Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 24 de março de 2016

Duas lendas do ouro são-joanense

Várias localidades das Vertentes surgiram da mineração do ouro ou a vivenciaram durante um período de sua história. O ciclo do ouro deixou fortes impressões na cultura popular (*). Ainda hoje, passados tantos anos, correm na boca do povo estórias alusivas àquela atividade econômica que foi muitas vezes o embrião de um núcleo urbano. O ouro é parte importante de nosso folclore. 

Contam (**), por exemplo, que o ouro de São João del-Rei foi descoberto nos arredores da atual Igreja do Carmo por três rapazes que localizaram um veio enorme. Começaram a extração às escondidas mas tiveram de parar por causa da grande quantidade de água subterrânea. A Igreja do Carmo teria sido construída bem em cima das principais "panelas" de ouro descoberta pelos três rapazes. Corre também a narrativa que esse famoso veio começaria na bêta do Tanque aos fundos do Barracão da Prefeitura, e como um túnel, passaria por baixo da Rua Marcondes Neves, da Rua Gomes Pedroso e da Praça Augusto das Chagas Viegas ficando as principais galerias por baixo do templo carmelita, onde imensas riquezas ainda existiriam. Dizem que a mineração naquele ponto era tão intensa que demandava centenas de escravos. Um desmoronamento certa feita soterrou trezentos trabalhadores braçais e alguns feitores. Depois disto, a escavação parou e construíram a Igreja do Carmo em cima, marcando o local da tragédia. 

A história contudo ensina que o ouro de São João del-Rei não foi descoberto nos arredores do Carmo, embora essa região da urbe também tenha sido escalavrada pelos almocafres, picões e alavancas. Os primeiros descobertos teriam se dado em 1704 no Alto das Mercês pelo português Manoel João de Barcelos e concomitantemente por Lourenço da Costa por detrás daquele morro, no Ribeirão São Francisco Xavier. 

Outro conto (***) diz que certo homem comprou uma velha bêta, praticamente improdutiva. Seu objetivo era reativá-la e ficar rico. Tinha uma ganância desmedida. Como a produção fosse baixa, querendo enriquecer, fez um trato com o capeta prometendo-lhe em troca da riqueza a própria filha como pagamento.

Certo dia a mocinha estava caminhando quando por acidente escorregou e caiu na bêta pedregosa. Lá no fundo o rabudo (****) a possuiu, confirmando assim o pacto. Correram para resgatá-la e de forma impressionante foi retirada de lá sem nenhuma lesão, algo inexplicável, pois qualquer um que ali caísse morreria sem dúvidas. 

Naquele mesmo dia acharam grandes pepitas de ouro e também nos dias consecutivos se achava do nobre metal em abundância. Lavraram o veio rochoso, como muito sucesso para riqueza do proprietário. 

Mas assim como o dono da bêta enriqueceu de repente, dado um prazo começou o infortúnio. O ouro sumiu da mina, nada se achava e o que tinha guardado foi perdido em gastos sucessivos e rápidos, até a miséria absoluta. O rico minerador terminou seus dias como um mendigo. 

Serra do Lenheiro no Alto das Mercês, São João del-Rei, 12/08/2013:
vestígios de mineração - à esquerda um mundéu; à direita, escavações e cascalheiras.

Notas e Créditos

* A exemplo desta afirmação, leia também neste blog: OURO: UM CICLO CULTURAL
** Informante: Sr. Aluísio dos Santos, 05/01/1994, São João del-Rei
*** Informante: Sr. Luís Santana, 19/01/1994, São João del-Rei
**** Rabudo: um dos muitos sinônimos do demônio... tinhoso, cão, bruto, capiroto, pemba.
***** Texto e fotografia: Ulisses Passarelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário