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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quarta-feira, 5 de março de 2014

Os Caveiras: um bloco especial no carnaval são-joanense

No carnaval de São João del-Rei desfila um bloco típico que é dos mais inusitados que se pode imaginar: Os Caveiras, uma agremiação que satiriza os valores mortuários. Tudo neste bloco incomum e talvez único é inspirado pelo tétrico, o horrendo que se torna bonito... Seus participantes vem às ruas de túnicas medonhas, cinzas, pretas, marrons, roxas, brancas, com máscaras representando caveiras, monstros, demônios, bruxas, seres sombrios do imaginário, personagens famosos de filmes de terror. As máscaras típicas são artesanais, de papel machê, revelando os ossos faciais e elementos alegóricos para aumentar o efeito dramático: tinta escorrida imitando sangue, elementos simulando podridão, olhos esbugalhados, um faca de plástico cravada. Mas são comuns também máscaras industrializadas e pinturas faciais com maquiagem carregada. Perucas desgrenhadas compõe alguns figurantes; um osso com restos de carne, recolhido nalgum açougue é arrastado rua afora por uma corrente; motos tremendas abrem o cortejo, seguidas de caveiras e zumbis com estandartes e um mundo de seres terríveis, coxos, cambaleantes, babando com a língua de fora, avançando no público da beira da via com suas potriqueiras de enojar... um rato de fingimento, morto, seguro pela cauda, um coração de boi sangrante comprado numa casa de carnes, uma boneca cravejada de punhal, toda lambrecada de ketshup. Lá vem uma turma d'outro mundo carregando um caixão. Dentro vai um "morto". A viúva, de véu preto à cabeça, vem atrás carpindo o finado. Junto ao público o defunto pula do caixão sobre as pessoas. Criança chora, marmanjo ri. O agente funerário se dispõe a vender urnas. Chega o homem do saco e ameaça levar uma criança que pula na mãe. Algum folião com enormes unhas postiças ameaça arranhar alguém, que em instinto de defesa pula para trás. Um criativo carro alegórico fecha esse desfile querido pelo povo. O bloco dos caveiras é assim, uma atração extraordinária do nosso carnaval. O público lota a avenida e não arreda enquanto o lúgubre desfile não passa, ao som da marcha fúnebre, de arrasto, com matracas e gritos esganiçados de horror. O carnaval prenuncia o medo da quaresma tricentenária... medos atávicos dão as mãos à irreverência. Brincar com a morte é possível na Segunda-feira Gorda em São João del-Rei! 











Notas e Créditos

* Texto e montagem fotográfica: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli

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