A partir de 2004
A primeira festa após a elevação da matriz a santuário foi em 2004. Processaram-se as festividades com harmonia e sucesso, nos mesmos padrões já descritos, exceto pelas novidades que se seguem.
A mais relevante delas, foi a instituição das romarias, por orientação do pároco, em virtude da elevação da matriz paroquial à condição de santuário diocesano. Cada dia da novena, foi consagrado a uma romaria específica, para a qual foram convidados os grupos a ela relacionados. A homilia foi dirigida em especial a cada uma, sem perder a diretriz temática geral da festa. A entrada da missa e a procissão do ofertório também foram tematizadas de forma condizente. Eis sua relação:
DIA | ROMARIA | OBSERVAÇÕES |
21 - sexta | dos Movimentos Religiosos e Pastorais | Equipe da missa das 8 horas do Domingo, entrada de todos os movimentos e pastorais com seus símbolos . |
22 - sábado | dos Desportistas | Equipe da missa das 19 horas do sábado. Entrada com bandeiras e flâmulas. Ofertório com representantes da Comissão do Divino. Ação de graças com apresentação da Academia Bauer. |
23 - domingo | dos Comunicadores | Apresentação dos crismandos. Equipe da Missa dos Jovens (apresentação no ofertório e ação de graças). |
24 - segunda | dos Professores e Alunos | Equipe da missa das 18 horas de Santa Terezinha. Entrada com bandeiras e ofertório com símbolos. |
25 - terça | dos Militares | Equipe da missa das 15 horas de sexta-feira. Procissão das Ofertas com representantes. |
26 - quarta | dos Portadores de Necessidades Especiais | Equipe da missa das 8 horas do domingo. Entrada e procissão das ofertas. |
27 - quinta | da Terceira Idade | Equipe da missa das 19 horas de sábado. Entrada da missa com apresentação. Ação de graças com apresentação do coral da ASAP. |
28 - sexta | dos Afrodescendentes | Missa inculturada, com o Grupo Raízes da Terra. |
29 - sábado | dos Folieiros | Presença do Coral Coroinhas de Dom Bosco. |
30 - domingo | dos Congadeiros | Liturgia especial. |
Não obstante o pouco tempo para organizar as romarias, a falta de experiência e de orientação específica, elas ocorreram com sucesso.
Folia do Divino "Embaixada Santa" em apresentação no coreto da festa, 2010.
Os mastros tiveram como novidade, a título de experiência, o fato de os dois principais (Divino e Santo Antônio) terem sido fincados a frente da igreja e os demais no local de sempre. O do Divino ganhou iluminação especial com uma mangueira luminosa ao redor do quadro.
A Missa inculturada atingiu um grau excelente de organização e foi considerada a melhor de todas já celebradas nesta festa.
Uma novidade foi a volta das barracas da Comissão na praça, junto ao portão central, vendendo salgados, quentão, canjica, refrigerante além do tradicional jogo de víspora.
Houve nesse ano consolidação das equipes de trabalho e melhorias em sua estrutura, exceção feita à de ornamentação interna ainda problemática.
Não houve foguetório algum nesse ano, em virtude da exigência de que o fogueteiro tivesse registros oficiais de pirotécnico, que passou a ser especialmente exigido após um gravíssimo acidente com morteiros, ocorrido em Barbacena, poucos dias antes da festa. O fato agitou a imprensa e todos exigiam cuidados extremos com fogos de artifício. A impossibilidade de encontrar profissionais habilitados fez com que a Comissão, com bom senso, decidisse pela exclusão de todo tipo de fogos nesse ano.
A coroação da imagem de Nossa Senhora da Lapa pelo imperador após a celebração foi mantida, com a novidade de se ouvir um hino especialmente composto naquele ano, para este ritual, pelo músico Abgar Antônio Campos Tirado. Foi executado pelo Coral Coroinhas de Dom Bosco com grande êxito. Distribuíram para esse dia “santinhos” (as antigas “verônicas”) de Nossa Senhora da Lapa, idealizadas pelo autor e custeadas 50% pela Comissão e 50% pelo festeiro José Gonçalves de Sousa. Contém: estampa da Virgem da Lapa, o histórico de sua devoção, informações iconográficas, oração, hino.
Consolidou-se a presença de uma só banda de música na festa, a de Santa Cruz de Minas.
