Nesse tempo quaresmal e de Semana Santa, um odor campestre exala dos templos católicos desta região: é o rosmaninho, ou como diz o povo, rosmanim.
É um velho costume, sobretudo da Semana Santa, esparramar no
assoalho das igrejas, por todo o tabuado, folhas desta planta, que aromatizam o ambiente, contribuindo para a atmosfera reflexiva que este ciclo religioso reclama para si. Os altares laterais e os passinhos também ganham seus ramos, e aparecem outrossim em
grutas religiosas.
Alguns devotos, por sua vez, esparramam as folhas em casa, acreditando numa bênção especial para a residência. Pode-se com a mesma intenção guardar para enfeitar oratórios, pondo-os em jarras, que aromatizam os lares.
Outros mais, nos terreiros de religiões de matriz africana, igualmente o fazem na área de cerimônias, sendo considerado uma erva de Oxalá, orixá que o sincretismo sintoniza com Jesus. Tanto mais, uma vez secos, são queimados e a fumaça funciona como se fosse um incenso. Alguns umbandistas e candomblecistas usam o rosmaninho para banhos de energização.
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Florada do rosmaninho
(Hyptis carpinifolia, lamiaceae) Para o homem do campo, sua presença denuncia terras férteis. |
A tradição manda colhê-lo na
madrugada da Quinta-feira de Trevas (quinta-feira da Semana Santa),
antes do sol sair, quando seus ramos estão molhados pelo orvalho, tido por
sagrado nesse dia. Dizia-me uma senhora, eivada de profunda fé, que o orvalho nesse dia representa o suor e as lágrimas de Cristo. Desfolha-se antes do
meio-dia (12 horas, "hora aberta"...), sobre o chão já previamente varrido e deixa-se ali até o romper da Aleluia, no Sábado Santo. Durante esse período é interditada a varrição.
Na frente das igrejas na Sexta-feira da Paixão, em São João del-Rei, não faltam os vendedores de ervas, populares que ofertam molhos de rosmaninho, arnica, manjericão, alecrim e outras plantas aromáticas ou medicinais, como as congonhas. Credita-se a elas um alto poder curativo se trazidas para casa nesse dia. Daí o povo da zona rural sair de madrugada ou bem cedo na manhã para os campos, subir morros e adentrar vales à caça de folhas e raízes medicinais, formando em casa um pequeno estoque ou farmácia caseira capaz de, ao longo do ano, suprir necessidades medicamentosas. Ao término da tarefa é costume se recolher a família a um lanche modesto à guisa de pique-nique, ou na reza de um terço, para só depois voltar à morada.
O valor místico dessa erva é tal na concepção popular, que diz um
ditado nessa região:
“quem passar pelo rosmaninho e
não cheirar, para o céu não irá” ou
"(...) Jesus não salvará" ou ainda,
"quem passou pelo rosmaninho e não cheirou, da Paixão de Jesus Cristo não se lembrou".
Notas e créditos
* Texto e fotografia (2002): Ulisses Passarelli
voc^e sabe me dizer qual a especie desta planta? ou outro nome popular...obrigado
ResponderExcluirInfelizmente não consegui identificá-la. E por aqui é muito popular e todos a chamam apenas rosmaninho. Desconheço sinônimos. Agradeço a visita.
ExcluirRosmaninho
Excluir(Hyptis carpinifolia, lamiaceae)
Eu sei que é da Família das hortelãs...(acho que isso)
ExcluirBom dia, sabem dizer se existe mudas dessa planta para vender?
ResponderExcluirEssa é uma Lippia Rotundifolia, o nome popular até pode estar certo mas o científico passou longe! Abraço
ResponderExcluirObrigado pela correção.
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