A dinâmica da religião
É natural que, dentro desse panorama progressista, também na religião houvesse mudança condizente para acompanhar as novas mentalidades. As francas mudanças do bairro abriram caminhos para novas experiências religiosas e/ou doutrinárias . Enfim a hegemonia católica mudava em São João del-Rei como um todo. Em 1948 a situação estatística da religião nesta cidade era a seguinte:
RELIGIÕES
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Nº DE ADEPTOS
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Catolicismo
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44.791
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Protestantismo
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186
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Cristianismo Ortodoxo
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2
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Judaismo
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30
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Islamismo
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4
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Budismo
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-
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Xintoismo
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-
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Espiritismo
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222
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Positivismo
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1
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Outras religiões
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44
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Sem religião
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42
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Religião não declarada
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13
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Nos jornais antigos no que tange às festas, a menção aos padres era sempre destacada, pelo dom da oratória e pelas qualidades morais. Ficaram para a história os nomes de José de Oliveira Barreto, José Pedro da Costa Guimarães, Gustavo Ernesto Coelho, Francisco de Paula da Rocha Nunan, João do Sacramento, Luiz Pereira Gonçalves de Araújo, Antônio José da Costa Machado, Joaquim Ignácio Vianna, Joaquim M. da Rocha Pinto, João Pimentel, Heitor Augusto da Trindade. Nos textos recentes é comum que nem sequer mencionem o sacerdote ou se o fazem é de passagem.
Os efeitos da romanização foram decisivos nas mudanças ocorridas nas festividades. Elas sofreram grande impacto e decaíram em atrativos. VIEGAS (1953) relembrava as festas então enfraquecidas: [a Igreja de Matosinhos]“é um edifício de regulares proporções e de agradável aspecto. (...) Festas seculares e tradicionais romarias nesta igreja se celebraram outrora em honra a seu misericordioso patrono”.
GAIO SOBRINHO (2000) no boletim "Tradição" traçou este comentário sobre as festas que se foram:
Havia, em tudo nesta celebração religiosa, como tempo e espaço de lazer, um feliz encontro do religioso com o profano, tão do gosto de nossa Cristandade Colonial, cujas raízes se aprofundavam nas remotas eras da medievalidade cristã europeia. Durante três e até quatro dias, entremeavam-se, numa feliz combinação lúdico-religiosa, missas, sermões, procissões, Te-Deuns, folias do Divino, dança das fitas, cavalhadas, corridas de touros, fogos de artifício, girândolas e muita música. O amplo largo do Arraial de Matosinhos, todo iluminado com lampiões e lanternas, se transmudava, pleno de romeiros, que para ali se mudavam temporariamente, num só alvoroço de fé e regozijo públicos. Um coreto era armado no meio do largo onde as corporações musicais se revezavam, alegrando os folguedos populares. Para a promoção dessa que foi a mais animada das festas que se celebravam nesta cidade, elegiam-se anualmente um Imperador e uma Imperatriz, com os respectivos caudatários e pajens, um Procurador da Festa e um Procurador dos Pobres, um Alferes da Bandeira e um Mordomo da Capela.
Em outra obra desse mesmo ano, sobre as devoções mineiras, explanou assim:
Quanto à Terceira Pessoa, embora representada sempre junto da Primeira por uma pombinha irradiante de ouro e luz, sua presença passava meio despercebida. E isto, talvez, se explique pelo fato de Ele não ter imagem antropomórfica e, portanto, ser menos impressionante aos nossos sentidos, e por, na Baixa Idade Média, o Espírito Santo ter sido, diríamos assim, a heresia de Deus. De fato, as vias abertas por Joaquim de Fiore, cujas profecias milenaristas, consideradas heréticas, anunciavam, para 1260, o advento da Era do Espírito Santo, foram retomadas, posteriormente, por algumas dissidências franciscanas que, pregando a pobreza e o despojamento do clero, exigiam mudanças profundas na Igreja Católica. Estes ramos franciscanos constituíram aquilo que Lubac chamou de “uma posteridade espiritual de Joaquim de Fiore”. Por isso também, de modo diverso do litoral, onde predominavam os ortodoxos jesuítas, foi em Minas, sob a influência franciscana, que suas festas tiveram uma notória e significativa expressão. Em São João del-Rei, as festas do Divino, por ocasião de Pentecostes, foram famosíssimas no arrabalde de Matosinhos. Precedidas de solene novenário, as solenidades anuais perfaziam ali quatro dias. O Domingo de Pentecostes era-lhe especialmente consagrado. Os três dias seguintes ficavam por conta das celebrações ao Senhor Bom Jesus, Nossa Senhora da Lapa e Sant’Ana, pela ordem. Dentro ou no amplo largo em frente da saudosa igreja, que um apressado e irresponsável aventureiro demoliu, o religioso e o profano se confundiam num único e mesmo espaço de lazer e orações, maneira característica de vivenciar a Fé da nossa cristandade colonial mineira, cujas raízes se aprofundam nas remotas eras da medievalidade cristã européia.