O dia maior transcorreu normal, sem qualquer inovação. A missa solene não foi transmitida ao vivo pelo rádio, mas sim gravada para transmissão no dia seguinte. Isso tirou a rigidez dos horários e possibilitou que os congados adentrassem pelo santuário e não apenas para o adro, o que conferiu maior brilhantismo.
Duas novidades nessa festa foram a coroação do primeiro imperador negro que se tem notícia na cidade, o congadeiro José Tadeu do Nascimento, coordenador da Comunidade de São Sebastião e o retorno do personagem pagem do estoque.
Em 2005 transcorreu dentro da normalidade e do programado, de 05 a 15 de maio.
No primeiro dia o grupo de quatro caixeiros visitou o Imperador José Tadeu do Nascimento, em sua residência, na Avenida Santos Dumont, guiados pelo Imperador Eleito Nivaldo Neves, que trazia a bandeira branca do Divino. Todos se vestiam de branco, com colete e casquete vermelhos. A bandeira foi ladeada por dois guardiães, empunhando espadas desembainhadas, representados pelos festeiros Jânio Salomão e Edimilson Washington. Foi servida lauta merenda. Depois em marcha, rua afora, foram tocando e cantando pontos de congado até o santuário. Assistida a missa, foi descida a imagem do Paráclito de seu nicho e depositada aos pés do padroeiro.
Durante todos os dias funcionou a barraca da festa, vendendo pastéis, refrigerante, cerveja, canjica, quentão e feijão-amigo. Acoplada a ela houve a barraca do víspora. Além dessas houve muitas outras, de barraqueiros daqui e de fora, vendendo toda sorte de comes-e-bebes e quinquilharias; tiro ao alvo, parque de diversões.
A novena começou no dia seguinte, com a igreja enfeitada de alfaias vermelhas e brancas. Muitas jarras de flores artificiais foram colocadas em pontos estratégicos. Em todos os dias a Comissão do Divino participou da entrada da missa. Os festeiros levaram como abre-alas, o estandarte do Espírito Santo (idéia do festeiro José Gonçalves de Sousa, posta em prática desde o ano anterior), seguido de guiões e bandeiras e o imperador com faixa trespassada no peito e insígnias à mão colocadas no altar para a missa. As bandeiras iam para as panóplias. Assim todos os dias da novena. Vigário e pároco se revezaram nas celebrações.
Os motivos de cada entrada e ofertório se baseavam na romaria de cada dia, homenageando e congregando grupos específicos, que ocuparam os bancos da frente, para eles reservados. Assim se processaram:
DIA ROMARIA ATRAÇÃO APÓS CELEBRAÇÃO
06 – sexta dos Movimentos Religiosos e Pastorais Academia Vip
07 – sábado dos Desportistas As Meninas do Rodeio / Frank dos Teclados
08 – domingo das Mães Bianca Cobo
09 – segunda dos Professores, Alunos e Comunicadores Não houve show
10 – terça dos Militares, Policiais e Funcionários Públicos “
11 – quarta dos Portadores de Necessidades Especiais “
12 – quinta da Terceira Idade Ruan & Ronan
13 – sexta dos Afro-descendentes Serenata com o grupo da ASAP
14 – sábado dos Folieiros e Comissão do Divino Chorinho Pedacinho do Céu
Os sermões de cada dia aludiram às respectivas romarias, gravitando em torno do tema proposto – “Unidos pelo Espírito Santo, queremos ver Jesus, fonte de paz” – e do lema – “Queremos ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida”.
A entrada da missa de cada dia foi feita com a participação da Comissão do Divino, carregando o estandarte, os guiões e algumas bandeiras, seguidas dos representantes da respectiva romaria. A música de entrada de cada dia foi a bem conhecida: “A nós descei, divina luz! / E em nossas almas acendei / O amor... o amor de Jesus!” (Etc.)
Todos os dias o altar foi revestido com a toalha de Nossa Senhora da Lapa.
A cavalgada no dia 08 correu normal, tendo o santuário como ponto de saída e chegada.
