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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 31 de março de 2014

Procissões do Depósito


Nas comemorações quaresmais em São João del-Rei, acontecem as interessantes procissões do depósito, que são duas, uma dedicada a Nossa Senhora das Dores e a outra ao Senhor dos Passos. 

A das Dores acontece na quarta sexta-feira da quaresma, após a missa das 19 horas na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar. O andor da santa, cheio de ervas aromáticas, é encoberto por um quadro de varas que sustenta um pano roxo, de brocado agalonado, chamado velário. Nessa altura da quaresma todos os altares estão tapados por cortinados, impedido a visão das imagens. O assoalho está cheio de folhas de rosmaninho, que conferem um perfume especial ao ambiente religioso. 

Após a celebração o sacerdote incensa e abençoa o andor e então sua cortina é fechada. Com a imagem toda oculta é que a procissão sai, anunciada pelos dobres do sino. Membros das irmandades fazem alas ao cortejo sagrado com laternas acesas; a centenária Banda Theodoro de Faria executa de maneira acurada uma plangente marcha fúnebre. O povo já toma lugar nas filas, rumo à Igreja do Carmo, onde ficará a Senhora das Dores. 

Um senhor passa com um saquinho de pipocas; uma criança se delicia com as amêndoas de um cartucho. Dos casarões, em velhas sacadas, senhoras se persignam ante a passagem do andor velado. Não dá para ver a santa, mas ela está ali, dando graças. 

A procissão é curta, mas não dispensa pompa e essência sagrada. A imagem é "depositada" noutra igreja, a do Carmo, como dissemos, e lá ficará temporariamente. 

No outro dia, à mesma hora, é a vez da Procissão do Depósito dos Passos (*), quando, no mesmo padrão, a imagem do Senhor carregando pesada cruz preta de madeira, é levada a partir do Pilar para a Igreja de São Francisco de Assis, onde também ficará "depositada" por um prazo. Na vizinha cidade de Tiradentes também acontece este cortejo sagrado. 

Domingo cedo, 8 horas no Carmo, 9 h e 30 min no São Francisco, ocorrem as respectivas rasouras ao redor destes templos coloniais, com as imagens depositadas, mas sem o velário. Essas rasouras já foram alvo de textos neste blog, lincados ao fim desta postagem. 

Mesmo antes e depois das rasouras, as imagens ficam expostas à veneração dos fiéis e recebem um grande número de visitas carinhosas. O ritual se completa à noite, com a concorrida Procissão do Encontro, quando cada imagem saindo das igrejas citadas, acompanhadas de irmandades e banda, se encontram solenemente no Largo das Mercês, local onde acontece um eloquente sermão eclesiástico. Então, vão juntas as imagens, Mãe e Filho, em contemplativa marcha para a Matriz do Pilar, que enfim as recolhe para as demais cerimônias das comemorações dos Passos.

Velário ainda aberto deixando ver parcialmente a imagem de Nossa Senhora das Dores.

Incensando... 

O andor velado deixa o adro da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar.

Cenário da Rua Direita (atual Getúlio Vargas) durante a passagem
da Procissão do Depósito de Nossa Senhora das Dores. 

Senhor dos Passos sob o velário na Igreja de São Francisco de Assis. 
Leia também:

RASOURA DOS PASSOS
RASOURA DAS DORES

Notas e Créditos

* Obs.: notícias jornalísticas de 112 anos atrás narraram: "realizou-se hontem com extraordinária concurrencia o Depósito dos Passos, da Igreja Matriz para São Francisco, onde fez ouvir no sermão do Pretório, o eloquente orador sacro padre João Sacramento, que produziu bella oração. Amanhã realizar-se-á a procissão do Encontro, pregando o reverendo monsenhor Felisberto Edmundo da Silva e do calvário o revdo. Padre Julio José Ferreira."  (Fonte: jornal O Combate, n.160, 22/03/1902, São João del-Rei/MG, exemplar da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, acervo digital). 
** Texto: Ulisses Passarelli
***Fotos: Iago C.S. Passarelli (Dores) e Ulisses Passarelli (Passos)

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