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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 14 de dezembro de 2014

João Teimoso

As crianças de hoje em dia, desde muito cedo vivenciam a modernidade dessa vida digital e vêem nos brinquedos eletrônicos uma das principais fontes de lúdica. Muito diferente de poucas décadas atrás que a infância era embalada por brincadeiras tradicionais e brinquedos típicos hoje inimagináveis. 

Longe de querer julgar valores ou abrir uma infindável discussão nesse rumo, apenas lembrei-me hoje de um deles: o simplório joão teimoso, ou joão bobo, um boneco que via de regra sempre voltava à posição inicial mesmo que se forçasse outra. 

Por trás de sua simplicidade, revelava a engenhosidade de seu projeto. Era um boneco em peça única, que tinha a parte de baixo do corpo bojuda e arredondada, como uma semi-esfera, sem pernas, e a superior estreita. Como o peso se concentrava na parte inferior ele não tombava fácil quando batido com a mão. Girava, balançava e tornava a ficar em pé sozinho, recuperando aos poucos a posição original com movimentos cada vez mais lentos e curtos, até parar. Parecia ter vontade própria ... Originalmente tinha construção artesanal, feito em madeira, mas a oras tantas foi reproduzido em plástico ou borracha, pela indústria, inclusive exemplares infláveis. 

Outro modelo, também em madeira, era formado de duas peças: montava-se em meio corpo, terminado em ponta rombuda, em equilíbrio sobre uma coluna de madeira, numa concavidade que se encontrava num de seus extremos. Com os braços abertos segurava um arco de arame, com abertura para baixo, tendo um bola em cada ponta. Batido com as mãos, descrevia movimentos de pêndulo, que aos poucos perdiam força para alcançar de novo o equilíbrio. 

Suas imagens aqui reproduzidas à guisa de esboço, não me vem de nenhum modelo ao alcance dos olhos, mas de fugidias lembranças da inocente infância e portanto podem apresentar alguma inexatidão do tracejado. 

Ao artesão que se habilitava a construir um joão teimoso, implicava um conhecimento quase intuitivo de física, devendo calcular com exatidão as dimensões e espessuras das partes do boneco para permitir o reequilíbrio e movimentos harmônicos. Não era fácil nem é fora de senso dizer que seria um bom exercício prático (e lúdico!) para estudantes se familiarizarem com o universo das leis da física. Bem poderia ser um brinquedo utilitário, educativo, filosófico ...

Por fim é mister dizer que a linguagem popular reserva por analogia a alcunha de "joão teimoso" ou joão teimosia, um tanto pejorativa por sinal, ao indivíduo que não arreda do lugar, recusando mudar de postura de vida mesmo tangido pelas vicissitudes. Permanece estático, não evolui; ou, então, se agita temporariamente, mas passada a provocação, pouco a pouco retorna à sua inércia. João teimoso é pois a pessoa teimosa com a própria vida. 

* Texto e desenhos: Ulisses Passarelli 

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