longo do ano uma maior atenção nos bancos escolares a esta como também a outras
manifestações folclóricas, não apenas por volta do 22 de agosto, “Dia do
Folclore”. Em caso contrário é como só cuidar da árvore no Dia da Árvore, ter
patriotismo apenas nas comemorações cívicas e assim por diante.
Aproveito o ensejo para anunciar a Festa de Santos
Reis a se realizar no próximo dia 4 de janeiro na Igreja Matriz da Imaculada
Conceição, na Colônia do Marçal, com extensa programação a partir das 10 horas,
quando vários grupos se encontrarão em clima de fraternidade, culminando com
procissão e Missa Reiseira.
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Folia de Reis, São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei / MG).
Folião: Lourival Amâncio de Paula.
Encontro de Folias no Largo do Rosário, promovido pela Atitude Cultural.
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* Texto e foto (06/01/2010): Ulisses Passarelli
** Obs.: esta foto não fazia parte da publicação original deste texto no jornal Gazeta de São João del-Rei.
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