De espírito religioso, este islamita foi capturado, escravizado e forçado às galés da Sicília, na costa italiana. Foi vendido a um fazendeiro das imediações da cidade siciliana de Noto, na província de Siracusa. Nos dizeres de Antônio Gaio Sobrinho,
"arrematado por João Landávula, este, ao casaram-se-lhe as filhas, deu-o aos genros como parte do dote. Teve, então, o destino de cuidar dos rebanhos de seus novos senhores, como vaqueiro e retireiro. De boa índole, recebeu de bom grado os ensinamentos cristãos, abjurou o Islamismo e deixou-se batizar tomando o nome de Antônio, por homenagem a Santo Antônio de Lisboa". Devoto do rosário de Nossa Senhora, distinguiu-se pelas virtudes da temperança, penitência, docilidade e trabalho." (SOBRINHO, 1997).
Consta pela mesma fonte, que era caridoso e dava leite das ovelhas de seu senhor aos pobres e que trabalhava na pastorícia sem reclamar de nada.
Mais tarde foi alforriado e tornou-se franciscano, ingressando na Ordem dos Frades Seculares. Sem esquecer as orações, dedicou-se então à prática da caridade, dando assistências aos doentes. Por fim tornou-se eremita, em vida contemplativa no deserto.
Festejado a 14 de março, este milagroso santo não teve o corpo corrompido. Ainda Antônio Gaio Sobrinho, disse: “muitas vezes era surpreendido em êxtase diante do altar, envolto de luz, com o corpo irradiando chamas (...) quando morreu, em 1549, os sinos de todas as igrejas de Noto, na Sicília, puseram-se a tocar sem ninguém que os tangesse.”
Em razão do acima exposto este santo foi denominado Santo Antônio de Noto, em referência à cidade onde foi escravizado, ou Santo Antônio de Caltagirone, em referência à cidade onde ficava seu mosteiro, depois de alforriado. É ainda conhecido por "Santo Antônio de Cartago".
Paira, entretanto, uma nuvem sobre a sua identidade. O autor já citado nesta postagem acredita que Santo Antônio de Noto e de Caltagirone são dois diferentes e não o mesmo. Segundo Antônio Gaio Sobrinho, o de Noto faleceu em 1549 e o de Caltagirone em 1515. Entretanto, não encontramos base convincente para esta assertiva e por oras esta postagem considera que se trata do mesmo santo. Seria como o famoso Santo Antônio, o de 13 de junho, "o Casamenteiro", que se festeja com fogueiras votivas: Santo Antônio de Lisboa (onde nasceu, em Portugal) ou Santo Antônio de Pádua (onde morreu, na Itália).
"Antônio humilde, dizia que ele não passava de um simples escravo do Senhor Jesus, só Deus tem poder de curar. Impunha as mãos aos enfermos, rezava e Deus curava. Depois de sua morte continuou a fazer muitos milagres. Até hoje temos testemunhas de muitas pessoas que alcançaram grandes graças por intercessão de Santo Antônio de Categeró." (PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA EXPECTAÇÃO, 2025).
"Os jesuítas difundiram a devoção a Santo Antônio de Categeró da Itália para o Brasil. Logo muitas igrejas foram dedicadas a ele, e mais de 60 imagens representavam este Santo Africano no final do período barroco. A primeira Fraternidade de Antônio Categeró foi fundada em 1592. No Brasil, Santo Antônio tornou-se um símbolo de conforto para os escravos trazidos da África." (MERICLE, 2025).
"Cinquenta anos após a morte do eremita, seu túmulo foi aberto, em 13 de abril de 1599. Para surpresa geral, seu corpo não havia se decomposto. Estava íntegro como no dia de seu sepultamento. Imediatamente a notícia se espalhou e se iniciaram as narrativas de inúmeros milagres ocorridos por sua intercessão. Uma imagem sua foi esculpida e, posteriormente, encaminhada a uma igreja em que se cultua sua devoção, na África. De lá, atravessou o Atlântico e hoje se encontra na igreja da Paróquia de Nossa Senhora da Anunciação, no bairro Riachuelo, no Rio de Janeiro."
(...)
A notícia, há algumas décadas, de que Antônio de Categeró figurava na lista dos santos não reconhecidos pelo Vaticano não abalou a fé de seus devotos. Em São Paulo, a Igreja Católica Apostólica Brasileira o assumiu para si. Ergueu-se um templo em sua devoção na Rua Tauandê, Vila Formosa, no final da década de 1950. Em frente ao templo, foi construída uma “gruta dos milagres”. Em janeiro de 1968, uma longa reportagem da Folha de S. Paulo descrevia as peregrinações com números de fiéis que iam de 5 a 15 mil pessoas numa sessão de terça, sexta ou domingo. Hoje, ali também funciona a Casa do Bom Samaritano." (FAUSTINO, 2016)
"Houve uma Igreja Santo Antônio de Categeró, no Rio de janeiro/RJ. Como diz na placa afixada: No dia 19 de abril de 1998, Santo Expedito passou a ser o Padroeiro desta paróquia. E, provavelmente, nesta data também ocorreu a entrega do acervo de Santo Antônio de Categeró, então existente, entregue na Igreja Nossa Senhora da Anunciação da Mãe de Deus, igreja existente neste mesmo bairro – a Penha." (REVISTA ELETRÔNICA ABC DA SEGURANÇA PÚBLICA, 2025)
É destaque também sua imagem na setecentista Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Tiradentes/MG.
| Imagem de Santo Antônio de Caltagirone. Igreja do Rosário, São João del-Rei. Acervo da Venerável Confraria de Nossa Senhora do Rosário. 11/12/2014. |
Existe ainda uma discussão acerca da verdadeira existência deste santo, posta em dúvida por alguns. Há ainda que atribua a difusão de sua devoção a uma dissidência do catolicismo romano. Controvérsias à parte, o santo segue em seu prestígio, querido pelo povo.
BETTENCOURT, Estêvão, Dom. Quem é Santo Antônio de Categeró. Católicos on-line.
Disponível em: http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?num=751 Acesso em 11 dez. 2014
https://categero.org.br/antigo/?page_id=102
- Texto: Ulisses Passarelli.
- Fotografias: Iago C.S. Passarelli.
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