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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Monumentos em Matosinhos

            “Razões” do progresso puseram abaixo todo o casario colonial do bairro e mais recentemente as casas de estilo eclético. Restam duas dignas de nota, do começo do século XX, que conservaram o ecletismo: uma na Rua General Aristides Prado e outra na Bernardo Guimarães. A essa sanha demolidora resistiu felizmente a estação ferroviária e a clássica estátua-chafariz, situada na praça principal.

            No fim da década de 1990 um apelo de moradores mais sensíveis do bairro visava restaurar o pouquíssimo que sobrou. Sempre divulgando, aqueles esforçados cidadãos acabaram por lançar um projeto, “Triângulo Histórico Monumental do Bairro de Matosinhos”, que tinha por vértices a restauração da estação de Chagas Dória, a construção de uma réplica da igrejinha demolida (para servir de capela do Santíssimo e sala de ex-votos) e outra réplica, ainda que só da fachada, do também demolido pavilhão do bicentenário. A igrejinha seria feita no adro da atual e o pavilhão no desativado matadouro.

            A ampla divulgação levou a muita repercussão na imprensa mas infelizmente, por falta de verbas e sobretudo de vontade política o projeto não se concretizou e dele não se tem mais falado [1]. A estação foi restaurada bem depois, sem vínculo com o projeto.

1-      Estátua-chafariz
Controvertida é a história deste monumento, cheio de incertezas históricas. Novas considerações e estudos revelam equívocos do passado e trazem outras interpretações. É divulgado que esta peça de ferro fundido foi adquirida pela câmara municipal em 1887, mas exatamente a fonte original desta informação é por oras desconhecida.

Tradicionalmente o chafariz encimado por uma estátua tem sido interpretado como Ceres, que na mitologia romana é a deusa da agricultura e da colheita.

Neste sentido o monumento representa uma mulher elegante, segurando ferramentas de uso agrário (ancinho e segador) e tem aos pés um feixe de ramos de trigo. Na base, como um pedestal muito bem trabalhado, há de cada lado duas caras medonhas de cujas bocas jorrava água para dentro das respectivas bacias. Essa carantonha representa o Fauno, entidade romana da natureza.

Outras interpretações porém lhe atribuem um aspecto de jovem rapaz com trajes romanos, portanto estátua masculina, representativa do verão.

Ficava na lateral da igrejinha demolida. Em certa época dos novecentos, este chafariz foi retirado de Matosinhos e enviado para o Bonfim, onde ficou junto à estação de tratamento de água. Retornou a Matosinhos, ocupando o centro da praça. Era cercado de uma grade baixa, pintada de cor alaranjada, prejudicando ainda mais o seu visual, já poluído por conta dos trailers e barracas que ali infestavam. A grade não lhe garantia segurança, tanto que no poente de 1998 uma tampa de ferro fundido da parte posterior de sua base, cheia de floreados em alto relevo, foi roubada e vendida para um ferro-velho da cidade. Felizmente pôde ser recuperada. Com a reforma da praça em 2003 essa grade foi retirada.

No carnaval de 1999, um gaiato em flagrante desrespeito subiu sobre a estátua-chafariz, pendurou em sua cabeça um pano como se tivesse com um lenço amarrado. Assim fotografada, saiu na Gazeta de São João del-Rei como a foto da semana, na edição n. 32, de 27 de fevereiro daquele ano.
            Embora seja um chafariz há anos não jorra água.

Esta estátua possui tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, desde o ano 2000 [2].

Na cidade, já correu proposta de retirá-lo de Matosinhos e trazê-lo para o centro histórico da cidade, sob alegação do patrimônio arquitetônico do bairro estar todo degradado e assim não fornecer mais entorno e ambiente propício. A ideia é duramente combatida pelos apaixonados por Matosinhos.

Sobre a origem desta estátua hoje se sabe graças à perspicácia do professor Antônio Gaio Sobrinho que se trata de uma peça da fundição francesa Val d’Osne [3]. Pensava-se antes numa origem italiana, de Turim.

Estátua-chafariz de Matosinhos, tradicionalmente chamada "Deusa Ceres", terminologia hoje em contestação.
Foto: Iago C.S. Passarelli, 04/08/2013.

2-      Chafariz da Chácara dos Simas
         Houve em Matosinhos um outro chafariz. Era em estilo barroco, com frontispício entalhado em pedra. Localizava-se próximo à igreja. Um prefeito o retirou sob a alegação de restaurá-lo e Matosinhos não reviu o monumento.

       Lincoln de Souza noticiou acerca de um chafariz colonial removido do bairro, possivelmente esse mesmo[4]:

desenterrado aos pedaços dos fundos de uma velha chacara colonial do suburbio de Matozinhos e reconstruida cuidadosamente, está hoje nas imediações do quartel do 11º Regimento de Infantaria a atestar a sobria elegancia de suas linhas arquitetonicas.

