Os aspectos pitorescos do tão decantado bairro, impressionaram os estudiosos que por aqui passaram no século XIX e princípio do seguinte. Em seus relatos, deixaram consignados valiosos informes.
O viajante POHL (1976) que por aqui passou em 1818, escreveu: (...) “no agradável Arraial de Matosinhos (...) os habitantes abastados de São João del-Rei tem muitas e belas casas de campo com jardins”.
"A cerca de meia légua [uns três quilômetros] de Marçal [Colônia do Marçal]chega-se ao arraial chamado Porto Real, onde se encontra o Rio das Mortes, que empresta seu nome à comarca (...) Em Porto Real atravessa-se esse rio por uma ponte de madeira, de aspecto assaz pitoresco, com largura bastante apenas para um carro-de-bois, e que é abrigada como as da Suíça, por um pequeno telhado de telhas ocas sustentado por postes. (...) Tendo atravessado Porto Real, cheguei logo à aldeia de Bom Jesus de Matosinhos, onde se celebram de modo especial as festas de Pentecostes."
"Nas imediações de São João, existe uma aldeia muito agradável; arraial de Matozinho, à beira da estrada que se toma para ir a São José [del-Rei, atual Tiradentes] e Barbacena. Sua bela situação e a vizinhança do Rio das Mortes, já navegável por grandes canoas, permitem prever um futuro mais próspero que o das cidades vizinhas, principalmente São João, que não poderão crescer, dada a sua má situação."
Aquarela de Rugendas representando Matosinhos vista do Alto do Lombão em 1824. Nota-se claramente como eram caudalosas as vias fluviais, a extraordinária fidelidade do artista à silhueta serrana, os caminhos de então, com destaque para aquele que se tornaria no século seguinte a Avenida Sete de Setembro, a igreja antiga num esquadro diferente do largo. Carro de bois, cavaleiros, um escravo e um ermitão com oratório de pescoço compõe os veículos e transeuntes da época.
RODRIGUES (1859) informou que a capela de Matosinhos não era curada e escreveu ainda:
"O arraial de Mattosinhos no suburbio da cidade é dotado de optima capella, na qual se festeja o Espirito Santo, havendo nos dias de festa romaria de dia e de noite. Está em uma planicie, com rica e espaçosa praça e as adjacencias são bordadas de optimas chacaras nas quaes fructificão todas as arvores indigenas e inter-tropicaes de Europa."
Outra impressão importante deixou para a posteridade BURTON (1942), escrevendo no ano de 1867:
"Aos nossos pés, sobre um pequeno vale jaz o arraial de Matozinhos, encantador subúrbio, distante da cidade uma milha e três quartos - ou mais exatamente oitocentas braças brasileiras. Passamos pela clara rua principal e entramos na praça mais importante formada pelas melhores casas, cada qual com o seu jardim florido, adornado de alguns pés de café de um tamanho prodigioso e de exuberante verdura. Não há padre, mas a Igreja do Espírito Santo (sic) parecia, pelo menos por fora, em boa ordem. Aqui de toda a região convergem os romeiros durante sua festa pelo prazer espiritual de rezar durante noite e dia."
Bernardo Guimarães, em sua obra “Maurício ou os paulistas em S. João d’El-Rey”, escreveu de forma poética, que transcrevi do Arauto de Minas :
"Deitada ao longo da fralda da serra amparam-lhe brandamente a cabeça pelo lado sul verdes e boleadas collinas [Lombão, Bom Pastor, Pio XII] enquanto os pés estiram-se espreguiçando pela planura [centro do bairro, Vila N.S. de Fátima], formando o pitoresco arrebalde de Mattosinhos, cujas casas alvejam atufadas em ondas dos mais frondosos e viçosos pomares."
Este poeta comentou ainda :
"Neste arraial, out’rora palco de grandes lutas e morticinios entre paulistas e emboabas que a sêde do ouro attrahia a estas paragens , onde há vastas e bellas chacaras, perpetuo pomar de variados frutos, delicioso recreio das familias da cidade, campeia qual linda garça entre a verdura, a risonha capella do Senhor Bom Jesus de Mattosinhos, para onde affluem romeiros e grande multidão de fiéis por occasião dos festejos do Espirito Santo, celebram-se com toda a magnificencia, renovando-se algumas vezes os costumes antigos de cavalhadas, bandos de máscaras, bailados e corrida de touros."
LAET (1988) escreveu no ano de 1896: “o isolamento de Mattosinhos se compensa nas festas do Espirito Santo, quando para lá se dirigem alegres romarias”.
Nas observações de estudiosos ficaram registradas diversas características importantes para o estudo em questão. SENNA comentou sobre este lugar em duas ocasiões – 1905 e 1909 – respectivamente:
"Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, mediana, situada mais perto do Rio das Mortes em um logar ameno no meio de um quadrilatero formado pelas casas de campo. O frontispicio com duas torres é bonito, e o interior é de um aceio que reluz."
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"O Bairro de Matosinhos, constituído num planalto entre a confluência do Ribeirão da Água Limpa, com o Rio das Mortes, em forma de um triângulo, cuja base se assenta sobre a frauda do outeiro do Lombão. Sua área deve ser aproximadamente de 2 milhões de metros quadrados. Matosinhos oferece proporções maravilhosas para aumentar no triplo, com vantagens inquestionáveis, o atual núcleo urbano de São João del-Rei."
CAPRI (1916) observou : “Mattosinhos constitue o bairro mais aprazivel da cidade, banhado de um lado pelo riacho Água Limpa e do outro pelo caudaloso Rio das Mortes.” |
Rio das Mortes, visto entre o Pombal e a Colônia José Teodoro.
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Notas e Créditos
* Foto: Iago C.S. Passarelli, 2013.
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Para maiores informações sobre os autores citados, vide a postagem:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Arauto de Minas, n.7, 24/04/1881.
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