Dia 12 houve a rasoura após a Missa de Santana, com os quadros do Divino e Santo Antônio, na seqüência levantados nos mastro, de volta ao lugar de sempre. Estiveram presentes os congados de Santa Cruz de Minas (dois) e de São João del-Rei (três – Matosinhos, São Dimas [Raimundo Camilo] e São Dimas [Moacir Santana]). No dia seguinte, pela meio-dia, foi armado um arco de bambu ligando os dois mastros e na sua curvatura pendia a bandeira branca do Pai Tempo. Folhas de coqueiro foram amarradas ao pé dos mastros. Outro arco, sem bandeira, foi armado no portão central do adro.
A missa inculturada coincidiu com o 13 de maio (libertação dos escravos). Este fato se somou ao do imperador coroado e o eleito serem negros, firmes ativistas dos movimentos de conscientização pelo fim do racismo e da discriminação, bem como valorização dos afrodescendentes. Com tudo a celebração foi coroada pelo mais relevante êxito, lotando o santuário. No contexto da missa se apresentaram, a convite, números de maculelê e capoeira da Paróquia de São José Operário, Bairro Tijuco, gerando opiniões divergentes.
A Procissão do Imperador Perpétuo careceu de fiéis como tem acontecido, mas foi repleta de forte colorido e alegria, aliados da fé visível. As folias presentes, desta feita se reuniram todas no São Francisco e desde aí acompanharam a procissão. Deram uma nota de musicalidade extraordinária. Desta vez a liteira não foi conduzida por militares. Ao contrário do ano anterior, retornou a figura do alferes da bandeira a cavalo na dianteira, finamente trajado e portando o estandarte. Foi ladeado por dois ponteiros com guiões e logo atrás e ao centro outro homem com uma bandeira. Portanto houve quatro cavaleiros. No São Francisco os sinos repicaram; no São Gonçalo, dobraram. Nos respectivos largos houve foguetório e Santo Antônio deu a graça, ou seja, sua liteira voltou-se em direção ao frontispício do templo.
Ao contrário do ano anterior, em respeito ao fato de o dia ser da Romaria dos Folieiros, todas as folias assistiram à missa antes do café e do encontro no coreto. No ofertório cada grupo ofertou sua bandeira. Ao fim da celebração elas foram abençoadas e devolvidas. No coreto a apresentação de 15 minutos para cada grupo se encerrou com a entrega de um diploma, a cada folia por um festeiro.
A alvorada se processou como de costume com sinos, fogos e batidos de caixa. A casa do imperador coroado foi visitada pelos caixeiros, que receberam farto café da manhã.
No salão serviu-se, a partir das 7 horas (concomitante à missa festiva), o café, acompanhado a pão com manteiga, biscoitos, broas tradicionais. Como nos outros anos a fartura foi uma nota constante. A mesa foi enfeitada com toalha branca e uma jarra de flores.
Finda a missa, os congados começaram a ser recebidos pelos meirinhos e levantaram seus mastros.
Houve pastorinhas na Missa das Crianças e após a celebração elas se apresentaram no coreto e logo depois a dança das fitas.
No Salão Comunitário de Santo Antônio o recolhimento do reinado foi normal. Só houve um juiz de vara e os demais juízes honorários não se apresentaram nesse ano. Na chamada não faltaram as açafatas.
O almoço teve uma melhoria na organização, diminuindo ainda mais a presença de penetras. Houve maior eficácia na limpeza do salão e ainda a uniformização de toda a equipe da cozinha, com camiseta da Comissão do Divino e gorro de mestre-cuca.
Todos os demais passos da festa transcorreram normalmente e sem diferenças do ano anterior. O retorno do cortejo imperial da gruta teve um considerável atraso, por conta de um único congado.
Foi marcante a coroação do novo Imperador Nivaldo Neves. Durante o cortejo ele desceu da Santa Clara até Matosinhos trajado de terno como manda a tradição, e assim assistiu a missa. Após comungar, saiu e trocou de roupa, retornando breve para a coroação trajado à moda afro, aguardando na porta central. Sua entrada foi ao troar ensurdecedor dos tambores do Grupo Mucambo e das componentes do Grupo Raízes da Terra, que em alas abertas deram-lhe passagem até o altar. Ali foi recebido pelo bispo, pároco e imperador. Subiu ao altar onde passo a passo foi coroado ao som da orquestra. Neste momento os tambores pararam. Após a coroação ele foi aclamado e os tambores rufaram e de novo percutiram para retirá-lo da igreja. Este foi o primeiro coroado por um bispo nesta diocese. A mescla de ritos conferiu nova feição à cerimônia. Imprimiu-lhe um caráter personalizado.
