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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 1 de março de 2016

Retalhos para a colcha da história - parte 2

Coletânea de notas hemerográficas de São João del-Rei e cercanias (1900-1948)

O que foi dito como introdução à primeira parte desta postagem (acesso por link ao final deste post) serve exatamente a esta segunda parte. Portanto, por questão de praticidade, para não repetir as palavras, vamos direto à exposição da nova coletânea de notícias avulsas e independentes. É recomendada a leitura das notas de rodapé, que contém alguns comentários sobre as notícias.

Poço do Olho d'Água no Ribeirão São Francisco Xavier,
Serra do Lenheiro, São João del-Rei/MG

1900:
- Reforma na Igreja das Mercês – “Estão muito adeantados os reparos que, na Igreja das Mercês, estão sendo feitos pela actual Mesa Administrativa. O forro já está decorado, tendo sido estampado um retrato da Virgem das Mercês, ladeado pelos seus servos S.Pedro Nolasco e S.Raymundo Nonato. As obras restantes prosseguem.” (O Combate, n.10, 05/09/1900)

1901:
- “Praça Pedro Paulo – A Camara Municipal, reconhecendo os relevantes serviços prestados pelo illustre Coronel Pedro Paulo da Fonseca Galvão, em sua sessão, do 28 do passado, deu o nome do benemerito militar, á Praça, que se estende, da ponte das Officinas[1] ao Ribeirão d’Água Limpa. Foi um acto de justiça. Apresentamos ao Coronel Pedro Paulo os nossos parabéns.” (O Combate, n.76, 03/07/1901)

- “Mercado Municipal – Dentre as medidas redundantes em economia ao Thesouro Municipal, está o arrendamento do nosso Mercado e sabemos que está no animo da nossa Municipalidade por em hasta publica o arrendamento d’aquelle edifício publico. Ultimamente a fiscalização do Mercado Municipal tem ficado bastante despendiosa para os Cofres Publicos municipaes e por esse motivo quer e pretende a Camara arrendal-o e para isso estão sendo estudadas as bazes respectivas.” (O Combate, n.104, 21/09/1901)

- Hotel Oeste de Minas[2] (anúncio): “Attenção – Hotel Oeste de Minas – Valentim e Santos Martinelli – aposentos arejados, salões, bilhares, parques, banheiros, duchas e carro para conducção de hospedes, isto gratis. Não aceitam tuberculosos. Diarias: adultos...7$000 Creanças e creados pagarão um preço razoável, na occasião combinado. As famílias ou grande numero de pessoas gozarao do abatimento que sera convencionado. S.João d’El-Rey”. (O Combate, n.128, 30/11/1901)

1905:
- “Quaresma – Ao que consta, ouviremos, pela Quaresma e semana santa, o Stabat Mater de Rossini, o de Calvo, o de Pergolesi e o de nosso inolvidável conterrâneo Presciliano Silva; as missas e credos de Giorza, de Salvi e de Bellini; e, na sexta-feira maior, a majestosa composição de L.Perozi: Ceia e Morte de Christo. É uma excelente nova para os amantes da boa musica, nada sendo preciso accrescentar acerca do desempenho reservado a taes composições, que está confiado á orchestra do maestro Ribeiro Bastos.” (O Repórter, n.2, 05/02/1905)

- “Relógio – Já sahiu da Europa um excelente regulador, que a Mesa da Irmandade do Sacramento, com auxilio da Camara, destina a nossa egreja Matriz, em substituição ao velho relógio que, pelo seu incessante trabalhar, já tem as molas principaes estragadas, regulando mal.” (O Repórter, n.2, 05/02/1905)

1906:
- Reforma do Mercado– “Estão muito adeantadas as obras, que estão sendo realisadas no Mercado Municipal e destinadas a receberem a nova grade de ferro, que a Camara manda colocar ali, levando mais esse acto para o activo de seus serviços a esta cidade e no Municipio.” (O Repórter, n.25, 29/07/1906) [3]

- “Nuvem de gafanhotos – Como em Juiz de Fora, no mesmo dia 9, segundo telegramma transmitido dessa cidade para a imprensa carioca, seguindo o mesmo rumo de norte a sul, cerca de 2 horas da tarde, atravessou aqui uma grande nuvem de gafanhotos, em certos pontos tão intensa que conseguiu encobrir os raios solares. Alguns eram de tamanho nunca aqui visto, não deixando de causar um certo temor na população. Felizmente a travessia dos terríveis insectos foi de uma hora, mais ou menos.” (O Repórter, n.37, 14/10/1906)

