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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 30 de setembro de 2012

Pau de Fitas

Dança-das-fitas, dança-do-pau-de-fitas, pau-de-fitas, trança-fitas e trancelim, são alguns nomes dados a uma dança espalhada pelo Brasil e por vários países da América Latina. Com algumas modalidades, basicamente o grupo de crianças, adolescentes ou mesmo adultos, dança em redor de um pau reto e altaneiro, posto na vertical, em cujo topo estão presas diversas fitas longas, que tem o outro extremo pendente. Cada dançante tomando uma ponta de fita, dança ao redor do madeiro, trançando as fitas de forma ordenada, de tal sorte que formam um entrecruzamento de interessante efeito visual. Os movimentos são muito graciosos e mudam o desenho da trama das fitas conforme a coreografia.

De origem européia remotíssima, a dança-das-fitas rememora a árvore de maio, em torno da qual dançavam os aldeães. É proveniente de antigos cultos pagãos, favorecedores da fecundidade, das plantações, criações e pessoas, extremamente arraigado na Europa, de onde o brasileiro herdou o costume. Aquele continente, sito no hemisfério norte, tem em maio a estação da primavera (outono aqui no hemisfério sul), ocasião na qual o aquecimento gradativo, provoca o degelo da neve e assim, expõe a vegetação, que fora queimada pelo frio, desfolhada pelo outono. O calor vital do sol promove a rebrota das árvores, o nascimento de folhas e flores. O mato que parecia morto renasce do gelo. O fato é simbolicamente equiparado a uma ressurreição, a uma vida nova. Comemorando-o, os campônios preparavam uma árvore determinada, desgalhando-a em parte e enfeitando-a de flores, penduricalhos, comestíveis, objetos fálicos, fitas. Em torno dela festejavam, com danças, cantos, rituais, comes-e-bebes. Desse hábito, depois cristianizado, veio por exemplo a dança-das-fitas, equivalendo o pau enfeitado em torno do qual dançam à árvore de maio, que bem se poderia dizer, árvore da vida. Convencionou-se chamar a isto fitolatria (adoração dos vegetais) – embora na realidade, nem sempre fosse caso literal de se endeusar uma planta.

A tradição da dança das fitas ou pau de fitas é um costume difundido nas festas dedicadas à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Sabe-se que em São João del-Rei, na Festa do Divino, houve no passado a dança das fitas. Uma notícia do jornal local "Arauto de Minas", edição nº12, de 1º de junho de 1885, lamentava sua ausência naquele ano (*):


"Realisaram-se as legendarias festas de Mattosinhos este ano com grande concorrencia de povo, todavia não tanto como nos anteriores. Durante quatro dias, desde o Domingo de Espirito Santo até quarta-feira, os trens da Oeste despejaram sobre o festivo arrabalde lufadas de povo. Não tivemos as celebres Cavalhadas, Danças de Velhos, Touradas, Danças de Fitas que em taes festejos entretem e chama a concurrencia de povo, em compensação não faltaram os festins familiares, boa musica a deliciar os visitantes, illuminação a giorno e diversões de que ficaram gratas recordações". (grifamos)


Em 1998 a Comissão de Festas incumbida do resgate do grande jubileu em honra ao Espírito Santo não se esqueceu de convidar à participação os dois grupos de danças das fitas então existentes na cidade. No ano seguinte estiveram de volta e de sua movimentação alegre e colorida no trancelim de fitas de cetim ficou este registro fotográfico, tomado no coreto da festa e no adro da matriz de Matosinhos, mais tarde elevada à condição de santuário. 

1- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

2- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei.
3- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

4- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

5- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei.

6- Dança das Fitas, 1999. Festa do Divino, São João del-Rei. 

Com o resgate desta festa em 1998, dois grupos se apresentaram, perdurando até o ano 2000 na Festa do Divino no Bairro Matosinhos, em São João del-Rei. Nos demais anos apenas um deles, o do próprio bairro se apresentou, até 2007, ano da última apresentação e da seguida desativação do grupo.


Notas e Créditos 

* Fonte: acervo da Biblioteca (Pública) Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei/MG
** Texto e fotografias: Ulisses Passarelli

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