Na procissão, contrariando a tradição congadeira, as guardas foram conduzidas à retaguarda do andor de Nossa Senhora, quando deveriam ter sido postas puxando-o, o que desagradou vários dançantes. Isso complicou seu andamento e houve guardas que abandonaram a procissão e foram embora para casa.
A bênção do Santíssimo Sacramento foi transcorrida em clima emocionante, com a igreja absolutamente lotada, ao som de caixas e apitos, todos cantando o tradicional “Bendito, louvado seja, o Santíssimo Sacramento! Os anjos, todos os anjos, louvando a Deus, para sempre, amém!”. Os congados se tornaram um só.
Enquanto desciam seus mastros, houve outra missa, mais breve, que não constou na programação.Também não constou uma apresentação teatral que lhe sucedeu, no adro.
O show de encerramento foi revestido de sucesso. O foguetório foi menor que o de 2003 mas agradou e transcorreu com segurança.
No domingo seguinte, sem cantos ou grupos, alguns festeiros por si desceram os mastros do Divino que estavam fincados na gruta e Santa Clara, nesta ordem.
No ano de 2006, como de costume, finda a Páscoa, as folias começaram a jornada de visita às casas. Pela mesma época o único juiz de prendas autorizado, sr. Lucas de Carvalho, também cumpria a sua missão de coletar donativos para o jubileu. As cartas de juiz foram fartamente distribuídas por Geraldo Elói.
A 22 de abril a Comissão do Divino promoveu um evento nunca antes acontecido. Cada grupo recebeu uma bandeira nova, padronizada, no estilo de um pequeno estandarte, com arte de Osni Paiva, composto em veludo forrado.
Todas foram abençoadas ao fim da missa das 19 horas daquele dia, comentando o vigário a respeito da missão folieira. No salão do Centro Social e Cultural da Paróquia, após a celebração, foi dada abertura pelo presidente da comissão, convidando todos a se postarem em posição de sentido para execução do hino nacional, em homenagem ao dia do descobrimento do Brasil. Autoridades políticas e festeiros foram convidados, para fazerem a entrega de um estandarte a determinado grupo folclórico. A maioria das folias convidadas mandou representantes. A folia da Caieira se ausentou devido ao internamento do seu embaixador, Luís Carlos Rosa, acidentado na BR-265, no Domingo de Ramos, 9 de abril, imprimindo uma nota de tristeza em todos, dada a sua popularidade. Outro acontecimento que causou consternação foi o falecimento, naquele 22 de abril, do sr. José Joaquim Filho (nasc.21/02/1922), o popular “Zé Moreno”, morador da Vila Santa Terezinha, o mais respeitado folião da cidade, considerado o “padrinho das folias”.
A abertura da festa na Quinta da Ascenção se deu com uma novidade. Um grupo de quatro caixeiros visitou o imperador em sua residência e no retorno a Matosinhos fez parada no Salão de Santa Clara (todo enfeitado nas cores do Paráclito), onde esperava o congado do bairro e quatro cavaleiros. Reunidos, marcharam para o santuário onde após a missa foi descida a imagem e entronizada no altar.
Dia 26 de maio principiou a festa propriamente dita. A novena transcorreu como nos outros anos com romarias e shows.
Os mastros da gruta e Santa Clara foram normalmente fincados. O levantamento dos mastros transcorreu no santuário de forma irregular, porque primeiro se fincou um mastro do Rosário, depois o de Santo Antônio e por fim o principal, quando o esperado era primeiro o do Divino, depois o do Imperador Perpétuo e o do Rosário só para o domingo. Ressalto que o mastro do Divino foi de madeira nova nesse ano.
A Missa Inculturada foi concorridíssima. Pela primeira vez houve divulgação por via televisiva gerando grande repercussão em tantos que nunca a tinham visto e sem compreendê-la, alguns tradicionalistas a julgaram exagerada no tamanho, sincretismo e teatralidade.
No sábado, a entrada de cada folia por sua vez no santuário tocando e cantando na chegada da Procissão do Imperador Perpétuo (como em 2005), foi tumultuada pois entraram todas de uma vez e o ritmo de uma atrapalhou outra. Também não participaram da Procissão do Ofertório ofertando suas bandeiras no altar para a bênção após a missa. Assim que chegaram do São Francisco foram direto para o café, que não estava de todo pronto, posto que habitualmente o horário é após a novena. Não houve os enfeites habituais no salão onde é servido. Findas as preces, o início da apresentação das folias demorou 15 minutos, possibilitando que o público se dispersasse um pouco. A não ser por esses detalhes imperceptíveis ao grande público, a programação do sábado nada deixou a desejar.
As pastorinhas desta única vez se apresentaram no sábado, no coreto, junto com as folias.
Em si a programação do dia maior foi idêntica à de 2005, a não ser pela apresentação do Trupizupi, companhia teatral, que passou para a tarde, antes da missa. Foram anunciadas duas capoeiras de Matosinhos para o fim da manhã, uma da Vila Santa Terezinha e outra da Vila Santo Antônio. Quando o cortejo chegou da gruta, os capoeiras se apresentavam perto do Chafariz da Deusa Ceres. Tal como no anterior se anunciou – mas não ocorreu – uma bênção e unção dos enfermos. No mais, não houve novidades apreciáveis.
Foi sentida por várias pessoas certa descoordenação de algumas atividades. Diversos novatos, embora vestidos com a camisa envergando a inscrição “comissão organizadora”, muito pouco organizavam, mostrando-se meio que perdidos na massa humana, claro, com exceções.
O dia maior foi animado e com grande movimentação de muitas guardas, na verdade a maior quantidade até então registrada. A ornamentação (externa e interna) estava impecável. O sistema de som que enfim mudou, estava bem superior na qualidade. O serviço de locução não mudou e esteve sem defeitos. A alvorada dos caixeiros atrasou no santuário cerca de meia-hora. Por sinal eles cantaram muito pouco e sem antes passarem pelos mastros e coreto, passando brevemente depois. A missa das sete foi normal. O café idem e muito bom. Poucos mastros tiveram oportunidade de serem fincados e alguns festeiros se equivocaram ao fincar dois sem quadro ou bandeira e sem congado, o que é injustificável. A Missa das Crianças transcorreu dentro da normalidade e após ela da mesma forma a dança das fitas. Enquanto isso os congados rumaram para a Vila Santo Antônio, onde o reinado aguardava sem coroa ou cetro, que por demorar a ser trazido trouxe considerável atraso a toda programação daí para frente. O retorno foi demorado, conquanto maciço, sem falhas. A chamada e partida para o almoço transcorreram bem.
Ao sair do salão rumo à gruta, não foi respeitada a ordem hierárquica das modalidades de congados, a não ser pelos moçambiques. A gruta estava com enfeites muito primorosos e o império e o andor do Rosário com talvez a melhor ornamentação já notada, ainda graças à mesma equipe local e zelador. Tudo muito limpo. Uma boa novidade, idealizada há cerca de dois anos antes mas só agora efetivada, foi a presença de um carro de som, de cujo microfone se anunciava cada congado e se lhes encaminhava. Um detalhe negativo foi que os festeiros presentes no local não sabiam informar de onde eram as guardas à locutora, a não ser pelo próprio autor dessas páginas e por Raimundo Camilo. O imperador entregou pessoalmente ao primeiro capitão de cada terno o diploma de honra ao mérito. Algumas pessoas questionaram a presença no império do rei congo ladeando o imperador. Muito proveitosa a presença do Padre Pedro Teixeira Pereira assistindo a toda a passagem dos congados. A corte imperial esteve muito bem organizada. Outra novidade positiva foi a presença de um carro especial da COPASA ofertando água aos congadeiros em copos descartáveis. Friso que a idéia vinha do ano anterior e fora sugerida em reunião por meu pai, David Passarelli, que, até então, vinha tomando a iniciativa de ofertar essa água, auxiliado por abnegados ajudantes, acondicionada em garrafas plásticas de refrigerante, ultrapassando a uma centena de unidades.
