São José foi o esposo da Virgem Maria, pai
adotivo de Jesus Cristo, descendente do Rei Davi. Seu símbolo é um lírio branco. Dele os evangelhos canônicos foram muito parcos nas informações, mas os apócrifos, prolixos, dando importantes informações, sobretudo no Proto-evangelho de Tiago e em A História de José, o Carpinteiro. É o patrono universal da Igreja, protetor dos esposos e por extensão dos casais; padroeiros dos artífices da madeira.
É padroeiro da cidade de Itumirim, na Diocese de São João del-Rei.
O sincretismo religioso afro-brasileiro aproximou-o de Aganju, orixá da linha de Xangô (*) nos candomblés. A umbanda nutre por ele grande respeito, mas sem assimilação intensa no campo sincrético. Contudo, o nome "José" é inspirador, tendo batizado várias entidades da "linha dos negros velhos" (africana): Pai José de Aruanda, Pai José de Angola, ... da Praia, de Minas, da Campina, do Cruzeiro, Mineiro, Carreiro. Não obstante este fato, a expressão "Pai José" pode ser simbolicamente interpretada como uma forma carinhosa de se dirigir ao venerável santo:
“Ajuda eu, Mãe Maria!
Ajuda eu, Pai José!
Ajuda eu, mamãe!
Ajuda meus irmãos de fé!”
(Canto de moçambique, Passa Tempo, 2004, Capitão Luís Maurício).
O saudoso capitão Luís Santana, de São João del-Rei,
lembrava deste santo no seu congado (1998):
"Embala,
ô embala!
Ô embala quem quisé...
Eu já fiz uma promessa
pro divino São
José, ai, ai!”
Congados e folias desta região, costumam agradecer o lanche oferecido pelo anfitrião nas casas visitadas ou nas festas pelo festeiro com o seguinte canto:
"Lá no céu tem três estrelas
que ilumina São José,
ela há de iluminar
quem nos deu tão bom café." (**)
No povoado do Brumado, em São João del-Rei existiu
uma
folia de São José, do folião “Vico”.
Na comunidade de Santa Efigênia, Parque Real, Bairro Bonfim, nesta mesma cidade, São José recebe a partir desta década uma festa logo após Semana Santa, com os elementos litúrgicos e populares habituais.
Ainda em São João havia uma festa que se celebrava animadamente na Capela de Santo Antônio, no Bairro das Fábricas. A este respeito veja-se a seguinte notícia jornalística do
Folha Nova:
"Encerraram-se com a procissão de domingo último, dedicado a S. José, as tradicionais festividades que se realizaram na Capela do Albergue Santo Antônio. O préstito religioso de domingo esteve brilhante, comparecendo elevado número de fieis. A banda do 11º R.I. abrilhantou todas as festividades, quer aos tríduos, quer a procissão. De ordem da Prefeitura foi iluminado o morro do Albergue, oferecendo este agradável impressão."
Os dois títulos mais conhecidos deste santo são os seguintes:
1- São José de Botas: patrono dos viajantes,
caminheiros, peregrinos. Sua devoção esteve em voga sobretudo nos setecentos, sob a natural influência do bandeirismo. As imaginária do período colonial o registrou calçado de botas de canos altos, elemento simbólico das extensas jornadas então empreendidas pelos ermos sertões. Nossas igrejas coloniais conservam sua imagem. Seu festejo a 19 de março foi sempre de alguma forma prejudicado, pois coincide com o período quaresmal, tempo de recolhimento. Veja-se este aviso num antigo jornal de São João del-Rei, A Tribuna, de 1918: “foi transferida para a terceira dominga da Paschoa, dia do patrocinio de S.José, a festa que a Associação de S.José, realizaria no dia 19 deste em honra de seu patrono e que se revestiria da maxima solemnidade.”
2 – São José Operário: padroeiro dos trabalhadores e em particular dos carpinteiros e marceneiros. Tem
igreja própria em São João del-Rei, matriz paroquial do bairro Tijuco. Segundo Augusto Viegas, esta igreja teria começado em 1938 como uma capela consagrada a Nossa Senhora da Conceição, em terras doadas por José Rocha, mas...
"por determinação do Exmo. Sr. Dom Helvécio Gomes de Oliveira, ante a consideração de já existirem aqui sete templos erigidos sob os auspícios da Santíssima Virgem, passou este ao patrocínio de São José e sob esta invocação, ante o devotamento do Padre Osvaldo da Fonseca Torga e eficiente cooperação popular, se concluiu em 1946." O projeto arquitetônico é de Rossino Baccarini, construída sob os esforços do Cônego Antônio Carlos Rodrigues e do Monsenhor Silvestre de Castro. Ao longo dos anos passou por mudanças de fachada e ampliações. A paróquia foi criada em 04/01/1944 sendo seu primeiro pároco o Padre Torga, supracitado (***).
Como informação complementar vale transcrever em grafia atualizada, a notícia de 1938 do lançamento da pedra fundamental pelo jornal são-joanense
Diário do Comércio,
em nota intitulada "Capela do Tijuco":
"Domingo próximo vindouro será lançada, no bairro do Tijuco, a pedra fundamental da capela que ali se erigirá em honra de N. Senhora da Conceição. A construção de um templo naquela afastada e populosa zona vem sendo há muito aspiração de seus habitantes e de um grupo de homens de boa vontade, irmanados num ideal comum. Afastadas agora as maiores dificuldades que se antepunham à notável aspiração daquele núcleo da cidade, vemos com prazer a realização encaminhar-se para sua concretização. E ao anunciar-se agora o lançamento da pedra fundamental da modesta capela, a se verificar no domingo próximo, cabe-nos encaminhar ao povo são-joanense um insistente apelo para que se prontifique a auxiliar tão meritório empreendimento. A tocante solenidade terá o concurso de uma banda de música e a presença das autoridades locais, tendo ainda a empresa de ônibus organizado um horário para seus veículos, afim de auxiliar a ida do povo ao local."
Para arrecadar recursos para esta edificação, um dos
congados existentes no bairro à época, o da Rua São João, dançava em atividade de coleta de donativos. Esta notícia, que uma testemunha tinha presenciado e nos narrado em 1993, o saudoso sr. Antônio Geraldo dos Reis, das Águas Férreas, é confirmada pela notícia jornalística também do
Diário do Comércio, em sua edição nº212:
"Congados. Tem percorrido os subúrbios desta cidade um interessante núcleo de Congados angariando esmolas para a construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição, no Tijuco. No domingo, esse congado, cujo chefe é o sr. José Francisco, esteve no Morro da Forca. No próximo domingo percorrerá o bairro de Senhor dos Montes. Haverá também missa campal e cantos de Congado no povoado de Santa Cruz, no dia 18 de dezembro próximo."
Antes da edificação de
sua igreja a festa era realizada em abril ou no dia 1º de maio, na Catedral do Pilar, em
São João del-Rei. Em 1906, nos diz
O Repórter nº12, houve tríduo, às 18 horas, missa solene às 11 no dia maior, procissão vespertina e
Te Deum na sua chegada. Música a cargo da Orquestra Ribeiro Bastos. No ano seguinte, o mesmo jornal na edição nº11 refere-se à festa do Patrocínio de São José, o grande Patriarca, promovida pela Associação de São José precedida de tríduo e concluindo no dia principal com missa matutina e bênção do Santíssimo à tarde, tocando a Ribeiro Bastos. Em 1915, segundo
A Tribuna houve alvorada realizada pela banda de música e missa com participação da mesma orquestra.
A iconografia típica de São José Operário o representa como um trabalhador junto a uma banca de oficina, manejando ferramentas: plaina, enxó, serra de traçar. Há casos da imagem ordinária sem preocupação de detalhar o carapina.
Também goza de grande prestígio em Barbacena, onde conta com uma basílica e festa jubilar. É querido em Conceição da Barra de Minas, onde existe o Bairro São José.
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Nas Águas Férreas, esquina da Rua Operário Luís Andrade com General Osório, moradores preparam um tapete de rua para a passagem da Procissão de São José Operário.
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* Embora sujeito a variações de entendimento regional, linha e nação, em geral Xangô, o grande orixá agente da justiça divina, chefe de linha espiritual, é habitualmente sincretizado com São Miguel Arcanjo e seus ordenanças imediatos, também chamados de "xangôs" (qualidades do orixá). Essas qualidades tem sincretismo com outros santos, como por exemplo: Xangô Kaô - São João Batista, Xangô Agodô - São Pedro, Xangô Aganju - São José, Xangô Sete Pedreiras - São Jerônimo, Xangô Abomi - Santo Antônio, Xangô Alufã - São Judas Tadeu. Mas é útil alertar que não há unanimidade nessa paridade das qualidades com os respectivos santos. Alguns terreiros entendem de outra forma.
** Esta quadra tem variantes. A saudosa Sra. Elvira Andrade de Salles, moradora de Santa Cruz de Minas, mas relembrando sua terra natal, Bias Fortes, informou-nos estas em 1996:
"Lá no céu tem uma estrela,
que ilumina São João,
ela há de iluminá
que nos deu um café bão."
"Lá no céu tem uma estrela,
que ilumina São João Bosco,
ela há de iluminá
quem nos deu tão bom almoço."
*** Não obstante esta data de criação, o desmembramento da jurisdição da Paróquia do Pilar somente se deu em 09/08/1948 e a instalação oficial em 01/01/1952, informa ainda VIEGAS (1953).
**** Os jornais antigos citados foram publicados em São João del-Rei e pertencem ao acervo da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, consultados através de seu site:
*****Texto e fotografias (ano 2000): Ulisses Passarelli
Referências Hemerográficas
O Repórter, n.12, 29/04/1906
O Repórter, n.11, 21/04/1907
A Tribuna, n.41, 02/05/1915
A Tribuna, n.192, 10/03/1918
Folha Nova, n.8, 24/04/1932
Diário do Comércio, n.178, 13/10/1938
Diário do Comércio, n.212, 23/11/1938
Referências Bibliográficas
VIEGAS, Augusto.
Notícias de São João del-Rei. 2.ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1953.
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