Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Relações com a Inconfidência Mineira


            Ainda com respeito à história de Matosinhos, cumpre notar sua relação com a Inconfidência Mineira, assunto estudado por HENRIQUES (2003), que ora transcrevo:

Matosinhos também teve participação na Inconfidência Mineira, tanto é que o desembargador José Pedro Machado Coelho Torres e o ouvidor Marcelino Pereira Cleto ali estiveram a mando do vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, dedicando um dia inteiro a inquirir pessoas suspeitas com o levante. Num dos casos, um pardo de nome Manoel da Costa Capanema, sapateiro, foi preso por insultar o jovem português Manoel Moreira que morava com a parda alforriada Josefa Teixeira. O sapateiro, na ânsia de tomar cachaça na taverna do português, por ocasião da festa do Divino Espírito Santo, não obteve sucesso, já que a mesma encontrava-se fechada. Aos brados e murros, já alcoolizado, Capanema passou aos insultos dizendo: “estes branquinhos do Reino que nos querem tomar nossas terras, cedo os haveremos de botar fora dela.” O sapateiro foi denunciado pelos que presenciaram o fato, entre eles o escrivão Antônio da Costa Braga e o Capitão Bernardo José Gomes da Silva Flores. Sendo inquirido pelo desembargador e ouvidor, foi preso em 22/09/1790. Foi, em 22/01/1791, remetido para o Rio de Janeiro em companhia de José Martins Borges e Vitoriano Gonçalvez Veloso. Finalmente foi absolvido, depois de mais de dois anos de prisão. Nesta mesma diligência foi ouvido Joaquim Pedro de Sousa Câmara, moço fidalgo da casa de sua majestade e sargento-mor da Cavalaria de Auxiliares da Comarca do Rio das Mortes e residente em Matosinhos. O assunto foi uma suposta carta enviada de Portugal por sua prima, Joana de Menezes e Valadares, alertando-o sobre um levante que haveria de acontecer nestas Minas Gerais. O assunto da referida carta foi ventilado pelo Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, num de seus depoimentos. Joaquim Pedro declarou que a intenção da missiva de sua prima tinha apenas intento de convencê-lo a regressar para a Corte, onde poderia viver com mais segurança ao lado de Sua Majestade. A carta foi enviada ao Governador Visconde de Barbacena e Joaquim Pedro não mais foi molestado pelas autoridades. Outro personagem envolvido na trama da Inconfidência Mineira e que posteriormente passou a residir em Matosinhos, onde faleceu, foi o célebre mestre de campo e grande potentado da época, Inácio Correa Pamplona. Era português, natural da Ilha Terceira. Vindo para o Brasil, estabeleceu-se nas Minas Gerais, fez grande fortuna, tornou-se latifundiário. (...) era amigo particular do Pe. Carlos Correia de Toledo, vigário da Vila de São José e, talvez por isto, chegou a se comprometer discretamente com a conjuração. Foi o terceiro delator da Inconfidência. No fim da vida, já bastante idoso e doente, a procura de mais fáceis recursos da medicina, adquiriu uma chácara em Matosinhos, onde veio falecer em 1810. (...) Outra moradora de Matosinhos relacionada indiretamente com a Inconfidência Mineira foi Maria Angélica de Sá Meneses, segunda esposa do Cel. Carlos José da Silva, escrivão da Junta Real da Fazenda, homem de confiança do Visconde de Barbacena e do vice-rei.

            No arquivo do Museu Regional do IPHAN, em São João del-Rei, existe uma carta [1], parte do testamento do coronel Pamplona, dirigida a seu filho sacerdote, padre Inácio Correia Pamplona Corte Real, datada de 21 de abril de 1810, assinada na sua chácara em Matosinhos, onde o próprio coronel sertanista revela que estava atormentado por visões espirituais, assombrações, barulhos, como que prenunciando sua morte. Veja-se por exemplo este trecho:

E quanto aos meus ouvidos e as representações de espetáculos que todas as horas se me representam, lhes não posso explicar. E eu as recebo por misericórdia e por aviso do céu. Sábado dia 14 pelas 9 horas da noite, entrou a tempestade nesta chácara, de sorte até se representavam serpentes de arrasto pelo sobrado, e até o dia de hoje 21 sábado de manhã tem os invisíveis continuado de noite e de dia e as horas que querem.
                  
        Pamplona ansioso, vendo fantasmas e pressentindo a morte, se despediu do filho, recomendando cautela com aqueles tais demônios.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli




[1] - Arquivada na caixa 100. Cópia da transcrição gentilmente cedida por Luís Antônio Sacramento Miranda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário