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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rasoura das Dores

                                                                             
Rasoura é uma pequena procissão, circunscrita aos arredores da igreja donde sai. Dizem que tamanho não é documento. Como de fato, o pequenino cortejo processional não dispensa uma certa pompa e aparato.

No quarto domingo da quaresma sai a Rasoura de Nossa Senhora das Dores, da Igreja do Carmo, em São João del-Rei, às 8 horas. A veneranda imagem, de impressionante fisionomia, é incensada. Espadas prateadas estão cravadas em seu peito, um manto roxo aveludado recobre-lhe o corpo. Seu olhar de sofrimento nos remete à Paixão Sagrada.

A orquestra e seu coro executam o O vos omnes, que nos faz refletir se há dor maior que a daquele martírio de salvação, de seu Filho muito amado, Nosso Senhor. Os terceiros carmelitas vestidos com hábitos talares, velas à mão, vão conduzi-la.

De fora, o sino anuncia tristemente a rasoura e a excelente Banda de Música “Santa Cecília” faz correr arrepios no corpo, executando a comovente e tocante marcha fúnebre “Saudades”, do são-joanense Benigno Parreira. Sob o pálio, o padre segue contrito com o ostensório e a capa de asperges. O Turiferário vai enfumaçando o ambiente, que fica com aquele perfume religioso.

Outra marcha torna o ar respeitoso e contemplativo. O Cruciferário e os Ciriais abrem alas; mais atrás, as chamas bruxuleantes dos Ceroferários. A rasoura segue vagarosa descendo a Rua do Carmo. Contorna-lhe a praça com o vistoso Chafariz da Municipalidade. Diante do cemitério da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo, fazem uma curta parada. A Mãe Dolorosa volta-se para o enorme portão de ferro trabalhado. Um coral ali posicionado a saúda com o “Stabat Mater”, para que a Senhora lacrimosa se compadeça das almas dos carmelitas ali sepultados.
            
Numa sacada de antigo sobrado, atiram-lhe uma chuva de pétalas de rosas. Se o andor fosse do Rosário, os congadeiros cantariam: “Lá do céu tá caíno fulô!”... São as graças infinitas, que caem do céu sobre nós. O andor estaciona para receber as flores: está “dando a graça” àqueles devotos.
            
O sino já anuncia a chegada. Entra sob palmas. A banda municipal, de fora, encerra a participação.  A orquestra, de dentro, retoma a função musical na missa. O celebrante lembra que “a fé nos edifica” e que “a procissão não é um passeio; é uma peregrinação, um símbolo da jornada terrena rumo à salvação celeste”.
            
Apurando os ouvidos já se ouve o dobre lá no São Francisco. É a Rasoura dos Passos, de igual valor e beleza. Muitos devotos saem de uma vão para a outra. A gradação das cores rosa-lilás-roxo das hortências do andor, no matiz da contrição, proporciona uma contemplação sui-generis, da piedosa imagem. Um devoto cuidadoso inseriu bailarinas amarelas entre elas, aquelas pequenas orquídeas mimosas (Oncidium), dando vida ao que parece morto de dor. A vida supera. E assim vão os fiéis se preparando espiritualmente para a soleníssima Procissão do Encontro. Mas esta é logo mais, à noite...

Rasoura das Dores.

Notas e Créditos


* Texto: Ulisses Passarelli, quaresma de 2001
* *Foto: Iago C. S. Passarelli, 10/03/2013

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