Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 20 de julho de 2012

Devoção a São Cristóvão em São João del-Rei


Cristóvão é o santo protetor dos motoristas, festejado a 25 de julho.

Teria vivido na Síria, ao tempo do imperador romano Décio. Pouco se sabe a respeito de sua história, que assume ar lendário. Seu nome verdadeiro seria Óforo, um guerreiro imbatível, de proporções agigantadas e grande força física. Serviu a um rei e se orgulhava do poderio de seu senhor, até que se decepcionou ao vê-lo persignar-se ao ouvir a palavra diabo. Como poderia sua majestade ter medo do tal? Então o maligno seria mais poderoso...?  Assim procurou o demônio e passou a servi-lo com maldades. Também teve decepção ao ver um dia o capeta tremer de medo diante de uma pequena cruz de madeira e indagou-lhe a razão. Respondeu-lhe satanás que temia não a cruz mas aquele que nela morrera e ali estava simbolizado. Obcecado em servir a um senhor cada vez mais forte e que nada temesse, procurou se informar sobre Cristo. Um monge lhe disse que o Messias tudo vencia pelo amor e bondade e que para segui-lo seria necessário servir ao próximo. Sugeriu-lhe ajudar as pessoas na travessia de um rio impetuoso que por lá havia. E assim foi cumprir. Certa noite um menino pequeno chegou-se a ele e pediu ajuda para atravessar as águas. Não haveria dificuldade. O hercúleo Óforo carregou-o facilmente aos ombros. Ocorre que o menino foi pesando de forma insuportável e ao chegar à outra margem, já o homem tão forte não tolerava o peso do pequenino e caiu de joelhos. “Como pode um menino pesar tanto?”, indagou Óforo. O menino se transfigurou luminoso em homem, revelando-se como o Salvador e disse-lhe: “Eu sou Jesus a quem serves e o meu peso corresponde aos pecados da humanidade que estou carregando. Doravante você se chamará ‘Cristóvão’, ou seja, ‘o que leva Cristo’.” E desapareceu [1].

Sua festa tem como ponto alto a bênção dada aos motoristas. Bênção aliás especialmente bem-vinda nesse tempo de violência no trânsito [2].

Em São João del-Rei / MG há uma capela de que é orago, na antiga “Rua do Barro” (atual Coronel Tamarindo), datada de 1969, sendo na ocasião presidente o sr. João Carlos Tavares da Silva, vice, Tácito Moura, secretário, Ranulfo José Ferreira e tesoureiro, Sebastião Batista de Carvalho [3].

Outro ponto de sua devoção na cidade é a Igreja de São Gonçalo Garcia, onde existe uma grande imagem desse santo.

A festa foi iniciada no bairro de Matosinhos em 1977, segundo se diz, costume trazido da Igreja de São Gonçalo Garcia. Contudo a festa prosseguiu também naquela igreja, como prova esta nota do ano seguinte [4]: “realiza-se no próximo dia 23, domingo, às 16 horas, na Igreja de São Gonçalo Garcia, missa em homenagem ao patrono dos motoristas, São Cristóvão. Após a missa será realizada a procissão.”         

Procissão de São Cristóvão na Avenida Sete de Setembro em Matosinhos.
            
Os responsáveis iniciais por essa festa em Matosinhos faleceram, exceto o sr. Gilberto de Sousa, grande incentivador do evento. Também foi destacado festeiro o sr. Salim Eustáquio, dentre outros. A festa mantém as características iniciais, contudo não há mais barraquinhas, nem a missa sobre uma carreta, estacionada num posto de combustíveis da BR-265. Nesse local existe a imagem de São Cristóvão, entronizada numa gruta artificial de pedras. Era usada na festa. Em 1990 passou a se adotar nova imagem, em madeira, confeccionada pelo artista sacro Osni Paiva. A imagem segue em procissão após a missa, num andor em forma de carroceria de caminhão, montado sobre um reboque. A procissão motorizada conta com muitos carros de passeio, motocicletas, caminhonetes, peruas, caminhões – todos tocando buzina – pelas ruas principais da cidade. Um caminhão, à guisa de abre-alas, segundo observação de julho de 2005, seguiu na dianteira, com uma cruz branca, de madeira, armada em pé na carroceria, ladeada da bandeira do Brasil por um lado e a da diocese por outro. Na saída há foguetório e toques festivos de sinos. Os devotos se amontoam sobre as carrocerias. Na esfuziante chegada ocorre a bênção das chaves dos veículos e coletam-se donativos.

Sua devoção é crescente em São João del-Rei, quiçá movida pelo aumento da violência no trânsito. Em 2004 surgiram três festas novas: uma no ponto final dos ônibus do Bairro Tijuco, onde nem mesmo há igreja católica; outra no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno e uma terceira também em área distrital, com procissão motorizada da Igreja de São Francisco de Assis (Emboabas) até a do Sagrado Coração de Jesus (Cananéia).

Veja mais a respeito em:
A Procissão Motorizada de 2013
Procissão de São Cristóvão, São João del-Rei




[1]  - STARLING, Nair. Nossas lendas. 4.ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1954.
[2] - Sobre sua festa, que ocorre em várias cidades, ver: SILVA, Antônio Clemêncio. Procissão de São Cristóvão. Anuário do 34º Festival do Folclore, 9-16 ag. / 1998.
[3] - Jornal de Minas, n.6, 22-29/05/1969.
[4] - Tribuna Sanjoanense, n.224, 21/07/1978.

* Texto e fotografia (04/08/2013): Ulisses Passarelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário