Na zona rural de Prados/MG, no platô de um morro elevado de onde se descortina vasto panorama da região, existe uma localidade conhecida por Livramento, centrada por uma construção religiosa e seus anexos de suporte aos eventos festivos: a Capela de Santo Inácio e Nossa Senhora do Livramento.
Trata-se de construção setecentista, que, passou alterações arquitetônicas que lhe alteraram o aspecto original. A torre por exemplo é de construção bem mais recente. Fotografia antiga dos anos cinquenta a mostra sem torre, mas basicamente no mais, com a mesma fachada.
Segundo VALE (1985)...
"Em 1740 mais ou menos, Joseph Pires de Siqueira vendeu um terreno para o Padre Manoel Gomes da Costa, em nome da Capela de Santo Ignácio e Nª.Sª. do Livramento. Assim a atual Capela do Livramento era designada, como se pode ver no assentamento de batismo 4º, fls.270 da Paróquia de Prados. Já em 1806, a mesma Capela era mencionada como capela do Padre Manoel Gomes da Costa, cf. assento de óbito do Livro 6º, fls.213v. da Paróquia de Prados." (in: Nota nº2)
O mesmo autor informa que o Arcebispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz, a dois de abril de 1753 autorizou o Padre Manoel Gomes da Costa a construção dessa capela, em sua Fazenda Ribeirão do Campo, Freguesia dos Prados (p.158); e ainda que, em 1826, o "Distrito da Capela Nova do Livramento", vinculado ao Arraial de Prados, tinha população de 276 pessoas.
MATOS (1981) aponta para o Arraial do Livramento no ano de 1837 o total de 46 fogos, ou seja, propriedades, e confirma sua subordinação a Prados (p.125).
Anualmente a pequena localidade se vê lotada de fiéis e visitantes em concorrida romaria junina, dedicada à Santa Virgem Maria, congregando gente de toda redondeza. Muitos ônibus e vans trazem os devotos; no estacionamento se avista grande quantidade de automóveis; muita gente também comparece de motocicleta; e ainda persiste o velho costume das pessoas das cercanias virem à pé ou a cavalo. Do alto da capela se avista abaixo a cidade de Dores de Campos e é possível ver as pessoas vindo em caminhada daquela urbe por meio de uma trilha no campo, subindo grande ladeira.
O comércio ambulante fervilha no largo, abarrotado de barracas vendendo comes e bebes, objetos religiosos, utensílios de cozinha, eletrônicos, ferramentas e quinquilharias. A movimentação é intensa. Os romeiros se esparram no perímetro, deitam na grama, ouvem música, fazem pique-nique, e trazendo de casa os mantimentos e algumas panelas, improvisam trempes de pedras, alimentadas por lenha catada no mato (o tempo da festa coincide com a estiagem e assim a lenha está bem seca) fazendo almoço e churrasco. Por todo lado vê-se o foco de fumaça. Assim passam o dia, de maneira descontraída.
A capela é intensamente visitada e a procissão muito concorrida. Na frente do adro pedintes clamam a piedade alheia.
Esta romaria é sem dúvidas uma das grandes festas regionais, com imensa capacidade de congregar pessoas e bem merece um estudo aprofundado. As fotografias abaixo revelam alguns momentos do festejo, por ocasião da visita de uma folia de São João del-Rei.
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Aspecto geral da fachada da Capela do Livramento e muro do adro. |
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Interior da capela, consideravelmente estreito. |
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Imagem de Nossa Senhora do Livramento ornada de flores no andor e munida da larga fita de cetim para o ósculo devoto. |
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Pedintes diante do adro da capela. |
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Visão parcial do estacionamento no dia maior, pelo começo da tarde, evidenciando-se a grande movimentação. Ao fundo: à esquerda parte das barracas de comércio; à direita, torre da capela. |
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Folieiros cantam nos arredores da capela. |
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Outro aspecto da presença da folia. |
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Folieiros posam para fotografia junto a um anexo da capela. Ao fundo, junto à torre, aparece um típico mastro com sua bandeira emoldurada. Componentes - da esquerda para direita: Vicente (violão), Luisinho (sanfona), Ulisses (bandeira), Antônio (pandeiro, ao centro), Antônia (xique-xique, à frente), Pedro Roque (cavaquinho, encoberto atrás de dona Antônia), Conceição (maraca, ao fundo), José do Rosário (pandeiro), Alencar (triângulo), Joãozinho (caixa). |
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Folia do Divino "Embaixada Santa", Bairro Caieira, São João del-Rei/MG. Folião: Ulisses Passarelli. Embaixador: Luís Carlos Rosa. |
Referências Bibliográficas
MATOS, Raimundo José Cunha. Corografia Histórica da Província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1981. v.1, 403p. Título III: Comarca do Rio das Mortes.
VALE, Dario Cardoso. Memória Histórica de Prados. Belo Horizonte: [s.n.], 1985.
Notas e Créditos
* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Cida Salles, 27/06/2009
*** Obs.: existe uma narrativa popular sobre a origem desta capela, interligando-a à do Elvas e a da Santíssima Trindade de Tiradentes. Leia a respeito neste blog clicando no seguinte link:
TIRADENTES/MG: DUAS LENDAS RELIGIOSAS