Bandeireiro é um personagem importante dos folguedos do povo. É aquele que carrega a bandeira ou o estandarte da manifestação cultural. Embora o termo
“porta-bandeira” e “porta-estandarte”
existam nos meios folclóricos, tem origem em fonte culta. Bandeireiro é
sempre o termo que prevalece. Tem como sinônimos: Bandeirista, Bandeira, Alferes e Alferes da Bandeira [1]. Geralmente carrega uma sacolinha ou embornal para depositar os óbolos oferecidos
voluntariamente à bandeira ou pedidos pelo grupo em cantoria.
Nem sempre usa
uniforme, mas em geral é o mesmo fardamento do grupo ou, noutros casos, semelhante, porém mais
simples. Em alguns grupos o bandeireiro dança, de forma comedida ou até exuberante; noutros grupos isto é vetado. A regra varia conforme a manifestação e grupo. Seu comportamento exige postura exemplar, com seriedade,
máximo respeito ao símbolo religioso que carrega. Deve saber executar os
rituais próprios que exigem a participação da bandeira em cada folguedo que participa; saber
o momento de entregar e recolher a bandeira a um devoto que a pede para segurar, ou que o mestre do folguedo determina que segure. Precisa reparar se alguém lhe tirou
algum enfeite ou acresceu outro e desta sorte avisar ao mestre. Tanto mais se foram afixadas
cédulas monetárias, ex-votos ou jogado perfume, para que o mesmo providencie o
ritual de resposta em versos de cada fato destes.
Compete ao bandeireiro conhecer todos os sinais e gestos
do chefe do folguedo. Saber receber outra bandeira e passar a que carrega, no
caso do encontro entre grupos rivais ou amigos. Em algumas folias de Reis e folias de São Sebastião das Vertentes, o Palhaço (Bastião ou Marungo) faz papel de bandeireiro, fato
inadmissível noutras regiões.
Ainda nas folias, seja ela de qual santo for, por
vezes o bandeireiro passa temporariamente sua função a uma pessoa que não faz
parte do grupo, por razão devocional. Por exemplo: um morador pede ao mestre
para carregar a bandeira até a próxima casa a ser visitada, ou nas próximas
três, ou por toda aquela noite. É autorizado. Enquanto carrega vai rezando e pedindo as graças ou
pagando promessa e o bandeireiro, ladeando-o, zela por ela e orienta o devoto
no que for necessário para o cumprimento temporário do papel.
Em algumas circunstâncias surgem outras personagens:
- Madrinha da Bandeira: aquela que confecciona uma nova bandeira ao grupo e a doa, ou apenas a reforma, carinhosa e devotamente;
- Rainha da Bandeira: bandeireira que nalguns congados vem vestida de rainha e tem a mesma dignidade das demais;
- Rainha da Sacolinha: rainha de congado que anda ao lado do bandeireiro propriamente dito, carregando uma pequena sacola onde os devotos que beijam a bandeira depositam espórtulas. Habitualmente esta função é acumulada pelo bandeireiro [2].
Por fim é mister informar que alguns grupos trazem na dianteira mais de uma bandeira, podendo ter duas ou três diferentes.
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Bandeireiro de Congado. 2014. Moçambique Afro-descendentes, Macaia (Bom Sucesso/MG).
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Bandeireiro de Folia. 1995. Folia de São Sebastião, Barreiro (Coronel Xavier Chaves/MG).
Notas |
[1] - Alferes da Bandeira pode ter outro sentido no contexto de algumas festas populares. É o indivíduo responsável pela bandeira emoldurada que se levantará no topo do mastro.
[2] - Madrinha da Bandeira: São João del-Rei, 1994; Rainha da Bandeira e Rainha da Sacolinha, Resende Costa, 1998. São personagens pouco frequentes.
Créditos
- Texto: Ulisses Passarelli
- Fotografias: congado, Iago C.S. Passarelli; folia, Ulisses Passarelli
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