A comunidade de Santa Clara estava muito bem limpa e ataviada e como naturalmente não falha, da mesma forma a Rua Bernardo Guimarães. O cortejo passou com certa quebra da seqüência, mas atraente como sempre. A Missa Solene foi impecável e a coroação aparentemente bela e animada, mas com a presença dum grupo parafolclórico de percussão tocando ritmos muito alheios aos da cultura local. A horas tantas foi ouvido um música popular brasileira. Surgiram crianças simbolizando negros, brancos e índios. O rei congo sentou-se junto ao altar a convite, ao lado do imperador e de forma esdrúxula o descoroou e passou as insígnias ao bispo para coroar o próximo.
Ora, do ponto de vista do fundamento espiritual isso não pode ser, pois o rei congo não tem autoridade para descoroar o imperador, nem vice-versa. Isso compete ao pároco, preferencialmente o mesmo que coroou; a convite, o bispo o fará e na ausência desses, o vigário. Em última hipótese o capitão de coroa, que não estava na festa, mas jamais o rei congo. Ele é um convidado da corte imperial, sempre bem-vindo e merecendo honrarias, mas sentar-se-á não ao lado, mas noutra parte, em posição de destaque. Da mesma forma protocolar deveria ser feito caso o imperador fosse convidado pelo rei congo a participar da festa do Rosário.
A procissão foi guiada por quatro cavaleiros, todos muito bem vestidos, comandados por “Jota” (Josino Inácio do Nascimento), que aliás, verdade seja dita, foi um dos que mais trabalhou na festa desse ano, com extremo afinco. Houve furos e o número de fiéis aparentemente foi menor. Poucos congados participaram da procissão. A Banda São Sebastião, de Santa Cruz de Minas, como sempre, esteve digna dos mais altos elogios.
Finalizando, a bênção do Santíssimo com a presença dos congados dentro da igreja foi igual à dos anos anteriores, ou seja vibrante, organizada, perfeita, levando muitos fiéis à evidente emoção, com muita manifestação espontânea de fé. A descida dos mastros correu muito bem. O show final foi elogiado.
No jubileu de 2007, o décimo desde o resgate, houve um considerável avanço na organização, corrigindo-se as distorções do anterior, embora dentro do mesmo padrão geral. Não houve problemas de horário. Sem foguetório. As novidades mais apreciáveis foram as que se seguem.
No dia da descida da imagem do Divino de seu nicho, estiveram presentes a convite os ex-imperadores, os quais foram cortejados pelo congado do bairro desde o Salão de Santa Clara, junto com o atual e o eleito, para a missa no santuário. Ao seu término correu o ritual de descida da imagem. Logo a seguir, foi inaugurada a nova sala usada pela comissão da festa, sobre o batistério, bem superior à que até então ocupava, no prédio da catequese. Estavam presentes o pároco e o vigário, os festeiros, a Secretária Municipal de Cultura e Turismo, alguns paroquianos envolvidos com este jubileu e vários outros convidados. Após as palavras do presidente da comissão, foi descerrada a galeria de fotos dos ex-imperadores e entre eles a do Padre José Raimundo da Costa. Após os breves discursos de praxe, a comissão homenageou a vários presentes e aos imperadores de cada ano, com um certificado e objetos alusivos. Os imperadores ganharam ainda um broche para a lapela do paletó. A sala foi decorada com primor, tudo no contexto da festa. Tem muitas fotografias do jubileu expostas, além dos trajes típicos
A cavalgada, encabeçada por “Jota”, teve como boa novidade uma charrete na dianteira, na qual se amarrou o grande estandarte abre-alas (até então ele era preso a um carro de som). Sobre ela desfilou a caráter o imperador. O número de participantes foi visivelmente superior ao dos anos anteriores e não se constataram problemas organizacionais.
Uma melhoria foi o posicionamento do coreto pela primeira vez na esquerda do adro, deixando livre para os congados o entorno dos mastros.
A Missa Inculturada teve como destaque a apresentação do grupo de estudantes africanos da Universidade Federal de São João del-Rei (Guiné-Bissau, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde).
As folias no coreto estiveram esplêndidas, embora o tempo para a cantoria de cada uma foi desigual o que desagradou alguns. A de César de Pina, ausente, foi homenageada através do toque nas caixas de som de sua gravação.
As romarias transcorreram com aprumo e concorrência assim como os shows.
No domingo pela manhã os congados partiram rumo ao Salão de Santo Antônio pela Rua Geni Guimarães, o que ajudou sobremaneira com ganho de tempo e evitando o trânsito da Avenida Sete de Setembro, embora tendo voltado por esta.