1907:
- “Ramal de Pitanguy – Por estes três meses, diz telegrama do snr. Dr. Chagas Doria ao snr. Ministro da Viação, deverá ser inaugurado o ramal de Pitanguy, melhoramento importante, que, desde muito tempo, está a reclamar a sympathica cidade sertaneja.” (O Repórter, n.22, 23/06/1907)[4]

- Problemas sanitários – “O dr. F. Catão realmente precisa de tomar um destes trens, mas não para se ir de vez, mas para voltar o mais breve possível, e trazer em sua companhia gente que nos ajude a fazer reclamações contra a agua suja, a praia[5] suja, o matadouro sujo, as ruas sujas que temos nesta hospitaleira, e salubre cidade.” (O Grypho, n.10, 24/11/1907)

1917:
- “Chuva Providencial – Parece que alguém lá das alturas, attendendo ás reclamações do povo, delle condoeu-se e mandou, no segundo dia de festas em Mattosinhos, uma chuvinha miúda incumbida de aplacar o pó que era barbaro e inclemente. Ninguém lá de cima tem obrigação de mitigar os soffrimentos dos que estão cá em baixo; compete somente á Câmara mandar irrigar o Largo de Mattosinhos e trazer-lhe uma capina em regra, porque só ela tira proventos do povo com pesados impostos e taxas absurdas. Os negócios de nossa Câmara vão de mal a pior. É o povo queixar-se ao bispo.” (A Nota, n.24, 30/05/1917)[6]

- “Apparecem os gafanhotos – Lá pelos lados de Aguas Santas e nas imediações do estribo do Brighentti, começam a aparecer densas nuvens de gafanhotos, pondo em polvorosa o pessoal por onde passam os bandos dos danninhos insectos. Quem nos trouxe a noticia affirma-nos que durante a passagem dos terríveis orthopteros nota-se uma escuridão qual a da noite; afirma-nos mais o nosso informante que o espectaculo é medonho e quem o presencia tem a impressão perfeita do barulho de uma hélice de aeroplano em franca rotação. É bem provável que, devido a nossa cidade achar-se nas proximidades onde os gafanhotos estão aparecendo tenhamos dentro em breve de observar também tão terrível espectaculo. Caso apareça tão terrível flagello entre nós, como providenciará a nossa Câmara? É ir-se preparando desde já...” (A Nota, n.25, 31/05/1917)[7]

- “Voluntários de manobras – No quartel do 51º batalhão de Caçadores encerrou-se hontem a inscripção para o voluntariado de manobras. A mocidade de S.João d’El-Rey acaba de dar mais uma prova de seu nunca desmedido civismo. Alistaram-se 213 voluntarios, dos quaes 202 foram considerados aptos, 9 julgados incapazes e 2 não compareceram á inspecção medica. Podemos dizer com orgulho que S.João d’El-Rey é a cidade de Minas que maior numero de reservista tem dado ao exercito; com o contingente de agora esse numero attinge acerca de quatrocentos homens.” (A Nota, n.70, 21/07/1917)[8]

1923:
- Aquisição de terreno – a Resolução Municipal nº481, de 31/03/1923, autoriza o executivo à compra de um terreno, “por quantia não excedente á da compra effectuada ao sr. Francisco Messias da Silveira, a parte pertencente a d. Ermelinda da Silveira Milward no immóvel chamado “Olhos de Agua”, junto ás vertentes da represa velha do abastecimento desta cidade.” (A Tribuna, n.468, 15/04/1923)[9]

1926:
- “Estação de Caburu – É justo salientarmos nesta folha os constantes esforços com que contribuiu para a construção da estação de Caburu o sr. cel. Antônio Balbino de Sousa. Aquelle nosso prezado amigo desdobrou-se em boa vontade e atividade para a consecução do importante “desideratum”, tornando-se, portanto, merecedor dos mais effusivos louvores.” ( A Tribuna, n.751, 28/05/1926)[10]

- Escola distritais – a lei municipal nº496, de 27/11/1926, autoriza a criação de uma escola noturna na Colônia José Teodoro e outra em “Nazareth”, atual cidade de Nazareno. (A Tribuna, n.814, 30/12/1926)[11]

