Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Na minha terra se fala assim - parte 9

Abilolado – sem juízo perfeito; doido; de baixo intelecto e ações inconsequentes.

Andaço – virose; epidemia. O povo a vincula ao extremo climático de frio ou calor.

Beleza de Creuza – expressão de intensificação da estética: maravilhoso, excelente.

Boca de siri! – expressão de solicitação de segredo, silêncio absoluto sobre um fato.

Branquinha – cachaça, aguardente de cana de açúcar.

Cagaço – medo extremado. “Passou um cagaço”: teve muito medo.

Cheio de banca – fazendo-se de poderoso, influente, rico, sem de fato o ser.

Deixar a vaca ir pro brejo – perder o controle de uma situação; ser derrotado; falir.

É fria! – expressão que indica uma complicação intensificada, risco ou prejuízo iminente: “_ não aceita esse negócio que é fria!”

Encher o rabo1-embriagar-se; 2- comer demais, empanturrar-se; 3- ter um lucro imenso.

Esbudegar – estragar, dar grande desgaste a algo. “Esbudegou o carro”.

Escreveu, não leu, pau comeu! – Expressão indicativa que a desobediência a um aviso terá consequência extremada, sem chance de novo alerta.

Estar comendo o gambá errado – diz-se de quando se atribui a culpa a alguém que de fato não está envolvido no caso. Culpar um inocente.

Fazer de bobo para viver – fingir-se de desentendido para se dar bem na situação.

Gambiarra1- reparo ou serviço provisório, feito sem esmero;  2- amante, concubina.

Guéri-guéri – frescura, mania, cerimonial desnecessário. “Fulano é cheio de guéri-guéri”.

Ideia de girico – pensamento ruim, ideia infrutífera, solução inadequada para um caso, ação inconsequente.

Influenza – gripe ou resfriado, indistintamente. “Peguei uma influenza”. “Estou de influenza”. Referência ao vírus Influenza, causador da gripe.

Lambisgóia – termo pejorativo aplicado a mulheres com baixo conceito em educação, comportamento social, reputação, personalidade.

Lavar a égua – se dar bem numa situação; alcançar elevado lucro; ser beneficiado. “Casou com um ricaço, lavou a égua.”

Lestreque – ótimo; delicioso. “Almoço lestreque”. Bonito, bem aparentado: “terno lestreque”.

Macacoa – urucubaca, azar, agouro, zebra, indaca, ziquizira, quizumba.

Mais velho que a mãe do sarampo – antiguíssimo; muito velho.

Mala e cuia – completo; com tudo o que pertence. “Mudou de mala e cuia” (não deixou nada para traz, levou tudo o que tinha).

Mamão com açúcar – muito bom, favorável, fácil. “A avaliação foi mamão com açúcar”.

Mandinga – feitiço, magia, ebó, trabalho espiritual. Referência à etnia mandinga, grupo de africanos islamizados trazidos escravos ao Brasil. Mandingueiro: quem faz mandinga.

Manduca – pejorativo: sujeito de aparência roceira, acaipirado. Cara de bobalhão.

Maniento – cheio de manias; quem ritualiza as ações mais simples da vida.

Manota – gafe; equívoco, embaraço.

Mão de vaca – sovina, usurário, ganancioso.

Mão na roda – facilidade, conveniência. “Sua ajuda foi uma mão na roda”.

Marafo(a) – cachaça. Africanismo. A palavra tem largo uso como terminologia dos terreiros de umbanda.

Maritaca – prolixo. Pessoa que fala muito como uma maritaca, ave que faz muito barulho, palradora.

Marmota1- feio, sem combinação estética: “essa roupa ficou uma marmota”; 2- atitude execrável: “fez uma marmota no meio da reunião”. Marmotagem: fazer marmota, comportamento ruim.

Matinada – grande barulho, gritaria, algaravia. Um dos orixás guerreiros de umbanda: Ogum Matinada, sincretizado com Santo Antônio de Pádua.

Matraca – falação. Conversa excessiva e sem sentido. Alusão ao instrumento idiofônico homônimo que produz muito barulho. “Fecha a matraca!” (cala a boca!)

Meganha – policial, guarda, na gíria popular, em tom um tanto depreciativo.

Meia-colher – diz-se do pedreiro que faz serviços de má qualidade. Pedreiro ruim. Mau profissional.

Melzinho na chupeta – o mesmo que “mamão com açúcar”. Situação muito favorável; coisa fácil demais; caso cuja resolução não tem a menor dificuldade.

Meter a boca no trombone – contar segredos a alta voz; revelar ao público questões ocultas; contar situações embaraçosas e comprometedoras sobre algo ou alguém. Denunciar.

Meter a língua nos dentes – tem o mesmo sentido de “Meter a boca no trombone”. Dedurar.

Mexer em caixa de marimbondo – envolver com algo perigoso; aproximar-se de uma pessoa perigosa; entrar numa situação arriscada.

Mingau das Almas – remela. Secreção mole e esbranquiçada, que se forma no canto dos olhos, logo cedo ao se acordar ou nos casos de certas inflamações. A expressão é uma comparação grosseira à oferenda dada às almas nos dias de segunda-feira (seu dia votivo) nos cruzeiros, constituída por um mingau de farinha de trigo bem ralo, servido num prato branco.

Miolo mole – “cabeça fraca”, “ideia runhe”: pessoa de pensamentos volúveis, inconstante, inconsequente.

Mironga – firmeza espiritual secreta, que não se revela a ninguém por questão de segurança, pois em seu segredo reside sua força protetora. Pode ser um patuá ou um objeto qualquer contendo o axé. Talismã. Mirongueiro: quem faz mirongas para si ou por encomenda para outrem.

Miserê – miséria; falta de dinheiro, crise financeira. “Vive no miserê”.

Mistereco – pouco, quase nada, resto. “Tem de fazer as compras do mês. Só tem um mistereco de mantimento na dispensa.”

Mixuruco – insignificante, desqualificado, de má qualidade, parco.

Mocorongo – cujo comportamento social se mostra desalinhado com as tendências modernas e urbanas; antiquado. Referente ao caipirismo. Retrógrado.

Modo de comer – expressão que equivale a “algo de comer”, comestível. “Estou com fome. Vou caçar um modo de comer.


Nenhum comentário:

Postar um comentário