Chafariz de Matosinhos segundo uma antiga ilustração.
Cortesia: Osni Paiva.

3-      Monumento à Guerra dos Emboabas
Datado de 12/10/1990. Situa-se na praça principal. É um marco de pedra com placa metálica portando longo letreiro em memória desse embate, travado no período inicial da mineração, no qual São João del-Rei foi um dos centros com episódios mais aguerridos.

Foto: Ulisses Passarelli, 06/03/2014.

Em especial, houve o célebre episódio do Capão da Traição, no qual um grupo de paulistas foi assassinado pelos emboabas impiedosamente, apesar de já terem se rendido dentro de um capão (o mesmo que capoeira, pequena mata), daí dizer-se que foram traídos. O marco rememora em especial esse fato trágico.
O lugar exato do capão não é conhecido. Uma das correntes defende que se situasse em Matosinhos, tendo a seu favor grandes nomes como Basílio de Magalhães e Lincoln de Souza. Eis uma citação deste [5]:

"O arrabalde de Matozinhos a tres quilometros da cidade, onde se realizam anualmente tradicionais festejos religiosos, cuja fundação data de 1774, foi teatro de triste episodio que passou á historia conhecido como o do “Capão da Traição”."

Estudos de GUIMARÃES (1986) apontam como local mais plausível as proximidades do Pombal, onde nasceu o são-joanense, Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. A terceira possível localização seria nos arredores dos povoados de Canela e Goiabeiras, em São João del-Rei, tese que tem como baluarte Eduardo Canabrava Barreiros.

Este monumento foi removido de sua posição original, relativamente próximo aos trilhos da Maria Fumaça, quando da reforma da praça que lhe deu a feição atual com a retirada dos traillers. Hoje se situa mais defronte ao SENAI, defronte aos aparelhos de ginástica. O verso da pedra que fixa a placa com o letreiro citado ganhou outra placa, de natureza política, referente à inauguração da  academia comunitária, como se pode ver nas fotos abaixo. 


Foto: Ulisses Passarelli, 06/03/2014.

4-      Monumento da Maçonaria
Está situado na praça, mais próximo à estação, no divisor de pistas que serve de retorno para a Rua Bernardo Guimarães.

Sobre uma base de concreto armado, em forma de coluna, se assenta em tamanho considerável, o símbolo maçônico do esquadro invertido, sobreposto pelo compasso, tendo ao centro a letra gê maiúscula.

Datado de 27/10/1995, comemora o centenário da Loja Maçônica Charitas II, desta cidade.

Monumento maçom em Matosinhos.
Foto: Ulisses Passarelli, 02/01/2014.

5-      Monumento ao primeiro pároco de Matosinhos
Busto em homenagem ao Cônego Jacinto Lovatto Filho, posto na praça, após a reforma de 2010, defronte o santuário, no ano do cinquentenário da paróquia. Inaugurado em agosto.


Busto do Padre Jacinto. 
Foto: Iago C.S.Passarelli, 2012. 



Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos conforme legendas




[1] - Sobre o projeto do Triângulo Histórico, ver, dentre outros textos jornalísticos, os seguintes:
ACI del-Rei, n. 45, out./1998; Gazeta de São João del-Rei, n. 15, 24/10/1998; n. 17, 07/11/1998; n. 34, 13/03/1999; n. 37, 03/04/1999; n. 40, 24/04/1999; n. 44, 22/05/1999; Tribuna Sanjoanense, n.. 974, 30/03/1999; n. 976, 20/04/1999; n. 980, 18/05/1999.
[2] - O Grande Matosinhos, n. 13, nov. / 2000.
[3] - Informação pessoal de Francisco José de Rezende Frazão, 25/04/2012.
Ver a respeito desta notícia: SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Deusa Ceres: ela não é italiana, é francesa! Coluna Gente & Notícia, ed.146, abr.2012. (Fonte: www.ograndematosinhos.com.br, acesso em 26/04/2012).
Sobre este monumento ver também: CARVALHO, José Maurício de. Chafariz da deusa Ceres. Tribuna Sanjoanense, n. 1.040, 03/10/2000.
[4] - SOUZA, Lincoln Teixeira de. Coisas e aspectos do Brasil. O Carioca, Rio de Janeiro, 15/02/1941. In: Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro: caderno de viagens. (Exemplar da Biblioteca Pública Municipal Batista Caetano de Almeida, São João del-Rei) 
[5] - SOUZA, Lincoln Teixeira de. Predios e sitios historicos de São João del-Rei. 18/02/1941. In: Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro: caderno de viagens. (Exemplar da Biblioteca Pública Municipal Batista Caetano de Almeida, São João del-Rei). 

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