A coroa brilha e rebrilha em tons de ouro e prata, realeza do povo devoto que não esquece o rosário de Maria e nele se realiza e se sintoniza com o sagrado. Reis, rainhas, príncipes e princesas - de promessa, de convite, perpétuos, congos, deste ou daquele título - não importa... todos merecem dos congadeiros sinceras honrarias, vênias, saudações ritualísticas e cantos próprios. O congado se completa no reinado. O reinado perde o sentido sem o congado.
Herança ancestral, de perdidos reinos da Mãe África, cuja imagem teimosamente sobreviveu na mente do escravo, foi refigurada nos seus préstitos e festejos, Brasil afora, desde o período colonial, registraram cronistas e estudiosos. Em cada região os escravos elegiam dentre seus pares, o seu Rei e a sua Rainha, e com muita musicalidade, danças, toques de instrumentos, vinham rua afora em cortejo trazer os eleito para a capela, onde o sacerdote finda a celebração, coroava-os para que reinassem sob a égide do catolicismo sobre os escravos, que em rogativas entoavam cantos ao rosário e saudavam aos seus ancestrais e protetores em linguagem ininteligível aos observadores. O processo se repetiu por gerações, adaptou-se, foi remodelado, sublimou-se em manifestação espontânea da cultura popular.
Em cada região o reinado tem suas próprias particularidades; em essência, contudo, é o mesmo. Ao "Sinhô Rei", à "Sá Rainha", se deve todo respeito. Simbolizam o reinado de Maria na Terra. Isto não é pouco! Merece todo aparato que engrandece tais festas. Congadeiros no largo tocam seus congos, moçambiques, catupés, marujos, vilões, caboclinhos e nas ocasiões especiais os candombes. Todos os tipos, estilos ou modelos troam tambores para o Reinado e para os santos da tradição do Rosário.
Nas imagens abaixo vemos retratados vários momentos desta tradição tão arraigada no Campo das Vertentes.
Belo texto, lindas fotos!!
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