- Estrada de Turvo – por força da lei municipal nº497, de 27/11/1926, a Câmara Municipal de São João del-Rei autorizou a despesa de 10:000$000 (dez contos de réis), como subvenção parcelada para o exercício financeiro do ano seguinte, para construção da estrada de automóveis interligando esta cidade a Turvo, atual Andrelândia, no Sul de Minas Gerais. (A Tribuna, n.814, 30/12/1926)

1932:
- Festa no Albergue – “Encerraram-se com a procissão de domingo último, dedicada a S.José, as tradicionais festividades que se realisam na Capela do Albergue Santo Antonio. O préstito religioso de domingo esteve brilhante, comparecendo elevado numero de fieis. A banda do 11º R.I. abrilhantou todas as festividades, quer aos tríduos, quer a procissão. De ordem da Prefeitura foi iluminado o morro do Albergue, oferecendo este agradável impressão”. (Folha Nova, n.8, 24/04/1932)[12]

1938:
- “Missa dos Alfaiates - A comissão de alfaiates encarregada de promover a missa em honra à S.Geraldo, o protetor da classe, pede-nos avisemos que por falta de sacerdote não pode ser celebrada hoje, dia do milagroso santo, ficando por isso transferida para amanhã, ás 7 horas na Igreja Matriz. A referida comissão faz um apêlo para que todos os alfaiates compareçam a esse ato religioso, afim de ganharem graças para o constante progredir religioso desta tão numerosa classe operária.” (Diário do Comércio, n.181, 16/10/1938)[13]

- “Nova rodovia de S.João del-Rei á Barbacena – As empresas de transporte desta cidade, estando á frente o Expresso S.João e o fazendeiro Abel Carlos Moreira Campos, do distrito de Padre Brito, projetaram a construção de uma linha rodoviária, ligando o distrito de S.Francisco do Onça ao Ponto Chique, quilometro 27 da estrada de Ibertioga, ficando desse modo S.João del-Rei ligada a Barbacena por uma nova via, num percurso de 80 quilometros certos. Essa rodovia destina-se principalmente ao tráfego de caminhões pesados e de ônibus com as rampas em gráca necessários a tais transportes.” (Diário do Comércio, n.212, 23/11/1938)

1948:
- “De Prados - Natal dos pobres - Consoante o costume, realizou-se nesta cidade, a 25 de dezembro, o já tradicional almoço ajantarado oferecido pelas exmas. familias aos pobres da localidade. Devido ao mau tempo reinante, essa interessante refeição coletiva não teve a mesma concorrência dos anos anteriores, tendo dela participado uns 200 pobres. As respeitáveis irmãs de caridade da Santa Casa serviram o almoço, com a cooperação de distintas jovens do nosso escol social.” (Diário do Comércio, nº2.975, 04/01/1948)

Placa indicativa improvisada no distrito de Emboabas (ex São Francisco do Onça)
indicando o entroncamento para Ponto Chique. 

Referências Hemerográficas

Jornais editados em São João del-Rei; acervo da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d’Almeida, desta cidade
Referência Bibliográfica

Prontuário Geral das Estações Ferroviárias, 1945. 2.ed. Belo Horizonte: Departamento de Estatística, 1947.
VIEGAS, Augusto. Notícia de São João del-Rei. 3.ed. Belo Horizonte: [s.n.], 1959.

Notas e Créditos

*Texto, pesquisa e fotografias: Ulisses Passarelli
** Leia também neste blog a primeira parte desta postagem como mais notícias históricas:



[1] - Ponte das Officinas: o sentido exato não está claro e pode se referir a duas pontes: 1- havia uma ponte sobre o Córrego do Lenheiro interligando a Rua Antônio Rocha à Paulo Freitas, em frente às oficinas da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Esta ponte não existe mais. Ficava exatamente entre as atuais pontes Inácio Zózimo de Castro e Monsenhor Tortoriello; 2- pequeno pontilhão da via férrea sobre o Córrego da Tabatinga, na saída da estação, entrada do Bairro São Judas Tadeu (antiga Caieira). É possivelmente a esta ponte que se refere o texto, pois dela à Ponte do Ribeirão da Água Limpa ainda hoje é o logradouro conhecido por Praça Pedro Paulo, popularmente, “PPP”, outrora chamada “Estrada da Tabatinga”. Era o caminho antigo de acesso a Matosinhos.
[2] - O Hotel Oeste de Minas sofreu terrível incêndio em 1919, que representou o seu fim. O prédio, contudo, construção muito sólida, foi mantido e hoje em excelente estado de conservação, sedia o CESC (Centro Social e Cultural), do 11º BI, Regimento Tiradentes, do Exército Brasileiro.
[3] - O mercado naquele tempo ficava exatamente ao lado da Prefeitura Municipal, no terreno onde mais tarde foi construído o Fórum, prédio que hoje serve à Câmara Municipal.
[4] - O ramal referido era um trecho de via férrea de cerca de 45 km, que interligava a cidade de Pitangui à “Linha do Sertão” da Estrada de Ferro Oeste de Minas, com a qual se encontrava exatamente na Estação de Velho de Taipa, km 436,928. A inauguração se deu em 23/11/1907.
[5] - Praia: nome corriqueiro que os são-joanenses dão ao Córrego do Lenheiro, que entrecorta a cidade.
[6] - Tradicionalmente, desde o século XVIII, eram três dias de festejos subsequentes: Domingo de Pentecostes consagrado ao Divino Espírito Santo, segunda-feira (o segundo dia), consagrado ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos e a terça a Nossa Senhora da Lapa.
[7] - Até 1930 a Câmara Municipal congregava todos os poderes. Um dos vereadores era escolhido para ser o agente executivo, cargo que corresponde ao atual de prefeito. Daí, em todas estas notícias antigas, os pedidos de providências e as referências a autorizações, sempre partem da Câmara. Somente com o Estado Novo de Getúlio Vargas se estabelece o regime de prefeituras, separando o executivo do legislativo.
[8] - Notar que este fato ocorre no período coincidente com o da 1ª Guerra Mundial.
[9] - Ainda hoje a região do Olho d’Água, no Ribeirão São Francisco Xavier, em área do Parque Ecológico Municipal da Serra do Lenheiro, é fornecedora de água para abastecimento público.
[10] - Este Sr. Antônio Balbino de Sousa, foi Imperador da Festa do Divino no ano de 1923, salvo caso de engano por se tratar de um homônimo. A este respeito veja a postagem: AS FESTAS DE 1923. Estação de Caburu: ficava no distrito são-joanense de São Gonçalo do Amarante, ex Caburu. Esta notícia é intrigante pela data (1926), porque consta que a estação deste distrito só foi inaugurada quatro anos depois, em 1930 (A Tribuna, n.1.012, 16/02/1930), com o nome de Mestre Ventura. Seria a mesma plataforma férrea? Antigos moradores de São Gonçalo referem-se a uma primitiva parada do trem no km 123, contudo, a Estação de Mestre Ventura ficava no km 127,137. Seriam as mesmas plataformas de embarque e desembarque? Ou a inaugurada em 1926 era a parada do Km 123, depois substituída pela estação de 1930 no km 127? Para aumentar a controvérsia, o “Prontuário Geral das Estações Ferroviárias”, referenciado nesta postagem, dá para a Estação de Mestre Ventura a data de 07/09/1931... Seria ainda uma remodelação daquela de 1930? Eis um campo aberto a pesquisas de confirmação. A estação foi demolida após a erradicação dos trilhos e dela só restam vestígios das pedras da plataforma e a caixa d’água.
[11] - Nazareno emancipou-se de São João del-Rei em 1953. A escola da colônia não existe a muito tempo e está arruinada.  
[12] - A Capela de Santo Antônio, do Albergue Santo Antônio, nos limites entre a Rua Frei Cândido e Praça Dom Silvério, no Bairro das Fábricas, data de 1912.
[13] - Outra notícia da Festa de São Geraldo promovida por alfaiates surge no jornal A Tribuna, n.692, de 25/10/1925, que diz que o santo é “protetor da laboriosa classe”. Daria motivo para um oportuno estudo a hipótese da construção da capela deste santo no alto do morro que ganhou seu nome, ter sido ou não sob a influência ou iniciativa dos alfaiates, haja vista estar nos limites do Bairro das Fábricas, onde se situavam várias fábricas de tecidos, estabelecidas a partir do final do século XIX. Afirmou Augusto Viegas que a Capela de São Geraldo foi “erigida em 1914, graças principalmente aos esforços de Lúcio Justino de Andrade, modesto operário” (p.262). Qual a real importância que o estabelecimento das tecelagens teve na urbanização daquela área da cidade?

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