Uma chuva inesperada pela tarde prejudicou muito a chegada do cortejo imperial.
A coroação foi mais contida e positiva. Sob a música orquestral, o imperador coroado, ladeado pelo eleito e antecedido pela guarda de honra, teve de cada lado a escolta dos ex-imperadores, vestidos de terno. Foram eles que transferiram do imperador coroado ao pároco e deste ao novo imperador, a capa, a faixa, o cetro, a salva e o estoque. A coroa, como não poderia deixar de ser competiu ao sacerdote.
Todos os eventos seguintes correram com absoluta normalidade e dispensam comentários, exceto ainda pela chuva, que persistindo, impediu pela primeira vez a saída da procissão do Divino.
No ano seguinte, em meados de abril de 2008, os festeiros fincaram um “mastro de aviso”, no adro, à esquerda da entrada principal, sem qualquer música e tendo no topo uma bandeira branca emoldurada, sem registro de santo algum, apenas com a inscrição em grandes letras vermelhas: “Jubileu do Divino 1º a 11 de maio”.
Principiou com a transferência da imagem do Divino para os pés do padroeiro, só que foi baixada com antecedência e posta à entrada, encoberta por pano e entronizada em cortejo ao fim da missa ao som do congado do bairro.
Num dos dias da novena, a folia do bairro Bom Pastor passou pelo adro e arrebanhou grande assistência junto ao coreto após a celebração. Seu ato abriu precedentes para que na festa seguinte a cada dia venha uma folia (sem prejuízo ao Encontro das Bandeiras realizado no sábado), conforme comentado por alguns festeiros, o que seria melhor alternativa que os shows que nenhuma relação tem com a tradição festiva. Estariam melhor situados na praça (fora do adro), mais tarde, em palanque.
As barracas evoluíram com a padronização.
Não houve novidade apreciável senão no dia maior, por isto as anotações dizem respeito apenas a esse dia. Apesar da divulgação maciça houve queda na concorrência popular, o que, por oras, só pode ser atribuído à sua coincidência com o Dia das Mães.
O esquema das romarias foi o seguinte:
DIA ROMARIA SHOWS APÓS NOVENA
02 dos Portadores de Necessidades Especiais Geraldo Santana & Banda
03 dos Desportistas e da Juventude Serenata da ASAP
04 dos Movimentos Religiosos e Pastorais Ladinho & Osvaldo
05 dos Professores e Alunos Renato & Cipó
06 dos Militares, Policiais e Funcionários Públicos Luciano & Banda
07 dos Trabalhadores nos Segmentos Culturais Kadú Santoro
08 da Terceira Idade Pedro Parente (Pedrão)
09 dos Afro-descendentes Escola Musical da Paróquia
10 dos Folieiros e Comissão do Divino Não houve show
Muito notória a presença do congo do Rio das Mortes posto que esse grupo por décadas não se juntava aos demais congados. Seus mouros estiveram presentes.
A Missa das Crianças foi adiantada em uma hora e enquanto isto os congados foram direcionados para o Salão de Santo Antônio para o recolhimento. Voltaram já quase ao almoço pelo que não levantaram seus mastros, senão o grupo de Matosinhos, nessa hora. Os grupos deixaram o reinado no coreto e não na igreja e depois de passarem por dentro da igreja, voltaram ao adro e ali ficaram por um tempo, à vontade, até que foram encaminhados ao almoço. Por essas alturas fizeram a chamada, pela primeira vez no lado de fora.
Os congados à tarde foram divididos em dois grupos. Os do município foram até a gruta buscar o imperador e os visitantes ficaram aguardando na Santa Clara, para depois se irmanarem de volta ao santuário trazendo os imperadores (coroado e eleito) e o andor do Rosário. O objetivo era encurtar o tempo daquele giro, mas o êxito não foi total já que alguns ternos visitantes acabaram furando o esquema e foram para a gruta também. A situação gerou tensões entre dois moçambiques pela primazia de “puxar a coroa”.
Na chegada foi instituída uma saudação ao imperador por cada guarda presente, diante do coreto, recebendo o capitão uma lembrança da festa (miniatura do mastro do Divino). Por esse tempo chegou também ao adro um cortejo para-folclórico de percussão vindo da Vila Santo Antônio, que tumultuou e destoou.
