Cristóvão é o santo protetor dos motoristas, festejado a 25 de julho.
Teria vivido na Síria, ao tempo do imperador romano
Décio. Pouco se sabe a respeito de sua história, que assume ar lendário. Seu
nome verdadeiro seria Óforo, um guerreiro imbatível, de proporções agigantadas
e grande força física. Serviu a um rei e se orgulhava do poderio de seu senhor, até
que se decepcionou ao vê-lo persignar-se ao ouvir a palavra diabo. Como poderia
sua majestade ter medo do tal? Então o maligno seria mais poderoso...? Assim procurou o demônio e passou a servi-lo
com maldades. Também teve decepção ao ver um dia o capeta tremer de medo diante
de uma pequena cruz de madeira e indagou-lhe a razão. Respondeu-lhe satanás que
temia não a cruz mas aquele que nela morrera e ali estava simbolizado. Obcecado
em servir a um senhor cada vez mais forte e que nada temesse, procurou se
informar sobre Cristo. Um monge lhe disse que o Messias tudo vencia pelo amor e
bondade e que para segui-lo seria necessário servir ao próximo. Sugeriu-lhe
ajudar as pessoas na travessia de um rio impetuoso que por lá havia. E assim
foi cumprir. Certa noite um menino pequeno chegou-se a ele e pediu ajuda para
atravessar as águas. Não haveria dificuldade. O hercúleo Óforo carregou-o
facilmente aos ombros. Ocorre que o menino foi pesando de forma insuportável e
ao chegar à outra margem, já o homem tão forte não tolerava o peso do pequenino
e caiu de joelhos. “Como pode um menino
pesar tanto?”, indagou Óforo. O menino se transfigurou luminoso em homem,
revelando-se como o Salvador e disse-lhe: “Eu
sou Jesus a quem serves e o meu peso corresponde aos pecados da humanidade que
estou carregando. Doravante você se chamará ‘Cristóvão’, ou seja, ‘o que leva
Cristo’.” E desapareceu .
Sua festa tem como ponto alto a bênção dada aos
motoristas. Bênção aliás especialmente bem-vinda nesse tempo de violência no
trânsito .
Em São João del-Rei / MG há uma capela de que é orago, na
antiga “Rua do Barro” (atual Coronel Tamarindo), datada de 1969, sendo na
ocasião presidente o sr. João Carlos Tavares da Silva, vice, Tácito Moura,
secretário, Ranulfo José Ferreira e tesoureiro, Sebastião Batista de Carvalho .
Outro ponto de sua devoção na cidade
é a Igreja de São Gonçalo Garcia, onde existe uma grande imagem desse santo.
A festa foi iniciada no bairro de Matosinhos em 1977,
segundo se diz, costume trazido da Igreja de São Gonçalo Garcia. Contudo a
festa prosseguiu também naquela igreja, como prova esta nota do ano seguinte :
“realiza-se no próximo dia 23, domingo,
às 16 horas, na Igreja de São Gonçalo Garcia, missa em homenagem ao patrono dos
motoristas, São Cristóvão. Após a missa será realizada a procissão.”
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Procissão de São Cristóvão na Avenida Sete de Setembro em Matosinhos. |
Os responsáveis iniciais por
essa festa em Matosinhos faleceram, exceto o sr. Gilberto de Sousa, grande
incentivador do evento. Também foi destacado festeiro o sr. Salim Eustáquio, dentre
outros. A festa mantém as características iniciais, contudo não há mais
barraquinhas, nem a missa sobre uma carreta, estacionada num posto de
combustíveis da BR-265. Nesse local existe a imagem de São Cristóvão,
entronizada numa gruta artificial de pedras. Era usada na festa. Em 1990 passou
a se adotar nova imagem, em madeira, confeccionada pelo artista sacro Osni
Paiva. A imagem segue em procissão após a missa, num andor em forma de
carroceria de caminhão, montado sobre um reboque. A procissão motorizada conta
com muitos carros de passeio, motocicletas, caminhonetes, peruas, caminhões –
todos tocando buzina – pelas ruas principais da cidade. Um caminhão, à guisa de
abre-alas, segundo observação de julho de 2005, seguiu na dianteira, com uma
cruz branca, de madeira, armada em pé na carroceria, ladeada da bandeira do
Brasil por um lado e a da diocese por outro. Na saída há foguetório e toques
festivos de sinos. Os devotos se amontoam sobre as carrocerias. Na esfuziante
chegada ocorre a bênção das chaves dos veículos e coletam-se donativos.
Sua devoção é crescente em São João del-Rei, quiçá movida
pelo aumento da violência no trânsito. Em
2004 surgiram três festas novas: uma no ponto final dos ônibus do Bairro
Tijuco, onde nem mesmo há igreja católica; outra no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno e uma
terceira também em área distrital, com procissão motorizada da Igreja de São Francisco de Assis
(Emboabas) até a do Sagrado Coração de Jesus (Cananéia).
Veja mais a respeito em:
A Procissão Motorizada de 2013
Procissão de São Cristóvão, São João del-Rei
- STARLING, Nair.
Nossas lendas. 4.ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves,
1954.
-
Sobre sua festa, que ocorre em várias cidades, ver: SILVA, Antônio Clemêncio.
Procissão de São Cristóvão. Anuário do 34º Festival do Folclore, 9-16 ag. /
1998.
-
Tribuna Sanjoanense, n.224, 21/07/1978.
* Texto e fotografia (04/08/2013): Ulisses Passarelli
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