Mas as mudanças não diziam respeito só às festas. No campo assistencial surgiram as Conferências Vicentinas (ligadas à SSVP – Sociedade São Vicente de Paulo). No caso desse bairro estão vinculadas ao Conselho Particular do Sr. Bom Jesus de Matosinhos , abaixo listadas, com data de fundação e entre parênteses seu local de funcionamento.
- Conferência Santa Terezinha: fundada em 02/06/1946 (Rua Santa Madalena);
- Conferência Nossa Senhora de Fátima: fundada em 27/05/1954 (Rua Guia Lopes, nº 106, Vila Santo Antônio; agregada em 07/03/1972);
- Conferência Bom Pastor: fundada em 28/02/1971 (Rua Manoel Fortes);
- Conferência Santa Clara: fundada em 27/01/1974 (Praça Pedro Paulo, n.401);
- Conferência São Clemente: fundada em 18/12/1977 (Rua Exp. Lucindo Martins de Abreu, n.135, Comunidade Jesus Silva);
- Conferência Menino Jesus de Praga: fundada em 21/04/1979 (Rua José do Santos Filho, Pio XII, na capela homônima);
- Conferência Senhor Bom Jesus: (Prédio da Catequese);
- Conferência Santa Margarida: (Prédio da Catequese);
- Conferência Santo Agostinho: (Salão da Conferência de Santa Terezinha);
- Conferência Santa Luzia: fundada em 05/11/1989 (Salão da Conferência de São Clemente).
A grande mudança veio na jurisdição eclesiástica. Matosinhos desde a construção da capela esteve vinculado à Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Ocorre que em 19/03/1936 foi criada a Freguesia de São João Bosco, sob a direção do cônego Francisco Tortoriello. Como não havia matriz, foi usada provisoriamente como tal a Capela de Santo Antônio (do Albergue Santo Antônio, datada de 1912). A bênção da pedra fundamental da Matriz de São João Bosco (15/06/1937), contou com a presença do Arcebispo Dom Helvécio. Começara a construção. Ainda como freguesia já abarcara a capela de Matosinhos, sob a responsabilidade dos padres salesianos, destacando-se a atuação do supracitado cônego e da capelania do padre Domingos Sávio da Silva.
Em 1938-9, diversas edições do Diário do Comércio, na relação das atividades religiosas da cidade, ao se referirem à capela do Bom Jesus, listaram missas diárias à 8 horas e catecismo aos sábados, 16 horas . A freguesia se elevou a paróquia e Dom Helvécio voltou a São João del-Rei para inaugurar com bênção a matriz de São João Bosco em 1947 (ainda sem a grande torre central). Nessa mesma ocasião o arcebispo esteve em Matosinhos, onde inaugurou a capela e oratório festivo de Santa Terezinha. O fato importante dava ao bairro seu segundo templo .
As atividades religiosas na matriz de São João Bosco centralizavam as atenções. Foram implantadas já dentro do espírito romanizador, sem tradição em termos de cultura popular. Eram com freqüência destacadas pela imprensa, fossem as atividades desenvolvidas na matriz ou as da capela do albergue, ao seu lado . Matosinhos como uma filial continuava marginalizado na imprensa. Após transcrever o edital de criação dessa capela, um jornal tece por fim comentários entre os quais este : “em 1773 aparece um patrimonio doado pelo Pe. Dr. Matias Salgado (...) disto se conclui que Matosinhos teve ou tem patrimonio. Onde está ele?” Um tal “Z.” assina o ponteagudo comentário, que revela o relativo abandono da capela .
Outros monumentos religiosos do bairro só surgem bem mais tarde. O terceiro templo católico erguido no bairro foi a capela do Menino Jesus de Praga, a 20/04/1980, na Rua José dos Santos Filho, no Pio XII. Foi construído aproveitando-se a estrutura de um salão comunitário simples, pré-existente.
Um cruzeiro luminoso foi feito no alto do Bom Pastor de Cima.
Em outubro de 2000 surgiu a pequena Gruta de Nossa Senhora de Fátima, feita de pedras, por Túlio Marco Coelho e José Luís de Castro, na Rua Tomé Portes del-Rei.
Em 2006 é chantado um cruzeiro no Alto do Lombão. Pode ser avistado de Santa Cruz de Minas.
* Texto: Ulisses Passarelli
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