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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 15 de março de 2016

A Morte do Quilombola

Segue o registro de mais um conto popular, desta feita na modalidade "causo", narrando a passagem de um escravo fugido em idade avançada. Paralelo à sabedoria do homem simples, a nota maior é a reflexão sobre a salvação da alma. Foi relatado em São João del-Rei, como sendo muito antigo... 

*  *  *

Diz que foi no tempo do cativeiro, a cento e tantos anos atrás... Certo padre em longa jornada, passando à cavalo num ermo de serra, beirando umas grotas, avistou uma tapera e nela um velho fugitivo das correntes do cativeiro. 

O velho escravo estava em agonia de morte. O padre imaginou que não haveria outra oportunidade e querendo salvar a alma do quilombola, pediu para ele: 

_ Fala: "Jesus, Maria e José!"

Mas o moribundo já muito idoso, pleno em humildade, simplório ao extremo, só conseguiu com dificuldade dizer: 

_ "Cará na maromba tá que nem fubá..."

Tantas vezes o sacerdote pediu ao velho quilombola que falasse o nome de Jesus, tantas ele repetia a mesma frase, refletindo sua única ambição, quem nem sequer tinha força física para cumprir: colher cará (*) na maromba, um cercado improvisado com varas, pois o alimento estava no ponto da colheita, sequinho, igual fubá. 

E assim entregou-se à morte. O padre, certamente, entendeu que apesar de não ter dito o nome do Salvador aquela alma estaria salva pela misericórdia do Pai, em virtude das agruras que a vida lhe proporcionou e a pureza que conservou consigo. 


Notas e Créditos

* Cará: conhecido por cará-do-ar, cará-de-cerca ou cará-de-pedra é uma planta trepadeira que produz tubérculos comestíveis. Pertence ao gênero Discorea. 
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Informante: Aluísio dos Santos, São João del-Rei, jan./1994.

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