No banco reservado aos ex-imperadores estiveram também presentes o prefeito municipal, Sidney Antônio de Sousa e o presidente da Academia de Letras, Wainer de Carvalho Ávila.
Pela primeira vez não houve orquestra e sim cantos pelo coral paroquial, com acompanhamento de palmas dos fiéis e o eventual toque de alguns congadeiros que assistiram a celebração.
A entrada dos imperadores ao som do hino nacional, pelo corredor central, foi sofrível, pois não se decidia a formação da fila. No altar cada um transferiu do coroado ao novo imperador uma de suas insígnias, mas fez falta a presença de um Mestre de Cerimônias. Ao término da coroação entrou tocando o congado do capitão Moacir Santana, medida questionável pois gerou ciúmes em outros grupos que não tiveram a mesma oportunidade.
A procissão (tanto a do Divino quanto a do Imperador Perpétuo) foi precedida não por um mas por vários cavaleiros para tal arregimentados, com trajes a propósito, tomados de empréstimo da cavalgada.
Na chegada houve animação por um padre convidado enquanto se queimou uma cascata e os sinos dobraram. Houve ainda uns inexpressivos fogos avulsos vez por outra.
A bênção do Santíssimo no molde das anteriores foi esplêndida e se firmou como o evento espiritual mais profundo e participativo de toda a festa.
No mais, sob uma ótica panorâmica tudo foi como no ano anterior e ao grande público o jubileu apareceu como belo. Mas como última impressão, o olhar investigativo revelou tensões na relação festeiros x Igreja e entre as comissões festivas do jubileu e da Gruta do Divino, que embora não sejam novidades, foram crescentes e preocupantes. Além do mais uma certa descoordenação das ações, embora sem atrasos apreciáveis e mais uma vez se reforçou a lamentável busca pelo lado espetacular e o maior apoio à inculturação e ao para-folclore, enquanto as folias que tanto trabalham para a festa não tiveram o mesmo tratamento e a coroação de Nossa Senhora da Lapa foi pouco evidenciada. Por fim, registro que os mastros da gruta e Santa Clara esperaram 16 dias após a festa para serem descidos, o que foge por completo à tradição.
O festejo de 2009 foi mais bem organizado e trilhou a mesma estrada em termos de conteúdo e assim dispensa comentários, a não ser pelos seguintes detalhes: a procissão do Divino reuniu o maior número estimativo de pessoas desde o “resgate”, o que foi claramente visível; também a do Imperador Perpétuo teve movimentação melhor que dos outros anos; a uniformização das equipes da cozinha e barraca de vendas foi muito positiva, bem como o ritual de coroação, equilibrado e contido; a participação dos grupos de inculturação cresceu carreando para a festa elementos estranhos à tradição e até dramáticos, o que é temeroso; o cortejo para recolhimento do reinado retomou o itinerário anterior pelas ruas Guia Lopes e Barão de São João del-Rei porque a passagem anterior em condomínio foi fechada. Mais uma vez os congados foram divididos em dois grupos, um que foi para a gruta e outro que ficou na Santa Clara. Ficou claro que o esquema de romarias ainda não atingiu a mobilização imaginada, tanto que é crescente a tentativa de somar participações de instituições, comunidades e pastorais a cada dia.
Dois mil e dez trouxe mudanças significativas apenas na missa das crianças, transferida para a Igreja de Santa Terezinha e na missa inculturada, que foi antecipada em um dia em razão das comemorações do Jubileu Áureo da Diocese de São João del-Rei. Sob nova regência esta celebração recobrou seu idealismo perdido ano a ano na excessiva teatralização que alcançou por fim. Contou com novas participações que recuperaram seus aspectos iniciais.
O levantamento dos mastros passou para o primeiro dia da novena.
Não houve outra novidade digna de nota. Boa organização.
Para 2011 o que houve de significativo foi a passagem dos mastros para a frente da igreja, junto à porta; ainda mais, as folias fizeram a parte musical da missa de sábado, seu dia, o que muito agradou aos foliões. Diga-se ainda do fim do cortejo à gruta, o que já se esboçava a alguns anos mas ora concretizou, deslocado para Santa Terezinha. Ganhou-se tempo, mas não ordenação.
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Terno de Caixeiros visita o Imperador "Detinho" na Quinta-feira das Ascensão.
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