Segundo o verbete dicionarizado, originalmente é o nome do óleo extraído da azeitona (oliva), fruto da oliveira. Por extensão, a palavra se aplica a outros óleos. O termo procede do árabe, azzait.
De uso antiquíssimo na humanidade, nos meios populares o azeite verdadeiro, ou seja, o de oliva, é conhecido por azeite-doce. Além do uso culinário normal, sobretudo para temperos de saladas, e outros usos na cozinha, é muito adotado na cultura popular na composição de remédios. Tomar a medida de uma colher das de sopa cheia de azeite puro resolveria o intestino preso numa constipação; um cálice de azeite bebido após uma ressaca curaria os efeitos sintomáticos da bebida alcoólica.
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Azeiteira artesanal produzida do aproveitamento de uma lata de óleo de soja. São João del-Rei, 1999. |
Outro "azeite" muito conhecido é o de dendê, óleo espesso e forte extraído dos frutos de uma palmeira de origem africana, o dendezeiro (Elaeis guineensis), aclimatada no Brasil. O azeite de dendê tem pequeno uso na culinária típica regional e liga-se mais ao uso ritual na cozinha de santo, ou seja na produção de alimentos que serão oferecidos aos orixás e demais entidades em sessões religiosas nos terreiros de matriz africana, nos ebós, despachos, trabalhos. O dendê dá um azeite considerado "quente", ou seja, forte, calórico, capaz de atrapalhar o organismo não habituado ao seu consumo, gerando diarreia e intoxicação. Por isto seu uso deve ser moderado.
O azeite de mamona não é comestível. Tem uso medicinal na cultura popular, na produção de unguentos, ou puro, em fricções, às quais se atribui o poder de arrefecer doenças de pele. Uma massa de farinha de mandioca pura (branca, não torrada), azeite de mamona e maceração das minúsculas folhas de parentalha (= paretária), teria propriedades de, se aplicada como emplasto sobre a pele por meia hora pelo menos, puxar do interior do corpo o processo inflamatório e a friagem. Quem usa tal emplastro deve a seguir ter a parte coberta por um pano branco ou faixa, justa ao local e guardar repouso.
Também é usado para iluminação, ardendo como combustível em rudes lamparinas, candeias e candeeiros. Segundo GAIO SOBRINHO (2010), na ata da sessão nº31 da Câmara de Vereadores de São João del-Rei, datada de 13/07/1854, cuidaram os edis da iluminação pública urbana, pelo que "foram colocados vários lampiões de azeite em diversos locais da cidade, como no sobrado novo de João Antônio da Silva Mourão" (atual sede do Museu Regional).
Empregado outrossim como lubrificante pelos carreiros, que trazem na lateral do carro de bois um reservatório (azeiteira) feito de chifre de boi, cheio desse azeite, para de tanto em tanto passar nas cantadeiras, diminuindo o atrito excessivo entre eixo e cocão e assim prevenindo o desgaste das peças.
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Azeiteira de carro de bois. Tiradentes, 2013. |
A produção do azeite de mamona é artesanal, extraído após maceração e fervura das sementes.
Estes são os azeites conhecidos nos Campos das Vertentes, embora noutras regiões surjam outros óleos como tais conhecidos: para o norte do Brasil foi muito usado o criminoso azeite de
peixe-boi, extraído do mamífero hoje ameaçado de extinção; no Pantanal, o azeite de peixe, tirado de caldeirões que lamentavelmente fervem miríades de lambaris.
Por fim não é demais lembrar que as receitas etnográficas aqui registradas, de uso entre os remédios do povo, são fórmulas folclóricas e não científicas, não sendo portanto recomendado seu uso pelos riscos que podem trazer à saúde.
Referências Bibliográficas
Dicionário Prático Ilustrado. Atualizado e aumentado por José Lello e Edgar Lello. Porto: Lello
& Irmão, 1970. 3v. v.1, p.1-680; v.2, p.681-1312.
GAIO SOBRINHO, Antônio. São João del-Rei através de documentos. São João del-Rei: UFSJ, 2010. 260p. p.135.
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli
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